Capítulo 15

Se já é assustador você presenciar um ente querido seu entre a vida e a morte, imagina o que não acontece com sua cabeça quando isso acontece duas vezes com o intervalo de algumas horas. Primeiro Teresa e agora Brenda.

Aris fazia de tudo para reanima-la, hora com respiração boca a boca, hora com massagem cardíaca, ele já estava ficando cansado, então me aproximei, pedi pra que se afastasse e tomei o seu lugar. Brenda não dava nenhum sinal de vida e estava ficando cada vez mais roxa. Eu não queria perdê-la, eu não podia perdê-la. Apesar dos últimos acontecimentos, Brenda era alguém muito importante na minha vida e tudo o que vivemos e passamos não podia acabar assim com ela morta em meus braços sem ao menos lutar para viver.

— Vamos Brenda, lute pela vida, você tem muita coisa importante pra fazer nesse mundo ainda – Disse intensificando cada vez mais a massagem.

— Thomas, você já está fazendo isso há muito tempo e ela não reagiu. Não tem mais jeito, nós a perdemos, eu sinto muito – Minho disse, segurando meus ombros, tentando me fazer se afastar dela.

— Eu não vou desistir. Ela não está morta, eu sei disso.

Depois de um tempo, já cansado parei um pouco com a massagem e sentei próximo a seu corpo. Ela estava da mesma maneira, imóvel, inerte, sem nenhuma manifestação que lhe indicasse vida. Brenda estava morta e eu precisava aceitar esse fato. Então já sem esperança alguma eu me aproximei dela e sussurrei em seu ouvido:

— Você foi muito especial pra mim e por toda minha vida vou me lembrar de ti.

— Vamos Thomas, deixe que as mulheres da comunidade a preparem para o enterro – Gally disse, tentando me puxar para longe dela.

— Ninguém toca nela, eu mesmo vou fazer tudo que for preciso. Vou carregá-la, vesti-la, colocar uma linda coroa de flores em sua cabeça. Eu quero estar ao lado dela até o último segundo. – Falei em alto tom olhando para todos. Ela merecia isso, era a última coisa boa que poderia fazer por ela.

Todos me olhavam, uns admirados, outros assustados, mas havia um par de olhos que me olhava de uma forma diferente. Teresa estava ali, percebi sua tristeza por Brenda, mas também percebi que aqueles lindos olhos azuis me fitavam de uma forma acusadora e eu não conseguia entender o porquê.

Chorando, cheguei perto de Brenda, pronto para carregar seu corpo sem vida, foi quando algo inesperado e posso dizer milagroso aconteceu, seu corpo começou a ter espasmos e mesmo inconsciente ela começou a tossir e soltar toda aquela água que estava presa dentro dela. Ela não estava morta.

Desesperado peguei sua cabeça e a virei de lado para ajudar. Ela respirava com muita dificuldade e ainda estava desacordada, mas mesmo assim eu tinha certeza de que o pior tinha passado. Brenda iria ficar bem, ela sobreviveria.

— Thomas, nós precisamos levá-la para o Berg ou ela vai morrer – Thaís estava ao meu lado me tirando do meu momento de alívio.

— Por que você está dizendo isso?

— Olha pro chão, Thomas.

Foi quando eu notei que além de água, Brenda também estava expelindo um líquido vermelho. Conforme ela tossia o que saia agora era puro sangue.

Sem entender direito tudo o que estava e podia acontecer, peguei Brenda no colo e corri em direção ao Berg, com Thaís logo atrás de mim. Assim que entramos fomos direto para a sala de laboratório, coloquei-a em uma das macas e mesma em que Teresa estava há algumas horas atrás e aguardei ansioso pelo o que Thaís iria fazer.

— A vida dela está em suas mãos, por favor, a salve – Falei nervoso, esperando ela tomar alguma iniciativa, mas ela não fez nada, apenas ficou me olhando desconfiada.

— Por acaso você está achando que vai ser eu a examiná-la, tentar descobrir o que aconteceu? – Afirmei com a cabeça, acreditando que ela estava fazendo uma brincadeirinha de mau gosto – Cara, eu não tenho naipe pra isso não, sou apenas uma aprendiz de enfermeira, se eu tentar fazer alguma coisa eu acho que mato a Brenda sem querer.

— Mas foi você que tentou salvar a Teresa durante o aborto antes de o Dimas chegar. Você sabia o que estava fazendo ali – Disse já nervoso e preocupado.

— Sangramento por causa de aborto, parto, inseminação artificial, enjoos, histerias de grávida, isso eu sei tudo porque Ava Paige me deu aulas detalhadas por causa da Teresa. Mas é só sobre isso que eu sei, é só isso que eu sei fazer. O caso de Brenda está fora do meu alcance.

— Então por que você falou pra trazê-la pra cá?

— Eu disse que está fora do meu alcance, mas não do alcance dela – Ela apontou para a porta e lá estava Teresa acabando de prender os cabelos e colocando uma luva cirúrgica.

Ela não disse nada e nem ao menos olhou para mim, apenas se aproximou de Brenda, levantou sua camisa e começou a examinar seu abdômen e assim que ela apertou certa região, Brenda gemeu mesmo inconsciente e depois expeliu mais sangue.

— Ela perfurou o pulmão e ele está se enchendo de sangue, nós temos que fazer uma drenagem imediatamente ou ela vai morrer – Ela se virou pra mim e me disse, deu pra notar que estava preocupada.

— Como essa drenagem é feita? – Perguntei.

— Através de uma cirurgia. Thomas eu posso operá-la, mas não garanto cem por cento de sucesso. Eu não vou fazer nada se você não autorizar. Eu não quero ter a culpa de uma possível morte em minhas mãos.

— Então ela corre o risco de morrer na cirurgia? - Ela confirmou com a cabeça – E se nós deixarmos ela se recuperar sozinha?

— Se Brenda não operar, ela morre.

Teresa disse isso muito convicta e eu não iria duvidar dela, mas uma coisa me afligia e eu tinha que perguntar.

— Você realmente sabe o que está fazendo? Quero dizer... eu que eu esteja duvidando mas... eu nunca te vi operar ninguém antes.

— Se você tivesse aceitado suas memórias de volta não teria essa duvida. Thomas, eu sei muito bem o que estou fazendo – Ela disse indignada – E ai, posso operá-la ou não?

— Por favor, o faça.

— Teresa, você ainda está muito fraca, tem certeza que quer fazer isso, vai ser muito desgastante. – Disse Thaís. Eu sabia que ela não disse isso por maldade, mas sim por preocupação com a amiga.

— Eu não posso deixá-la morrer sem antes ter tentado de tudo para salvá-la. Não se preocupe comigo Thaís, eu estou bem. Agora vamos começar logo.

Mesmo aparentando nervosismo, Teresa sabia exatamente o que estava fazendo. Ela manipulava as ferramentas cirúrgicas com maestria, a meu ver fez um corte perfeito no abdômen de Brenda, localizou muito rapidamente o pulmão e com a ajuda de um aparelho que parecia realmente um dreno, tirou todo o sangue que ali se acumulava e depois com um tipo de cola cirúrgica, fechou a abertura que fez no pulmão e pra finalizar deu pontos no abdômen de Brenda. Tudo isso durou aproximadamente umas duas horas e no final dava pra notar que Teresa estava muito cansada e abatida.

— Thaís você pode fazer o curativo, por favor? – Disse ela já se afastando de Brenda e se aproximando de mim – Ela vai ficar bem Thomas, não se preocupe – Percebi que Teresa estava muito pálida.

— Quer que eu te leve pra seu quarto? Você não parece nada bem. – Perguntei já pegando em seu braço.

— Me solta, eu sei me virar sozinha. – Disse rispidamente e partiu.

Voltei minha atenção pra Brenda que respirava normalmente agora. Thaís estava fazendo o curativo em seus pontos.

— Sabia que essa cirurgia é considerada de alto risco? Que Brenda poderia estar morta agora?

— A onde você quer chegar com isso?

— A chance de uma pessoa sobreviver é de 40%. Se Teresa perfurasse acidentalmente alguma veia importante que está em volta do pulmão ocorreria uma hemorragia interna que poderia não conseguir ser controlada. Minha amiga teve a total atenção e preocupação pra que isso não ocorresse – Ela começou a rir debochada – Olha como são as coisas, há poucas horas atrás você estava gritando com ela como se fosse a coisa mais insignificante do mundo, praticamente afirmando que sentiria nojo de ter um bebê com ela e agora olha a onde nós estamos, olha o que acabou de acontecer. Foi ela quem não mediu esforços pra salvar a vida da sua namoradinha mesmo depois de tudo o que aconteceu. – Thaís disse enquanto limpava um pequeno corte que só agora eu vi que tinha de cabeça de Brenda.

— Eu jamais disse que sentiria nojo de ter um filho com ela. Muito pelo contrário, é o que eu mais desejo nesse momento. – Disse essa última frase mais pra mim do que pra ela.

— Então o que está esperando pra ir correndo até seu quarto e lhe contar isso? Thomas, Teresa está a ponto de tomar uma decisão permanente e se fizer isso não vai voltar atrás. Por favor, pelo amor confuso de vocês, não deixe que isso aconteça.
— O que ela vai fazer?

— Vá até lá e deixe que ela mesma te conte e tente impedir pelo bem de vocês dois. Não se preocupe com Brenda, eu não vou sair do seu lado.

E assim fui em direção ao quarto de Teresa, nervoso, curioso, preocupado, querendo por um ponto final, ou melhor, um inicio em toda essa história.

Eu só sabia chegar ao seu quarto pelo lado de fora, então fiquei procurando que nem um doido, me escondendo dos guardas que ali estavam, até que finalmente o encontrei, mas não foi por sorte e sim porque o otário do Andrew estava saindo de dentro dele. Me escondi esperando que ele fosse embora.

— Tem certeza que não quer que eu fique aqui com você – O otário perguntou saindo do quarto. Teresa provavelmente fez algum gesto negando – Tudo bem, mas qualquer coisa pode me chamar. Teresa você se desgastou muito com essa cirurgia, espero que todo esforço valha a pena.

— A vida de qualquer pessoa vale a pena Andrew. Você precisa entender isso – Ela disse do lado de dentro.

— Eu já te disse que vou mudar Teresa, por você. Vou ser uma pessoa melhor. Agora vê se dorme um pouco. Descanse minha querida marrentinha – Ele disse e seguiu para outro corredor.

Marrentinha, um sentimento de ciúmes me invadiu por ouvi-lo a chamar assim.

Entrei em seu quarto sem ao menos bater, ela estava virada de costas pra porta.

— Andrew, eu já disse que estou bem, não se preocupe comi... . O que você está fazendo aqui?

— Nós precisamos conversar, resolver tudo de uma vez por todas.

— Tudo já foi resolvido Thomas. Você me deixou clara a sua escolha há algumas horas atrás nesse mesmo quarto e por consequência disso eu também fiz a minha.

— E qual seria essa escolha? – Quis saber desconfiado.

— Mesmo sendo arriscado, nós vamos embora daqui a alguns dias. Ava Paige conseguiu recuperar uma máquina que seria necessária para se fazer uma inseminação artificial. Eu e Andrew vamos tentar ter outro bebê.

— Mas você sabe que é arriscado. Os bebês de vocês dois não vingam por causa do sangue. Teresa, Thaís disse que você pode morrer se continuar tentando – Disse já me alterando.

— Dessa vez não. Eu não corro o risco de ter mais nenhum aborto por esse motivo. O procedimento é seguro.

— Como pode ter certeza disso? – Falei um pouco mais alto.

— Meu óvulo e o esperma do Andrew vão ser coletados e analisados por essa máquina, então ela vai selecionar o espermatozoide certo que inserido ao meu óvulo ira formar um embrião com o Rh negativo e só depois ele será colocado dentro de mim e eu não vou correr mais riscos, nem o bebê.

Ela parecia feliz com isso. Ela merecia depois de tudo o que passou ter esse bebê, mas não era com Andrew que ela o teria.

— Por que você vai ter esse trabalhão todo se pode ter esse bebê de uma forma mais simples?

— Como???

— Eu estou tentando te dizer que eu quero SIM ter esse bebê com você, mesmo que contra a minha vontade tenha que ser por inseminação.

— Mas agora a pouco estava todo nervoso não querendo ...

— Eu sou um mértila, plog, imbecil, retardado que não sabe dar valor as coisas. Esqueça o que te disse antes, pois foi tudo mentira. Teresa, por favor, vamos ter esse bebê, vamos ter esse menino que vai ajudar a salvar o mundo, esse menino que vai ser muito desejado e amado. E ai, você me concede a honra de ser o pai do seu filho? – Disse me sentando na cama ao seu lado e pegando em suas mãos.

Ela olhou para mim com aqueles lindos olhos azuis e sorriu.

— E se for uma menina?