Save You escrita por Mrs Neko


Capítulo 2
Capítulo 2 - O Som do Mar


Notas iniciais do capítulo

Como Moffat the Brilliant Devil, Mark the Gatissimo & Cia. Ltda. jamais saberão da minha existência e muito menos do meu sonho de ver um crossover entre Sherlock e Zelda (com certeza este jogo faria o sabido detetive muito mais feliz que Cluedo!) vou transformar meu lamento inútil em fanfic!!

A música que aparece neste capítulo é a abertura de "The Legend of Zelda: The Wind Waker", lançado originalmente para GameCube em 2002 e disponível em https://youtu.be/KyTgvancEok. Sinto que o clima de mistério e aventuras, e da viagem através de arquipélagos, que está presente no jogo todo, se encaixe bastante no imaginário infantil do Sherlock, que ele não teve forças para apagar do "Palácio Mental"...



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Quem observasse o jovem formoso e esguio que caminhava pela Bond Street com as roupas e os tênis All Star totalmente desgastados, um copo de café do Starbucks e o enorme sorriso de um gato que acaba de devorar um canário, podia ter toda a certeza do mundo de que o dia começava com o pé direito para aquela felina e exótica figura.



Mais um caso acabava de ser encerrado. Mesmo com a entediante passagem pelo tribunal, totalmente indesejada para um consultor que desejava passar incógnito, Sherlock Holmes se sentia leve e satisfeito, com uma estranha e inebriante sensação de invencibilidade, como se fosse um afortunado herói que acabava de vencer a Esfinge, que há pouco ameaçava devorá-lo. Seu coração estava tão leve, sua alma tão satisfeita, que seu corpo chegou a surpreendê-lo com tanta fome, tanto apetite, como há muito não sentia. Quem diria que um simples café e um misto quente poderiam ser tão saborosos, principalmente para tal estoico acostumado ao fastio...



Além do estômago, porém, suas pernas também queriam fugir ao controle, enquanto vagavam a esmo pelo centro da cidade, cuja planta sua memória conhecia perfeitamente, sem a mínima vontade de voltar para o flat minúsculo e caótico que chamava de casa. Seus ouvidos pareciam empenhados em ocupar a manhã na mesma rebeldia do resto do corpo, e captavam com surpresa e prazer o som que saía da vitrine de uma loja de jogos eletrônicos.



Imitações de violinos, tambores, flautas e gaitas de foles acompanhavam a viagem da visão panorâmica de uma formosa ilha tropical, cercada de um amplo e pacífico mar rico em vários tons de azul royal, com ondas brancas e serenas cujo movimento fazia um som poderoso e monótono. Defronte, um cais pequenino, com um veleiro minúsculo que ostentava uma carranca de dragão. Mais longe, ao alto, uma ponte de corda que ligava a uma ilhota, com um penhasco onde se encarapitava um secular baobá, com o tronco todo marcado, a talha e fogo, por desenhos graciosamente simplórios de alguma arte tradicional daquele lugar fictício. À ampla e fresca sombra aconchegante da árvore centenária, um menino observa o mar.



A música, tão vívida, suave, animada e convidativa, entrou pelos felinos ouvidos atentos, e fez um caminho certeiro até sua alma, embriagada no cheiro salgado e marinho de histórias de piratas, cenário das brincadeiras de sua infância.



Um rompante de consciência rompeu a indesejada sensação de nostalgia despertada pela projeção do jogo à sua frente. Sherlock detestou-se por agir como a criança estúpida e necessitada das reprimendas e da proteção do irmão mais velho, desprezou-se por agir como alguém que deixara de ser há mais de uma década.



Sua autocrítica foi interrompida pelo celular, tão carcomido quanto todos os seus outros pertences, que vibrava no bolso. Uma mensagem de Lestrade, com CENA DO CRIME escrita em letras garrafais, uma foto de quase fazer inveja a um filme de Hitchcock, e um endereço.



Fazendo pouco caso dos três taxistas que o recusaram, Sherlock desceu as escadas do metrô, seu passo sereno com a costumeira postura elegante e blasè, enquanto seguia ao encontro de um jogo de adultos, o jogo que conduzia sua vida, o vício que o livrava do vazio e do tédio, tão apaixonante que valia a pena apostar a sanidade e expor-se ao perigo por ele.


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