Não era uma simples atração, muito menos amor.

Seu sorriso peculiar era magnético, e seus olhos chamuscantes exalavam o desafio pendente no ar.

A escolha sem volta, o abismo gritante abaixo meus pés. Não via nada, não sentia nada, apenas estava presa a um instante sem fim onde nada havia, somente o odor da hesitação que pairava sobre mim.

Quero me desligar, viver somente para ele, mas o peso sobre minhas costas é pesado de mais para simplesmente deixa-lo para trás numa atitude irresponsável.

Quero asas, quero forças.

Mas sei que as amarras que sempre me envolveram num sufocante abraço nunca irão se dissipar.

Esconda-as, esqueça-as.

E com os punhos cerrados fecho meus olhos com uma leveza forçada.

É simples, é rápido, mas não é fácil.

Olho para o horizonte e me curvo abraçando meus joelhos num gesto infantil.

Ouço sua risada sobre meus ombros, o som estridente e intrigante. Uma risada de prazer que revelava sua alma rodeada de podridão e insanidade.

Ele era como uma ponte cheia de explosivos, após cada passada impensada, o caminho desmoronava e a você nenhuma solução surgiria. Ele iria me esmagar por baixo de seus pés e sugar, como uma sanguessuga faminta, cada gota restante de lucidez em minha mente, e o pior, eu iria gostar.

Eu iria ansiar impacientemente a cada dia, e cada vez mais a cegueira me atingiria.

Era horrível, era frustrante.

Agora olhando as palmas de minhas mãos eu as via marcadas rudemente por minhas unhas.

Queria sair socando tudo, inclusive ele, só para ter o prazer de ver seu rosto quebrar e poder juntar pedaço por pedaço, moldando-o como eu bem entender.

Deixo minha cabeça pender para trás e solto um grito de agonia, esvaziando dolorosamente meus pulmões, já sensíveis por conta do choro, rodeada por uma sensação claustrofóbica.

Quando ele se foi, esqueceu-se de me levar novamente para o horizonte...

Com suas asas.

Asas que queimavam anarquia.

Asas que me guiaram secretamente até hoje.

Apago sua lembrança da mente e então adormeço.