Dilemma escrita por Han Eun Seom


Capítulo 40
Parque




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Deveria ser quatro horas da manhã quando meu celular tocou informando que havia uma nova mensagem.

Resmunguei irritada por ter acordado com aquele toque baixo e quase imperceptível. Olhei para meu lado e encontrei Érica com sua massa de cabelo quase em cima de todo o seu rosto. Como ela respira? Peguei meu celular e tentando não ficar cega procurei pela notificação.

Era do aplicativo da rede social de arte. Nuno tinha acabado de me mandar uma nota. Apenas aquilo me fez ficar completamente acordada imaginando que merda teria acontecido para ele estar me mandando uma mensagem àquela hora.

Mandei uma mensagem para ele perguntando seu número de celular e mandei uma mensagem pelo chat perguntando se estava tudo bem. “Parece que vou mesmo ter que voltar para Portugal. ”

Ah que ótimo. “Não tem mesmo nenhuma chance de você continuar aqui? ” Mandei para ele não dando a mínima para se eu estava ou não sendo egoísta. “Não. Eles foram bem... enfáticos aqui. ”

Érica se mexeu o que me fez prender a respiração por alguns segundos apreensiva. Após alguns segundos, o respondi tomando cuidado com a luminosidade do meu celular. “Quando você vai? ”

“Nessas férias. ” Eu imaginei que ele fosse ao menos terminar o ano e isso me deixou bem mal. “Mas já?!” Ele mandou uma mensagem dizendo que sim e um emoticon triste. Suspirei e olhei para Érica novamente. Eu não queria que Nuno fosse embora logo agora. Pensei mais um pouco até ter uma ideia.

“Minha prima chegou da França hoje. Ela quer sair amanhã para ver se eu melhoro.... Quer vir junto? ”

Podia ser um dos maiores erros da minha vida, pois os dois são completamente opostos, mas eu precisava dos dois. “Você acha que é uma boa ideia? ” Respondi que sim e ele disse que tudo bem. “Depois eu te mando uma mensagem dizendo onde vai ser.... Agora vai dormir. ”

“Obrigada, Roxy. Se cuida. ” Achei graça daquela frase e bloqueei a tela do meu celular. Tentei voltar a dormir, mas só consegui tirar curtos cochilos até às oito da manhã. Depois disso me levantei, por que não dava para ficar mais deitada naquela cama.

Com cuidado saí do quarto e da porta mesmo eu vi meu pai dormindo no sofá. Torci para que minha mãe não estivesse no meu quarto e quando entrei suspirei em alívio. Ela provavelmente saiu para resolver alguma coisa.

Peguei um jeans e uma camiseta azul escuro liso mais roupa íntima e segui para o banheiro na ponta dos pés.

Entrei e tranquei a porta deixando em seguida meu celular em cima da mesa. Levantei meu olhar para o espelho e nada tinha melhorado do dia anterior, na verdade acho que piorou. Meus olhos estavam com olheiras gigantes e ainda estavam inchados e minha garganta doía um bocado. Passei a mão em meus cabelos e percebi que minha franja já estava muito grande.

Sara.

Peguei a tesoura na segunda gaveta e molhei minha franja inteira com água da pia.

Nicolas.

Juntei a franja e cortei apenas a pontinha e depois soltei para ver se tinha ficado bom.

Sara.

Minha cabeça latejava e a franja ficou reta o suficiente para eu continuar cortando.

Nicolas.

– Chega – disse para mim mesma em um tom baixo. – Vou ficar louca com isso.

Tentando bloquear qualquer pensamento, cortei mais um pouco e me dei por satisfeita com a franja, porém resolvi lavar o cabelo inteiro para saber se eu não tinha ferrado com tudo então me despi e entrei no Box.

Liguei o chuveiro e no momento em que a água caiu nas minhas costas à briga com Sara no começo do ano me voltou e eu percebi como tudo se encaixava agora. Como não havia pontas soltas nessa história.

– A única ponta solta aqui sou eu.

Fechei os olhos vendo Nicolas com os olhos levemente marejados ao saber que seus pais não tinham dito nada para Sara e a imagem dele segurando meu pulso quando tentei ver que música estava escutando e da nossa discussão.

Tudo parecia completamente distante agora e o jeito que Sara apareceu nesse mesmo banheiro me pedindo desculpa ocupava lentamente a minha mente. A sensação de abraça-la sob a toalha se mesclou a memória da sensação que aquele beijo provocou.

O beijo. A sensação dos lábios dela nos meus, suas mãos na minha cintura me puxando para mais e mais perto, o arrepio nas minhas costas... A água caindo ritmicamente nas minhas costas não estava colaborando muito.

Tudo aconteceu tão rápido.

Aquilo tudo sobre Nuno desde o começo foi ciúmes, então? Tudo aquilo sobre Ravena foi o que então? Como eu sou idiota. Deixei o shampoo cair no chão e quando me abaixei para pegar, escorreguei.

– Ótimo dia – resmunguei enquanto tentava ignorar a dor na base das minhas costas.

Eu me precipitei?

O que eu realmente sinto por Sara? E o que eu realmente sinto por Nicolas?

– Roxanne? – Bateu na porta me chamando. – Você acordou cedo, está tudo bem?

– Sim – respondi alto o suficiente para que ela me ouvisse. – Já saio.

– Ok!

Suspirei pesadamente e desliguei o chuveiro. Rapidamente me sequei, coloquei minha roupa e joguei fora o cabelo que estava na pia. A franja tinha ficado ok e ia deixar o resto do cabelo daquele jeito mesmo.

Saí do banheiro e vi que minha mãe tinha chegado pelo falatório na cozinha. Fui até a sala e meu pai estava com o travesseiro em cima da cabeça.

– Bom dia, pai – disse com um tom meio culpado.

Ele resmungou de volta e eu me dirigi para a cozinha logo vendo Érica sentada em cima da mesa de mármore e minha mãe tirando pão e bolo de sacolas. Quando me viu, deu um beijo em minha testa e um “bom dia”. Peguei uma caneca e coloquei água para fazer chá.

– Senta na cadeira, Érica – falei e ela revirou os olhos com um leve sorriso. Assim que se sentou me olhou de forma preocupada e eu apenas dei de ombros levemente. – Vai comer o que?

– Acho que vou no bom e velho pão com manteiga! – Ela suspirou e minha mãe riu. – Tia, me prepara café?

– É para já!

O microondas apitou e eu me levantei para pegar meu chá. Não peguei nada para comer por que meu estomago não estava muito bom. “Vou deixar esses remédios para dor de estomago aqui, Rexy. Não consigo entender seu estomago de princesa. ”

Tudo me lembrava dela. Por que as coisas ficaram desse jeito?

– Roxanne?

– Sim?

– Eu estava falando com você. – Érica mostrou a língua e sorriu. – Mundo da lua?

Quem me dera. Forcei um sorriso e lembrei que precisa perguntar para ela se estava tudo bem sairmos com Nuno, mas esperei até minha mãe sair da cozinha para mencionar o português.

– Você diz o garoto que te ajudou ontem? – Érica apoiou a mão no queixo e levou mais uma garfada de bolo a boca. – Ele parece ser gente boa e já que estas são as circunstâncias.

Esbocei um sorriso e achei graça da forma que ela falava. As circunstâncias estão um pouco complicadas para o meu lado, pelo que parece. Ela sorriu e eu tomei o último gole do meu chá antes de mandar para Nuno uma mensagem confirmando.

– Aonde quer ir?

– Podemos ir a um parque?! Faz tempo que quero ver de novo a natureza daqui.

Assenti com a cabeça e Nuno me respondeu que morava perto de um parque bem preservado. Passou o endereço e nós combinamos de nos encontrar dali a três horas. A perna de Érica começou a balançar debaixo da mesa e eu franzi a testa.

– Com o que está nervosa?

– Eu não estou nervosa. - Olhei para ela e ela revirou os olhos. – Sei lá, parece estranho eu conhecer um amigo seu logo de cara. E se ele não gostar de mim?

– Você não está falando sério – falei e ela deu um meio sorriso. – E eu achando que você era a pessoa mais segura desse mundo.

– Engraçadinha. – Revirou os olhos e suspirou. – Se fosse a Sara eu estaria igualmente nervosa, só para que você fique sabendo.

– Nuno é bem fechado, mas é um cara legal Érica. Nem precisa se preocupar.

Ficamos em silêncio por um tempo e eu sabia que ela queria perguntar como eu estava planejando em lidar com isso, mas como a boa prima que é, estava hesitando. Recebi mais uma mensagem e era Nuno novamente perguntando se nós iriamos almoçar por lá.

– O que você acha? – Perguntei ao terminar de dizer o que ele havia me mandado. – Conheço aquela região, tem uns restaurantes legais.

Ela sorriu e concordou comigo. Respondi confirmando e ele me mandou um sorrisinho. Peguei a louça da mesa e comecei a lavá-la já que tínhamos tempo suficiente até a hora de sairmos.

– Eu vou tomar banho então. – Érica levantou da mesa e saiu da cozinha.

Terminei de lavar a louça rapidamente e avisei para meu pai que iríamos sair mais tarde. Érica demorou um bocado dentro do banheiro e eu fiz uma nota mental para sempre tomar banho antes dela. Enfim, fui para meu quarto escolher uma roupa e decidi apenas trocar de camiseta e peguei uma branca estampada de apanhador de sonhos e calcei meu All Star preto.

Érica fez um ótimo uso daquelas duas horas que passou se arrumando. Senti-me até mal por ter ficado pronta em dez minutos. Para não a chatear me mantive quieta, mas não vi nada demais para ter demorado duas horas inteiras.

Ela estava linda, claro. O cabelo solto e os olhos delineados de preto mais a camiseta preta mullet e o short branco faziam uma combinação perfeita com a pele dela e a sua sapatilha preta. Estava bem... sóbria em comparação as suas outras roupas, acho que estava tentando causar uma boa impressão.

– O que acha? – Me perguntou parecendo estar ansiosa.

– Está ótima, Érica.

Suspirou e colocou um sorriso confiante no rosto. Minha mãe estava saindo e nós aproveitamos a carona até o portão B do parque onde marcamos de nos encontrar. Logo Nuno apareceu e foi bem estranho vê-lo com roupas normais.

Os cachos estavam bagunçados e úmidos, seu olhar se mantinha no chão o tempo todo e usava uma jaqueta preta por cima da camiseta azul clara. Seus jeans eram escuros e eu percebi que usava o tênis – que um dia fora branco – de sempre.

– É ele? – Érica me perguntou e eu assenti. – Ele é bonito.

Eu não consegui resistir e soltei uma baixa risada. Com um olhar orgulhoso ela me olhou me fazendo revirar os olhos. Quando ele nos viu, acenou e sorriu de lado.

– Nuno, esta aqui é minha prima Érica. – Eu os apresentei e ele a cumprimentou com um aceno de cabeça. – Então... O que querem fazer?

Foi meio desconfortável ver que nenhum dos três havia pensado em algo para fazer até a hora do almoço, porém Érica abriu um largo sorriso logo quando eu estava pensando que aquilo tinha sido uma péssima ideia.

– Vamos andar!

– Tão original. – Foi divertido ver a expressão dele quando Érica riu em vez de ficar irritada.

Érica praticamente aprendeu a não se irritar com essas coisas por minha causa. No começo eu dava tanta resposta atravessada e era tão irônica que chegou um momento em que Érica nem ligava mais e ainda tirava sarro. Com o tempo eu fui me soltando um pouco com ela e ela foi me ganhando com o jeito hiperativo e animado dela.

Então nós andamos. Demorou um tempo até que Érica perguntou a Nuno onde ele morou em Portugal. Achei que o assunto fosse chateá-lo, mas apesar de ficar um pouco incomodado, ele respondeu e logo estávamos conversando sobre como era morar lá.

Érica havia ficado lá por um tempo e já conheci a região, então começou a me contar o que viveu lá e cada coisa que passou por causa de palavras que pareciam, mas não eram. Arrancou um ou dois sorrisos – sinceros, acho eu – de Nuno com cada besteira que falou lá.

Eu estaria mentindo se dissesse que não pensei na merda que eu tinha feito ontem, mas não posso dizer que não me distraí com os dois.

O clima ficou leve e a nós começamos a falar sobre arte e mesmo que Érica não desenhasse nada, ela sabia muito sobre tudo e conseguiu a nossa atenção em pouquíssimo tempo. Afinal, ela não ganhou prêmios de melhor aluna do colégio inteiro por nada, a garota sabe das coisas de verdade.

– Sou com certeza muito mais de Humanas – disse uma hora. – Prefiro muito mais ir ao Louvre, passar horas ali a ficar resolvendo contas dentro de casa.

– O Louvre é realmente magnífico. – Nuno sorriu de lado.

– Você já foi? – Perguntei e ele assentiu.

– Roxanne, você tem que ir! – Érica disse e avistou um carrinho de picolé. – Vocês querem sorvete?

Nós dois dissemos que sim, eu pedi uma casquinha e ela disse que iria buscar. Nuno deu dinheiro para o sorvete dele e eu dei para o nosso. Assim que ela saiu, ele se virou para mim com a testa franzida.

– Você está com uma aparência péssima.

– Sinto lhe informar, mas você não está muito melhor. - Ele suspirou e passou a mão na nuca parecendo exausto. – Você conseguiu dormir ao menos?

– A discussão durou bastante e eu não consegui dormir depois. – Ele entendeu o que eu estava pensando e continuou: - Não estou me forçando a nada, Roxy. Vocês estão me ajudando a espairecer na verdade... A propósito, por que ela te chama de Roxanne? Seu nome é esse?

– Não, meu nome é Roxy mesmo. Érica apenas prefere Roxanne... Acho. – Dei de ombros e ele sorriu um pouco. – O que foi?

– Ela é bem... Excêntrica.

– O que isso significa? – Arqueei minhas sobrancelhas com um leve divertimento. – Do que está rindo?

– Só estou pensando que você faz umas amizades bem estranhas... quero dizer, Sara é completamente seu contrário. Ela é extrovertida e Érica também é.

– Pois é... Acho que eu nunca parei para pensar nisso. – Olhei para a direção do carrinho de picolé e vi Érica voltando. – É bom ter um amigo parecido comigo, entretanto.

Ele apenas assentiu e Érica veio em passos lentos tentando não derrubar as duas casquinhas na mão e o picolé.

– Eu vou sentir falta disso – disse suspirando. – Roxy? Eu não queria tocar no assunto, mas quando ela chegar aqui eu não vou conseguir te perguntar isso...

– Eu não sei, cara. – Fechei os olhos e inspirei profundamente. O ar estava leve e o sol estava batendo de um jeito gostoso. – Eu não sei como vou resolver isso. Eu só quero...

– Alguém me ajudar aqui! – Érica gritou e nós fomos ajuda-la.

O que eu queria?

– Obrigado. – Nuno agradeceu e pegou o picolé de limão que tinha pedido.

Voltamos a andar e tomamos nossos sorvetes em um silêncio confortável e eu comecei a pensar como eu iria completar aquela frase. Eu queria paz? Um pouco de distração? Na verdade, nem eu sei.

– Para falar eu estou com fome. – Érica disse assim que terminamos. – Vocês querem almoçar?

Nós a encaramos por alguns segundos e rimos. Rimos de verdade e isso me fez me sentir talvez mais leve...? O fato de que Nuno estava rindo também me fez me sentir melhor, pois estava na cara que seu estado emocional não estava muito melhor que o meu e eu agradeci por ser Érica ali com a gente.

– Claro. Vocês querem comer aonde? – Nuno perguntou e jogou fora o palitinho do sorvete enquanto nós limpávamos nossas mãos.

– Quero comer comida brasileira, pelo amor de Deus. – Érica disse de tal forma que nós dois rimos de novo.

Optamos por um restaurante por quilo mesmo. Érica colocou tanta feijoada no prato que eu jurava que ela não ia conseguir comer tudo aquilo, mas para a minha surpresa – e a de Nuno também – ela comeu tudo e enquanto terminávamos o nosso primeiro prato ela já estava na metade do segundo.

– Você é magra demais para ser possível... – Nuno estava com o tom mais desacreditado possível.

– O segredo é gastar toda essa energia. – Ela disse animadamente. – Sou capitã do time de vôlei.

Quase ri da cara dele e quando todos nós terminamos de comer, foi mais difícil do que o imaginado se despedir.

Nós dois sabíamos que ainda havia dois meses pela frente, mas mesmo assim foi difícil dizer tchau naquele momento. Érica o abraçou e ele ficou tão surpreso que dessa vez eu não consegui conter a risada. Nuno sorriu um pouco e deu dois tapinhas desconfortáveis nas costas dela antes de se desvencilhar do toque.

– Nos vemos segunda? – Perguntou e eu assenti. – Ok... nos vemos por aí? – Dessa vez a pergunta era para Érica.

Escondendo a surpresa muito mal, ela assentiu. Nuno foi andando para a casa dele e nós fomos para o ponto de ônibus. Enquanto esperávamos, ela me olhou e sorriu levemente.

– Seu amigo é legal.


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Notas finais do capítulo

Ai ai, capítulo 40 já :0

Gente, eu já vou começar a fazer uns negócios para o videozinho de agradecimento e eu queria poder agradecer todo mundo! Então, gente, comenta até o capítulo 43 para eu pegar o nome, ou favorita :DD (se quiser deixar uma recomendação, seria melhor ainda T^T)

Nos vemos logo logo!!



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