Dilemma escrita por Han Eun Seom


Capítulo 25
Retorno




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A semana que se seguiu não foi das melhores, mas Sara parecia se animar cada vez mais. Eu comecei a acompanhá-la nas visitas no hospital e tenho que dizer que o ver todos cheio de tubos não era muito animador, mas ela se sentia mais tranquila se a gente fosse lá.

Apesar de ela ser minha melhor amiga, eu estava carregando muita coisa dentro de mim. Estresse pra caramba que eu não podia falar para ela pelo simples motivo dela ser a mais afetada naquela situação inteira e foi ai que eu vi que o grupo de artes tinha sido mesmo o melhor para mim.

O trabalho com o teatro tinha sido adiado e nós somente começaríamos a ter aulas junto com eles em dois meses, mas ainda assim, como nossa professora é uma pessoa muito responsável – palavras dela – nós íamos aos poucos começar a pensar no que seria feito. A peça era A Megera Domada.

Eu passei a sentar ao lado de Nuno todas as aulas e eu comecei a falar tudo para ele. Começamos a realmente conversar. Eu falava sobre Sara, mas nada da briga que tivemos antes das aulas e nem das merdas que Nicolas fez, apenas as coisas divertidas. Percebi que nossos gostos musicais não eram muito parecidos, mas ao conversarmos deu para notar que nosso jeito de pensar sobre várias coisas era o mesmo. Ele me mostrou alguns artistas e uma rede social apenas disso e eu fiquei bem interessada.

– O que achou do site que te mostrei? – ele me perguntou em uma tarde. – Já fez uma conta?

– Para ser sincera nem me cadastrei – eu suspirei. – É tanta gente que desenha bem pra caramba que eu não tive coragem.

– Sério? – ele riu. – Acho que no começo eu era assim também.

– Ah tá – eu disse com um tom irônico e ele revirou os olhos.

– Ninguém nasce sabendo desenhar – ele disse. – Assim como você está fazendo agora eu treinei um bocado antes de desenvolver meu próprio traço.

– Hum – eu olhei para o meu caderno de desenho que tinha vários desenhos de prática de movimento e anatomia. Aquilo era um pé no saco, mas como ele disse... – Tenho que dominar os básicos para desenvolver meu próprio estilo, então?

– Eu não diria “dominar”, mas deve saber fazê-lo – eu o olhei com cara de interrogação e ele suspirou. – Apenas continua treinando, uma hora você entende.

Ele costumava falar as coisas e desistir no meio também. Acho que por causa disso também que o pessoal não se aproximava muito dele, bem, isso e o fato dele ser muito fechado em relação a si mesmo. Eu não me incomodava, entretanto, e até me identificava com o sarcasmo com que ele falava com alguém que tinha feito uma pergunta estúpida ou mesmo a ironia que ele tinha implícita em sua voz.

Nuno começou a notar que as pessoas estavam nos olhando e me perguntou se eu me importava com aquilo. Apenas revirei os olhos para ele e ele deu um sorriso pequeno. Era raro ele sorrir mesmo falando comigo. Eu treinava cada vez mais – eu queria logo entender o que Nuno tinha dito – e quando percebi minhas tardes estavam passando num piscar de olhos e semanas se passavam e nada de Nicolas acordar.

Sara apenas dormia na minha casa e eu senti que aquilo estava fazendo mal para os seus pais. Decidi então que nós duas íamos ficar na casa dela. Tanto minha mãe quanto meu pai achou aquilo uma boa ideia. Então numa sexta-feira Sara foi para a casa dela, nós achamos melhor dar um tempo para ela e os pais sozinhos.

– Manda mensagem se acontecer qualquer coisa – eu falei para ela. Sara assentiu e sorriu para mim dizendo que ia ficar tudo bem. – Vou para sua casa de manhã, ok?

– Tá bom – ela me abraçou e a observei pegar o elevador. – Até amanhã, Roxy!

Ela saiu cedo da minha casa e as horas passaram bem mais devagar sem ela lá. Até o jantar foi diferente. Talvez depois de um mês com ela morando em casa eu tenha me acostumado – mais ainda – a escutar sua voz a cada instante do meu dia. Fazia falta a presença dela na mesa de jantar e eu sabia que meus pais estavam sentindo aquilo também. Os dois a adoravam.

Após o jantar, nós duas começamos a trocar mensagens. Parece que ela também estava sentindo minha falta e é claro que aquilo me fez sorrir. Conversamos sobre séries e os episódios novos delas, Sara também me contou que tinha essa garota na aula de teatro que faria Catarina, a megera, que era muito legal e a estava a ajudando muito com seu papel.

Sara iria fazer a doce Bianca, irmã mais nova de Catarina, uma moça educada e muito cortejada. Eu torci um pouco o nariz enquanto ela me falava animadamente de como era essa garota. Eu perguntei o nome dela e Sara disse que eu não a conhecia (mas que surpresa), ela era do segundo ano e se chamava Ravena. “E você ainda diz que o nome do Nuno é estranho” mandei para ela em seguida algumas carinha rindo.

Tudo o que eu não estava fazendo naquele momento era rir. De qualquer forma, ela me mandou carinhas rindo também. Perguntei também se ela ia usar uma peruca, por que aquele cabelo azul não seria interpretado como algo doce e meigo, com risadas ela me respondeu que ia usar sim.

Seguimos mais um pouco falando sobre isso e depois mudamos o assunto. Quando já era meia noite, nos despedimos e fomos dormir.

Bem, pelo menos eu tentei.

Na hora em que fechei meus olhos muitas coisas começaram a passar pela minha cabeça. Eu não queria que essa tal de Ravena se aproximasse muito de Sara e não fazia ideia do por que. Também Nicolas no hospital meio que assombrava meus pensamentos todas as noites. Nós estávamos indo o visitar duas vezes por semana, toda terça e quinta que eram os dias em que saímos um pouco mais cedo.

Resolvi escutar um pouco de música e notei um pouco incomodada ao perceber que o que eu mais queria escutar naquele momento era exatamente a banda que Nicolas mais gostava.

– Eu tenho que parar de pensar tanto – resmunguei e coloquei a playlist pra tocar mesmo assim.

A sensação que o solo de guitarra me dá é algo incrível. É como se meu coração estivesse sendo acelerado por algo ao mesmo tempo em que minha mente estivesse sendo tranquilizada. Com meus olhos fechados eu me deixei minha mente ser levada pela voz do vocalista e a batida ritmada da bateria ao fundo.

Eu estava naquele estagio quase dormindo e pouco acordada quando a imagem de Sara chorando vem aparecendo na minha visão. Estava muito sonolenta para lutar contra ela e vi que ela estava novamente com o vestido do meu pesadelo. Desta vez, Nicolas estava lá na praia completamente inteiro, sem joelho quebrado ou o que quer que fosse.

Mas algo estava bem diferente. Nicolas estava abraçando Sara que chorava copiosamente na sua camisa. Tentei falar algo, mas nada saía da minha boca. Eu não estava entendendo aquilo e sinceramente eu não queria entender.

O sonho parou por ai e nada mais do que um fundo preto se seguiu na minha mente até eu acordar às oito horas da manhã.

Não tinha sido bem um pesadelo, mas sim um sonho estranho que eu não queria que se repetisse. Demorei na cama uns vinte minutos, no mínimo, até me arrastar para fora dos edredons. Eu ainda tinha que arrumar uma mochila para dormir lá.

Bocejando, resolvi fazer isso naquele exato momento. Liguei a luz e peguei uma mochila vaga no armário, eu teria que levar o material escolar já que eu planejava ficar lá durante um tempo. Enfiei roupas leves já que do nada resolveu fazer calor de novo, o uniforme escolar e minha blusa amarela por que ninguém sabe se o tempo vai mudar ou não.

Troquei de roupa colocando uma camiseta azul e um jeans claro. Peguei o All Star de baixo da cama e resolvi calçá-lo somente quando fosse sair.

Nisso, meu celular avisa que tenho uma nova mensagem. Sara tinha me mandado um “venha para cá logo” e eu fiquei receosa temendo o que tinha acontecido. “O que aconteceu?” mandei para ela, mas ela só disse para eu ir depressa. Com aquilo, eu calcei o tênis e fui para o banheiro escovar meu dentes.

Assim que terminei, coloquei a escova dentro da mochila e com a mochila da escola nas costas e a com roupa na mão eu me dirigi para a porta.

– Roxy? – minha mãe me chamou. – Querida, está tudo bem? Não vai tomar café da manhã?

– Ah, Sara me chamou e disse que era urgente – eu dei de ombros. – Posso levar uma caixa de chá?

Preocupada, minha mãe assentiu e eu dei um beijo em seu rosto. Com meu sorriso ela pareceu se tranquilizar mais um pouco, mas dava para notar que não ia ficar sossegada só com aquilo. Peguei a caixinha de chá e pedi para que dissesse ao pai que o amo.

Cheguei à casa de Sara em dez minutos por que o ônibus já estava lá e o motorista era bem rápido. Andei quase correndo para a casa dela e mandei uma mensagem para ela assim que cheguei.

– Oi – ela abriu a porta e eu vi que seu rosto estava muito pálido. – Vem, entra.

– Meu Deus, Sara. O que aconteceu? – ela me puxou para dentro e olhou para os lados. – Foi algo com o Nicolas?

– Vamos subir – ela ignorou a minha pergunta e simplesmente começou a subir as escadas.

– Sara! – eu a chamei a seguindo. Assim que entramos no seu quarto ela fechou a porta. – Me explica o que está acontecendo, por favor!

– Eu teria trazido a caixa para cima, mas era pesada demais para mim. Você vai me ajudar hoje a pegá-la, mas temos que fazer isso de madrugada – disse e eu podia notar a alteração na sua respiração.

– Sara você não está fazendo sentido nenhum!

– Eu achei Rexy – ela falou e eu podia ver seus olhos começaram a lacrimejar. – Eu achei o que meus pais vêm tentando esconder de mim durante todos esses anos que Nicolas estava fora. Do porque que ele foi embora! – uma lágrima desceu pela sua bochecha. – Eu não consegui ler muito por que minha mãe desceu e quase me pegou e...

– Sara! – eu segurei seus ombros. – O que tinha lá de tão ruim assim?

– Você vai ver.


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Notas finais do capítulo

Agora a pergunta é: eu posto daqui a três dias ou espero a semana que é de costume :)

Espero que estejam gostando! Deixem-me reviews dizendo o que acham que vai dar esse rolo :3



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