Os pés dela estavam levemente inchados e com marcas vermelhas se estendendo até os dedos. Melissa estava sentada desajeitadamente na cadeira, com os pés machucados cruzados na mesa e com o notebook apoiado no colo. Mantinha toda a concentração nele, tão concentrada que não se importou com a minha presença.

Seus olhos rolavam pela tela em uma velocidade incrível, enquanto trabalhava em mais umas de suas imagens pelo notebook, pude reparar que ela molhava os lábios com a língua constantemente.

Trabalhar pelo notebook era algo que Melissa fazia com uma facilidade incrível, não é a toa que seu chefe a liberava de vez em quando, como é nosso caso. Eu, por outro lado, quando comecei trabalhar de colunista do jornal local, fazia com quê uma atividade tão simples se tornasse um obstáculo, e então eu tomava coragem para pedir ajuda para as secretárias. Mas, com o tempo se passando, eu realmente amava esse emprego. Antes de tudo acontecer. Antes de Susan acontecer.

Meus pensamentos foram interrompidos pela voz de Melissa.

– Não consigo entender! Como é que criam o modo vibração nos celulares sendo que chama atenção o bastante para não fazer diferença? - Ela pergunta raivosa, revirando os olhos para mim. A luz da TV iluminava o quarto inteiro, principalmente seu rosto.

– Como? - Pergunto idiota. Afinal, Melissa estava com muita, muita, muita raiva de mim e não parecia querer ouvir minha voz muito cedo, e eu tinha medo de dizer -mais uma- coisa errada, no momento errado.

– Atenda, Richard. - Diz contragosto, concentrando-se novamente em seu trabalho, suspirando.

Procuro meu celular com os olhos, o achando no lado da chave do carro. Clico no botão principal, revelando uma imagem de Melissa fazendo um biquinho, e eu sorrindo abertamente, envolvendo sua cintura com meus braços; Tinha esquecido que a defini como tela principal há alguns dias, e permito que um sorriso bobo nascesse em meus lábios, o desfazendo rapidamente ao perceber que não estávamos mais assim por minha culpa, e, finalmente, vejo se havia uma ligação perdida, obtendo a resposta negativa.

Então meus olhos foram apontados para o celular dela, ao lado do meu. Fito Melissa temeroso, ainda mantinha-se concentrada em editar imagens para seu trabalho, seu rosto aprofundava-se cada vez mais na tela, seus olhos estavam vidrados. Ela não perceberia se eu desse uma olhadinha, e eu estava curioso o bastante para correr esse risco.

A primeira coisa que eu vira era uma ruiva abraçando Melissa, em suas bochechas havia uma quantidade grande de sorvete, e o sorriso atrevido de Mel indicava que fora ela que colocou segundos antes da foto ser tirada. A paisagem atrás delas era de neve, pude reconhecer Central Park instantaneamente. As duas tinham a ponta do nariz avermelhados e usavam casacos de couro sobre outros casacos. E então eu me questionei quem diabos tomava sorvete em um dia de neve.

Havia uma mensagem, e era de Emma, provavelmente a ruiva que estava na foto com ela. Lembro da conversa em que eu e Melissa tivemos um tempo atrás no carro, a respeito dela.

A mensagem dizia assim:

As coisas vão incrivelmente chatas por aqui sem você, loirinha. Trate de abandonar esse lindo e voltar para casa, sua safada. Preciso falar contigo, Nick está agindo bem estranho ultimamente.

Vi que era algo sério.

– Ahn, Melissa é o seu celular. - Estendo meu braço, constrangido por ter bisbilhotado segundos atrás. -E vai descarregar daqui há...

Ela suspira profundamente, o pegando de minha mão com uma certa brutalidade. Quando sua atenção fora voltada completamente a mensagem de sua amiga, e ela começou a teclar, respondendo. Um som preencheu o silêncio, um Ringtone bem irritante anunciou que o celular descarregou. Ela me encara séria, me culpando apenas pelo seu olhar.

– Definitivamente preciso ir á Nova Iorque. - Fala em um tom rude e autoritário. - Só de pensar em o quê este babaca está inventando...

– Nick? - Pergunto interessado, mesmo não tendo ideia de quem seja, e se ela me falou sobre, havia me esquecido.

– É.

– Eu... posso te levar. - Digo sem-graça, já que nossa discussão ocorreu algumas horas antes, e mesmo sabendo que o clima estava melhor, ainda continuava carregado de energia ruim.

– Não, muito obrigada. - Sorriu, levantando-se rapidamente e começando a juntar suas coisas pelo quarto do hotel. - Deve ser horrível ficar mais algumas horas com uma criança mimada. -Rosnou entre os dentes.

– Esquece isso, Mel. - Suspiro triste, escondendo meu rosto com as mãos, como se isso resolvesse alguma coisa. Percebo que ela não diz mais nada, apenas começou a arrumar algumas coisas que estavam pelo chão. Pegou o carregador e conectou no celular.

– Eu vou dormir, depois conversamos. -Anunciou por fim, soltando outro suspiro profundo. - E vou pensar muito bem no seu caso.

Encaro ela, com um sorriso cruzando meu rosto, ela devolve um olhar confuso. Antes que ela pudesse rejeitar, eu pulo em cima dela, a derrubando na cama. Encho seu rosto de beijos, e então ela começou a me tapear.

– O que você tá fazendo? - Ela perguntou me empurrando da cama. - Eu disse que irei pensar. - Desviou dos meus beijos, nervosa.

Seguro seu rosto com as minhas mãos.

– Isso é quase um "sim-aceito-suas-desculpas" - Sorrio maliciosamente, dando um beijo na ponta de seu nariz, que ela foi incapaz de desviar. Ela me fitou, e eu reconheci a mesma Melissa de alguns dias atrás, com a inocência nos olhos. E eu devo dizer que senti falta da mesma.

– Sai de cima de mim. - Ela ordenou lentamente, com as bochechas coradas. Quando saí e me afastei dela, ela exibiu um sorriso maldoso.

– Você dorme na cadeira.

– O QUÊ? - Pergunto erguendo os braços, pedindo explicações. Ela jogou um travesseiro em meu rosto e se aconchegou na cama, como se nada tivesse acontecido, apenas uma mosca atrapalhando-a.

– Ainda estou magoada, Rick. -Murmurou com os olhos semicerrados.

– Eu sei. - Deitei sobre ela novamente, e ela ficou ruborizada. Quando estava perto de seu rosto, me apoiei sobre os cotovelos. - E é por isso que peço quantas desculpas quiser, porque eu não consigo ficar mas nenhum segundo sem você falando comigo, Melissa.

Ela se virou na minha direção, minhas palavras a atingindo em cheio. Como eu estava a alguns centímetros de seu rosto, senti sua respiração ofegante e seu coração martelando forte sob mim.

Nos encaramos, observando as expressões um no outro. Meus olhos foram atraídos para seus lábios, turbilhões de pensamentos determinando que eu a beijasse, contudo, havia uma outra parte dizendo que seria loucura, que éramos apenas amigos - Se eu não estraguei tudo-, e então, com a fraqueza vencendo, eu me afasto de seu corpo encolhido, fechando os olhos por esse ato, como se o universo me odiasse completamente.

Eu não podia.

Não podia mesmo.