Blue Horizon A Luz da Liberdade escrita por Gislane Brito


Capítulo 6
Cap. 6 – Delirium de calor


Notas iniciais do capítulo

Agonia e sofrimento espreitam no espaço!



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O remédio que Noranti nos deu era realmente potente... Acordei com D’Argo gritando e nos sacudindo, a poucos Arns da partida do transportador para a Lua de Nixorah.

_ Tia Mary, Tio Micky... Papai está perguntando se vocês desistiram de colher Nixorah! Como vocês não atendiam ao comunicador, me mandaram para chamar vocês!

_ Já estamos indo, D’Argo... Preciso ter uma séria conversa com seu pai.

Senti meus dedos da mão esquerda latejarem e logo descobri o motivo:

_ Micky, você deve está muito estressado mesmo... Você mordeu meus dedos enquanto dormia, de novo!

_ Como é?! Não percebi nada disso... É verdade?! Me perdoe por isso, querida! Não vai se repetir...

_ Vamos logo, estamos atrasados... Acho que vou ter que dormir usando luvas!!!

No transportador, mais discussão...

_ John, você não tem medo de arriscar expor seu filho a um trauma desnecessário?!

_ Trauma? Mas do que você está falando?!... Ahhhh, isso... Não... Eu chequei antes se vocês dois não...

_ Você é o quê? Algum tipo de pervertido?!

_ Hei... O que aconteceu com o “Você é uma Lenda, John!!!” Tem gente que levantou com o pé esquerdo hoje... Eu só estava brincando...

_ Percebi que suas façanhas foram super valorizadas, irmãozão!

Aeryn usou de toda sua autoridade de ex-pacificadora para nos lembrar do objetivo de nossa missão.

_ Calem a boca, vocês dois... Temos uma civilização para salvar! A não ser que vocês queiram que eu busque o Rygel para ser o moderador da discussão!

_ Ok... Ok... Já terminamos, não é Mary?!

_ É claro, John...

_ Mary, você trouxe aquele seu tablet?! Que tal um pouco de música?

_ Boa idéia... Preciso mesmo relaxar um pouco!

Enquanto ouvíamos a canção, acertávamos os detalhes da missão:

https://www.youtube.com/watch?v=yBVyqK2IW_g

_ Tudo bem... Vamos ter que usar os trajes espaciais por causa do calor e da radiação. Mas a atmosfera é respirável? Perguntei...

_ Uhm... Ar rarefeito, gases sulfurosos pouco abaixo dos níveis tóxicos, gravidade... Cerca de seis décimos da terrestre, umidade... 55% na área das plantas e temperatura está na casa dos 35oC, relevo pouco acidentado... É... Dá pra respirar por lá, mas não por muito tempo. Não recomendaria o lugar para uma Lua de mel...

_ Ar rarefeito, hein?! Se eu fosse vocês não cogitaria tirar o capacete enquanto estivermos trabalhando... O lado bom é que cada um de nós poderá levantar até 150 quilos de brotos com facilidade, se estivermos respirando o ótimo oxigênio de nossos trajes.

Desci da nave imaginando como seria saltar em um ambiente com baixa gravidade, mas me contive quando olhei e vi aquele cenário incrível... Colinas salpicadas de plantas rasteiras douradas e um planeta multicolorido e com lindos anéis, “nascendo” por trás de um vulcão adormecido...

_ Uau!...

Meus devaneios cessaram quando alguém deu um tapa atrás de meu capacete...

_ Ao trabalho, poetiza... Não quero ver minha esposa derreter dentro daquele traje nada sexy... Seu marido feioso já começou a transpirar!...

_ Não sei como você se acostuma com este tipo de coisa! Invejoso... Ao trabalho...

Como previsto, em menos de quatro Arns, já havíamos enchido nossas redes com os brotos arredondados de Nixorah e nos preparávamos para voltar a nossa nave. Quando o pior aconteceu:

“Comandante, Crichton... Na escuta?”

_ Piloto, o que foi que aconteceu com o “silêncio nos comunicadores”?

“Este é um link direto entre Moya e o senhor. Não pode ser interceptado... Moya rasteou o sinal de transponder de uma nave Marauder. Calculamos sua trajetória e ela está indo direto para a Lua de Nixorah. Vocês devem evitar ligar os sistemas do transportador... Repito: Não acionem os sistemas da nave transportadora. Os marauderes fazem varreduras nos sistemas onde passam a procura de naves inimigas. Recomendo cautela”

_ Braca, quanto tempo estas varreduras podem durar?

_ Numa lua com a superfície deste tamanho, uma varredura pode durar cerca de três Arns. Mas eu não sei quanto tempo mais Aeryn e eu, poderemos suportar este calor.

_ Vou pegar todo o nosso estoque de água e o gelo químico dos contêineres. Espero que a visita de nossos “amigos” não se prolongue mais que isso ou coisa pior, eles resolvam “bater em nossa porta”. Mary, por favor, me diga que você se lembrou de desligar todos os sistemas da nave antes de acionar a camuflagem? Vou pegar nossas armas, só por precaução!...

_ É claro, John! Aquela visitinha que os scarrans nos fizeram a dois meses atrás ensinou uma lição que nunca vou esquecer. Escondi a nave mas, e nós?

_ Há uns 100 metros daqui eu vi uma pequena caverna. Os minerais daquelas rochas radioativas podem causar interferência nos sensores... Disse Aeryn.

_ Querida, eu já disse hoje o quanto amo você?

_ Não, John... Mas é sempre bom ouvir de novo... No caminho para a caverna você me diz, vamos logo!

Levamos os brotos de Nixorah e os suprimentos de emergência para a caverna. Mas, naquelas condições, o gelo químico se mostrou ineficiente para evitar a hipertermia nos sebaceans. O calor era sufocante... Aeryn e Micky não reclamavam, mas suas expressões deixavam claro o que eles já estavam sentindo... Muita dor!

_ Aeryn, sei que você já passou por isso antes e suportou bem, mas para Micky será uma prova de fogo, literalmente. Senti vibrações no solo... Acho que não muito longe daqui, há um rio de lava subterrâneo. Talvez a caverna não tenha sido uma ideia tão boa assim!

_ É isso, ou nos arriscamos ser detectados pelos marauders lá fora!

Micky com a voz angustiada, me pediu o cantil de água.

_ Para poder beber, você vai ter que tirar este capacete... O ar é respirável, mas o cheio deve ser horrível!

_ Preciso de água... Depois, tenho que voltar para a ponte!

_ Eu te ajudo, amor... Calma! Do que você está falando? Que ponte?

Eu tirei o seu capacete e o que vi, me quebrou por dentro. Micky estava com os cabelos molhados, uma palidez cadavérica e os lábios feridos.

Ele bebeu toda a água do cantil e se deitou exausto sobre a sua rede de Nixorah.

_ Ai meu deus!... Micky... Aguenta um pouco mais! A gente já vai voltar pra casa.

_ Mary...

_ Estou aqui, amor...

_ Você vai me ajudar a morrer?

_ Não diga bobagens... Não se atreva a...

_ Você é tudo que eu tenho!... Não deixe que a Morte Viva me alcance... Por favor!!! Você tem que fazer isso por mim e por nosso filho!

_ Não!!!

Chorando e desesperada, tirei o meu capacete e fiquei enjoada no momento em que o ar pesado com cheio de ovo podre inundou meus pulmões. Como não podia chamar John pelo comunicador, corri a procura dele... Eu não sabia mais o que fazer!...

_ JOHN... JOHN...

_ O que foi, Mary?...Como estão eles?

_ Aeryn, está fraca, mas agüentando... Mas Micky está muito mal. Ele está com o Delirium do calor... Por favor, me diga se o Piloto já liberou nossa partida!

_ Infelizmente, ainda não!!! Você tem que se controlar... Eles vão aguentar! Leve a minha água para aqueles dois... Eles não vão se livrar de nós assim tão fácil! Volte para perto deles, agora... Tenho que ficar mais um minuto para me certificar que, aqueles caras lá em cima não tenham resolvido descer!

_ Está bem! Por favor, volte logo e me ajude...

Nada teria me preparado para o que viria a seguir... Não vi Micky onde o havia deixado. Ele estava de pé, em frente a Aeryn... Com as mãos em volta do pescoço dela!...

_ MICKY... O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO??? SOLTE AERYN... VOCÊ ESTÁ MACHUCANDO ELA... SOLTE-A!!! É tudo uma alucinação... O calor está te fazer ver o que não existe!

_ Não vou deixar você chegar perto de minha família, bruxa!!! Nunca mais...

_ Pelo amor de Deus, Micky... Solte Aeryn... Ela é nossa amiga!!!

_ Aeryn... Aeryn... Ainda muito confuso, ele começou a soltar o pescoço dela.

_ Me desculp...

John chegou correndo e sem qualquer aviso, derrubou Micky com uma coronhada na cabeça.

_ JOHN... NÃO... NÃO PRECISAVA TER FEITO ISSO. ELE JÁ HAVIA LARGADO ELA!!! Gritei e depois o acertei com um direto no queixo.

_ Ai... Eu ouvi você gritando e... Eu não vi que ele já havia largado ela... Me perdoe!

John cuidou de Aeryn que ainda respirava com dificuldade. E eu nunca havia ficado com tanto medo em minha vida! Nem mesmo quando estava prestes a morrer pelas mãos daquele mercenário charrid. Testava os reflexos das pupilas de Micky a todo instante! Cada minuto durava uma eternidade... Coloquei uma compressa onde John o havia acertado com o cabo da arma, me concentrei nas batidas do coração de Micky e fiz uma prece silenciosa: Deus, por favor, não deixe meu Micky morrer...

John se levantou, foi em direção a saída da caverna e ligou seu comunicador:

_ Piloto, estamos voltando para Moya... Se aqueles panacas ainda estiverem em órbita!..

“Comandante, seu retorno está assegurado! O caminho está livre...”

_ E só agora ele me diz... Mary, me ajude a levar estes dois para o transportador!

Recoloquei os capacetes em Micky e Aeryn, e os levamos, um a um para a nave. Depois de colocá-los em suas cadeiras, os deixamos seguros pelos cintos de segurança. Depois ajustamos os controles ambientais para ajudar a temperatura corporal dos sebaceans voltar ao normal rapidamente. Por último, guardamos os Nixorahs no compartimento de carga e partimos daquela lua infernal!

Só consegui respirar aliviada quando Noranti garantiu que Micky estava com suas funções neurológicas normais e que logo acordaria... Aeryn se recuperou rapidamente, sem qualquer seqüela. Mais tarde, Noranti me disse que não sabia como Micky havia conseguido sobreviver a tanto tempo exposto ao calor sufocante daquela caverna... “Sebacians machos geralmente são menos resistentes ao calor que as fêmeas”, nas palavras dela. A sua única explicação foi que eu teria sido a razão dele ter se agarrado a vida... Mas, a verdade é que eu estaria morta a muito tempo se não fosse por ele!

Depois do que aconteceu, sugeri a John e ao piloto a realização de ajustes nos parâmetros de suporte de vida da leviatã Moya. A temperatura deveria ser gradativamente aumentada, meio grau a cada mês. Isto forçaria o organismo de todos os sebacians a bordo a se adaptar... Eles se tornariam mais resistentes ao calor, naturalmente! Eu seria a responsável por monitorar seus sinais vitais para evitar prejuízos a sua qualidade de vida. John concordou depois que Piloto consultou Moya e ela disse que estas suaves alterações também não seriam prejudiciais a ela. Caso a experiência se mostrasse ineficaz, a temperatura seria reduzida novamente.

Quando Micky acordou, se seguiu o ritual dos pedidos de perdão... Considerando as circunstâncias, os perdões não foram difíceis de ser concedidos. Aeryn nem mesmo se lembrava do que tinha acontecido... Eu me arrependi, profundamente, de ter deixado Micky e Aeryn sozinhos naquela caverna e de ter dado aquele soco em John. E John, foi o que mais se arrependeu do que tinha feito... Ele quis agradar Micky dando a ele toda a sua coleção de filmes de ficção científica! E, é claro, ele ficou muito satisfeito com o pedido de desculpas.

Noranti purificou o extrato dos brotos e enviou por um mensageiro kalish, toda a produção do medicamento... Milhares de vidas foram salvas... Pelo menos nosso sofrimento valeu a pena! Espero...


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Notas finais do capítulo

Tudo está bem quando acaba bem! Ufa... Mas que calor...



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