—O quarto de visitas está uma bagunça, Lê. – disse o observando tentar ligar para a mãe mais uma vez. Uma tempestade começou a cair assim que tiramos Elena do banho, e agora, na hora da janta, Leon tentava ligar para a mãe e ver como as coisas estavam na sua casa.

—Por que me diz isso? – pediu, desistindo e largando o celular na bancada. Ele pegou Elena do cadeirão e começou a brincar com ela. Mesmo estando de costas, eu podia ouvir as risadas de ambos, e isso fez um sorriso se delinear no meu rosto e meu coração se encher de alegria.

—É porque, com essa chuva, fico com medo de você voltar sozinho. – disse tentando pegar uma vasilha no armário alto da cozinha, e como eu não sou lá muito alta, não consegui alcançar por nada nesse mundo. Quem mandou ser tão baixa assim? Leon riu de mim e se aproximou, pegando a vasilha com facilidade, mas não me entregou.

—Pega a Lena. Eu faço o jantar hoje! – declarou, girando o corpo para que Elena ficasse de frente para mim. Peguei-a e deixei que Leon cozinhasse.

—O que o grande chefe vai preparar para nós? – pedi fazendo uma voz fina e mexendo a mãozinha de Elena.

—Hoje, princesa, seu pai vai tentar não explodir a cozinha. – ele respondeu para ela, que riu mesmo sem entender.

—Se precisar de ajuda, estarei aqui – avisei pegando alguns dos papéis do Studio para revisar. Ele revirou os olhos e riu.

—Vou precisar.

^*^

—Quem é a princesa? É a Lena, é sim!

Ouvi as risadas de ambos, mas realmente não estava preparada para a cena que me esperava no quarto: Leon jogado na cama, com Elena deitada sobre ele e os dois brincando.

—Ela nunca vai dormir assim – disse tirando a toalha do meu cabelo e o penteando rapidamente. Sentei ao lado deles e fechei os olhos, mas logo Lena veio para o meu colo. Abri os olhos e sorri para a minha filha. Era tão estranho pensar que a minha pequena logo completaria um ano, parecia que eu tinha acabado de sair do hospital com ela. E parecia que Leon sabia desde que a viu que Lena era sua filha. A conexão foi instantânea entre eles, e eu não podia evitar sorrir. Leon era o melhor pai que eu poderia pedir para Elena.

—Posso tentar colocar ela dormir? – Leon pediu. Assenti, levantando com Elena já no colo. Vamos para o quarto dela e logo que a troco, a entrego para Leon, que começa a niná-la. Como eles estavam brincando antes, Lena está bem elétrica, mas ele começa a cantar e a pequena ficou sonolenta, até dormir profundamente. Com todo o amor do mundo, ele a colocou no berço e se afastou sorridente. Liguei a babá eletrônica e fomos para o meu quarto, onde eu literalmente me joguei na cama. Leon riu de mim, mas logo em seguida se jogou ao meu lado.

—Dê graças aos céus que meu pai resolveu esquecer roupas aqui. – disse vendo que ele tinha trocado a calça jeans por um dos moletons que meu pai tinha esquecido aqui.

—Obrigado céus, então. – ele respondeu. Ri e me aconcheguei mais nele, o abraçando. Só depois de alguns segundos percebi o que tinha feito e tentei me afastar, mas Leon me abraçou e manteve-me perto. – Eu acho que nós precisamos conversar. – declarou depois de alguns segundos.

—É verdade. – encarei o teto. – O que exatamente somos Leon?

—De verdade? Eu não sei. – ele respondeu, escondendo o rosto em meu cabelo. Sua respiração fez cócegas em meu couro cabeludo e eu soltei uma risada. Ele notou e começou a me fazer cócegas.

—Leon, não ouse! – eu falei tentando não gritar por causa de Elena enquanto tentava me afastar dele, rindo que nem uma louca.

—Parei, parei! – ele riu, levantando as mãos em sinal de rendição. Ajeitei-me na cama e encarei o teto novamente. Ele imitou meus movimentos e deitou-se ao meu lado, mas ao invés de encarar o teto, ele me encarava. – Acho que ambos sabemos a resposta, não é?

—Eu não sei se estou pronta pra isso, Lê. As minhas prioridades mudaram, eu mudei. Eu tenho Lena e... Eu já não sou mais aquela menina pela qual você se apaixonou.

—Não mesmo. Você é muito mais que aquela menina, Vilu. Você é uma mãe maravilhosa, uma professora incrível, uma vice-diretora extremamente responsável, uma amiga confiável e uma filha que enche seu pai de orgulho e acima de tudo isso, continuam sendo quem você é sem deixar que as pessoas te mudem. Eu me apaixonei profundamente por essa Violetta, do mesmo jeito que sou apaixonado pela Violetta antiga.

—Lê... – meus olhos estavam marejados com essa declaração. – Eu nem sei o que dizer...

—Vilu, eu sei que nos afastamos e cada um teve sua razão, mas eu te quero de volta na minha vida, e não como amiga. Eu te amo. Aceita ser minha namorada... De novo?

—Sim! – eu chorava. É oficial, tenho um coração mole mesmo. – Sim, mil vezes sim!

Ele sorriu, revelando suas covinhas, e se aproximou se mim. Fechei os olhos, já sabendo o que viria em seguida, mas antes que nossos lábios se tocassem, Elena começou a chorar no quarto ao lado. Leon riu e se levantou a buscando e trazendo nossa pequena para a cama junto com ele.

—E foi só me ver que você parou de chorar, não é mesmo? – ele perguntou para ela, com tanto amor no olhar quanto possível. Deitou Elena no meio de nós dois e me puxou para perto dele, selando nossos lábios pela primeira vez em muito tempo.

E se eu senti uma descarga elétrica correr pelo meu corpo, ele não precisava saber.