Open Wound escrita por littlelindy


Capítulo 23
Dia de folga


Notas iniciais do capítulo

Olá, lindezas! Como estão?
Tenho a dizer que esse capítulo é mais que especial, pois recebi duas lindas recomendações. Queria agradecer a DarkSwan pelas lindas e incríveis palavras, as quais eu sequer tenho como recompensar. E, também, a potterhunteroncer que foi uma fofa e ainda tocou no ponto que mais me enche de alegria ao falar que leva algumas reflexões para a vida dela. Eu sinceramente não poderia estar mais feliz, MUITO obrigada. Esse capítulo vai para vocês duas s2



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Killian P.O.V

Na noite passada, troquei mensagens com Emma por um bom tempo. Era bom ter, novamente, uma conversa com ela, mesmo que isso fizesse com o que a saudade aumentasse. Queria ter ligado para ouvir sua voz, mas ela estava vendo filme com os pais, mas já fora suficiente. Conversar com minha namorada, de qualquer maneira, já anunciava bons ventos para o próximo dia.

Estava na delegacia jogando cartas com David pois, como na maioria dos dias, não havia muito o que ser feito, até que Belle entrou sorridente.

— Bom dia, meninos!
— Bom dia, irmãzinha. - respondi enquanto ela depositava um beijo em minha bochecha.
— Belle! Bom dia. - David disse cumprimentando-a.
— Quer jogar? - perguntei.
— Não, não. Posso ficar aqui?
— Claro que pode. Mas aconteceu alguma coisa? - disse preocupado.
— Não, eu só… Eu só não aguento mais ficar em casa. - ela disparou enquanto olhava para baixo.
— Está difícil aguentar Gold, não é? - David perguntou com certo pesar em seus olhos.
— Um pouco… mas vou passar a tarde com vocês, assim eu me distraio um pouco. - ela puxou uma cadeira e sentou-se perto da mesa.
— Ótimo, assim você pode ver seu irmão perder de novo. - Dave disse rindo enquanto jogava uma de suas cartas no centro da mesa.
— Você é muito burro, Dave! Mas eu agradeço por isso, com sua carta eu bati. Ha! Quem está rindo agora? - o provoquei rindo.
— Quer saber?! Agora eu vou acabar com os dois. - Belle disse animada pegando as cartas da mesa e amontoando-as para embaralhar.

Passamos a tarde inteira jogando uma mistura louca de buraco com canastra que David havia inventado e isso, consequentemente, dava-o permissão para alterar as regras e, assim, ganhar. Embora fosse o maior trapaceiro de Storybrooke, isso arrancava boas risadas de quem estava por perto, apenas pelo desespero que ele demonstrava ao perder. Belle havia esquecido a existência de Robert e, pelo menos naquele momento, agia como minha velha irmãzinha: sorrindo, brincando e conversando com toda pureza de sua alma.

No jantar da noite passada, vi minha irmã chorar e desabafar coisas que jamais desejei ouvi-la dizer. Emma fora, para ela, uma espécie de escuridão que, de maneira antagônica, trouxe luz para sua vida. Segundo Belle, a história de Swan com Graham fez com que ela percebesse o marido da forma como todos o viam. Ela que sempre o vira de maneira romantizada e auspiciosa, não conseguia mais fazer isso. Sempre brincávamos chamando-os de “a Bela e a Fera” e ontem, fazendo referência a esses momentos, minha irmã disse ver em Gold apenas uma fera, em seu sentido mais literal e rude. Embora com o coração quebrado, ela estava tentando ao máximo não render-se à exaustão. Divorciar-se de Robert agora seria a prova de que sabíamos de seus podres e, além disso, poderia provocar sua fúria. O que, convenhamos, era a pior parte, pois sequer sabíamos do que aqueles homens eram realmente capazes de fazer. Minha irmãzinha havia crescido e se tornado uma mulher extremamente forte, eu não poderia estar mais orgulhoso. Entretanto, mais do que todos, ela carregava o peso do sigilo dessa investigação.

— Belle? Amor, o que faz aqui? - Robert perguntou enquanto entrava no escritório. Já eram seis da tarde, sequer vimos o tempo passar.
— Oh, Bob! Eu vim conversar com Killian. - ela disse se levantando e ajeitando o vestido azul, demonstrando certo nervosismo.
— Não quero você enfiada numa delegacia com dois homens sozinha! - disse autoritário.
— Mas você não manda nela. E os “dois homens” são um irmão e o melhor amigo do irmão. Não estamos entre estranhos, Robert. Ou será que estamos? - disse firme, provocando-o.
— Acontece, caro Jones, que Belle é uma mulher casada e não é de bom grado que ela fiquei sozinha com dois homens. - Robert se contorcia para não começar uma briga ali mesmo, mas sinceramente? Eu queria brigar hoje.
— Você sabe que nós estamos no século 21, não é? - David perguntou rindo, entrando na brincadeira.
— Eu é… eu só estava chamando Killian para jantar conosco, amor. - Belle disse calmamente, embora tivesse apostado todas as fichas naquele convite maluco só para evitar uma discussão maior.
— Quando isso? - o marido respondeu friamente, provavelmente odiando a ideia tanto quanto eu.
— Hoje! - respondi rapidamente e fingindo animação.
— Sim, hoje. - Belle começou, lançando-me um olhar de reprovação, mas prosseguiu - Agora vamos, amor. Tenho muito o que fazer!
— Tudo bem, vamos. - Gold disse em tom baixo enquanto me encarava.
— Tchauzinho, até daqui a pouco. - acenei para os dois que saíam pela porta.
— Você vai pro inferno, Killy. - David disse em meio a gargalhadas.
— Não é querendo cortar seu barato não, mas você vai junto, Dave.

Jogamos mais uma partida até Mary ligar, quase matando David por deixá-la sozinha até aquela hora do dia. Os hormônios e todo esse período de gestação estava afetando minha amiga de maneira visível: andava mais nervosa, impaciente, tinha desejos loucos e não suportava ficar sozinha. Era algo torturante, por vezes irritante, mas não deixava de ser lindo. Eles estavam tão felizes! Mary já havia comprado diversas roupinhas para o bebê, mesmo que não soubessem o sexo ainda. David a acompanhava em todas as consultas e ultrassonografias, além de estar participando ativamente de todas as decisões sobre a criança. E eu não digo “todas” somente por dizer, é algo surreal. Já os peguei várias vezes discutindo desde cor da mobília do quarto até a faculdade em que ele seria aceito.

Falando ainda sobre loucuras, devo dizer que me arrependi amargamente em ter aceitado e marcado o jantar para essa noite. Eu, definitivamente, precisaria de uma garrafa de uísque (ou rum) só para aguentar mastigar e engolir alimentos enquanto olho para Robert Gold. Entretanto, digamos que eu esteja num bom dia, talvez por finalmente olhar-me no espelho e saber quem eu sou e o que quero. Além disso, consigo finalmente diferenciar minha saudade de Emma da patética dependência que pensei ter iniciado. Talvez eu a tenha começado, mas estou grato por tê-la interrompido enquanto havia tempo, não desejaria estragar meu relacionamento com ela. Ferir-me parecia uma má ideia, mas ferir Emma Swan soava-me como algo ainda pior.

Tomei um rápido banho e troquei-me, afinal, deveria jantar na casa de Belle e já deveria estar atrasado. Pensar em Gold sentado à mesa apenas me esperando despertou-me certa satisfação, mas tenho absoluta certeza de que minha irmã acabaria comigo por isso.

— Belle? - a chamei após bater na porta pela terceira vez e ela não atender.
— Killian, me desculpa. - ela prontamente abriu a porta, limpou as mãos no avental e ajeitou a franja que cobria-lhe parte do rosto. - Eu estava na cozinha, não ouvi você bater.
— Tudo bem. - respondi entrando e indo para a sala de estar. Chegando lá, deparei-me com Robert sentado numa poltrona acendendo um charuto. - E por que diabos eles não atendeu pra você? - perguntei, dirigindo-me a Belle.
— Porque eu disse que não atenderia. - Gold respondeu de maneira calma.
— Ela não é a sua empregada. - retruquei rapidamente.
— Nem sua cozinheira. Pelo que eu sei vocês jantaram juntos ontem à noite enquanto eu estava fora, não vejo razão para repetirem o programa entre irmãos.
— Eu sinto muito se sua esposa deseja minha presença no jantar justamente quando você retorna da sua viagem.
— Cala a boca, Killy. - Belle sussurrou, puxando-me pelo braço para a cozinha - Ele vai me ajudar com o restante, amor. - ela completou em um tom mais alto para que o marido escutasse.
— Ele é tão velho que daqui alguns dias você vai ter que usar um megafone para ele te ouvir. - disse sentando-me num banquinho na mesinha central da cozinha.
— Killian!
— Não venha me repreender não! Você me chamou para jantar, não pra fazer a rodinha da amizade.
— Se segura, tá? Por favor. - ela suspirou e pegou em minhas mãos, apertando-as - Está difícil para mim também, mas eu preciso que você me ajude.
— Tudo bem, eu vou me controlar. - bufei.

Não havia nada que eu pudesse fazer para ajudá-la na cozinha. Belle apenas havia arrumado uma desculpa para não deixar-me sozinho com Gold, o que, na minha opinião, fora uma estratégia sábia. Restou-me somente levar algumas travessas para a mesa, o restante estava pronto. Feito isso, sentamo-nos em silêncio e começamos a comer.

— Como foi a viagem, amor? - Belle perguntou.
— Ótima, fiz bons negócios.
— Sobre o que exatamente? Artigos para a loja?
— Sim. Precisamos renovar alguns materiais.
— Mas por que? Tem tantas coisas em bom estado no antiquário.
— Eu sei, amor. Mas às vezes nós precisamos renovar algumas peças, não é mesmo, Jones? - assustei-me ao ver que ele havia me colocado na discussão. Entretanto, meu corpo estremeceu ainda mais ao notar que aquilo, talvez, não era literalmente sobre a loja, mas sim de uma metáfora. Ou eu já estava paranoico com toda essa história?
— Claro. - disse simplesmente, mas logo prossegui - Foram negócios lucrativos, Gold?
— Certamente. Interessado no ramo, rapaz?
— Não, prefiro meus barcos e minha delegacia.
— Entendo, são ambientes mais… seguros. - ele disse, unindo as mãos por cima da mesa.
— Nem tanto, veja o que aconteceu com Graham. - respondi sem pensar. Belle apenas lançou-me um olhar assustado e, ao mesmo tempo, de reprovação, fazendo-me rapidamente enfiar um pedaço de carne dentro da boca para que eu parasse de falar.
— É, de fato. Todos estamos sujeitos a isso, não é mesmo? - Gold disse por fim.
— Er… sobremesa? - Belle ofereceu-nos com um sorriso discreto.

Saí da casa de minha irmã com milhões de tapas e socos enquanto ela seguia-me até a porta. Definitivamente, ela havia se arrependido de oferecer-me um jantar com o marido. Se eu pudesse escolher, jamais teria vindo. Se eu já estava assustado com toda essa história agora, com certeza, estava aterrorizado. Gold deveria saber de algo, talvez ele até mesmo tivesse me visto na Carolina do Norte. Ou, mais uma vez, eu estava fantasiando tudo pelo excesso de medo que estava sentindo ao aprofundar-me nessa investigação. Não temia por mim, meu maior receio era que algo acontecesse à Belle ou Emma. De qualquer forma, as duas opções deixava-me em estado de alerta, tanto pela possibilidade de Robert saber das investigações, quanto da eventual paranoia e loucura.

Ao chegar em casa, mais uma vez, senti a falta de Emma. Seria incrível se ela estivesse ali, desejava tanto compartilhar tudo isso com ela, mas sabia que não deveria fazer isso. Swan deveria concentrar-se totalmente em seus estudos, eu não queria atrapalhar a conclusão de seu curso. Aliás, por falar nela, estava na hora da nossa ligação.

— Olá, capitã Swan.
— Boa noite, capitão Jones. - disse rindo.
— Como vão as coisas por ai?
— Ótima e em Storybrooke?
— Estão como sempre.
— E isso é bom? - perguntou desconfiada.
— Acredito que sim. - ri de maneira nervosa. Eu não iria contar sobre Gold, não poderia.
— Eu tenho uma coisa pra te contar.
— O que?
— Desmarquei meu encontro com Neal.
— Vocês se encontraram? Ele te ligou?
— Não e não. Calma, amor. - disse rindo e logo prosseguiu - Mandei uma mensagem mesmo. Disse que minhas supervisões haviam começado e que eu estava sem tempo. O que não é mentira, mas…
— Você não faz ideia do quanto eu estou aliviado com isso!
— Eu imaginei, ciumento! E ah, tem outra coisa…
— Ih, quando você fala assim é sempre algo ruim. O que houve?
— Vou começar a passar mais tempo com a supervisora e então o celular fica complicado, por isso algumas vezes eu vou mandar mensagens rápidas, tá bom? - ela disse um pouco triste.
— Tudo bem, amor. - suspirei longamente - Em seis meses tudo isso acaba.

Certamente tudo aquilo acabaria em seis meses, se isso não fosse um longo tempo de espera. O tempo estava passando, já estávamos na metade do quarto mês. Emma e eu, no começo, falávamos com certa frequência, apesar das irregularidades, mas agora o contato estava enfraquecendo. Após o dia do jantar com Belle e Gold, as conversas por mensagens foram ficando cada vez mais constantes e o tempo entre as respostas cada vez mais longos. Eu tinha medo em perdê-la. Tentei várias vezes ligar para o celular ou para o número da casa, mas sempre acabava caindo na caixa postal ou com um dos pais dela atendendo. Aliás, nos últimos dois meses eu conversei mais com Josh e Ginnifer do que com a própria Swan. Aliás, o pai de Emma é um cara incrível, além de um perdido fã dos Lakers no leste do país - assim como eu. Era sempre engraçado quando ele atendia, pois sempre saia algo como “Emma não está, mas você viu o jogo de ontem?”. Meu maior medo não era que ela encontrasse outro, era apenas que o sentimento se desfizesse naturalmente. Swan estava afogando-se em trabalhos, enquanto eu tinha uma delegacia vazia para cuidar. Eu já havia colocado todo o restante da papelada em ordem, feito a manutenção da Jolly Roger e o tempo não se preenchia. Seria mais óbvio se ela sentisse medo de que eu a trocasse (ou coisa do tipo) do que eu, meu mal é ter mais tempo para sentir saudade. Minha avó sempre dizia que “mente vazia é oficina do diabo”, talvez ela estivesse certa.

— Eu sabia que te encontraria aqui. - ouvi uma voz conhecida ao meu lado, fazendo-me despertar e erguer o corpo, já que estava escorado no timão da Jolly.
— Belle? O que faz aqui? - perguntei confuso.
— Fui à delegacia e David me disse que você tirou o dia de folga. Já que você não estava em casa, presumi que estivesse por aqui.
— Não que eu tenha “tirado o dia de folga”, essa paz aqui é quase meu trabalho… só que ao ar livre.
— Deixe-me adivinhar, você com esse sarcasmo e mau humor todo está sofrendo de… Emma Swan. - ela disse calmamente, mas com um olhar travesso.
— Eu só sinto saudade. - suspirei e voltei a escorar no timão.
— Quatro meses já se passaram. Está perto! - Belle se aproximou e repousou uma das mãos em meu ombro, fazendo-me carinho.
— É… eu sei. E como você está? Se veio me procurar tão cedo assim, alguma coisa deve ter acontecido. Foi o Robert?
— Não. É só que, às vezes, eu também me sinto sufocada. Precisando de um pouco de ar e ter alguém pra conversar.
— Eu sabia que um dia seu irmão viria na frente das meninas pra alguma coisa! - brinquei.
— Deixa de ser bobo, Killy. - ela sorriu - As meninas tem me ajudado bastante. Regina e Mary sempre me chamam para sair e Ruby está quase sempre lá em casa, mas elas não são a minha família.
— E nem eu, irmãzinha. - dei-lhe um sorriso torto.
— Quem disse que não? Crescemos juntos, você foi criado na mesma casa que eu. Somos sim uma família, mesmo que não seja de sangue.
— Eu sei disso… - disse enquanto lhe abraçava, mas logo senti o vento batendo em meu rosto e tive uma das melhores ideias - Ei, você tem certeza que não tem compromissos para hoje a tarde?
— Sim, por que? - perguntou desconfiada.
— Então se prepara, irmãzinha. Nós vamos navegar hoje, como nos velhos tempos. E ai, topa? - perguntei animado.
— Sim senhor, capitão! - ela respondeu com um enorme sorriso no rosto e bateu continência em brincadeira.

Não conversei com Emma naquele dia. Aliás, era o segundo dia seguido que não nos falávamos, o que me deixava ainda pior. Entretanto, passar a tarde navegando na Jolly com minha irmã era algo incrível e que, certamente, compensava. Ter Belle no barco comigo era como viver minha infância e adolescência, e ver a alegria que ela também estava sentindo fez com que meu coração se enchesse ainda mais de determinação. Não era justo que ela carregasse o fardo dessa investigação sozinha. A presença de Gold estava começando a fazê-la mal, eu não podia mais suportar aquilo. Belle andava tão triste que pequenas coisas, quase insignificantes, a alegravam facilmente. Imaginem a explosão de felicidade que ela sentiu hoje ao ver dois golfinhos acompanhando a embarcação. Ela parecia uma criança ali, seria uma cena realmente muito fofa se as causas dela não fossem tão infelizes.

Retornamos às docas quase às seis horas da tarde, o que fez Belle correr para casa, afinal, estava evitando toda ação potencialmente geradora de discussão com Robert. Resolvi, então, ir ao Granny’s, já que não havia absolutamente nada para fazer e eu poderia encontrar alguém lá. Lembro-me de Emma dizer que esse era o bom de cidade pequena, todos se conheciam e iam aos mesmos lugares. E, embora isso soasse como algo ruim, você acabava se acostumando e gostando daquilo. Aliás, como não lembrá-la nesse quesito se nos conhecemos exatamente assim? Recordo-me como se fosse ontem, eu estava chegando ao Granny’s e vi uma mulher loira com dificuldades em carregar as malas para o hotel da vovó. Eu estava morrendo de fome, havia encerrado um caso complicado na delegacia (aliás, o último caso difícil que eu consigo lembrar), mas não podia deixá-la ali sozinha. Corri para ajudá-la e percebi o quão linda ela era. Apenas por curiosidade, perguntei se ela era nova na cidade, embora já soubesse da resposta, e com o humor de sempre ela respondeu-me com um “bom, pelo visto todos aqui vão me perguntar isso”. Ela não escondia o estranhamento, e até fascínio, pelas coisas que encontrava aqui no interior do Maine, mas também não fazia questão disso. Swan se sentia maravilhada com toda recepção, curiosidade e até praticidade das coisas por aqui. Não pude evitar o sorriso que se formava em meus lábios só por pensar nisso, percebendo-o se alargar ainda mais ao entrar no restaurante e ver vários rostos conhecidos ali. Todos estavam no que Swan chamava de “point”, incluindo David, Mary e Regina com o pequeno Roland.

— Olha só quem está chegando! - Regina disse ao me ver entrar.
— Tio Killian. - Rolando veio correndo, pulando em meus braços.
— E ai amigão, como você tá? - perguntei enquanto o ajeitava em meus braços e caminhava ao encontro do pessoal.
— Tô bem.
— Tá bem? E seu papai, onde está?
— Trabalhando.
— Hm, ele vem pra cá?
— Vem sim. - ele disse balançando a cabeça positivamente, depois apontou para Regina - Mamãe ligou para ele!
— Olá! - cumprimentei todo mundo, já que Roland estava no meu colo e me impossibilitava de fazer isso individualmente.
— E como o dia de folga? - David perguntou.
— Ótimo, sai com Belle para navegar.
— Com o barco? - Rolando perguntou animado.
— Sim, com o barco grandão do tio Killian. Quer ir comigo depois?
— Pode mamãe? - o garoto curvou-se rapidamente para trás, olhando para Regina e quase tombou para trás desequilibrado.
— Cuidado, Roland! - Regina advertiu - E sim, Killian pode te levar pra passear.
— Eba! - o garoto comemorava no meu colo e logo pediu para descer, pois queria contar para todos que iríamos sair juntos na Jolly Roger.
— Eu adoro esse moleque. - disse rindo, observando-o parar todos que via pelo caminho.
— Só não saia do restaurante, filho! - Regina gritou, arrancando um "tá" do garoto que já estava do lado oposto. - E então Jones, alguma notícia da Emma?
— Nenhuma. - disse cabisbaixo - Mas ela logo volta.
— Você sente falta, não é? - Mary perguntou enquanto apoiava as mãos na barriga, que nem estava tão proeminente assim, mas ela havia adquirido esse novo "hábito".
— Demais.
— Ei, ela vai voltar. - David disse batendo em meu ombro.
— Eu espero, Dave.
— Chega de pensar nisso. Aliás, eu preciso falar com você.
— Agora, Dave? Eu tô morrendo de fome. - disse beliscando algumas batatas restantes do pedido de Roland.
— Agora, Jones! - ele se levantou e puxou-me pelo braço em direção à saída.
— Anda logo, fala. - disse impaciente.
— Eu só... - David ia começar a falar, mas então parou e olhou fixamente para algum ponto atrás de mim, fazendo-me acompanhar seu olhar até a loja de Gold. - Mas que porra é aquela? - perguntou referindo-se ao caminhão com letreiros apagados nas laterais.
— Eu não faço ideia, mas gente vai descobrir. Vem! - bati em seu peito e andei discretamente em direção à loja.
— Atrás do carro. - David sussurrou e, então, fomos para a traseira de um dos veículos estacionados na rua.
— Eu acho que conheço aquele cara. - apontei para o homem de blusa cinza que estava de costas.
— Conhece?
— Eu acho que ele é o Neal.
— Neal? - perguntou confuso - Oh, o ex da Emma?
— É. Será que ele podia ser só "Neal" ou então "Neal que traiu o Graham"? Dá pra tirar o "ex" desse meio ai?
— Killian, não é hora disso. - respondeu impaciente, eu apenas revirei os olhos.
— Ei, é ele sim! - apontei mais uma vez, vendo Neal adentrar a loja ao lado de Gold. - Vamos aproveitar que os dois entraram para ver o que tem no caminhão.
— Entendido! - David tomou partida, saindo sorrateiramente e chamando-me num gesto com as mãos.
— Dave! - o chamei, andando normalmente atrás dele - Eles já entraram, não precisa disso. Você não está em As Panteras. - sorri de maneira debochada.
— Você é um balde de água fria na minha vida, sabia?
— Olha logo pra ver se eles deixaram a traseira aberta.

David tentou abrir de várias maneiras, mas estava trancado. Rodeamos o veículo buscando uma outra entrada, em vão, entretanto, havia uma pequena janelinha na lateral com um vidro embaçado devido à sujeira. Talvez ela nos permitisse ver ao menos um pouco da carga. Fiz menção de que impulsionaria David e ele logo subiu em minha coxa para alcançar o vidro.

— Tá escuro, não dá pra ver. - ele disse.
— Acende a luzinha do celular, David. Se vira! - disse rapidamente e com certa dificuldade, afinal, ele era pesado.
— Não tem nada aqui. - ele mexia o celular de um lado para o outro com a lanterna ligada e a testa colada na janela - É só madeira e móvel velho. - disse por fim, pulando no chão.
— Mas não faz o menor sentido. Por que Neal traria isso para Gold?
— Que tal a gente bolar essas teorias em outro lugar? Daqui a pouco eles saem e podem pegar a gente aqui.
— É, é melhor mesmo.
— E eu tenho que te contar uma coisa! - David retomou o assunto inicial enquanto voltávamos ao Granny's.
— O que? - perguntei.
— Mary estava olhando alguns berços para o bebê, mas eu mesmo fiz um com a ajuda do Marco. Você acha que ela vai gostar?
— É claro que vai! Que pergunta idiota. - respondi sorrindo. É, meu melhor amigo logo seria pai e era incrível vê-lo feliz daquela maneira.
— É que ele não parece muito com os que ela anda olhando.
— Mas foi você quem fez, já é o suficiente.
— Espero. Passa lá em casa mais tarde pra eu te mostrar?
— Claro. E ah, antes que eu me esqueça: dieta, Dave.
— Dieta? - ele riu - Eu não tenho culpa se você é um magrelo fracote!
— Eu que não sou obrigado a te aguentar. Você tá enorme e pesado, Dave.
— Então espera pra ver o enorme chegar no Granny's antes de você. - ele me empurrou e saiu correndo.
— Criança! - gritei vendo-o na minha frente, mas logo me rendi e sai atrás. E, como nos velhos tempos, Killian Jones ganhou a corrida de David Nolan.

Havia sido um dia perfeito em que todos os problemas simplesmente desapareciam. Embora estivesse sofrendo tamanha saudade que eu sentia de Emma, tinha as melhores pessoas ao meu redor. Mary, Regina, Roland, até mesmo Robin e Ruby que não havia encontrado hoje, preenchiam as lacunas dos meus dias monótonos. Entretanto, Belle e David eram quem realmente tinham um dom especial, pois eram capazes de colocar todos os obstáculos e preocupações em segundo plano. Talvez eu encontrasse algum problema ou pista naquela entrega surpresa à loja de Gold, ou simplesmente acabasse enchendo Neal de socos, mas eu faria isso depois. Afinal, hoje era meu dia de folga.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, obrigada a todos que estão sempre aqui comentando. Vejo vocês no próximo? s2