Azul escrita por sunshine, Lanny, Olhos de Ressaca


Capítulo 5
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Invejo as flores que murchando morrem,
E as aves que desmaiam-se cantando
E expiram sem sofrer...

(Álvares de Azevedo)



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Losterwood, 1738

Joshua aportou na sua terra natal mais uma vez, a tripulação ficou tensa ao relembrarem o que houve naquele reino. Depois de tantos acontecimentos naquele lugar enfermo, somente o vento era agradável e acolhedor, as lembranças lhe consumiam, como se o prensassem em um pêndulo nas masmorras.

– Pai? – Arabela chamou-o, ele se virou e pôde ver a beleza da filha, os cabelos ondulados compridos faziam com que ele se lembrasse de sua amada; Os olhos eram parecidos com os do pai verdadeiro, porém isso somente a tornava mais bela; a pele bronzeada devido ao sol dava-lhe o ar de tripulante e seus modos se tornavam cada vez mais parecidos com os de Joshua.

– Perdão, querida. Isso lugar tem um magnetismo para lembranças sofridas. – Disse com um ar melancólico, mas ao mesmo tempo nostálgico.

– Estás bem? – Falou olhando no fundo dos olhos do pai que lhe criou. As feições eram delicadas e ao mesmo tempo fortes.

– Sim, estou. – começou a dizer. – Estou ansioso para lhe mostrar um lugar onde houve momentos memoráveis.

– E estou ansiosa para vê-lo. – A doce moça fala calmamente. A sua frente está o castelo, uma construção monumental cuja cor é marrom e as torres possuem alguns detalhes em dourado; a construção chama a atenção de todos ali presentes, mesmo sendo noite o castelo se mantem iluminado, pela lua e as estrelas que brilham constantemente no céu.

Caminham lentamente entre as sombras, pois ainda eram libertinos, e a pirataria era um crime com consequências muito severas, e o capitão Joshua sabia esplendidamente bem quais eram.

Entraram no castelo com certa facilidade já que o homem - que agora estava no auge de seus quarenta e cinco anos passou a infância toda naquele local - sabia exatamente por e para onde ir.

Havia muitos guardas na entrada do castelo, e pensou rapidamente que o reino poderia estar em uma fase ruim ou que o rei queria manter todos debaixo de si.

– É por aqui. – disse Joshua ao adentrar um corredor largo e se esconder atrás de uma pilastra banhada a ouro. Arabela está a sua frente se escondendo atrás de uma escultura com formas pequenas, e se encaixava bem a menina.

– O que estamos procurando? – Ela questiona olhando para os dois lados do corredor, e leva um susto ao ver seu pai correr em direção ao ar livre. – Pai cuidado! – Ela alertou-o, o medo lhe subiu a mente e o coração se acelerou; as bochechas começaram a corar em um ato de desespero de seu corpo.

– Não seja covarde, Bels. – Disse ele sorrindo desafiadoramente para a jovem – Venha comigo.

A menina saiu sorrateiramente de seu esconderijo e avistou seu pai logo a sua frente, parado em frente a um enorme carvalho. A imagem lhe soou familiar de certa maneira, o que fez com que a menina se sentisse mais a vontade com todo aquele lugar.

– Estive eu aqui alguma vez? – Indagou com curiosidade, observava de perto o banco e as rosas brancas que brotavam do lado oposto ao carvalho.

– Você nasceu neste castelo e viveu aqui até completar quatro anos. – Ele revelou, a menina se surpreendeu levemente, sabia que aquele não era seu pai, porém saber que nasceu em um castelo e que vivera ali era algo mais que novo para a mulher, agora com vinte e quatro anos.

– E porque nunca contou nada para mim? – Questionou sem olhar para o homem que sempre chamou de pai.

Ela o amava, mas a ideia de que ele possa ter mentido lhe faz ter fúria perante o mesmo.

– Eu lhe disse que sua mãe era alguém nobre, somente não achei que fosse a hora ideal para lhe dizer algo, prometi a alma de sua adorável mãe que lhe traria aqui um dia. – Ele falou como se aquilo não estivesse ocorrendo e como se a pobre Arabela soubesse de tudo há muitos anos, porém não era isso que estava acontecendo naquele momento.

– Sim, você disse, porém esqueceu-se de um fato importante. – Ela começou, a expressão estava tomada pela curiosidade, fúria, emoção. – Como me pirateou daqui?

– Você acabou de responder a pergunta. Pirateei-te – Falou tranquilamente, sorrindo. Os olhos já estavam tomados pelas lembranças de um passado, hoje distante, em que tudo era deslumbrante e grandioso perto do menino com um pai rígido e uma mãe amável.

– Você o que? – Os olhos se encheram de lágrimas, mas somente uma ousou escorrer pelo sua face.

– Sinto muito se a privei deste mundo encantado, hoje eu percebo a minha imprudência, mas creio que tenha lhe criado bem. – Disse finalmente se virando para Arabela, a ponta dos lábios estavam curvadas mostrando um leve sorriso e os olhos demonstravam ternura.

Arabela resolveu assimilar tudo aos poucos, não achava que o pai estava errado, pelo contrário, amava o mar e navegar era sua vida. Porém toda a história de reinos não foi contada, e aquilo a chateava de certo modo.

Sentou-se ao pé do carvalho; deveriam ser quase quatro da manhã, então estavam cientes de que ninguém estaria acordado àquela hora. Observou o enorme carvalho, agora com um aspecto grande e imponente, porém um tom de envelhecido.

– Por que este lugar tem tanto valor?- Questionou sem o olhar nos olhos, a mágoa estava formada, mas o amor ainda se sobressaia.

– Nós vivíamos aqui durante a infância, Lilian sempre adorou jardins. – Respondeu ao se sentar ao lado da filha.

– Você amava-a?

– Sempre a amarei. – Corrigiu-a.

A menina depositou a cabeça no ombro do pai, gestos de carinho em meio à tripulação eram algo desprezível, porém naquele momento eram somente pai e filha.

– Eu também sempre lhe amarei. – Arabela completou.

Nada foi dito naquele momento, palavras se fizeram desnecessárias para a emoção que estava presente no momento. Talvez eles houvessem nascido para ser pai e filha e somente ainda não tinham a noção deste fato.

Arabela observava todo o carvalho, e observou algo que não fazia parte daquela memória, era um tipo de plástico ao pé do carvalho, como se tivesse sido enterrado há muito tempo e que a chuva o tivesse trazido de volta a vida; Pegou o pequeno plástico e notou ter um envelope dentro, não deu muita atenção ao pai, que olhava as ações da menina com atenção.

Ao desembrulhar o envelope tirou de dentro uma folha. Era uma carta.

– O que é isso?- Questionou Joshua.

A menina continuou a desembrulhar, e começou a ler. Ao ler a primeira palavra seu coração parou, seus olhos se encheram de lágrimas.

– Esta carta lhe pertence. – Lhe entregou e limpou as lágrimas que insistiam em brotar, o conteúdo da carta pertencia ao Joshua, seu pai.

O coração de Joshua saltou, sua respiração ficou ofegante e não conseguia controlar a visão já turva.

Foi então que leu a carta que mudaria por completo a história.

Seus olhos se fecharam, e uma lágrima escapou.

Sorriu para Arabela, e de mãos dadas com a garota retornou ao navio. Sua filha conhecia-o bem o suficiente para não tocar no assunto sem que o mesmo mencionasse.

E olhando uma última vez para o lugar que fora um marco em sua história, selou aquele desfecho:

– Eu te amo, Lilian – Fechou os olhos e inspirou a brisa marítima. Seu silêncio prolongou-se até finalmente olhar fixamente para a ilha, agora um pontinho borrado e indistinto ao longe e acrescentou: - E sempre a amarei.


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Notas finais do capítulo

Finish.. Espero que tenham gostado da história :3
Até a próxima!
.sunshine
— Dreamy
Lanny



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