O vendedor de flores de Moscou (one) escrita por Evo Gonzales


Capítulo 1
Capítulo único - O vendedor de flores de Moscou


Notas iniciais do capítulo

Mas bah tche, eu nunca havia escrito uma oneshot, e foi óooootimo. E olha, muito rápido. Ontem eu vi o desafio deste mês e aí né, YAOI, eu AMO Yaoi então, vamos a escrita. E hoje, já está prontinha!!!
Eu gosto assim, Ukes dominantes, manipuladores, frios, andróginos, então, Alexey é assim.
Trama totalmente original, personagens, texto, trama, tudinho meu. Uhm, me inspirei em uma amiga!! Espero que gostem.



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***

Alexey se deliciava com um pedaço de carne em um dos quartos do prostíbulo. Ele comia o alimento semi cru sem importar com o sangue, talvez por conta da fome que assolava a Rússia em 1922, ou talvez por apreciar o quente líquido vermelho. O certo é que o jovem de pele clara não se incomodava com a origem daquilo que lhe fora dado como parte do pagamento por alguns momentos de prazer, o que lhe importava era que servia para matar-lhe a fome.

Enquanto comia, o moço sequer atentava para o belo soldado que vestia sua pesada farda, trazendo no semblante a imagem tola de uma criança após deliciar com um saboroso doce. Ao se vestir, o soldado dirigiu até o rapaz na esperança de arrancar-lhe um último beijo. Porém, não conseguiu nada mais que a esquiva de Alexey.

— Já lhe prestei o serviço e você já me pagou. Teu tempo acabou, me deixe comer em paz - disse sem olhar para o soldado ou parar de dilacerar o naco de carne, com um leve fio de sangue lhe escorrendo pelo canto da boca. Quase ouviu-se um rosnado da boca do jovem.

O soldado já conhecia aquele belo ruivo e sabia que não era bom desafiá-lo. Poderia acabar em uma das valas nas vielas podres de Moscou com um pouco de carne no corpo e o resto, servido de alimento ao moço. Resumiu então, a colocar seu revólver à cintura e rumar para fora do quarto, deixando ali o belo jovem com seu apetitoso jantar.

Ao terminar a refeição, tomou um bom banho para limpar-lhe as impurezas e colocou a veste de seda fina que o soldado lhe trouxera como pagamento. Colocou perfume e ajeitou o cabelo frente ao espelho, cuidando para que a roupa ficasse bem alinhada. Colocou seu mocassim de couro fino, recebido como pagamento há alguns dias, deixou ali os restos de seu alimento e saiu também do quarto. Passou pelo centro da taberna de luz parda sem ater aos pedidos por companhia ao tilintar dos níqueis. Era sabido por todos que ninguém satisfazia melhor as necessidades de um homem que o belo prostituto Alexey. Porém ele, sem dar atenção, rumou logo à porta, pois tinha algo importante a fazer naquela noite. Riév, seu amigo, seria enforcado em dois dias.

Na viela, caminhou apressado até chegar a uma rua mais movimentada onde logo pegou um taxi.

— Ao Mercure Arbat Moscow, por favor - disse com voz calma ao senhor ao volante.

O motorista fitou o belo rapaz pelo retrovisor e estranhou alguém daquela parte fétida da cidade desejar ir ao Mercure, o melhor hotel da capital. Porém seguiu viagem sentindo o doce aroma do rapaz.

Em alguns minutos estavam eles em frente ao impávido hotel. Do outro lado da rua o motorista recebeu seu quinhão e deixou ali o passageiro.

Estava às bordas da meia noite quando uma limusine branca parou em frente ao Mercure. Alexey deixou o poste onde estava encostado e atravessou a rua, deu uma longa volta por entre alguns canteiros de flores que adornavam a entrada da construção e logo, por um mero acidente, tropeçou em um dos degraus caindo por força do acaso aos pés de Rarminov, o general da brigada de execução.

— Meu jovem, está bem? - indagou o prestativo senhor baixando e estendendo as mãos ao menino.

— Talvez tenha torcido o pé… mas não foi nada, não se preocupe - respondeu o jovem fitando os olhos azuis do belo senhor de barba cerrada que trazia uma boina à cabeça e uma farda com muitas medalhas ao corpo.

— Venha, deixe-me ajudá-lo. É conveniente que eu o leve até o saguão para ver se realmente está bem, talvez precise de cuidados - concluiu o general.

Atado à mão do militar, Alexey levantou-se com esforço em meio à tentativa de um dos soldados em tomar para si o encargo de transportar o moço. Porém ele, sem pestanejar, ostentou-se aos braços do general. Rarminov, após recusar prontamente a ajuda do soldado, tendo que repreendê-lo com veemência para que não tomasse para si o encargo, sustentou o rapaz aos braços. Debruçando sobre os ombros do ávido senhor, deixou que sua respiração aprofundasse por entre as orelhas do homem e seus longos cabelos ruivos caíssem pelas costas do mais velho.

Enquanto caminhava, o militar sentia a respiração do rapaz, que abraçando o alvo senhor, roçava-lhe a barba com o rosto meigo e angelical. Às vezes, com desintenção a boca entreaberta esgueirava na extensão do pescoço, molhando-o suavemente. O forte homem, de braços rudes e firmes, levou Alexey até ao saguão e o pairou em uma confortável poltrona.

— Deixe-me ver melhor seu pé, pode tê-lo quebrado até - disse ajoelhando-se aos pés do rapaz.

— Creio… creio que está bem, deve dar pra andar - ao proferir, cruzou seus olhos verdes aos azuis do general, deixando crescer em seus lábios, um sorriso encantador, enquanto ajeitava os longos cabelos atrás de uma das orelhas.

Por um momento o senhor ateve-se a observar o menino, absorvido pela visão de um anjo. - Não é conveniente andar por aí com os pés assim. - De pronto, pôs-se em pé - Passará a noite no hotel, amanhã, se estiver melhor, poderá ir - disse pronto para novamente ter o rapaz nos braços e carregá-lo dali.

— Não - retrucou Alexey - Eu irei... não precisa se preocupar comigo - completou pondo-se em pé, mas não sem deixar de apoiar no general e fitá-lo fundo nos olhos.

— Está decidido, ficará em meus aposentos. A cama é confortável. Eu ficarei no sofá que é confortável igual - terminou a fala já pegando novamente o jovem aos braços, rumando para a cobertura onde estava hospedado. Alexey aconchegou o rosto ao peito do general, onde sentia o coração pulsar, escondendo um sorriso por entre os lábios. O sorriso dos vencedores.

A porta do apartamento foi aberta e uma tênue luz clareava o local. Passaram pela sala e o senhor direcionou já logo para o quarto. À luz de um abajur, o general pousou o belo rapaz por sobre a confortável cama.

Ao descer do colo de Rarminov, Alexey permitiu que sua mão acariciasse a barba do mais velho. - Fico grato pelo que faz. Não haverá paga que recompense - disse alisando o entorno do pescoço do homem, rindo sedutoramente.

O moço sentiu a respiração do general se aprofundar, tornando mais forte e densa - Você… você é muito atraente, meu rapaz - disse com voz tensa e semblante perdido, já totalmente envolto aos encantos do prostituto - Quem é você? - perguntou um tanto atônito.

— Eu vendo flores na praça - falou inocentemente, como um anjo do Senhor.

Com a boca entreaberta, Rarminov observava atônito o rapaz. Como era belo aquele corpo estendido por sobre a cama, com os longos cabelos ruivos a espalhar-se por sobre o edredom de cor púrpura. Os olhos verdes naquela pele clara e sardenta, como pequenas sementes de ervas raras a adornar o mais saboroso dos bolos. As mãos de Alexey continuavam a acariciar a barba do general e um lindo sorriso crescia no semblante do moço enquanto olhava perdido aos olhos do homem.

— Posso… posso lhe contar um segredo? - indagou doce, quase como um sussurro.

— Claro - respondeu com voz adormecida o general.

— Eu me agrado por homens mais velhos - disse tão sedutoramente quanto uma avelã ao mel.

Alexey elevou a mão por sobre o pescoço do general e o trouxe até si, entreveirando-lhe em um beijo caliente. Logo colocou o homem ao lado na cama e montou sobre sua cintura. Carinhosamente, abriu cada um dos botões da farda, deixando exposto o tórax coberto por pelos grisalhos. Sem demora, desceu com a boca sobre eles, dando pequenas mordidas na pele e nos mamilos de músculos tesos.

Naquela noite o general sentiu um intenso prazer, intenso como nunca vivera até então. Depois do ato, carícias em meio a histórias fascinantes que fizeram Rarminov totalmente seduzido, acordando na manhã seguinte completamente à mercê do ingênuo jovem vendedor de flores.

Suaves réstias de sol entravam pela janela do hotel quando Alexey abriu os olhos, tendo a visão do senhor de músculos alvos lhe servindo um saboroso café da manhã. Um sorriso com um leve naco de tristeza cresceu nos lábios do rapaz, sendo afogado em um beijo com intensa troca de línguas. O moço comeu com chá alguns pães cevados enquanto olhava apetitoso os músculos do mais velho. Haveriam de ter um ótimo sabor.

O general não foi ao trabalho, por certo era grande o desejo de estar com o rapaz. Juntos almoçaram e depois, novamente o amor, com carícias incríveis proporcionadas ao senhor pelo jovem rapaz, deixando-o cada vez mais encantado com a presença daquela forma angelical que passara a fazer parte de sua alma. Parecia insuportável uma separação, o moço bem sabia se fazer sedutor.

Passaram juntos a tarde entre conversas e amor. O general se encantava com a fala de Alexey. Como eram doces as palavras, como era meigo o tom da voz, como eram intrigantes e sedutoras as histórias, como era apaixonante aquele moço. Entre uma fala e outra, entre uma carícia e outra, entre um amor e outro, uma leve fagulha de tristeza ao semblante do rapaz. - Não é nada - dizia ao ser questionado, já se fazendo em risos.

Naquela noite, um jantar à luz de velas. Em uma mesa para dois no terraço da cobertura, eles se sentaram frente a frente. O belo jovem trazia uma camisa branca de tule francês e uma calça negra de renda soutache, presentes que o general lhe comprara naquela tarde.

Durante o jantar, o jovem deixou que um naco de tristeza voltasse a lhe assolar o semblante.

— Não posso deixar de notar certa tristeza em você, Alexey. O dia todo observo que traz tristeza em seu semblante. Isso me entristece também. Diga-me o que te atormenta - disse pousando delicadamente as mãos rudes sobre as delicadas do jovem.

Alexey desviou o olhar do mais velho e retraiu as mãos. - É que… é que me afeiçoei em você… mas terei que ir embora - permitiu se acabrunhar em uma tristeza extrema, deixando que uma lágrima lhe corresse dos olhos, manchando sua pele clara por entre as sardas.

Uma imensa tristeza acometeu a alma do general, que novamente buscou as mãos do menino - Não diga tal coisa, não permitirei que nada nos separe. Encontrar-te foi algo sublime que me aconteceu, você não irá jamais - falou de uma vez, com certa autoridade na fala, procurando o fundo dos olhos verdes de Alexey.

O jovem manteve-se com olhar baixo - É que realmente terei que ir - limitou a completar.

— O que lhe aflige, me diga e tirarei de ti tal flagelo - comentou com a mesma veracidade na fala, inclinando para se aproximar.

— O que me aflige não está em seu alcance, nada poderá ser feito, então, não se preocupe com isso, não deixe que isso estrague nossa última noite - falou enxugando as lágrimas e formando novamente um belo sorriso em sua face.

— Não será nossa última noite, estarei sempre contigo. Agora, fale-me o que lhe aflige - disse agora conseguindo encontrar os olhos de seu amado.

— Amanhã um amigo meu será enforcado. Ele foi acusado injustamente e sem ele aqui, preciso voltar para Aldan, minha cidade natal - disse baixando novamente o olhar, deixando a tristeza lhe abalar.

— Quem é seu amigo? De que foi acusado? - quis saber o general.

— Riév. Foi acusado injustamente de assassinato e canibalismo. Mas é inocente, ele vende flores comigo na praça - falou fitando os olhos azuis do senhor, com a certeza do que falava expressa em seu semblante. - Mas deixe isso, não há o que possa fazer... nem quero que se envolva.

— Eu sei quem é. Sou general da brigada de execução, posso sim salvar seu amigo - falou com voz mais calma quando um largo sorriso lhe enfeitou os lábios.

— Sabia que era militar mas… eu não sabia… não quero que pense… - falou com ar surpreso, retirando suas mãos das mãos do general já levantando da mesa. - Devo ir embora de imediato, não quero que pense que estou aqui para conseguir algum favor, você passou a ser importante em minha vida e não quero que tenha má impressão de mim, fique com os bons momentos - disse já se afastando da mesa, com uma tristeza amarga em seu semblante.

O general pôs-se em pé e percorreu atrás do moço, segurando-o pelo braço e virando-o para si. - Não penso nada de ti, nos encontramos por acaso. Eu… eu o amo, sei que nos conhecemos há pouco tempo, mas sim, eu o amo e quero estar contigo sempre. Não permitirei que algo tão simples de resolver atrapalhe nosso amor - trouxe para si o rapaz e o envolveu em um beijo, tentando tirar dele a tristeza contida.

— Já disse que não quero que se envolva… pode ser perigoso e não quero que se prejudique. Eu… eu gosto muito de você - disse olhando terno aos olhos do general.

— Não se preocupe com esse assunto, já o tenho por resolvido. Amanhã bastará uma fala minha - comentou com sorriso nos lábios envolvendo novamente o rapaz em um beijo. Depois, um abraço terno, escondendo o leve sorriso no canto dos lábios no jovem rapaz.

Rumaram os dois para a cama. O momento de tristeza se tornou um tempero a uma noite de amor, mais ainda caliente que a anterior ou o dia que passaram juntos.

No dia seguinte o general acordou cedo e após preparar o café para o amado, rumou para o quartel onde seria executado o jovem russo naquela manhã. Regressou algumas horas após partir e entrou sorridente pelo apartamento, encontrando o jovem apreensivo.

— Acalente seu coração, seu amigo está livre - falou com um largo sorriso nos lábios, vendo se formar outro com a mesma intensidade no semblante de seu amado.

Alexey envolveu seus braços delicados ao pescoço do general e o trouxe em um beijo, permitindo que o roupão que trazia corresse ao chão, deixando desnudo seu corpo suave. Caminharam para o quarto, onde o rapaz lançou o senhor sobre a cama. Sentou-se sobre sua cintura e principiou a retirar-lhe a farda.

Carinhosas mordidas arrancaram alguns pelos grisalhos e a língua percorreu toda a extensão do tórax, chegando até a orelha, com singelas mordidas no lóbulo antes que a língua explorasse seu sulco.

— Devo lhe agradecer agora pelo que me fez, meu general - falou com voz doce e sínica, aos ouvidos de Rarminov.

Sem levantar o corpo, com uma navalha de fino fio, cortou de uma vez a garganta do militar. Levantou o corpo e viu a agonia da morte no semblante do senhor, enquanto o sangue vermelho manchava de púrpura o branco lençol.

Deixou ali o militar e caminhou até a porta, abrindo-a enquanto um sorriso lhe cresceu nos lábios.

— Trabalhou bem, meu amigo, achei que ia morrer - disse Riév, envolvendo Alexey em um abraço.

— Eu não o deixaria morrer jamais - disse suave ao amigo. Desfez o abraço, fechou a porta atrás de si e caminharam ao quarto, onde o general agonizava ainda não encontrado a morte definitiva, porém, inerte pela total desfalência.

Com a navalha, Riév cortou o músculo de um dos mamilos em um grande pedaço, observado pelos olhos estalados do general. Ofereceu a carne ao amigo que de pronto, iniciou a devorá-la. Depois, cortou o outro lado e saboreou ele próprio. Enquanto comiam, algum som foi ouvido da boca de Rarminov até que o silêncio da morte lhe veio por completo. Petiscaram com os próprios dentes mais algumas fagulhas de carne do corpo do homem, até que a fome de carne se saciasse totalmente.

Com banho tomado e qualquer resquício de sangue retirado de seus corpos, caminharam tranquilos para fora do hotel. Não sem antes recolher dinheiro, joias e pequenos objetos de valor dispostos pelo apartamento.

— Teremos que ir embora daqui, Riév, logo perceberão a morte do general e é certo que chegarão a mim - disse o jovem com voz tranquila.

— Há um país na América do Sul, dizem que é muito promissor - respondeu o belo rapaz de cabelos negros.

Alguns dias depois, em 30 de abril de 1922, eles desembarcaram no Rio de Janeiro. Quiçá, iam vender flores em Copacabana.

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Notas finais do capítulo

Foi assim: Gostei da proposta, depois pensei: Em que tempo??? 1922. Mas onde se passará??? Que tal a Rússia??? Boa ideia. MAS, como era a Rússia em 1922??? (Google) Uhmmmmm, tinha muita fome lá neste período , pessoas comiam até carne humana pra sobreviver!!!! CANIBALISMO.OK, tá pronto o cenário, a trama e o perfil dos personagens!!!! Os nomes??? Vem na hora!!!!