All Of The Ways escrita por Rosenrot


Capítulo 1
Old behind new ahead


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.



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Só mais cem metros. Respirar. Certo, eu sei fazer isso. Inspira. Expira. Um pé depois do outro. Minhas pernas doem. Essa música é horrível.

Empurrei minhas pernas o máximo que pude e quando acabei os 12 km me joguei na grama de alguém, respirando desreguladamente. Desliguei a música e arranquei os fones.

Eu consegui.

Doze quilômetros!

Uma risada histérica subiu pela minha garganta.

Meu coração batia tão rápido que achei que fosse morrer.

Me sentei uns dez minutos depois, quando conseguia respirar sem ter que estar deitada e olhei ao redor. A cidadezinha não era ruim, e ganhou um ponto, já que completei os 12k pela primeira vez lá.

— Jesus!

Tomei um susto e rapidamente me pus de pé.

Um menino estava parado na porta da casa do jardim — no qual eu estava deitada alguns segundos atrás.

— O que foi? Eu.. Uh... Desculpa!

Ele sorriu.

— Nada, é só que você provavelmente estava sentada em não sei quanto xixi de cachorro.

Fiz uma careta de nojo que fez ele rir.

— Mas desculpa pelo que?

— Bem, porque, esse provavelmente é o seu quintal e eu devia estar parecendo uma louca ali deitada quase morrendo.

Ele olhou em volta sorrindo, colocou as mãos nos bolsos e deu de ombros.

— Você estava parecendo bem isso mesmo. Não tem xixi de cachorro nenhum ai, não que eu saiba.

— Então era só uma desculpa pra doida sair da sua grama?

Ele deu de ombros e levantou as sobrancelhas.

Depois caiu na gargalhada.

— Desculpa. — deu uma pausa pra respirar e continuou rindo, o que me fez rir também. Quando a gente se recuperou ele se virou e estendeu a mão.

— Eu sou o Tyler.

Comprimi os lábios e levantei os ombros, depois sorri e estendi a mão pra ele.

— Ashton.

Ele pegou na minha mão e levantou uma sobrancelha.

— Vitoriana¹ então?

Dei risada e balancei a mão dele.

— Talvez.

Soltei a mão dele e fiquei brincando com a barra do meu shorts de corrida.

— Eu deduzo que sua morte momentânea seja culpa de uma corrida?

Assenti e sorri orgulhosa de mim mesma.

— Foi a minha maior até agora.

— Quantos quilômetros?

— Doze.

— Uau! — ele abriu os braços — Temos uma corredora pelas redondezas então.

Ri um pouco envergonhada.

— Acho que "corredora" é um termo de muita honra pra mim.

— Que nada, você é nova por aqui né?

— Na verdade não muito — pigarreei um pouco incomodada.

— Bem, como assim?

— É complicado — dei de ombros.

— De qualquer jeito, duvido que alguma menina corra tanto que nem você, pelo menos na minha faculdade.

— Não sabem o que estão perdendo.

Ele sorriu e olhou pra minha garrafa da água.

— Você tem de voltar pra sua casa, não?

Assenti.

— Então quer água? Se você correu 12 quilômetros, não é tão perto assim, e a sua água acabou.

— Eu trouxe dinheiro pra comprar por ai, mas acho que se eu ficar sem água por mais um minuto morro desidratada.

Ele sorriu e pegou minha garrafa

— Posso?

Soltei a garrafa

— Obrigada.

Ele piscou e andou alguns passos de costas apontando pra trás.

— Eu vou...

— Certo.

Ele se virou e entrou rapidamente, depois voltou com água gelada, e jogou a garrafa pra mim.

— Valeu, eu acho que agora preciso ir.

— Certo, então... a gente se vê.

— Ou não — ri colocando a mão na boca e acenei, depois sai e fui tomando água.

***

Cheguei em casa e fui direto tomar um banho. A faculdade voltava no dia seguinte. Eu precisava estudar... ou de cookies com leite e um bom livro. Tessa chegou em casa e levantou uma sobrancelha pra mim.

— Pro inferno com a dieta né?

Revirei os olhos. Se qualquer outra pessoa tivesse me dito isso eu provavelmente riria, mas era a Tessa, e Deus, era impossível rir com ela.

— Eu não faço dieta, pela enésima vez.

— O que você faz então?

— Se você prestasse atenção no que eu falo, talvez soubesse.

— Filha, eu presto.

— Estou vendo — levantei as sobrancelhas e fui em direção ao meu quarto.

— Você não precisa se trancar no seu quarto!

Ela levantou os braços contrariada enquanto eu subia as escadas. No topo da escada me virei e soltei um riso, completamente sem humor.

— Na verdade, eu preciso sim.

Tessa fez uma cara de tristeza e eu mordi meu cookie, voltando pro meu caminho. Bati a porta do meu quarto, inferno de "mãe". Peguei o exemplar de Nascido para correr e me joguei na cama largando a comida no criado mudo, minha fome sempre passava quando eu conversava com Tessa. Uma hora eu acabei dormindo sobre meu livro e quando acordei já estava de noite. Peguei meu celular que não parava de tocar irritantemente.

— Alô? — basicamente bufei irritada.

— Olá sunshine! É ótimo falar com você também!

Eu ri e me deitei confortavelmente de novo.

— Sinto sua falta.

— Eu também sua corredora ridícula, e ai? Animada pra amanhã?

— Definitivamente... não.

Mandy riu e continuou tagarelando por uma meia hora. Depois disso eu quase chorei e fui me certificar de que tudo estava certo pra amanhã. Desci e Tessa não estava lá, pedi uma pizza, que chegou meia hora depois, enquanto comia assisti dois episódios de Dexter antes de capotar no sofá.

Meu despertador tocou e eu o ouvi do sofá, subi correndo as escadas de dois em dois degraus me segurando no corrimão.

— Cristo, isso parece um treino matinal.

Fui pro meu quarto e desliguei o megafone do inferno. Seis horas e quarenta. Eu podia dormir mais... E então meu celular vibrou na cama.

Olhei e o nome da Mandy aparecia na tela. Sua grande vadia, nem pense dormir mais e se atrasar para variar, é o primeiro dia.

Dei risada e antes que tocasse no celular ele vibrou novamente. E bom dia a propósito.

Soltei outra risada e chorando de rir (me deu um ataque de risos), enfiei os pés em pantufas e me espreguicei reclamando da coluna, já que eu havia dormido no sofá. Desci e peguei o resto da pizza de ontem pra comer, de café da manhã, pizza de banana. Que saudável. Depois disso Tessa desceu falando com o namorado dela no telefone. Que inferno?! Ela nunca acorda cedo! Contrariada, peguei meu shorts e fui correr. Seis quilômetros depois, três de ida, três de volta, subi correndo as escadas e xinguei me despindo no corredor enquanto andava para o banheiro. Sete e quinze. A faculdade não era assim tão perto. E eu ia a pé! Bati na minha testa. Estúpida, droga! Lembre-se você não tem mais a Mandy pra ser seu chofer.

Vinte minutos depois voei pela escada e fui caminhando apressadamente em direção à faculdade. Certo, sete e quarenta e cinco. Eu tinha quinze minutos para 2,5km, dez se eu quisesse me organizar. Cinco minutos era muito pouco pra me organizar. Dez minutos era muito pouco para caminhar dois quilômetros e meio depois de ter corrido seis!

Inferno. Inferno. Inferno.

Fiz um rabo de cavalo depois de 1,5km e se eu não estivesse com aquela mochila, eu teria corrido.

Nos últimos quinhentos metros eu corri, com a mochila e tudo, "totalmente deselegante, você já corre demais rapariga!", diria papai. Sorri ao pensar nisso e parei quando avistei o portão de entrada. Felizmente, quinhentos metros não eram muita coisa pra mim, então meu cabelo não estava horroroso, e meu perfume prevalecia — graças a Deus, eu não parecia uma porca.

Suspirando, passei pelo portão olhando ao redor, quanta gente, quanta gente. Ninguém que eu conheça. Isso de fato é ótimo! Maravilhoso! Se bem que, olhando pro lado bom, são novas pessoas, novas amizades... Novas decepções. Inferno Ashton, chega de pessimismo.

Nervosamente me dirigi à secretaria, em busca da minha planilha de horários. Apoiei os braços sobre um balcão de madeira escura polida. Uma das muitas atendentes dirigiu a mim um olhar significativo. Do tipo rapariga, fale, eu não tenho o tempo todo.

Pigarreei.

— Hum... Oi.. É, Ashton Rutherford.

Ela assentiu e mexeu apressadamente os dedos sobre o teclado.

— Alguma preferência de dia cheio?

Depois de uns cinco minutos a encheção de saco — montar meu horário — acabou (eu já o tinha na cabeça, graças a Mandy). Ainda bem que foi rápido, eu estava com uma dor de barriga tremenda e dor de cabeça.

— Alguma atividade extra?

— Humm.. Quais são as opções?

— Música, Basquete, Atletis...

— Atletismo.

— Certo.

Senti uma respiração quente no meu pescoço e minha nuca se arrepiou, agora a secretaria estava lotada e um menino de jaqueta preta estava basicamente no meu cangote. Olhei pra ele com curiosidade e supus que tinha sido empurrado, já que ele me olhou e depois se apoiando no balcão se empurrou para trás. Ou ele estava me cheirando.

Conclui que ele não estava me cheirando (ainda bem) quando ele se virou para o moleque atrás dele.

— Você fodidamente poderia tentar se equilibrar ao invés de ficar se apoiando nos outros e fazer eles se desequilibrarem também?

— Culpe a multidão.

— Culpo suas pernas de maricas que não conseguem se manter estáveis. — ele basicamente rugiu a ultima parte com uma voz fria.

Eu já tinha acabado de montar o horário, então me virei para sair, e ele estava bem perto. Eu basicamente tinha dado de cara com o peito dele. Olhei para ele indiferente que me olhou de volta com curiosidade e tentei passar sem trombar com ninguém, mas a secretaria estava tão cheia que acabei empurrando — demais pro gosto de qualquer um — o braço dele com meu ombro. Eu nem pensei em me desculpar já que eu só queria sair dali, minha barriga, inferno.

Quando eu estava quase saindo da secretaria uma voz que eu conhecia muito bem começou a me chamar e empurrar a multidão.

— Corredora! Corredora!

Dei risada e me virei, Mandy vinha empurrando todo mundo na frente dela com força, eu também estava sendo ricocheteada de um lado para o outro, mas ignorei, estupefata.

— Amanda?

Ela correu o que deu e me abraçou fortemente. Abracei de volta.

— O que você esta fazendo aqui sua vadia?

Ela me soltou e pegou uma planilha de horários balançando no ar quase enfiando na minha cara.

— De quem é isso, Mandy?

Ela me olhou feio. Eu definitivamente conhecia esse olhar, era o de "você é burra ou o que?”.

— Não acredito... Por que?!

Mordi meu lábio não me contendo.

— Eu não ia te deixar vir sozinha pra cá com a Tessa, pelo amor de deus Ashy!

Eu fiquei com lágrimas nos olhos, sorrindo, abracei ela de novo.

— Hum, eu também te amo mané.

Ri de novo e mordi o lábio.

— Mas e o Trent?

— Pro inferno o Trent, ele era só um rolo.

Olhei para ela, totalmente chocada.

— Amanda!

Ela riu.

— Você é boba ou o que? Eu to brincando, ele veio também.

— Sério?

Ela assentiu e apontou para trás dela, me apoiei em seus ombros para olhar e lá estava Trenton sorrindo encostado em uma parede. Quasei soltei um grito de histeria. Olhei para ela e ela assentiu. Corri na direção dele e o abracei fortemente.

Ele riu e bagunçou meu cabelo.

— Oi Ashy.

— Se o lugar não estivesse cheio de gente eu choraria.

— Você já esta chorando.

Eu ri e ele limpou uma lágrima minha que caiu.

— Achei que eu ia realmente ter de ficar aqui com Tessa.

— Nem fodendo, não com a Amanda ou eu vivos.

Amanda que tinha vindo atrás de mim, sorriu para Trent e me olhou.

— Agora, querida, me mostra sua planilha e vamos ver se você ouviu o que eu falei no telefone.

Eu sorri e soltei Trent, abri minha mochila pra pegar a planilha e... Bati na minha testa, a planilha!

Amanda revirou os olhos e Trent riu.

— Típico.

— Eu vou pegar a minha, tentem não morrer de saudades — Trent piscou e saiu.

A gente riu e quando eu estava me virando pra ir pegar a planilha o menino que tinha ficado no meu cangote veio na minha direção e estendeu minha planilha, sem dizer nada além de "Você deixou isso no balcão", depois continuou andando. Peguei ela e murmurei um "obrigada".

Depois que ele estava longe Amanda assobiou.

— Ulala, quem é esse?

Trenton chegou bem na hora e olhou feio para ela, que riu e tascou um rápido selinho na boca dele.

— Ah parem, assim vou ficar carente — brinquei.

Fiz beicinho e os dois riram.

— Vai atrás do "bad ass" que te devolveu a planilha — sugeriu Trent.

— Eu nem sei quem é ele.

— Descubra ué — Mandy me olhou como se fosse óbvio.

— Eu hein vocês dois, eu não vou atrás de um cara porque ele me devolveu uma planilha.

Amanda gargalhou.

— Lógico que não, você vai atrás porque é gatíssimo.

Revirei os olhos e ri.

Nós ficamos os três conversando e descobri que os dois morariam no campus, o que me fiz rir muito quando fomos ver os quartos e os colchões pareciam pedra, os dois quase me mataram. No dia seguinte sentei numa mesa do refeitório depois de uma aula horrível de engenharia. Estava comendo minha maçã, sozinha, quando puxaram meu cabelo fortemente.

— Ouch!

Me virei já brava e então Mandy estava ali sorrindo.

— Oi sunshine.

Revirei os olhos e ela e logo depois Trent e uns meninos vieram sentar, ele piscou para mim. Ele era tão sociável que logo o time inteiro de basquete estava na nossa mesa, já que era começo de ano e Trent ia fazer parte do time, acabou que todo mundo que estava acostumado a se sentar com o time de basquete veio se sentar conosco. Inclusive o menino do cangote.


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Notas finais do capítulo

¹Vitoriana — gente, nesta parte Tyler a chamou assim fazendo referência a era Vitoriana (Este foi um longo período de prosperidade e paz para o povo britânico [...] e o surgimento de novas invenções. Isso permitiu que uma grande e educada classe média se desenvolvesse.), ela foi educada estendendo a mão na hora de se apresentar, por isso "Vitoriana". Espero que tenham gostado...



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