Dubai escrita por Bruna Glacy


Capítulo 11
É sério isso?


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem do capítulo e que não deixem de acompanhar a historia. Tem muita coisa pra acontecer ainda. Conto você!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/611411/chapter/11

    Ellie mal podia acreditar na noite que tivera quando desabou no sofá do apartamento onde estava morando. Deitada sobre a bolsa, o xale do vestido e as chaves do quarto, ela observou o teto enfeitado a ouro e deixou os pensamentos vagarem. Embora Ana estivesse andando para lá e pra cá no quarto, falando a respeito dos últimos acontecimentos, tudo o que Ellie podia ouvir eram as palavras “sheik árabe”. De alguma forma o som daquelas duas palavrinhas mexiam com ela. Mas por quê? Ellie não sabia. A única coisa que conseguia fazer era se perguntar porque aquele rapaz tão rico, tão novo e tão cheio de tudo, parecia ser tão infeliz. E mais que isso, ele era estranhamente inquieto. Por quê? Ellie tentava imaginar o que passava pela cabeça dele mas sabia que isso era um pouco impossível. Mas só um pouco mesmo....

    Instantes depois, ela sentiu um peso afundar o local perto de onde estava deitada, mas mesmo assim continuou pensando...

— Caraca, eu estava preocupada sabia? – Ana sentou-se ao lado dela e a encarou realmente alterada.

    Ellie despertou de seu transe um pouco confusa. 

— Mas não foi você quem me incentivou a ir conversar com ele? – Disse Ellie.

     Ana ponderou um pouco.

—É, é verdade, mas.... Eu não esperava que você fosse tão rápida com essas coisas. Onde vocês estavam?

      Ellie havia revirado os olhos quando Ana começou a falar e em seguida encarou a amiga.

— Ele me pediu que acompanhasse ele até a cobertura do prédio. Mas ele queria apenas conversar.

     Ana estreitou os olhos.

— Conversar? Um cara como ele? Sei bem o que ele queria conversar.

     Ellie balançou a cabeça e se ajeitou no sofá, tirando as coisas de debaixo do seu corpo e colocando elas na mesa de centro. Em seguida, olhando para Ana, uma expressão pensativa, falou:

— Na verdade, você não faz ideia. Nem pode imaginar. Nem eu imaginaria. Mas ele realmente estava precisando conversar. E eu fui a escolhida. – Ela levantou uma das sobrancelhas, pensando sobre isso.

     Ana fez uma expressão parecida.

— E sobre o quê ele queria falar?

      Ellie pensou por alguns segundos se deveria falar a respeito daquela conversa com a amiga e se perguntou se Sayed gostaria que ela contasse tudo. Concluiu que possivelmente, não.

      Depois de um breve segundo ela perguntou:

— O que você sabe sobre ele, Ana?

      Ana suspirou, pensando.

— Sei que o avô dele é sheik de Dubai e que eles têm muita grana, obviamente. Sei também que ele vive a ponto de ser chicoteado por causa do comportamento extravagante. Ele é muçulmano mas parece que não liga muito para isso. Nem parece ter medo das chibatadas.

— Chibatadas? – Exclamou Ellie.

— Desobedecer às leis de Allah é uma coisa muito grave. A religião islâmica é bem severa.

      Ellie pensou a respeito. Era verdade, ela sabia um pouco sobre os Islã. E o que sabia não eram coisas muito agradáveis.

— Mas o que ele faz que vai contra a religião?

      Ana suspirou de novo.

— Muitas coisas, Ellie. Ele desobedece às leis de trânsito, da cidade.... Está sempre contra as regras. Sempre aparece em confusões nas revistas. – Ana fez uma pausa. – Mas por que todas essas perguntas agora?

      Ellie encarou a amiga e levantando-se do sofá, não quis responder àquela pergunta. Não naquele momento. Precisava pensar.

— Eu vou guardar essas coisas e tomar um banho. – Calçou as sandálias de qualquer jeito e se dirigiu à outra parte do quarto, onde ficavam as camas. Começou a desabotoar o vestido e percebeu que um papel havia caído no chão. Ana veio também para perto dela e a olhava toda desconfiada. Quando viu o papel no chão fez menção de ir pegar, mas Ellie se adiantou.

— O que é isso? – Perguntou Ana, curiosa.

      Ellie abriu o papel que estava bem dobrado. Depois de aberto, viu apenas um número de telefone, ao que parecia. Em seguida suspirou.

— Não acredito.

— O que foi?

— Ele deu um jeito de colocar o telefone dele no bolso minúsculo do meu vestido. – Olhou novamente para o papel. – Isso é um número de telefone né? – E mostrou a Ana.

      A amiga verificou o número no papel e assentiu com a cabeça.

— É sim amiga. Você é a pessoa mais sortuda que eu conheço.

       Ellie não pareceu gostar daquilo.

— Ele é maluco. Se pensa que vou ligar pra ele, está enganado. – Em seguida, colocou o papelzinho no criado-mudo ao lado de sua cama e foi se despindo, indo em direção à banheira.

       Ana pegou novamente o papelzinho e gravou o número na agenda do celular, o que Ellie não percebeu. Ela sabia que a amiga não iria mesmo ligar e provavelmente iria perder o número, por isso se adiantou a salvá-lo.

— Olha, eu vou até lá embaixo verificar uma coisa e já volto ta. – Disse ela a Ellie, que da banheira concordou. – Não demoro.

        Depois de sair do apartamento, Ana deixou Ellie sozinha com seus pensamentos.  E enquanto se banhava, Ellie se perguntou se todo o luxo daquele hotel onde estava hospedada significava alguma coisa para Sayed. Perto do que ele deveria ter, era provável que a resposta fosse não. E em seguida, ela pensou sobre aquele número. “Quando foi que ele colocou aquilo ali e como eu não percebi? ”. Eram tantas perguntas sem resposta. Mas Ellie em nenhum momento ponderou a respeito da possibilidade de ligar pra ele. Talvez fosse inútil. Quer dizer, por que ela ligaria para um homem como aquele? Eles nem teriam o que conversar. E se fosse para falar de problemas, Ellie achava que os seus já eram o suficiente.

     Depois do banho e de muita reflexão, ela observou o papelzinho em cima do criado-mudo, intocado, amassado e sugestivo. Alguma coisa a compelia a olhar pra ele, a querer ver aquele número de novo.

      Ela pegou o papel novamente e ficou olhando. Será que ele esperava mesmo que ela ligasse? Isso não era.... Contra as regras? Será que havia alguma possibilidade de o neto do sheik de Dubai estar interessado nela? Não... Depois de refletir sobre isso, Ellie concluiu que não. Na verdade, ele devia ser apenas um cara solitário precisando de um ombro amigo. E naquela noite, ela havia sido o ombro amigo. Era suficiente, pensou. Aquele momento de conversa havia bastado. Mas, então.... Por que ela ainda tinha vontade de ligar? Mesmo sabendo que era absurdo e totalmente fora de lógica, por que ela ainda queria fazer aquilo? Bem, por via das dúvidas, ela resolveu amassar o papel e jogar no lixo. Era melhor assim, afinal, ela não podia ajudar uma pessoa como aquela. Mesmo que fosse apenas ouvindo os seus problemas.

     Depois de observar o papelzinho no lixo, ela simplesmente deu as costas e foi dormir. No dia seguinte levantou-se bem mais disposta para conhecer alguns aspectos de Dubai que ainda não havia tido a oportunidade de conhecer. Levantou-se da cama e tomou uma caneca de chá enquanto lia um bilhete que Ana havia deixado onde dizia que ela teria uma reunião na empresa, por isso não estaria em casa até a hora do almoço. De certa forma, Ellie até achou interessante o fato de estar sozinha e resolveu sair um pouco do apartamento. A noite havia sido longa, cansativa até. Seria bom espairecer um pouco.

     Colocou uma calça jeans, uma blusa de manga curta e uma sandália fresquinha, pois estava com planos de ir até um mercado que ficava próximo do hotel e como era de se esperar, Dubai estava fervendo com o calor escaldante do deserto.

     Considerando-se pronta para sair, Ellie dirigiu-se calmamente até a entrada do hotel de onde podia avistar o mercado, cuja fachada era mais alta que os outros pequenos prédios próximos dali, por isso, bastou atravessar a rua e seguir na direção da fachada do mercado. Ao entrar no estacionamento, por onde se estendia uma passarela para os pedestres, ela notou que todos os carros estacionados ali pareciam estar parados há anos, porque estavam completamente cobertos de areia. Era uma poeira impressionante. Mas claro, ela deveria ter pensado nisso. Dubai era uma cidade construída no meio do deserto, obviamente, tudo ali deveria ser recoberto de areia.

    Entrando no mercado, depois de passar por muitos anúncios em estilos digitais, ela notou que até dentro do mercado algumas coisas tinham bastante poeira e que aquilo devia ser um trabalho extra para todas as pessoas que trabalhavam em lugares assim em Dubai.

     Olhando ao redor, depois de passar pela ala principal, Ellie viu diversas fileiras de todos os tipos de mercadorias e alimentos que se estendiam pelo local, mostrando uma variedade que não deveria ter igual em nenhum lugar do mundo. Todos os nomes de mercadorias e placas indicando locais de compras estavam escritos em inglês e na língua árabe. Certamente, um mercado no centro de Dubai devia receber pessoas do mundo todo. Então, procurando se animar um pouco, Ellie pegou um carrinho de compras e saiu a colocar algumas coisas que considerou importantes ou interessantes para ter em casa. Entre as várias coisas que pegou, havia pacotes inteiros de higiene feminina com produtos específicos para cada etapa do dia a dia de uma mulher, sabonetes fabricados a base de lavandas naturais vindas do Egito, lenços coloridos e finos, um tapete desenhado a mão com linhas douradas e prateadas contornando uma mesquita em horário de oração, bolachas de frutas, refrigerantes de romã e figo, colares, pães e marcas de arroz industrializados que Ellie nunca tinha visto. Tudo era muito interessante e diferente de tudo o que ela conhecia e por isso teve a oportunidade sutil de esquecer da noite passada e de todas as coisas que haviam acontecido fora da normalidade.

       O fato de se recusar a pensar no ocorrido parecia levar Ellie cada vez mais na direção em que gostaria de não ir. Por algum motivo, tudo ali, mesmo que simples, esbanjava uma riqueza e uma nobreza que as remetia ao sheik, fazendo-a lembrar-se de Sayed. Mas isso não era importante né? Descartando um monte de coisas, Ellie estava em Dubai e isso era o que fazia a maior diferença na sua vida agora. E sim, ela sentia-se grata por isso.

       Depois de fazer suas compras e de se sentir satisfeita, Ellie voltou para o hotel com um sorriso contente no rosto. A sensação que a dominava naquele momento era de pura felicidade. Estava no lugar que amava, breve começaria a trabalhar com o que amava e estava entre pessoas que amava. Por que as coisas poderiam ficar ruins? Isso era mesmo impossível, não era? Bem, talvez, se não fosse o fato de que.... Bem, o que aconteceria a seguir mudaria algumas coisas em seu estado de espirito.

      Ao entrar no quarto do hotel, cheia de sacolas e bolsas de compras, Ellie encontrou Ana esperando por ela um tanto eufórica e ao mesmo tempo desconfiada.

       Colocando as coisas em cima da mesa da cozinha, ela olhou para a amiga e franziu o cenho.

— O que houve?

      Ana levou alguns segundos para responder.

— Ellie eu fiz uma coisa que talvez vá fazer com que você queira me matar.

     Ellie engoliu em seco preocupada com o que Ana poderia ter feito.

— O que você fez Ana? – Revirou os olhos. Em seguida começou a tirar as compras das sacolas e guardá-las nos armários da cozinha.

— Bem eu.... Eu salvei o número do rapaz ontem no meu celular e eu... – Ana gaguejou um pouco. – Eu liguei pra ele.

       No instante em que disse isso, Ellie parou imediatamente o que estava fazendo sentindo um gelo percorrer o seu corpo todo.

— Você fez o que, Ana?

— Eu liguei, Ellie. Mas foi mais por curiosidade. Na verdade, eu queria saber se aquele era mesmo o número dele. – Sorriu sem jeito. – E era mesmo....

      Ellie de repente sentiu muita raiva da amiga.

— Primeiro, por que você salvou o número dele no seu celular? Por que não deixou ali onde eu coloquei e foi cuidar das suas coisas? – O tom alterado de Ellie de repente deixou Ana com uma feição seria e preocupada. – Eu não queria mais ter nenhum contato com ele. Nos falamos ontem mas eu e você não sabemos quem ele é. E não precisamos saber. Ele é uma pessoa completamente fora de nossa roda de amizades. Pra que ligar pra ele? Pra me arranjar problemas?

       Ana retesou os músculos.

— Ellie, eu já disse, só queria saber se era ele.

— Não importa. O que você falou com ele?

       Por um breve momento houve silencio e Ana se sentou num banco de bar em frente a amiga. A loira parecia apreensiva agora.

— Desculpe amiga, eu estava perto de Mohammed quando ele atendeu o telefone e por um incrível milagre, ele conhece Mohammed por causa das relações que tem com a empresa. Mohammed estava ao telefone e informou ao nosso chefe que estávamos no Arabian Palace e bem... Ele ouviu tudo. Sinto muito. Foi rápido e inacreditável.

       Ellie arregalou os olhos incrédula.

— Você está inventando isso para tentar encobrir o fato de que você deu nosso endereço a ele?

       Ana balançou a cabeça.

— Não, por incrível que pareça, foi assim como te falei. Eu não precisei falar muitas coisas. Ele desligou o telefone em seguida.

     Ellie engoliu em seco. Sério? Aquilo não podia estar acontecendo. As probabilidades eram muito pequenas.

— Ana... – Ellie respirou fundo. – Você está mesmo falando a verdade?

       A amiga dessa vez parecia chateada. Olhou fixamente pra ela e respondeu:

— Olha, desculpe por ter ligado pra ele. Mas, enquanto a dizer onde estamos, honestamente, isso eu não disse.

      Ellie encarou-a por alguns segundos e se convenceu de que Ana estava mesmo falando a verdade. Agora o neto do sheik árabe sabia onde encontrá-la. Ela suspirou calmamente, pensando em todas as coisas que já tinham acontecido desde que chegara a Dubai. De fato, ter conhecido aquele rapaz de um modo tão inesperado e confuso nunca fez parte de seus planos para sua estadia ali, mas se havia acontecido, o que ela podia fazer? Ficar com raiva de Ana não parecia nada atraente. Depois de tudo, a raiva seria a melhor escolha? Pensando sobre isso ela resolveu se acalmar, porque agora não poderia fazer mais nada. De novo teve medo de ser procurada por Sayed, mas considerando todas as possibilidades de talvez ele ir até lá, ela simplesmente resolveu descartar o medo que começou a dominá-la e deixou pra lá. Continuou a colocar as compras na cozinha e pediu a ajuda de Ana, para mostrar que apesar de sua interferência em seus planos, estava tudo bem entre as duas.

     A tarde passou lentamente em Dubai naquele dia. As duas conversaram, andaram pelos bairros mais calmos da cidade e viram diversas mesquitas ao longo dos lugares onde passavam. Na hora da oração de todos os dias, Ellie se manteve silenciosa, pensativa. Quanta coisa ainda iria acontecer em sua vida? Depois desse curto momento de reflexão, uma batida na porta a assustou. Ela estava agora no apartamento e Ana havia ido descansar um pouco; sozinha na sala, não parecia comum que alguém batesse na porta sem que o porteiro-chefe avisasse pelo interfone. Subitamente o coração de Ellie acelerou. Por que? Porque ela desconfiava muito de quem poderia estar ali naquele momento.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dubai" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.