Maya encarava o teto branco de seu “quarto”. Levantou-se e olhou pela janela. Ainda não via os muros da Capital. Engoliu em seco e pela primeira vez, pensou em sua mãe. Sempre lhe disseram que era uma cópia perfeita de sua mãe, mas ela não achava isso. Não via traços da mãe em si mesma. Maya parou em frente ao espelho e encarou seus olhos “frios”. Alguém batia alegremente à sua porta.

– O que foi? – ela disse, ainda se encarando.

– Almoço! – disse a voz alegre de Salter.

A garota abriu as portas do guarda-roupas e puxou o primeiro vestido que viu. Preto. Ela gostava de preto, embora não fosse sua cor preferida. Ela desfez o coque e prendeu a fita no pulso, como um lembrete de casa. Ela continuou com o sapato de salto simples que colocara em casa. Ela abriu a porta e se deparou com uma Gia impaciente. Sua peruca pendia da cabeça, fazendo-a parecer uma boneca que levara um tombo.

– Demorei muito? – perguntou a garota, temendo uma resposta dura demais da mulher.

– Sim, demorou. – disse, com uma expressão indignada. Mas logo voltou a sorrir. – Mas não tem problema, o almoço não foi servido. Ainda.

Elas andaram pelos corredores até chegar à uma sala aconchegante com uma mesa grande de mármore com cadeiras aparentemente confortáveis. Em um canto, poltronas confortáveis. No outro, vasos de flores exuberantes com perfumes diferentes. E ao lado da porta, uma mesa redonda de vidro, cheia de doces e bebidas diversas. Ela se sentou do lado esquerdo de Karen, já se servindo de batatas assadas e algum tipo de suco de “laranja geneticamente modificada” como as Vespas Teleguiadas. Enquanto comiam, foram “apresentados” aos outros tributos. Karen pegou um tablet prateado e ligou o vídeo da Colheita de todos os 11 Distritos restantes.

– Nathalie Faith e Augustus Tomm, Distrito 2. Parecem ser competidores que não param de correr para ajudar o Tributo do seu Distrito. - ela não esperou comentários. - Idina Carteryne e Dale Muller, Distrito 3...

E assim Karen seguiu até o Distrito 12.

– Jeanine Haley e Patrick Ryes...

– Mato esses dois em um minuto. – Disse Maya, claramente brincando. Recebeu olhares de censura de todos.

– Caramba! Vocês não sabem brincar?

Gia forçou uma risada.

– O almoço acabou.

– Falta a sobremesa, Gia. - protestou John.

– Que a sobremesa caia pela janela! O almoço acabou.

Maya ergueu as sobrancelhas, como quem quer fugir de uma bronca. Seguiu para seu quarto e felizmente saiu do campo de visão de uma Gia que queria destruir tudo em seu caminho.

(:::)

Algum tempo depois, Maya tomou coragem para sair do quarto. Caminhou novamente até a sala, e, ao ver aqueles doces, não resistiu. Pegou alguns que pareciam deliciosos, mas não sabia do que eram. Sentou em uma poltrona e ficou olhando pela janela.

– Ahn... Posso me sentar?

Era John.

– Claro.

O garoto se sentou, mas não sem antes pegar uma caixa de chocolates decorados que estava na mesa.

– Estou com medo. – ele disse, abrindo a caixa e oferecendo um bombom para Maya. Ela recusou. Já tinha doces demais em mãos.

– Eu também estou. - ela respondeu. Não tinha a menor vontade de conversar com ele.

O menino olhou-a incrédulo. Tinham a mesma idade.

– Você? Você é a “Menina dos Olhos Frios”!

– E mais uma vez você mostra o quão patético é, ao sempre me definir como sou, popularmente conhecida. Parabéns. – ela bateu uma série de palmas curtas e lentas em forma de ironia.

O garoto riu.

– Estamos chegando.

Maya terminou de comer os doces e correu para janela junto com John.

– É linda.

– Concordo.

Os grandes muros da Capital se erguiam diante seus olhos. Mas logo entraram em um dos túneis, e, por segundos, ficaram no escuro.

Quando a luz do sol invadiu o vagão novamente, eles viram milhares de pessoas lhes dando tchau e gritando seus nomes. Perucas rosas, brancas, douradas. Roupas prateadas, escarlates e azuis... A animação da Capital era contagiante. Maya abriu um largo sorriso, seguida de John. Eles haviam chegado a Capital.