Smile Mirrored escrita por KelL


Capítulo 1
Smile Mirrored




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Smile Mirrored


     Aquele estranho está agora sentado em sua cintura, tirando o cinto de sua calça, e está surpreendentemente sóbrio, se comparado a você; isso lhe deixa envergonhado – nunca passara por aquela situação antes... Ao menos não daquele ângulo.
Quando ele deita sobre você e aquele cheiro másculo invade suas narinas e lhe arrepia, você se pergunta como tudo aquilo começou.

x-X-x


     - Ora, vamos, é carnaval! – você exclamava irritado. – Saia dessa sua toca, Gin!
     Ah, é mesmo... Foi desse jeito.
     Seu namorado estava sentado no sofá folheando uma revista. Ele está te ignorando completamente, e o que mais lhe irrita nisso é o sorriso no rosto dele. Aquele sorriso irritante que te fascinava; tudo o que queria era apagá-lo, o que conseguia quando ele estava ocupado demais gemendo o seu nome para se preocupar em sorrir.
     - Já disse que não estou a fim de me enfiar no meio de milhares de pessoas só para te feliz, Orochimaru – ele retrucava, e você cerrava os punhos.
     - Certo, então eu vou sozinho – dizia. Apenas queria ver a reação dele, porque não teria a menor graça em ir para uma festa de carnaval sozinho.
     - Tudo bem. Diga para aquele quatro-olhos de cabelo cinza que aproveite bem, porque é só por hoje.
     - Do que você está falando?
     - Eu não vou aceitar sair com você, então pra se vingar você vai sair com seu ex, certo? Não me importo.
     - Você está falando sério? – Não acreditava que ele realmente estivesse sendo sincero porque, afinal, quem gostaria de ser traído?
     Ele olhou para você pela primeira vez naquela noite, e embora você não visse os olhos dele, por serem incrivelmente puxados, sentia um desconforto. Mas ele não respondeu, e não estava olhando para você realmente – percebeu quando ele inclinou de leve a cabeça –, e sim para a janela atrás de si. Você se virou para ver o que era mais importante do que a crise no relacionamento de vocês.
     Na janela em frente podia-se ver um rapazote de cabelos escuros olhando interessado para vocês. Não era a primeira vez que o flagravam espiando suas discussões. Você abriu a janela e gritou para ele:
     - O que está olhando, seu nerd bisbilhoteiro? Já cansou de procurar pornografia na internet, é?
     Gin riu atrás de você e o rapaz do apartamento em frente saiu da janela. Você se virou satisfeito para seu namorado de olhos puxados, sorriso no rosto e cabelos prata.
     - Não precisava falar desse jeito com o L-kun, ele é meio solitário. – Apanhava outra revista enquanto falava.
     - Não está dando certo. – Suspirar, tirar o cabelo do rosto, contar de dez até zero... – Acho melhor acabar com isso.
     - Oh, vai terminar comigo por que não quero comemorar o carnaval?
     - Não é só por isso. – Punha suas coisas em uma mochila agora. – Foi interessante enquanto durou. Até mais, Gin.
     - Quer mesmo fazer isso? – E apesar de tudo, ele ainda estava sorrindo.
     Você não lhe deu um último beijo ou disse “adeus”; seria esperar demais de alguém como você. Sabia que aquele cara deixava uma marca na sua vida: fora o uke mais problemático com quem já esteve. Então você saiu do apartamento, dizendo em pensamento um “até logo” para as duas semanas mais instáveis de sua vida – não considerava isso um adeus definitivo, sabia que ainda sentiria vontade de tirar aquele sorriso do rosto dele.
     Quando se virou para ir embora, você o viu.
     Alto, magro, com cabelos negros levemente compridos, sorriso no rosto e olhos puxados. Pensou ironicamente se era um Gin de cabelos escuros e olhos um pouco mais abertos – pois podia ver sua íris em tom arroxeado. De qualquer forma, estava irritado demais para falar com o homem que o olhava da porta de seu próprio apartamento.
     - Está tudo bem? – ele perguntou quando passou por ele.
     - Claro – respondeu, rolando os olhos enquanto avançava mais alguns passos, e novamente era parado por aquela voz pacífica:
     - Eu ouvi gritos. – Era quase displicente, mas você notou que ele devia estar interessado em algo; conviver com Gin ensinava a ler as pessoas.
     - É, eu acabei de terminar meu namoro de duas semanas com o cara mais irritante que já conheci – respondeu voltando-se a ele.
     - Ah – ele sorriu. Aquilo te lembra os “oh” desinteressados de Gin. – Então acho que não está tudo bem.
     - Você não tem nada melhor pra fazer? – ralhou.
     - Na verdade, não. – Aquela familiar sinceridade azeda... – Não sou muito festivo, e é carnaval. Vou passar a semana em casa, até isso acabar.
     Pensou nesse momento que só podia ser brincadeira. De onde viera aquele copia mais velha e de cabelos pretos do homem que acabara de deixar?
     - Me mudei pra cá há poucos dias – ele disse de repente. – Já te vi muitas vezes por aqui. É Orochimaru-kun, não é?
     “Quanta intimidade, chamando-me de ‘-kun’...” – você pensou.
     - Eu ia começar a beber alguma coisa. Quer me acompanhar? Não gosto de beber sozinho.
     Você teve certeza de que ele definitivamente queria alguma coisa, e estava preparado para negar asperamente quando percebeu que Gin os estava olhando da porta. Sorriu de forma sádica, fingindo não tê-lo visto.
     - Claro – e entrou no apartamento daquele estranho.
     Exceto pelas caixas jogadas num canto, era tudo perfeitamente organizado e de bom gosto. Você pensou que ele devia estar muito bem, financeiramente falando.
     - Sente-se no sofá, vou buscar outra taça.
     Olhou-o se afastar em direção a uma porta no fim do cômodo. Era um homem bonito e de ar refinado, mas tinha também um jeito muito estranho. Ele assustaria a qualquer um, mas não a você.
     Enquanto sentava-se, tentava invadir os pensamentos de Gin – mesmo sabendo que era impossível saber o que ele escondia atrás daquele sorriso quando ele não o queria. Também constatou aliviado que realmente havia uma garrafa de vinho e uma taça ali. Ao menos ele falara a verdade.
     Você pegou a garrafa e a analisou. Não é um profundo conhecedor de vinhos, mas assustou-se com a safra no rótulo. Realmente aquele homem estava muito bem, financeiramente falando. Pôs o vinho de volta no lugar e apanhou um bilhete que estava ali em cima. Não era tão intrometido a ponto de abri-lo, mas leu que estava destinado a “Dr. Jackal”.
     - Você é médico? – perguntou ao ouvir a porta ser aberta e aos passos dele ressoando no chão lustroso.
     - Não, é apenas um apelido. – Ele lhe entregou a taça e sentou do seu lado. – Meu nome é Kurodo Akabane. Trabalho com transportes.
     - Por isso as caixas – você observou, mais para si mesmo do que para ele, mas ainda assim ouviu-o confirmar enquanto abria a garrafa de vinho. – E qual a sua idade?
     - Isso interessa a você? – Era um tom divertido agora, o que te fez franzir o cenho. Detestava quando lhe falavam assim. – E você, Orochimaru-kun? O que faz?
     - Faculdade – fez um muxoxo e tomou um gole do vinho que ele lhe servira. Tinha um sabor acentuado como nunca provara antes e era realmente forte; apenas o cheiro já o deixava receoso, e você não é fraco para bebidas. – Espero que não esteja tentando me embebedar, doutor.
     - Sempre fala o que lhe vem à cabeça? – ele perguntou entre risinhos macabros.
Você agora forçava-se a não ser intimidado por aquela presença estranha, mas gostaria de não ter entrado ali. Respondeu a ele com um resmungo entre os lábios fechados e tomou mais uns goles. Perguntava-se agora se seria assim que eles se sentiam quando os amedrontava e seduzia ao mesmo tempo.
“O que é isso? Vou cair no meu próprio truque?” – enchia a boca de vinho enquanto pensava, evitando trocar palavras com ele. Agora que estava ali, não havia como sair sem ser indelicado. – “Por que estou deixando que ele me intimide assim? Dois podem jogar esse jogo”.
Ele encheu a sua taça vazia pela quinta vez. Você não percebeu, mas ele só esvaziara a própria taça uma vez enquanto te observava desocupar cada vez mais rápido aquele líquido de sabor intenso do recipiente em sua mão.
Vocês conversaram – ou você falava, pois ele não parecia disposto a comentar sobre si. A cada nova taça vazia você falava mais sobre sua vida; seu namorado estranho de cabelos prateados que morava no fim daquele corredor, o ex que em um estalar de dedos se jogaria aos seus pés como um cão adestrado, e também sobre suas dúvidas e receios, aos quais nunca comentava com ninguém.
E ele apenas ouvia... Com aquele sorriso nos lábios e olhos puxados onde via-se apenas um leve brilho peculiar nos orbes arroxeados. Bebia e cada vez mais ele se parecia com um Ichimaru Gin de cabelos pretos (um problemático mais velho, forte e determinado?), e cada vez mais ele ia se aproximando de você.
Quando você percebeu, ele estava com a mão de dedos compridos em sua perna. Quantas taças já bebera? Quanto já falara de sua vida para aquele estranho?
Mais algumas taças vazias, mais palavras de desprezo aos seus relacionamentos desastrosos, e só se deu conta de que estava passando dos limites quando viu a garrafa praticamente vazia, a taça dele descansada sobre a mesinha de centro e o relógio na parede marcando pouco mais de meia-noite.
- Perdi a minha festa – você resmungou. Percebeu o quanto sua voz estava estranha, mas ignorava isso agora.
Alguns minutos depois e você teve novamente um momento lúcido ao abrir os olhos. Ele estava perto demais e havia, além do vinho, outro sabor marcante em sua boca, e você gostava. Segundos depois ele o estava beijando luxuriosamente, e encontrar-se inteiramente arrebatado por ele e seus lábios quentes.
Quando abriu os olhos de novo, estava sem sua camiseta e brigava com os botões da camisa social dele. Você o beijava agora; passeava sedento por seu pescoço e subia buscando os seus lábios. Ele ainda sorria.
Não sabia quanto tempo passou ou como chegara ali, mas estava no quarto dele, deitado sobre os lençóis perfumados e colchão macio. Ele estava sobre si e os dedos magros mergulhavam em seus cabelos negros compridos enquanto sentia-o percorrer todo o seu corpo. Você odiou-se por estar fazendo aquele papel ridículo no momento em que voltou a si. Agarrou-o pelos braços e subiu em sua cintura.
- Ninguém me faz de passivo, doutor.
Em um instante o que você achou ser surpresa ou desgosto transformou-se em visível satisfação. Ele estava debochando de você com aquele sorriso cínico. Teve essa certeza quando foi jogado no colchão novamente e ele o olhava de cima outra vez. Inverteu furioso as posições – não desistiria assim tão fácil –, e mais uma vez ele lhe pegou os braços e subiu em cima de você.
Impossível dizer ao certo quantas vezes o fizeram ou quanto tempo ficaram nesse jogo de ver “quem domina quem”, mas agora ele estava em cima de sua cintura de novo e segurava seus pulsos contra o colchão, acima de sua cabeça. Estava difícil de se soltar, e você já não sabia se queria fazê-lo.
     Suspirando, você desistiu e deixou que ele fizesse o que bem entendesse.

x-X-x


“Maldito” – você pensa.
Está ofegando e se sente dolorido. Nunca te cansaram assim, e esse novo pensamento lhe irrita. Não há ruído no quarto escuro, mas pode-se ouvir o som das festas nas ruas – que você poderia ter desfrutado a noite toda, mas não se cansaria da mesma forma... Nem se deleitaria tanto.
Você não lembra o nome dele. Mas também não quer perguntar. Aquele estranho olha para você, e ele está
sorrindo. Aquele maldito sorriso! Sem que perceba, você também mostra a ele um pequeno sorriso. Aquele sorriso que tanto gostava de tirar da face daquele outro “ele” mais jovem e de cabelos prata.
O homem mais irritante que já conheceu. As duas semanas mais instáveis de sua vida. Um feriado inesquecível.
Ele realmente deixou em você a sua marca... Mas não é do jeito que você imaginara mais cedo.

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Notas finais do capítulo

Tinha escrito isso as pressas para o concurso do Nyah!, mas aconteceram alguns imprevistos e quando fui ver perdi a data de postagem. Não planejava usar mesmo essa fic no concurso, mas acabou que não me veio nenhuma idéia para outra coisa. Capa tosca da fic também feita as pressas, e agora estou com muita preguiça de fazer uma nova.
Como detesto estocar fanfic, estou postando-a rs
Por algum motivo eu sempre achei o Gin e o Jackal muito parecidos. Talvez pelo sorriso e a personalidade meio imprevisível e assustadora. O Orochimaru, bem, eu gosto dele, e ele tem um jeito meio que "descolado" que eu acho muito interessante em uma U.A., além de que ele combina com esses dois seres com sorriso no rosto.
Espero que tenham gostado dessa fic nonsense.



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