Droga, o que eu ia fazer?

Essa garota era minha vida, literalmente, sem ela eu fico sem chão, eu perco a noção, eu não fico bem. O dia seguinte foi um verdadeiro inferno, estava farto de tantos “sinto muito” e “meus pêsames” de quem nunca falou com minha menina.

Passara o dia no psicólogo do colégio, aquele senhor de cabelos grisalhos e sorriso reconfortante que tentava inutilmente me ajudar. “Ela escolheu assim” ele dizia, isso é ridículo, é óbvio que ela não queria morrer. Isso era demais pra mim! Eu não aguentava mais ouvi-lo tagarelar feito um idiota.

–- VOCÊ NÃO FAZ A MÍNIMA IDEIA DO QUE EU ESTOU SENTINDO, TÁ LEGAL? – Me levantei e bati a mão na mesa de madeira, doeu claro, mas a raiva diminuiu. – EU PERDI A MINHA NAMORADA, O MEU PRIMEIRO AMOR, ELA SE MATOU SEM NEM ME DIZER ADEUS OK? ISSO DÓI PRA CARAMBA E NÃO VEJO NADA DE ÚTIL NESSA SUA AJUDA. TENHA UMA BOA TARDE.

Peguei minha mochila e corri para o banheiro, o único lugar vazio e calmo de todo aquele inferno, por um momento rápido me vi desmontando meu apontador, eu iria fazer isso mesmo? Valia mesmo a pena? Claro que valia, era por ela.

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O sangue pingava de meu pulso esquerdo. Na mão direita, a lâmina ainda pendia. Lembrei-me de relance, cada momento doloroso e inesquecível que me levara a agir. Não me arrependia de nada, exceto pelo fato de que teria de limpar o chão.

Peguei um papel-toalha e limpei o sangue do chão, nunca me senti tão aliviado na vida. Tomei um susto ao ouvir um estrondo vindo da porta, tentei me manter o mais silencioso possível e então ouvi os soluços, abri a porta devagar e me deparei com uma garota de madeixas ruivas e olhos azuis, quando viu que eu estava ali logo escondeu seu rosto.

–- SOME DAQUI. – Ela gritou, suas bochechas estavam vermelhas e seus olhos inchados, eu a reconheci, era Merliah, a garota que sempre usava maquiagem forte e roupas escuras, pensava que ela era roqueira ou algo do tipo, mas ela era bem bonita olhando de perto.

–- Ahn... você está no banheiro masculino, você quem deveria sair. – Tentei sorrir inutilmente e abaixei a manga da blusa. – Dia ruim?

–- Te interessa, babaca? – Ela me lançou um olhar que percebi que deveria ir embora ou seria morto.

–- Na verdade não, boa sorte com o seu problema. – Percebi que ela não gostou da resposta e saí do banheiro devagar.

Voltei pra casa e logo fui tomar banho, sentado ali percebi que minha dor de perdê-la não desceria pelo ralo, estava fadado a sofrer pra sempre. Pensei na garota de cabelo de fogo que eu vira mais cedo, ela não parecia feliz, mas algo me disse que ela não era. Nunca reparei muito nela, ela ficava apenas sentada na grama enfiada em seu livro e em seus pensamentos, parecia não ser o tipo de garota que se brinca e bom... Eu adorava brincar.