Pulsos Atados escrita por Anayra Pucket


Capítulo 28
Capítulo 27 - A busca (Nathan)




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/611215/chapter/28

A denúncia foi queixada por diversas ligações anônimas em reação a notícia do desaparecimento, boa parte delas eram da vizinhança daquela esmera casa aos arredores do luxuoso barro de Versalles.

A residência se localizava na rua Ponsey e era propriedade de Lianna Bittencout, mãe da atual suspeita do sumiço do jovem. As denúncias de ar fétido pairando na região que circundava a casa chamaram a atenção da polícia e foi mandada uma única viatura para lá, na intenção de não se chamar a atenção da população.

Eles até tentaram entrar em contato com a proprietária naquele dia, após a tal ter sido questionada por algumas viaturas alegando não saber o paradeiro da filha, mas em término das incontáveis ligações, acabaram desistindo e resolveram investigar por conta própria, com um mandado é claro. Ora a filha da proprietária era a suspeita mais próxima que tinham e precisavam de algum impulso, alguma luz que os guiasse para o rumo certo da investigação e o maior problema era não saber por onde começar.

Os dois policiais tiveram a distinta ordem de arrombar a casa, se preciso e procurar as evidências que pudessem os ajudar a incriminar a tal acusada. Também buscariam a fonte do odor forte que tanto incomodava os vizinhos logo em seguida.

A essa altura, ninguém esperava encontrar nada demais, porém a vida os pegaria de supetão.

Stayne, um indivíduo da dupla que cuidava da missão e comandava a direção do carro, sentia-se premeditadamente ansioso para chegar em seu destino. Desde o começo da sua profissão sonhava com o reconhecimento de seu mérito, só que seu azar era morar e exercer seu cargo em uma cidade pacata como Poshercity. Portanto, seu sonho sempre fora algo distante e frustrante.

Quanto Nathan, o outro policial recém-aprovado no cargo e bastante jovem de idade, assim como seu parceiro de trabalho, encontrava-se com certo ânimo para iniciar sua tarefa, contente por poder largar a monotonia de lado.

Com um pouco de dificuldade, Stayne manobrou e estacionou a viatura em frente a casa declinada. Ambos os parceiros de trabalho estavam calados, parcialmente por razão de não serem íntimos, mas também porque a tensão involuntariamente os estava perturbando.

Nathan sentindo-se ligeiramente desconfortável com o silêncio obrigou-se a limpar a garganta com ímpeto para atrair a atenção do outro.

— Meio inesperado um cara jovem e conhecido desaparecer assim do nada, não acha?

Stayne levou uma fração de segundo para processar o comentário e moveu a cabeça em gesto de concordância.

— Sim, ainda mais em uma cidadezinha morta como essa. Não posso dizer que não estou feliz com esse ocorrido. Vejamos só pelo lado bom, pelo menos tenho algo para fazer além de ficar fazendo rondas nas escolas.

Nathan até pensou em retrucar a indiferença desprezível daquele homem, mas engoliu sua indignação e apenas abriu a porta do carro. Já sentia-se plenamente confortável do que segundos atrás, por sua conduta não obrigá-lo a ter simpatia por aquele certo tipo de gente. Não teria ao menos que ficar puxando papo afiado, intimidado para ter boas impressões, não depois daquilo que ouvira.

Ele ajeitou seu óculos escuro e tateou a cintura em procura da arma e logo sua saliência dura o satisfez. Tudo parecia estar ali, em seu devido lugar.

Adentraram o domicílio após quebrarem o cadeado e Nathan indagou para si se era dali mesmo que o cheiro fétido vinha. O sol estava de "rachar o solo" com nenhuma brisa para ofertar um frescor aliviante para aquela sauna que a sensação térmica de seus corpos sentiam.

Os pés de ambos já estavam no quintal que era repleto de puro barro, esclarecendo o motivo de muita gente achar que aquela casa era abandonada. A pintura das paredes que abarcava a casa descascava e se desintegrava, inutilmente ainda tentando se agarrar as paredes em algumas partes, mas em maioria, sua contextura já havia cedido demasiada a corrosão do tempo.

O olfato de Nathan simularam o odor de bolor e velhice que o interior daquela casa deveria ter com um certo desprazer. Sem enrolação para flagrar mais pormenores de seu exterior, Stayne aproximou-se da porta de mogno e com um pequeno empurrão e volver de maçaneta conferiu se a tal se encontrava trancada.

Suas suposições esperavam que estivesse trancafiada, todavia foi o tamanho choque e inusitado quando a porta se abriu facilmente ao atrito que a princípio era apenas um teste. A brisa que flutuou de encontro a eles vindo daquela casa não trazia empoleirada consigo mofo algum, nem indícios de aromas decrépitos.

A aparência interna da casa os deixaram perplexos.

Era extremamente luxuosa e não tinha nada do que sua imagem fachada exibia de impressão para quem a observava externamente.

Um sofá branco, que o cursar de dedos de Nathan avaliaram como sendo de textura de marfim, posicionava-se logo quase de encosto com a porta. Tinha também uma singela mesa de vidro, portando um castiçal rústico e sofisticado, que incrivelmente proporcionava um contraste incrível com um carpete escarlate-vivo que entremeava a sola de seus pés.

As paredes tingidas de uma cor bem clara e sutil creme vibravam de elegância como se fossem novas e o teto abrigava pendurado um lustre não muito grande, mas cintiloso e chamativo, porque seus cristais brilhavam feito diamantes e prismas.

Mais adiante da mesa de vidro, na parede oposta, uma estante com uma televisão de tela plana posta sobre si passou despercebida por eles.

A curiosidade movia a ambos, durante todo o tempo em que suas mãos se retiam ocupadas por cada um de seus revólveres, com os sentidos treinados para capturar qualquer sinal ou presença de alguma ameaça por lá. Já fazia tanto tempo que os dois precisaram usar seus aprendizados, que até tinham esquecido a adrenalina que isso trazia.

A dupla transitou brevemente pela cozinha,vislumbrando-a para conferir se tinha alguém por lá, e ao notar que não, separaram-se. Nathan se conservou na cozinha, explorando-a com atento, já no tempo que Stayne decidiu seguir pelo corredor que conduzia até os quartos.

Nathan observou as louças de porcelanas guardadas dentro do armário acima de sua cabeça através do vidro, também não deixando de reparar na pia, fogão e na geladeira que ao ser aberta, revelou-se vazia e erma.

Resolveu caçar pistas e eminências no outro armário que ficava quase colado ao chão e vasculhou sem mover nada dos alimentos industrializados que lá quase mofavam. Nada de interessante.

A casa estava em ótimas condições, mas estava claro que as camadas de bolor e empecilhos de abandono disseminavam que ninguém esteve lá. Sobretudo, como dizia o lema de seu irmão: Aparências enganam!

Como sempre fez, ele deu atenção as suas suspeitas e incertezas, partindo para seu foco e persistência. E assim recebeu sua primeira recompensa quando seus olhos rotacionam inconscientemente até o fogão e rastreiam a gota de molho de tomate próximo a uma de suas bocas.

Ele tocou-a com os dedos e notou que apesar de que estivesse meio seca e parcialmente grudada ao fogão, era recente, aproximadamente questão de dias. Nathan ficou estático e parado no lugar com a pista que encontrara, até que Stayne o chamou com a voz embargada.

— N-Nathan? - O som veio retrocedido por ecos dentre as paredes.

Nathan nem se permitiu ter receio ou baixar a guarda para o medo e já correu em direção aonde ouvira o chamado, já com o dedo no gatilho para defender o comparsa.

Quando adentrou no cômodo, jamais sua imaginação seria capaz de forjar o que sua visão capturou e isolou em sua área de memórias para sempre. Quatro flores estavam pregadas pelo caule com fita adesiva na parede central do fundo de um quarto pequeno, distribuídas em forma de um arco. De súbito, nenhum dos dois policiais deu muita atenção para os cômodos que ali residiam ou para as duas camas de solteiro que estavam atribuídas por lá. 

O sangue pincelado com dedos nas paredes já se compactava seco, com o tom que era uma fusão de borgonha com cobre, e tracejava os versos de cada estrofe rente desde o teto até sob a proximidade do piso oposto e inferior. Seja quem fosse o psicopata quem despojara daquele sangue para escrever aquilo, ainda fizera questão de enumerar cada estrofe para que quem lesse soubesse precisamente a sequência de leitura.

Ambos os policiais estavam arrepiados, agonizados e absolutamente pasmos com aquela barbaridade. A princípio, Nathan não conseguia concentrar sua mente para ler o que estava escrito ali, e a curiosidade pela primeira vez lhe foi útil, pois por conta dela seus olhos miraram fixamente para a caligrafia ali deixada, interpretando cada sílaba por fim.

 

"Ela é a chama que descansa

Crepita e dança em meio a lama

Em seu vai e vem move e balança

Faz do céu obscuro, uma bonança

 

Uma bonança

Ah, e que bonança!

Que floresce a cada dia

Feito semente, palha, somente

 

Mas enfatizo: somente

Para quem tem olhos para a ver

Para quem tem tato para a sentir

Para quem tem paciência para apaziguar sua turbulência

 

Em primeiro lugar entenda:

Ela é a tempestade, o vendaval

Não a quietude ou garoa; uma lenda

É a potestade; a página do mal

 

Pegue o livro, dome as rédeas

Tenha atenção, manuseie as regras

Semblantes, tomem-nos como aviso

Declaração de guerra

 

O selo as separam; mas as unem

Ele se romperá ao cair do alvorecer

Vertendo o negrume

A Víbora das Sombras irá renascer

 

O Sopro da Sentença

Irá declamar

Por toda essa terra devastar

O prazer de Vossa Excelência

 

Seja bem vinda a esse mundo

Doce amargor da impureza

Tênue, ávida e sôfrega; liberta

O poder das tuas teias voltam a ser suas!"

 

Abanando a cabeça hipnoticamente possesso pelo medo e descrença, Nathan se voltou para o comparsa sem chão nem resignação, empurrando as perguntas a vigor de sua garganta.

— M-m-as que porra é essa?! Será que é sangue mesmo? Que merda isso significa? 

Stayne chiou entredentes, fazendo "shhh" e balançando o rádio que estava do outro lado de sua face até então despercebido pelo outro. Entendendo prontamente o aviso, calou-se e teve então aquelas comuns borboletas no estômago indicando que mesmo por ser iniciante, não devia ter um comportamento sentimental como estava tendo. Sobretudo, todas aquelas palavras, flores e pistas sobre talvez a identidade deixada pelo autor o horrorizaram.

— Aqui é o sargento Stayne da dupla encaminhada para a residência suspeita no bairro de Versalles, câmbio. 

Com aqueles chiados incômodos, veio a resposta sonora do interfone do aparelho.

— Pois bem, sargento, qual seu relatório sobre a inspeção? - A voz familiar de seu comandante protestou firme pelo rádio portátil.

Reciprocamente, ambos os policiais estáticos trocaram olhares.

— Mande peritos preparados para coleta de DNA. As paredes de um dos quartos está completamente escrita a sangue... E enfatizo que sua presença é imprescindível tenente, câmbio, desligo. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Pulsos Atados" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.