TiMER escrita por Witch


Capítulo 1
Único?


Notas iniciais do capítulo

É como dizem: quem está vivo sempre aparece :p



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Eram três da manhã quando Abigail ligou.

Regina a atendeu sonolenta e com a voz arrastando.

- O tempo dele zerou. – veio a resposta quebrada do outro lado da linha seguido por um quase uivo. – Ele não me falou quem é, mas eu sei, eu sei.

Regina sentou-se na cama, acordada, e não soube o que responder. Falar coisas como: “me desculpe”, ou “sinto muito”, ou até mesmo “aquele canalha!” pareciam respostas vazias e que não ajudariam em nada.

- Eu já estou chegando. – disse por fim.

Saiu da cama e sem nem mesmo olhar duas vezes para o relógio na mesinha ao lado da cama, foi em direção a seu guarda roupa. Escolheu uma legging negra, uma blusa de manga comprida fina cinza e amarrou os cabelos num pequeno rabo de cavalo. Saiu do quarto, desceu as escadas e pegou uma garrafa – pela metade – de tequila em sua adega, o celular e as chaves.

Não olhou duas vezes para a mansão vazia que deixava para trás.

A velha e confiável Mercedes já salvara Regina diversas vezes e nunca a deixara na mão. Colocou a garrafa no banco do passageiro e trancou a porta. Antes de dar partida no carro, mandou uma mensagem para as outras:

“O tempo de David zerou.”

Ela sabia que as elas estariam dormindo àquela hora, mas seria definitivamente a primeira coisa que veriam ao acessar o celular.

Deu partida e foi em direção a cada dos Nolan.

O tempo de David zerar nunca foi, de fato, inesperado e Mal avisara Abigail diversas vezes, mas a tola tão confiante no relacionamento deles tinha certeza de que logo o tempo dos dois sincronizaria e zeraria ao mesmo tempo. Ela tinha tanta certeza que nem notara o digito no punho de David diminuir cada vez mais e zerar num momento em que ela estava numa viagem de negócios em Boston e ele ainda em Storybrooke.

Regina se lembrava claramente das conversas sussurradas quando Abigail não estava por perto. Como Cruella sussurrava para Ursulla “os números dele!”, que respondia “eu tenho uma péssima impressão sobre isso”, Mal só balançava a cabeça e jogava indiretas para David, Regina só fingia confiar em Abigail e na certeza dela de que os dois eram feitos um para o outro, mas sabia, que no fundo, aquilo estava fadado ao fracasso. As quatro, entretanto, queriam que aquilo funcionasse... Pelo bem de Abigail.

Infelizmente, elas estavam certas.

Estacionou em frente a casa dos Nolan e percebeu que a picape de David não estava lá, o que sinceramente era esperado. Pegou a garrafa de tequila e foi até a porta, onde bateu campainha e bateu na porta.

Abigail atendeu minutos depois. Com os olhos vermelhos, o rosto molhado e os cabelos bagunçados.

- Por que isso está acontecendo? – ela perguntou em meio a lágrimas – O que eu fiz de errado?

Regina queria dizer que ela não fizera nada errado, que era a vida, que às vezes os números não batiam, às vezes só um número batia e às vezes a vida era uma merda e as pessoas sofriam. Mas novamente, palavras eram vazias naquele momento.

O que uma pessoa sem números em seu pulso sabia sobre destino e amor eterno?

Levantou a garrafa de tequila e forçou um meio sorriso.

- Você precisa de uma bebida.

Abigail bebeu e chorou. Bebeu mais um pouco e chorou mais um pouco. Regina a forçava beber água, o que a fazia se lembrar de David e chorar ainda mais forte.

Eram quase seis da manhã quando Abigail finalmente dormiu e Regina só pôde cochilar por uma hora quando seu despertador tocou. Sua cabeça doía, suas costas doíam, seus olhos ardiam e ela queria muito simplesmente voltar a dormir, mas por fim, se levantou, fez café e panquecas.

Deixou um bilhete perto da travessa antes de sair correndo da casa.

Tinha uma reunião às 8:30 sobre o orçamento da cidade e ela estaria com menos de seis horas de sono, ainda com tequila em suas veias e muita dor de cabeça.

Quando Ursulla ligou, ela já tinha tomado banho, trocado de roupa e escovado os dentes.

- Então, o que esperávamos aconteceu. – disse a mulher do outro lado da linha.

- Aconteceu. – respondeu Regina terminando de arrumar seus cabelos em frente ao espelho em seu quarto.

- Como ela está?

- Como você acha? Terrível. Chorou a noite inteira. Ah, droga, eu tinha que ter ligado para a secretária dela...

- O que acha que eu fiz antes de te ligar, bem? Ela não vai aparecer no escritório tão cedo. Exceto para assinar os papeis do divorcio.

Aquilo fez Regina parar.

- Você acha que eles vão se divorciar?

- Você não? Regina, meu bem, o tempo dele zerou com outra pessoa e se ele for sortudo o suficiente, o tempo da outra pessoa também zerou. É o que as pessoas em geral esperam a vida inteira para acontecer!

Os números no pulso de Ursulla eram: 730:10:01:03 e às vezes Regina a pegava sorrindo que nem uma maníaca ao olhar os segundos diminuindo constantemente em seu pulso.

- Números zerados equivalem a amor verdadeiro! – disse Ursulla do outro lado e com pesar completou: - sabíamos que isso acontecer.

- Eu não.

- Claro que sabia. Todas sabíamos. Você não me engana, meu bem. Nem mesmo Abigail acreditava no que ela falava.

- Ela acreditava que com David daria certo. Eu sei que acreditava. Acho que por isso ela está tão... Miserável.

Ursulla suspirou do outro lado.

- Eu estou saindo de casa e vou passar lá. Acho que ela precisa muito de nós agora.

- Obrigada. Tenho reuniões o dia inteiro, mas acho que posso sair para almoçar.

- Ótimo, ótimo. Irei falar com as meninas. Podemos almoçar juntas!

A segunda a entrar em contato foi Cruella pouco depois das dez da manhã.

Regina ainda estava na reunião do orçamento e Graham apresentava dados sobre o porquê a delegacia precisava de mais recursos. Seus olhos doíam e sua cabeça latejava.

Foi a mensagem de texto que a impediu de cochilar mais uma vez.

DeVil:

“OMG.” [10:05 am]

Foi a primeira mensagem no grupo.

DeVil:

Acabei ver a mensagem e meu deus!” [10:05 am]

DeVil:

“Já sabíamos que iria acontecer, mas pobre Abigail”. [10:05 am]

DeVil:

“Quantas tequilas preferem que eu compre?” [10:06 am]

DeVil:

“Ou vodka seria melhor?” [10:06 am]

DeVil:

“Talvez os dois.” [10:06 am]

Regina olhou para os lados e percebeu que todos estavam concentrados em Graham, que ainda estava convencido que seu Power point em Comic Sans era profissional e lhe ganharia alguns dólares a mais.

Quando voltou a olhar o celular, Ursulla tinha respondido.

Ursulla:

Estou indo para a loja agora, Cro!” [10:07 am]

Ursulla:

“Ela está péssima. Acabei de sair de lá, mas pelo menos parou de chorar”. [10:07 am]

Ursulla:

“Reg, notou os números da Abi?” [10:07 am]

Regina franziu as sobrancelhas e tentou se lembrar de algo. Jamais tivera o hábito de ficar olhando os números nos pulsos dos outros, então provavelmente, se tivesse algo errado, ela jamais notaria.

Mills:

Não. Há algo errado?” [10:08 am]

DeVil:

“Os números dela não zeraram, né?” [10:08 am]

Ursulla:

“Se meus cálculos estiverem certos, bem, ela tem três meses.” [10:09 am]

Mills

Você disse isso para ela?” [10:09 am]

Ursulla:

“Eu posso ter mencionado isso para fazê-la parar de chorar.” [10:10 am]

“Mas acho que ela só ficou pior.” [10:10 am]

Mills

“Ela realmente acreditava que era David.” [10:11 am]

“É claro que ela vai ficar chateada.” [10:11 am]

DeVil:

“É algo que eu e Mal sempre dissemos.” [10:11 am]

“O tempo não zerou, então eles sabiam que as coisas poderiam dar errado”. [10:12 am]

Regina soltou um suspiro irritado e todos os olhares foram para ela, inclusive os de Graham. Limpou a garganta e pediu que ele continuasse.

Mills:

“Os tempos nem sempre zeram ao mesmo tempo.” [10:12 am]

“Até EU sei disso” [10.12 am]

“Ela esperou que eles zerassem eventualmente.”[ 10:12 am]

Ursulla:

“A pergunta é”

“O David esperava o mesmo?”

“Por que as coisas não pareciam bem nesses últimos meses”.

DeVil:

“A minha opinião é que David sabia o mesmo que nós.”

Mills:

“Estão me falando que ela nem deveria ter tentado?”

Ursulla:

“Apenas que só se pode ter tanta certeza quando os números zeram. Abi confiava demais.”

DeVil:

“Os números são cruéis. Todas sabemos disso.”

“Lembram do Diego?”

Regina revirou os olhos. Claro que todos se lembravam do estudante de intercambio durante a faculdade e da paixão de Cruella por ele. Eles estavam juntos numa festa e ela foi rapidamente ao banheiro, quando voltou Diego estava conversando com outra mulher. Os tempos dos dois zeraram quando eles se olharam no meio da pista de dança.

Todas se lembravam por que Cruella fazia questão de relembrar isso todos os dias durante quase um ano.

Os números no pulso de Cruella eram: 547:15:01:30.

Cruella e Ursulla continuaram conversando, mas Regina decidiu sair da discussão.

Números não eram sua especialidade. O que ela poderia dizer sobre eles? O que ela sabia sobre eles?

Nada.

--

Finalmente, deu meio dia.

Ela saiu do escritório quase que correndo a fim de evitar os vereadores ou qualquer um que quisesse conversar.

E claro, foi a primeira a chegar na Granny’s. Escolheu uma mesa afastada e se sentou. Massageou suas têmporas e desejou muito que o dia terminasse logo.

Antes que Ruby pudesse se aproximar da mesa para pegar o pedido, um outro corpo sentou-se a sua frente.

- Eu vi a discussão no grupo, mas me recusei a responder. – murmurou Mal coçando os olhos debaixo dos óculos escuros. – Então, aconteceu.

Regina só concordou, cansada demais para responder.

- Bem, pelo menos, teremos mais tequila hoje. Se trouxer a sua sidra, eu ficarei muito grata.

Regina riu.

- No momento, a única coisa que eu quero é a minha cama e pelo menos 10 horas de sono.

- Você tem que a aprender a aproveitar a vida.

- Eu irei... Depois de dormir.

Mal só passou as mãos pelos cabelos loiros e bocejou.

- Todo esse desespero por causa de números. – comentou meio enojada.

Regina só sorriu. Nunca soubera que números marcavam o pulso de Mal. Ela sempre usava uma pulseira grossa no pulso direito e caso alguém perguntasse, ela ria, inventava uma piada ou respondia com grosseria.

Regina parou de tentar descobrir há muito tempo, entretanto ela sabia que havia números debaixo daquela pulseira. Talvez até um 0.

Cruella chegou logo depois puxando uma Abigail que parecia se arrastar pelo Granny’s.

- Olha quem chegou. – comentou Mal levantando os óculos escuros. – Como você está, meu bem?

Abigail sentou-se ao lado esquerdo de Regina e respirou fundo.

- Estou bem. Eu acho. Eu não sei.

As três mulheres se olharam. Regina passou o braço pelos ombros de Abigail e a abraçou. Abigail afundou o rosto no pescoço da amiga e respirou fundo.

- Eu vou ficar bem. – sussurrou.

Ursulla chegou logo depois e puxou uma cadeira.

- Quem está preparado para comer gordura e açúcar para o ano inteiro num único dia?

- E álcool. Muito álcool! – completou Mal olhando para Abigail, que abriu um sorriso e concordou.

- Eu! Hoje, eu não quero saber de nada, então que se dane!

As outras exclamaram e bateram nas mesas até Ruby, com um sorriso culpado, se aproximar da mesa.

- Então, o de sempre?

- Não. – disse Abigail com a voz firme. – Eu quero algo diferente! Quero... –

A porta do restaurante tinha um guizo. Um guizo alto e incomodo que avisava todo mundo que alguém tinha entrado no local. E foi exatamente este guizo que fez barulho na hora e Abigail imediatamente olhou para porta...

Onde David sorrindo entrou seguido por Mary Margareth, que mal se continha de tanta felicidade.

O rosto de Ruby pareceu murchar naquela hora. Abigail ficou absurdamente pálida e os olhos das outras quatro seguiram o olhar das duas.

- Ah meu deus... – disse Cruella.

Ursulla só abriu a boca, surpresa demais para falar.

- Mary Margareth? – disse Mal com deboche. – De todas as pessoas!

Mas Regina... Bem, Regina ficou furiosa e se levantou da mesa antes que qualquer uma pudesse impedi-la e foi até Mary Margareth e David, que felizes e apaixonados, não notaram nada de diferente.

Ruby foi a única que a seguiu, provavelmente tentando impedir um homicídio, mas as outras só ficaram olhando. Embora, Ursulla e Mal tivessem se levantado.

- Regina! – exclamou Ruby tentando acompanhar a outra, mas seus saltos plataformas se provaram mais difíceis de correr do que os Jimmys Chos negros de Regina.

O casal feliz percebeu a aproximação e David se levantou. Mary Margareth só murchou na cadeira.

- Regina... - ele tentou se desculpar, mas o tapa ressoou no restaurante, que pareceu parar de funcionar.

- Como ousa?! – ela disse mais para o casal do que apenas para David. – Vir aqui como se tudo estivesse resolvido e bem! Não é por que vocês têm um maldito zero no pulso significa que tudo está perdoado e todos saíram ganhando! Tenha pelo menos um pouco de bom senso.

Foi só então que David percebeu Abigail na outra mesa. Mary Margareth se levantou, os olhos negros com uma fúria que Regina nunca tinha visto na professora.

- Como se você soubesse como é! – Depois, como se voltasse aos seus sensos, Mary Margareth recuou e se desculpou. – Eu não quis dizer isso. Foi cruel e impensado e-

- Você quis dizer exatamente isso. – respondeu. – Bem, eu não tenho números no meu pulso. – arregaçou as mangas do blazer que usava. – Mas adivinha só: eu não tenho encontros com caras casados.

Depois, ela olhou para as amigas.

- Perdi a fome. – e saiu da lanchonete.

Mal soltou uma risada cruel e seguiu Regina, não sem antes mandar um olhar acusador para o casal. Cruella puxou Abigail, que continuava em silêncio, e olhava para David com raiva. As lágrimas caiam silenciosas por detrás dos óculos escuros.

As duas saíram em silêncio, com Ursulla logo atrás.

- Ela está certa. – comentou. – O número não é desculpa para ser um canalha.

--

Regina nunca gostou de Mary Margareth.

Não gostava de Mary Margareth quando Daniel estava vivo e não gostava agora quando Daniel estava morto.

Na verdade, gostava dela ainda menos.

O resto da semana prosseguiu-se da mesma forma que antigamente, com a diferença de que Abigail não ligava para seu escritório a chamando para lanches da tarde e para contar coisas estúpidas do dia a dia. Na verdade, Abigail não ligava para ninguém e se recusara a sair de casa.

Felizmente, não tivera tempo de ver Mary Margareth ou David na rua.

Ursulla apareceu um dia no escritório. O rosto sombrio e irritado.

Regina suspirou e tirou os óculos de leitura. Fechou o contrato de serviços que lia e olhou para a amiga.

- O que houve?

Ursulla respirou fundo.

- Abi me ligou. David entrou com o pedido do divórcio.

Regina fechou os olhos e sentiu a dor de cabeça se aproximando.

- E agora?

- Ela assinou e eu acabei de entregar os papeis para ele. Adivinha só quem estava na pet store com ele?

- Mary Margareth.

Ursulla fez uma careta.

- Abi também disse que vai sair da cidade.

- Ela me comentou isso noite passada. Boston, certo? Ela tem uma irmã lá.

- Acha que isso é o certo a se fazer?

- Acho que ela precisa de um tempo. Só isso. Acho que Boston vai fazer bem. Aqui ela os vê em todo lugar. Eu já fiz o mesmo, se lembra?

- Lembro. Te buscamos em Nova York algumas vezes.

- Eu acho que ela está fazendo bem, você não?

Ursulla concordou e passou a mão pelo pulso onde os números só diminuíam.

- E se a minha pessoa também estiver casada? Eu vou destruir um relacionamento assim? Caramba, quando eu me lembro da Abi, eu tenho vontade de chorar.

- Os números são cruéis. Não é o Cruella diz?

- Cro diz muitas coisas. Nem todas devem ser levadas a sério.

Regina concordou.

- Eu acho que ela destruiu o nome “Diego” para mim.

- Para todas nós. – disse Ursulla e se levantou. – Posso te fazer uma pergunta?

Regina voltou com os óculos de leitura e abriu o contrato.

- Diga.

- Quando Daniel... Ele tinha números, não é?

Regina concordou.

- Você se lembra quais eram os números?

Ela se reclinou na cadeira.

- Não.

Ela mentiu e as duas souberam disso, mas Ursulla aceitou e saiu do escritório depois que a fez prometer aparecer no pôquer.

Daniel tinha só um número. Um 0. Regina sabia disso por já passara minutos traçando o zero marcado no pulso de Daniel. Ele sorria e a deixava examinar a marca por quanto tempo ela quisesse.

Ele não se importava que os pulsos dela estivessem sempre em branco. Ele sinceramente não se importava, mas aquilo a incomodava muito, tanto que um dia ela desenhara, com caneta, um zero em seu pulso e mostrara para ele. Daniel rira muito e a beijara.

Ela não precisava de números enquanto tivesse ele.

Então, aconteceu o acidente de carro e não havia números nem Daniel. Só lembranças e um gosto amargo em sua boca toda vez que ligava a televisão, lia um livro ou saía de casa.

--

Os dias prosseguiam como sempre.

Até naquele sábado de manhã.

Abigail iria partir em algumas horas, mas Regina simplesmente não conseguia se levantar. Sua cabeça pulsava muito e seu estomago ardia.

Mas a campainha tocava incessantemente.

- Se eu levantar daqui, eu mato alguém. – disse Mal de algum lugar da sala escura.

Cruella resmungou alguma coisa debaixo da mesinha de vidro e Ursulla roncou debaixo do pano que cobria o sofá. Abigail estava abraçada com uma garrafa fechada de Jack Daniels. Cartas estavam espalhadas pela sala assim como restos de bebida e comida. Havia pedaços de roupas espalhadas também e Regina, por algum motivo pensou em algo relacionado a strippers. Era 14:00 do sábado e ela não se lembrava de nada que acontecera depois das 19 do dia anterior.

Mas as batidas na porta continuavam e Mal resmungou mais alguma ameaça.

Regina se sentou no sofá e viu Mal abraçada com um homem semi-nu no tapete. As batidas continuavam e sua cabeça parecia explodir, portanto a última coisa que se preocupava era o homem, que possuía o sorriso mais satisfeito do mundo.

Arrastou-se até a porta e se arrependeu amargamente quando a claridade a recebeu.

- Ahn, boa tarde, senhorita Nolan?

Quando Regina conseguiu se acostumar com a claridade o suficiente para abrir os olhos, havia uma mulher com um sorrisinho e um homem alto com as sobrancelhas levantadas.

- Não. – respondeu. Nem imaginava como deveria estar sua aparência naquele momento e sua cabeça doía tanto que nem conseguia se importar. – Ela está dormindo. Quem são vocês?

- Emma Swan. – respondeu a loira – Esse é o meu escudeiro fiel, Frederick.

O homem acenou.

- E quem são vocês? – respondeu a pergunta e o sorriso de Swan pareceu aumentar.

- Somos novos na cidade. – começou a explicação – e nos disseram que o escritório da sta. Nolan precisa de um advogado novo... e...

- Eu sou um advogado. – completou Frederick.

Regina passou as mãos pelos cabelos bagunçados.

- E a idéia brilhante de vocês foi vir aqui num sábado?

- Nós ligamos. – disse Frederick na defensiva. – Ligamos ontem a noite e hoje de manhã novamente. Ela disse para virmos.

- Okay. Só um minuto. – e fechou a porta, depois correu até a sala e puxou Abigail do chão. – Você disse para um alguém vir fazer uma entrevista de emprego hoje?

Abi reclamou de dor de cabeça e voltou a dormir.

A melhor decisão seria convidar os novatos para dentro da casa, depois entrevistá-lo como a prefeita correta que era, mas ao olhar para a sala: Cruella dormindo debaixo da mesa, Ursulla num dos sofás debaixo do pano, Mal e um stripper agarrados no tapete, Abigail abraçando uma garrafa de whisky, ela decidiu pela melhor opção.

Emma e Frederick conversavam em sussurros quando Regina abriu a porta e antes que eles pudessem falar qualquer coisa, ela sentenciou.

- Você está contratado. Apareça lá segunda. – e fechou a porta de novo.

Depois se arrastou de volta para o sofá, onde dormiu quase que imediatamente.

Só percebeu que estava sem blusa quando acordou pela segunda vez.

--

Ruby tinha um sorrisinho irritante quando as recebeu naquela tarde para o jantar.

Abigail fez um careta e pediu por uma coca-cola. Mal falou nada, só olhou para as amigas miseravelmente. Cruella pediu por uma sopa – por que aparentemente não conseguiria comer nada – e Ursulla pediu pelo mesmo.

Regina foi a única que pediu ovos e bacon. E claro, uma coca.

- Eu soube que as coisas ficaram meio loucas ontem a noite. – comentou a garçonete.

- Você ouviu errado. – resmungou Regina. E por que sua cabeça latejava tanto?

- O que acharam do Ramon?

As cinco pararam e olharam para Ruby, que sorria.

- Ahh, o nome dele era Ramon. – disse Mal com surpresa. – Eu estava me perguntando como conseguimos ligar para ele.

- Na verdade, você me ligou. – disse Ruby. – E perguntou por um bom stripper. Eu disse que só conhecia o Ramon, por que fazíamos academia juntos e você pegou o número.

Cruella sentenciou que Mal era a única que deveria ficar com celular no dia do pôquer.

- Quanto você quer pelo seu silêncio? – perguntou Regina.

- Acho que é algo para ser negociado depois e com mais calma. – disse piscando. – Eu já volto com os pedidos.

- É Ruby. – disse Abigail quando a garçonete sumiu. – Ela não vai destruir sua reputação.

- Eu estava presente num show de strip. E eu sou a prefeita dessa cidade. As conseqüências!

- Você tem que aprender a relaxar. – disse Mal. – É a Ruby, meu bem, ela não vai sair contando segredos assim.

- Ela é esperta. – disse Ursulla. – Provavelmente só vai vender seu silêncio. Nada demais. Não é como se não já tivéssemos pago Ruby para calar das outras vezes.

Regina só arrepiou quando Mal e Cruella trocaram risadas.

- Verdade. As coisas que aquela garota sabe...

Regina só deitou a cabeça em seus braços e prometeu nunca beber de novo.

- Alguém se lembra de alguma coisa da noite anterior? – perguntou Abigail. – Eu tenho a impressão de que eu devia ter feito alguma coisa, mas eu me esqueci...

- Eu me lembro do Ramon. – disse Mal. – Só isso.

- Eu me lembro que ganhei várias partidas. Eu só não lembro o que eu ganhei. – disse Ursulla. – Estávamos jogando pôquer normal ou strip-poker?

- Eu me lembro de fazer várias batidas de vodka com frutas. – disse Cruella, depois balançou os ombros.

Abigail coçou a cabeça.

- Era algo importante... Não se lembra, Regina?

A prefeita só balançou a cabeça negativamente.

- Minha cabeça dói e meu braço também.

- Acho que você precisa beber mais vezes. – disse Mal cutucando Regina.

- Pessoal, era algo sério!

Granny decidiu passar perto da mesa naquele momento.

- Ora, Abi, desistiu de Boston?

Regina levantou a cabeça imediatamente e as cinco se olharam.

- Acho que eu me lembrei do que eu esqueci.

--

- Se você quisesse bacon, deveria ter pedido para você. – disse Regina olhando feio para Mal que roubou uma grande tira e mastigava com felicidade.

- Negar comida é feio.

- Roubar comida também.

- Não se você estiver faminta.

- Você não está faminta.

Abi bebericava a coca gelada e pensava seriamente em pedir por ovos e bacon também.

- Abigail Nolan? – a nova voz fez as cinco cabeças se focarem no homem que nervosamente olhava para a loira, depois de abrir um sorrisinho para Regina.

- É Griffith agora. – respondeu. – Você é?

- oh, sou Frederick Holt. Advogado novo na cidade?

Abigail se levantou quase derrubando a cadeira.

- Eu me esqueci de você completamente! – exclamou.

- É, eu sei, fomos até sua casa hoje de manhã. – depois olhou para Regina. – Sua amiga aqui nos recebeu.

E Regina se lembrou.

- E ela contratou o Frederick. – disse a outra loira aparecendo do nada.

- Ela contratou? – repetiu Abigail olhando para Regina, que balançou os ombros.

- Ele me pareceu confiável e responsável.

- Ele é! – disse a loira. – Bom saber que estamos no mesmo barco.

- Emms, eu vou fazer isso do jeito certo. – ele disse com firmeza, depois voltou a olhar Abigail. – Podemos fazer a entrevista na segunda?

Foi Mal quem interrompeu.

- Isso foi a coisa mais estúpida que eu já ouvi alguém falar. Regina te contratou, certo? Para quê entrevista?

Ele riu.

- Não houve entrevista e ela contrataria qualquer um no meu lugar.

Regina concordou.

- É estúpido. – disse Mal.

- Mas também honroso e justo. – disse Abigail. – E será um prazer. Espero não ter atrapalhado muito os seus planos.

Ele sorriu e negou.

- Vale a pena.

- Mas só para constar. – disse Emma e apontou para Regina. – Ela contratou o Frederick. – e completou – Tudo bem que foi durante uma ressaca e sem blusa, não que eu esteja reclamando, mas foi justo.

Depois que os dois se afastaram da mesa, Regina ameaçou a arrancar a mão de Mal.

- Desde quando você tira a blusa para estranhos? – zombou Mal.

- Por alguma razão, eu perdi a minha blusa na noite passada. Não sei como nem quem.

- Acho que você deveria perguntar para a loira. Ela pareceu saber bem o que estava acontecendo.

- Eu vou te enforcar. Eu juro.

Abigail interrompeu a tentativa de homicídio.

- Vocês viram como ele é gentil e justo?!

Cruella cutucou Ursulla e as duas concordaram.

- Por que não o chama para sair?

- Eu terminei com David tem poucas semanas.

- E daí? Ele está desfilando com a coisinha para todo lugar. – disse Mal.

- Eu não sou eles e não sei se estou pronta para outro relacionamento, talvez nunca estarei.

- Acho bom. – disse Regina e apontou para a mesa de Frederick e Emma que recebiam David e Mary Margareth. – Acho que fiz um erro ao contratá-lo.

- Semi-nua ainda. – disse Mal rindo.

- Eu posso te esfaquear com meu Jimmy Choo.

- Acho melhor esquecer a loira também, Regina. – disse Ursulla apontando para o garoto ao lado de Emma.

- Eu já esqueci. Ela é ninguém para mim.

- Então, você fica seminua para qualquer um agora?

Mal foi para casa pingando coca-cola, mas valeu a pena.

--

No dia seguinte, Regina queria muito não ter saído da cama.

No domingo de manhã era comum ter a feira de Storybrooke. Lá era possível achar bons legumes, frutas baratas, algum artesanato, algumas coisas diferentes e era basicamente o evento mais esperado da semana para alguns habitantes.

Regina gostava por que poderia reabastecer seu estoque de frutas e comprar um bolo de nozes que a Granny só disponibilizava uma vez por mês na feira. O bolo era a primeira coisa a esgotar, portanto Regina fazia questão de chegar bem cedo.

E claro que Mary Margareth era voluntária para ajudar Ruby e Granny naquele dia movimentado, não é?

- Eu não quero ser atendida por você. – disse com raiva. – Onde está Ruby? Ou Granny? Até Pongo serviria.

- Ruby foi buscar a Granny com os restos dos bolos. Sou só eu. - mordeu os lábios.

Regina tentou decidir o que valeria mais a pena: seu orgulho ou o bolo de nozes. Se fosse comprar as frutas e voltasse mais tarde, a probabilidade de não sobrar bolo era imensa. Se ficasse ali, teria que ser servida por Mary Margareth, o que era o cúmulo do absurdo.

Mas o bolo só era feito uma vez por mês.

- Desculpe o atraso, MM. – disse Emma pulando dentro do estande. – Alguém não quis levantar. – olhou para o rapaz que tentava pular o estande. Depois, olhou para Regina e sorriu. – Você parece melhor hoje. Sem mais ressaca?

Regina forçou um sorriso.

- Eu sou humana e estava no meu dia de folga.

- Não estou julgando! – disse Emma se defendendo e pegou um avental branco. – Em que posso te ajudar?

- Primeiramente, você deveria ajudar o seu filho. Ele parece estar com problemas.

E de fato, o rapaz estava com uma perna dentro do estande e o resto do corpo para fora.

- Ele não puxou isso de mim. – respondeu Emma e foi puxar o rapaz para dentro, que começou a rir.

Regina não pôde evitar o sorriso quando ele a olhou com os olhos brilhantes.

- Obrigado! – ele exclamou. – Ela iria me deixar lá a tarde inteira!

- É claro que não. Você iria cair antes disso. – respondeu Emma rindo.

- Isso foi cruel!

Ela só parou de sorrir quando percebeu a expressão confusa de Mary Margareth.

- O que foi?

- Nada. – respondeu com pressa.

Regina não acreditou, mas voltou seus olhos para Emma.

- Eu quero um bolo.

Emma fez uma continência e o rapaz se aproximou e debruçou no balcão.

- É o melhor bolo do mundo. Você vai gostar!

- Eu sei disso. Compro esse bolo todo mês desde que – minha mãe sumiu – eu comecei a trabalhar.

- Mesmo? E você trabalha com o que?

- Eu sou a prefeita da cidade.

Os olhos do rapaz pareceram brilhar ainda mais.

- Eu posso fazer uma entrevista com você?! É para a escola e eu tenho que entrevistar pessoas de várias profissões e a sua é a mais legal.

- Henry. – era Mary Margareth. – Regina é uma pessoa muito ocupada, ela não tem tempo para algumas perguntas de escola.

Regina tinha uma certa rebeldia que a forçava a fazer o contrário do que falavam para ela fazer.

- Podemos marcar um dia, por que não? – a expressão de surpresa de Mary Margareth fez o resto do dia valer a pena.

Ele pareceu pensar e olhou para Emma, que só observava a discussão, com o bolo em mãos.

- Você me leva lá segunda? Minha aula termina às 15:00.

- Se ela estiver livre... –e olhou para Regina, que balançou os ombros.

- Estarei livre. Às 16 horas?

- Perfeito. – depois como se lembrasse de algo, completou: - Ah, Emm Swan. E meu filho, Henry.

O rapaz só abriu um imenso sorriso.

- Regina Mills. – respondeu e abriu um sorriso para o rapaz, que praticamente brilhava de ansiedade.

Emma mordia os lábios para impedir seu sorriso e, sem falar nada, estendeu o bolo para Regina, que o pegou, pagou por ele e se despediu dos dois, depois de prometer para Henry que estaria livre e responderia a entrevista. Mary Margareth foi completamente ignorada.

Fez o resto das compras em paz e voltou para casa com uma quantidade impressionante de frutas, e um bolo de nozes.

--

A segunda foi caótica.

Reuniões, papelada, mais reunião, um jornal queria acesso a algumas informações, o departamento de parques queria promover um evento grande e precisava de verba, o gabinete dos vereadores estava irritado com algumas posições do governo federal e exigiam uma posição dela.

Quando o relógio bateu 16 horas, ela estava com três ligações em espera, um relatório de 50 páginas para ler e assinar, uma centena de emails e uma vídeo-reunião com governador em meia hora.

Portanto, quando Henry entrou no gabinete com ansiedade com Emma logo atrás, sua expressão foi o suficiente para fazer a loira parar de sorrir.

- É um mau momento?

Era. Era um péssimo momento.

- Você se esqueceu? – perguntou Henry abaixando a cabeça.

- O meu dia foi tão caótico. – ela tentou se explicar, mas o rapaz só balançou a cabeça.

- Okay. Adultos fazem isso mesmo. Obrigado. – e saiu da sala.

Emma não disse nada, só balançou a cabeça e seguiu o rapaz.

Regina se levantou e a pessoa do outro lado da linha começou a falar alguma coisa.

Seu braço ardia.

- Por favor, aguarde só um momento. Eu vou olhar os arquivos. – disse e saiu do gabinete sem se importar com os olhos confusos da secretária.

Não conseguia correr muito rápido com os saltos que insistia em usar, mas felizmente, os dois não andavam muito rápido.

- Sta. Swan, Henry! – chamou.

Alguns curiosos que passam no mesmo corredor os olharam com curiosidade, mas sabiamente não comentaram e continuaram com seu caminho, mas Emma e Henry pararam.

- Prefeita?

Ela os alcançou e sentiu suas pernas doerem.

- Olha só, eu não posso parar para fazer a entrevista, mas isso não significa que eu não posso responder suas perguntas e fazer o meu serviço o mesmo tempo.

O sorriso duplo que recebeu fez valer a pena o esforço para segui-los.

Henry sentava numa das cadeiras acolchoadas em frente para ela com um bloquinho de notas e uma lapiseira. Regina sentava em sua cadeira presidencial e Emma estava em pé, escorada na parede e observando tudo.

- Não, Sidney, é o seu trabalho. Se não consegue fazer, eu vou achar quem consiga.

- Pergunta 2: por que você decidiu seguir essa carreira?

Ela pensou.

- Por que eu queria fazer a diferença. E não Sidney, não estou falando com você... Então me coloque em contato com quem possa resolver o problema. – ela passou a mão pelos cabelos e suspirou. – Existem muitas pessoas incompetentes nesse mundo, Henry, e eu cheguei a conclusão de que as coisas não funcionavam por que aparentemente toda a incompetência estava concentrada no governo.

- Qual foi a primeira coisa que você fez quando entrou em serviço?

Ela iria responder, mas levantou a mão e pediu para ele esperar.

- George? É Regina Mills. Sim, eu vi o pedido do jornal e não sei por que o pedido deles ainda não foi aprovado. Sidney também não soube me falar... Não, eles só querem acesso aos dados do parque. O projeto partiu da prefeitura em conjunto com o departamento de parques e não é assim que funciona. Sim, por favor, resolva isso. Eu quero essa matéria amanhã no jornal. Você não tem meia hora. Sim, obrigada. – e desligou. Tomou um gole de água e olhou para Henry. – Qual era a pergunta mesmo?

Ele repetiu com calma.

- Foi um playground. Antes havia restos de brinquedos, que foi decretado como perigoso pelo corpo de bombeiros, mas ninguém fez nada com relação a ele. Quando eu tomei posse, eu entrei em contato com o departamento de parques e montamos um playground seguro.

- Eu sei qual playground é! – ele exclamou animado, depois se virou para Emma. – Podemos tirar fotos de lá mais tarde?!

Ela só assentiu e continuou em silêncio.

- Pergunta 4: O que você queria ser quando crescesse?

- Governante suprema do mundo ou uma bruxa. O que viesse primeiro.

Por alguma razão, o riso no fundo da sala aliviou um pouco a tensão em seus ombros.

O telefone tocou e assim foi por mais alguns minutos.

Apertou enviar no último e-mail aparentemente urgente em sua caixa de entrada e pediu para Henry repetir a pergunta.

- Que idade você tinha quando seus números apareceram?

Ela coçou o pescoço.

- É uma pergunta do questionário?

- Não, é só curiosidade. Os meus ainda não apareceram, eu só queria saber.

Emma o interrompeu.

- Isso não é coisa que se pergunte, Henry. Se o questionário acabou, nós vamos embora.

- Mas eu ainda não quero.

A expressão de Emma gritava “desculpe!” e Regina não soube o que deveria ser desculpado.

A secretária entrou no gabinete e informou da reunião com o governador, que começaria em dez minutos.

- Okay, essa é a nossa deixa. – disse Emma. – Muito obrigada e desculpe todas as perguntas incomodas. – puxou Henry, que obviamente não queria ir embora.

--

Quando saiu da prefeitura às exatamente 20:45, ela não esperava Emma Swan escorada no bug amarelo a esperando.

Regina se aproximou com cautela.

- Aconteceu algo?

A loira negou e se desculpou.

- É que Henry terminou o trabalho e ele insistiu que eu te mostrasse antes dele entregar amanhã. – e antes que Regina pudesse responder, Emma continuou – Eu disse que você tem coisas mais importantes para fazer e que você deveria estar exausta, mas ele saberia que eu não tinha vindo aqui se eu voltasse para casa mais cedo...

Regina sorriu e a interrompeu.

- Onde está o trabalho? Posso falar para ele amanhã a tarde...

- Bem, ele queria saber sua opinião antes de entregar o trabalho... – olhou para o chão. – Meio que só tem uma cópia...

- Vocês não pensaram isso muito bem né?

Emma balançou os ombros.

- Eu falo que te mostrei, e você fala que leu. Todos saímos ganhando.

Era a decisão mais sensata. Eram quase 21 horas, ela estava exausta, com fome e queria muito uma bela taça de vinho.

- Ou podíamos ir para a Granny’s. – ofereceu Emma balançando os ombros. – Eu ainda não jantei e acho que você também não...

Regina deveria recusar. Ir para casa sozinha e mentir para o rapaz quando ele perguntasse. Ir para casa, comer algum sanduíche natural, uma taça de vinho e ler um livro na banheira.

É o que ela deveria fazer.

- Mostre o caminho, sta. Swan.

Emma abriu um sorrisinho.

--

Emma devorou as batas fritas e metade do sanduíche antes que Regina terminasse a primeira página do trabalho de Henry.

- Você realmente estava com fome.

A loira assentiu.

- A tarde foi meio caótica... – respondeu Emma. – Não como desde o almoço... Se alguns biscoitos e coca for considerado almoço.

- Não é. – respondeu terminando algumas batatas. – Abigail não me disse que as coisas estão ruins assim no escritório.

Emma levantou uma sobrancelha.

- Eu não trabalho no escritório dela.

Regina a olhou confusa.

- Eu achei que você também fosse uma advogada.

Emma negou.

- Sinto desapontá-la. – disse e deu um longo gole no copo de coca.

- Então, onde você trabalha?

- Na delegacia. Com o Graham.

Oh... Regina abriu a boca para responder, mas não soube bem o que falar.

Ela assinara uma permissão de contratação semana passada para a delegacia. Estivera tão atarefada no dia que nem lera tudo que estava escrito... Oh.

- Bem, Graham é um bom homem e o trabalho é normalmente bem tranqüilo.

- Defina “tranqüilo”.

- Ok. O que aconteceu de “caótico” hoje?

E Emma contou sobre o caso bizarro que tiveram: Bem, começou Leroy acordando bêbado e com o casaco manchando de vermelho. Ele correu até a delegacia e ela e Graham passaram o dia inteiro procurando por “alguma vítima”. Viram Leroy brigando com Billy, então foram atrás de Billy, que estava bem, e disse que viu Leroy discutindo com David, então foram atrás de David, que também estava bem, mas disse que Leroy estava discutindo algo com George e assim foi.

No fim das contas, o resultado da substância no casaco de Leroy era sangue de porco, por que ele tinha tido um encontro nada amigável com os restos do frigorifico e saíra correndo antes que alguém pudesse ajudá-lo ou limpá-lo.

- Sangue de porco? – perguntou Regina. Mastigava o resto do hambúrguer, enquanto Emma brincava com o canudo do resto de sua bebida.

- Eu disse para Graham que não era nada demais, mas mesmo assim, corremos pela cidade o dia inteiro. Acho que conheço cada rua daqui.

Regina riu.

- Pelo menos, era nada. Storybrooke é uma cidade tranqüila e queremos que assim continue.

O trabalho de Henry estava na mesa longe dos condimentos e das bebidas.

- Eu sei, foi uma das razões para mudarmos para cá. – continuou Emma. – Mary Margareth sempre adorou esse lugar, então por que não, certo?

- Vocês parecem ser muito amigas.

- Parentes distantes. E eu sei que você não gosta dela. – continuou Emma. – E eu também sei que David era casado com uma de suas amigas até que os números... Bem, é uma merda... Os números... Digo, sei lá, ninguém sabe o que eles são ou por que são. É estranho. Uma hora você está andando na rua e um dos seus amigos te avisa que faltam cinco minutos. Você olha seu pulso e lá está: cinco minutos e diminuindo. É tão fácil simplesmente sair correndo, pegar a direção oposta, mas por alguma razão, você continua andando...

Inconscientemente, ela coçou o pulso direito, onde Regina viu um redondo 0. Tocou seu próprio pulso vazio e de repente, sentiu-se terrível.

Lembrou-se do 0 de Daniel. Seu gentil e alegre Daniel, cujos números zeraram quando eles se encontraram nos estábulos pela primeira vez. Lembrou-se também do 0 no pulso de Robin, o zero conquistado por sua esposa que estava em coma, Marian. Lembrou-se do pulso vazio de sua mãe e dos números negativos no braço do seu pai.

Emma abriu um sorriso sem graça.

- Talvez por curiosidade. Talvez por esperança.

Regina concordou e mudou de assunto.

- Abi vai ficar bem. – disse com convicção. – Ela e seu amigo, Frederick, estão se dando bem. Acho que ela até perdoou o David.

- Mas vocês não.

- Somos rancorosas. – disse Regina sorrindo. – Quem sabe, um dia.

Emma só sorriu, depois mordeu os lábios e apoiou os cotovelos na mesa.

- Olha,-

- Quando seus números apareceram?

Emma a olhou confusa.

- Por que a pergunta?

Regina balançou os ombros.

- Só inventando um assunto. – e depois voltou a mastigar o resto do hambúrguer.

- Quando o Henry nasceu, eu iria colocá-lo para adoção. – admitiu. Regina a olhou. – Eu mudei de idéia. Na noite primeira noite que passamos juntos, num motel velho, o meu braço começou a queimar muito e no dia seguinte, lá estavam os números.

- Interessante.

- E os seus?

Regina pegou um guardanapo e limpou a boca.

- Eu não tenho números.

Emma demorou um pouco para responder e tirou os cotovelos da mesa.

- Não tem números? Nenhum?

Regina negou.

- Nada, nem zero. – e mostrou o pulso para Emma, que ainda surpresa não respondeu imediatamente. - Surpresa?

- Ahn, não, não. Eu já vi pessoas assim antes. Acontece. – depois olhou para o nada e se levantou. – Acho melhor eu ir. Está tarde e você deve estar exausta.

Emma se despediu e saiu correndo antes que Regina pudesse falar alguma coisa.

Só quando se preparava para sair foi que percebeu o trabalho em cima da mesa.

--

Felizmente, a escola de Henry – a mesma onde Mary Margareth lecionava – ficava a caminho da prefeitura, então era pouco antes da sete da manhã e Regina andava em meio ao mar de crianças e pré-adolescentes na esperança de ver Emma ou Henry.

Ela sentiu o abraço na cintura e o “obrigado, obrigado” antes de realmente ver o rapaz.

- Eu teria que implorar a professora para entregar depois. – disse pegando o papel. – O que você achou? Você leu, certo?

- Li e achei muito bom. Você tem um dom com as palavras!

Quando se despediu de Henry, seu braço direito ardeu e ela viu Emma parada ao lado o bug amarelo. A loira fez um rápido aceno e correu para dentro do bug.

Jamais se sentira tão confusa em toda sua vida.

A conversa na noite anterior tinha sido agradável. Tinha muito tempo desde conversara de forma tão despretensiosa com alguém. Nem mesmo com Robin a conversa fluíra tão bem, então sentia-se perdida.

--

Estava com o chefe do departamento de trânsito no telefone quando Ursulla, Mal, Cruella e Abigail entraram no escritório. Ela pediu para o homem esperar um pouco e se virou para as amigas.

- O que vocês estão fazendo aqui?

- Quando você iria nos contar? – perguntou Ursulla. – A Ruby foi a primeira a saber. Ruby. A mesma pessoa que está comprando o silêncio dela para não falar nada sobre o stripper.

- Eu sou sua melhor amiga. – disse Abigail. – Eu deveria ser a primeira a saber.

- Esperávamos mais de você, Regina. – disse Cruella cruzando os braços. – Eu esperava mais. Depois de tantos encontros que eu arrumei para você, é assim que nos paga?

Mal só começou a rir.

- Meu deus, que mulheres histéricas! – depois jogou os cabelos loiros para trás – E eu deveria saber primeiro. Segredos sujos são a minha especialidade.

Regina voltou o fone para o ouvido.

- Eu te ligo mais tarde, Dominic. – e depois se levantou. – O que diabos vocês estão falando? Era uma conversa importante e foi difícil conseguir um tempo livre dele.

- Estamos falando de você num encontro ontem a noite com Emma Swan. – disse Abigail com as mãos na cintura.

As outras concordaram.

Regina respirou fundo e passou as mãos pelos cabelo curtos.

- Não estamos tendo essa conversa.

- Oh, estamos sim, bem. – disse Ursulla. – A primeira coisa que Ruby nos contou essa manhã foi que vocês ficaram horas conversando ontem a noite.

- E que hoje de manhã – continuou Cruella – você a encontrou na escola do rapaz. Com algo que ela tinha esquecido com você.

- Se você tivesse me contado antes – começou Mal – Eu teria admirado sua técnica de conquista. Rápido e mortal. Primeiro, ficar sem blusa em frente ao alvo, depois dar o bote. Rápido como uma cobra!

A expressão no rosto dela deve ter sido hilária. Uma mistura de ódio, com vergonha, com eu vou estrangular todas elas e eu odeio tudo.

Abigail foi a primeira a rir e Mal tentou se aproximar para abraçá-la, mas Regina começou a gritar que as mataria e para saírem do escritório imediatamente.

Ah, ela pode ou não ter arremessado um pote com canetas nas quatro mulheres, que riam desesperadamente.

A porta se fechou com um baque e ela se jogou na cadeira, ainda irritada e sem vontade algum de rir. Pegou o telefone para tentar entrar em contato com Dominic novamente, quando a porta se abriu.

- Eu juro que você vai se arrepender de ter nascido!

- Ahn, desculpe?

Regina se levantou imediatamente e olhou para uma Emma Swan com os braços atrás das costas e um sorriso culpado em frente a porta aberta. No fundo, Mal e Ursulla lutavam para não rir histericamente.

Consertou um blazer e pediu para Emma fechar a porta. A loira fez como pedido e se percebeu as curiosas encenando um beijo dramático no meio do gabinete, não disse nada.

- Desculpe. – pediu Regina se sentando. – Eu achei que fosse alguém delas. – disse apontando para a porta.

- As suas amigas são... peculiares. – disse Emma se aproximando da mesa.

- Sua descrição foi muito gentil. – pegou os óculos de leitura. – O que eu posso fazer por você, sta. Swan?

Emma respirou fundo.

- Ok, eu fui muito rude ontem e hoje de manhã. Eu só queria me desculpar.

Regina concordou.

- Eu não sabia se eu tinha dito algo que tivesse te insultado ou algo do tipo.

- Não, não. Foi eu. Eu...- lambeu os lábios e coçou seu pescoço. – É que os números...

Regina levantou uma sobrancelha.

- O que tem os números?

Emma a olhou por alguns segundos, depois balançou a cabeça.

- Nada. É só, me desculpe de novo e... – exibiu um lírio rosado que escondia atrás das costas e depositou em cima da mesa.

Regina pegou o lírio e sorriu.

- Eu nem me lembro da última vez que ganhei flores.

Foi há tanto tempo, mas foi Daniel, com certeza.

Emma só balançou os braços, envergonha e sem saber bem o que falar.

- Eu só achei que, sei lá, você parece gostar de flores..?

- Eu adoro lírios. Obrigada, Emma.

A loira mordeu os lábios e passou uma mão pelos cabelos loiros.

- Então, eu vou agora... Meu dia de fazer patrulha...

- Nos vemos mais tarde?

A loira só concordou e sussurrou um tchau quando abriu a porta.

Mal se passaram cinco minutos e dois corpos disputaram a mesma entrada para o escritório.

- O que acabou de acontecer? – perguntou Mal apontando por onde Emma saíra.

- Foi fofo. Muito fofo. Quer admitir logo que tem alguma coisa acontecendo? – Perguntou Ursulla mal se contendo.

Regina só respirou fundo e prosseguiu seu dia estressante gritando com as amigas e tentando resolver os problemas da cidade, mas sempre sorria quando olhava para o lírio.

--

Chegou cedo em casa, tomou um banho, jantou e foi direto para a cama. Entretanto, não dormiu bem.

Seu braço queimava muito.

--

No dia seguinte, acordou junto com o despertador e prosseguiu com sua rotina. Trocou de roupa, tomou café, escovou os dentes e foi trabalhar.

Encontrou-se com Abi para almoçar e começou a reclamar da quantidade de coisas ainda tinha que fazer antes de apresentar o orçamento final para o governador. Em algum momento, tirara seu casaco e sem pensar coçara seu pulso direito.

Abigail soltou os talheres imediatamente e puxou o pulso de Regina. Seus olhos claros pareciam que iriam saltar de suas órbitas.

- Abigail?

- Desde quando você tem isso?

Regina franziu as sobrancelhas.

- Isso o quê?

- Os números!

Regina puxou seu braço de volta e ali estava: 008:03:24:10.

Ela olhou para Abigail e teve vontade de gritar.


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Notas finais do capítulo

Thank you!!



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