Dois olhos negros e imensos lhe fitavam, e logo abaixo um sorriso que mostrava diversos dentes pontudos eram direcionados para Tatsumiya, a medida em que ela abria a janela.

As vezes, ela passava os dias dentro do castelo. Servindo a princesa, cuidando da organização das coisas e observando como estava a segurança do grande mar azul, que ela prometera cuidar. Afinal, o sacrifício de Meikai não havia sido em vão.

Mas Tatsumiya também gostava de passear, e, sempre que tinha tempo, fazia uma caminhada para o "Mar de Estrelas". Ela gostava de ficar sozinha e observar a paisagem. O mar era um lugar realmente bonito e o silêncio lhe era agradável.

Mas ela não sabia o que fazer e nem que reação tomar quando uma Orca aparece em sua frente, lhe sorrindo — o que ao seu ver, também era um pouco assustador.

Tatsumiya apenas piscou, lhe observando. O que não era muito educado, mas aparecer na janela do castelo sem ser convidado também não era. Principalmente quando o invasor tinha um olhar de quem sabia exatamente o que estava fazendo.

— Ah, é você. - Ele murmura e então lhe observa, como se estivesse prestes a lhe devorar. Despreocupadamente, a Orca retira um cigarro de seu casaco, passando-o pelos largos dedos cobertos com sua luva. — A serpente.¹ - Ele acrescenta, embora Tatsumiya não saiba exatamente qual é a sua espécie.

— Sim. - Ela comenta, e lhe observa acender o cigarro com curiosidade. — Erm.. Idate..? Eu não esperava te ver novamente.

Fazia meses desde que ele apareceu, do nada, para lhe salvar. E o porque disso, ela ainda não sabia. Depois de tudo que aconteceu, ela só o via passando pela cidade, de longe.

Como se estivesse se lembrando, Idate não lhe responde. Apenas se aproxima mais da janela, se apoiando nela como se fosse sua, e então sopra uma leve fumaça no ar, desinteressado.

Certo.

— E o que você está fazendo aqui, exatamente? - Tatsumiya lhe questiona. Ela tentou ter uma voz ríspida, mas a mesma falhou. Ela não sabia o motivo. Talvez pelo fato de que ele não estava lhe olhando mais, e sim fitando o oceano que já havia escurecido e por algum motivo ela estava com mais medo dele.

— Passeando. - Ele responde, como esperado. E então. — Um passeio que foi interrompido. Pensei que talvez pudesse me recompensar por ter salvo você. - E nesse momento ele torna a olhar para ela, seus olhos negros lhe observando e aqueles dentes pontudos ainda à mostra. Talvez Tatsumiya devesse fechar a janela naquele momento. Mas não. Invés disso, ela suspira e então lhe pergunta.

— O que você quer dizer com isso?

Outra tragada de cigarro. — Eu estou longe de casa. Pensei que talvez você pudesse me mostrar o lugar. Uma pausa. Ele sopra um pouco de fumaça e então continua. — Passeie comigo?

Tatsumiya pisca novamente. A única coisa que ela consegue pensar é na lista gigante de razões de porque ela deveria recusar aquele pedido. A janela está aberta e a noite está cada vez mais brilhante. O pôr do sol é visto, mas ele já estava desaparecendo. No brilho daquela janela ela faz uma comparação besta. Ela era como a luz, e ele como a escuridão.

— Você me deve, afinal. - Idate completa, tirando Tatsumiya de seus pensamentos. E tudo que Tatsumiya consegue fazer é soltar um pequeno "eeh", a medida que o rosto de Idate se aproxima. Mas ele não estava com raiva. Ela consegue notar que ele parecia um pouco... desapontado? Sua voz e seus olhos demonstravam isso.

A escolha mais segura seria fechar a janela, e a melhor seria pedir socorro. Mas ele estava certo. De certa forma, ela lhe devia. E se ela fosse totalmente honesta consigo mesma, talvez ela já não estivesse tão assustada e então talvez nunca mais tivesse que cruzar com ele. E.. ela finalmente poderia lhe perguntar porque ele tinha lhe salvo, embora ela duvidasse que ele respondesse.

Ela não precisava falar "sim", aparentemente, estava escrito em seu rosto. E quando ela percebeu, uma mão com luvas já estava envolvendo a sua. Ela sobe na janela, e então a pula. Idate lhe pega gentilmente; com as duas mãos, quase como um cavalheiro. Mas aquilo não era legal. Ele estava muito, muito perto e ela conseguia sentir o cheiro de cigarro.

E então ele estava novamente lhe fitando. Ele olhava para baixo, interessado, e isso incomodava Tatsumiya. Ele realmente precisava ser tão alto? E então ela percebe que não estava com medo. Afinal, conhecia aquele lugar melhor que ele.

O vento gelado da noite, acompanhado com a fumaça do cigarro de Idate, a sensação quente da mão dele, e o fato de que ele caminhava e se aproximava dela cada vez mais. Propositalmente.

Aquele era um "passeio noturno" e, definitivamente, Tatsumiya não esperava isso. Principalmente quando se tratava de passear com ele. E outra coisa lhe incomodava, além do cheiro de cigarro.

Ela se sentia confortável quando suas mãos estavam entrelaçadas.