Bufei revirando os olhos.

– Por que temos de vir para cá? A praia é tão grande e tem mil e um lugares para vocês surfarem, porque justo aqui?- questionei.

Nico sorriu me abraçando pelos ombros e segurando a prancha do outro lado.

– Reyna, querida amiga, não sei se percebeu, mas aqui é o lugar com as melhores ondas na vida! Nós precisamos surfar aqui.

Revirei os olhos de novo ouvindo a melodiosa risada de Rachel.

Estávamos todos caminhando pela praia, o único problema era que ela era absurdamente longe do hotel- viemos a pé- e ainda por cima era totalmente deserta. Não tinha nem onde pedir um sanduíche ou algo assim. Não tinha nada!

Obvio que a ideia de gênio de vir para cá tinha de ser da mesma gênia que nos trouxe para o hotel, Ártemis. A ruiva discutia com Luke mais a frente, pois ele tinha esquecido a prancha e queria surfar na dela, obviamente minha amiga não seria jegue de emprestar algo a Luke- ele é a típica pessoa que você empresta uma vez... pronto, é para sempre.

Sentei em um montinho de areia ao lado de Zoe e Will, puxando Rachel para sentar-se ao meu lado. Sorri para ela lhe dando um selinho rápido, logo depois a abracei pelos ombros. Encarando Nico e Thalia discutindo, era quase como ver Luke e Ártemis discutindo, só que a diferença era que Ártemis não estapeava Luke quando ele falava algo que ela não queria ouvir, Thalia sim.

– Então, vocês vão ou não?- perguntei encarando eles- Por que eu não se perceberam, andamos muito para agora vocês não fazerem nada- reclamei.

Ártemis sorriu.

– Fica tranquila, Rena. Nós iremos, Nico emprestará a coisa dele para Luke, certo?

– O que?- questionou Nico surpreso- Ah, a prancha. Certo.

Luke sorriu agradecido e então começou a tirar a blusa regata. Thalia tirou a blusa também, ficando com a entrada de banho shortinho na cor preta, assim como Ártemis- mas a entrada da ruiva era uma sainha azul clarinho. Nico corou entregando a prancha para Luke e se jogando ao lado de Will, que o abraçou pelo pescoço e fez uma brincadeira, coçando a cabeça do moreno com a mão em punho.

Todos correram na direção do mar, gritando que um chegaria na frente do outro. Minutos depois, eu estava quase caindo de sono vendo eles surfando, Zoe conversando com Rachel e Will e Nico quase se pegando naquela maldita conversa tão próxima.

Deitei-me na areia e bocejei encarando o sol.

– Ai, Zoe, Ártemis disse que não ia querer ser incomodada noite passada. O que aconteceu?- perguntei erguendo meu corpo pelos cotovelos.

Zoe revirou os olhos.

– Árt diz muitas coisas... a língua quase não cabe na boca. Não aconteceu nada, ela bem que tentou, mas vamos concordar que dançar demais cansa. Eu capotei na cama.

– Ai, que horror- falaram Will e Nico entrando na conversa.

– Só eu acho que Thalia e Luke passaram tempo demais sumidos?- Nico sorriu de canto.

– Não duvido nada- falou Will revirando os olhos- Sabe como sua prima é.

Senti uma sensação estranha passar pela minha espinha e subir para a minha nuca. Era a sensação de estar sendo observada. Sentei e olhei para trás, procurando por algo, mas não encontrei nada. Olhei ao redor, novamente o resultado foi nada.

– Merda...- murmurei.

– Hey- fitei a ruiva ao meu lado- Está viajando, amor?

– Não... quero dizer, sim... Desculpe, o que foi?

Rachel riu junto dos outros.

– Você é tão boba- falou Rachel me roubando um selinho- Vamos tomar banho no mar, você vem?

– Ah. Hã, vou- falei olhando por cima do ombro dela desconfiada.

Tirei minha blusa e o short jeans, dobrando tudo e deixando em cima da chinela azul de cachorrinhos. Rachel tirou o vestidinho solto e florido dela pondo-o em cima das chinelas brancas, Zoe pôs as coisas dela ao lado das nossas e os meninos simplesmente jogaram as blusas e as chinelas perto.

Sorri para Rachel.

– Faz cavalinho?- pediu Rachel.

Ri negando com a cabeça.

– Parece uma criança- falei acocorando-me- Vai, sobe.

Rachel vibrou e subiu em minhas costas. Segurei-a firme pelas coxas e corri na direção da água, sendo seguida por Will, Nico e Zoe logo atrás. Assim que entramos na água, mergulhei com Rachel e tudo, mas a soltei e me virei para ela. Abraçando-a pela cintura, dei impulso e nós subimos. Thalia e Luke estavam dividindo uma prancha, assim como Will e Nico, e Ártemis e Zoe.

– Hey, isso é injusto. Exijo todos na água- falei passando a mão no rosto ainda segurando Rachel pela cintura.

– Nem pensar- falou Ártemis- Aqui está ótimo.

– Ai é?

Sussurrei no ouvido de Rachel para que ela derrubasse Zoe e Ártemis que eu derrubaria os outros. Assim fizemos, quando emergimos, todos partiram para cima da gente com espirros de água e “afogamentos”. Ártemis foi a primeira a dizer que ia deixar a prancha na areia, sendo seguida pelos outros dois, logo eles voltaram.

Minutos se passaram com a gente se divertindo na água, e então aconteceu.

Olhei para os lados a procura da minha ruivinha pela água, mas não encontrei. Nem sinal de Rachel.

– EI- gritei fazendo todos pararem o que estavam fazendo- Alguém viu a Rach?- perguntei já sentindo a angustia se formar em minhas garganta.

– Ah, ela disse que ia na praia ver um negocio e já voltava- falou Thalia.

Todos olhamos para a praia. Rachel não estava lá, não tinha nem sinal de ruivinha de olhos verdes, muito menos um único ser vivo naquela porcaria de praia. Estávamos sozinhos e com Rachel sumida.

– Merda. Merda. Merda- grunhi nadando a todo vapor de volta para a praia.

O pessoal me seguiu, obviamente. Vesti minha blusa, short e me calcei. Eu sabia o que aquilo significava: consequências.

Eu sabia que nunca deveria ter tentado algo com aquela garota, principalmente ela sendo uma Dare. Se mais cedo estavam me observando, provavelmente tivessem pego Rachel! E se fizessem algum mal para ela? E se eu nunca mais a visse? O que iria fazer? Não conseguiria viver mais sem Rachel, viver sem aquele sorriso que ela sempre dá. Não conseguiria nunca mais.

Ártemis vestiu a blusa e se jogou em mim, me fazendo parar de andar de uma lado para o outro- nem tinha percebido que estava fazendo isso- e me sentou no chão.

– Presta atenção, Reyna. O que está acontecendo? Por que está tão nervosa?- questionou-me ela.

Engoli em seco vendo que era tudo o que todos eles queriam saber.

Abri e fechei a boca diversas vezes tentando encontrar as palavras certas para explica-los. Mas quando as encontrei, meus olhos simplesmente se encheram de lágrimas só de pensar as maldades que eles poderia fazer Rachel, só de pensar que a culpa era minha!

– Reyna- foi a voz doce de Zoe que me trouxe de volta a mim. Encarei-a sentindo as lágrimas rolarem por meu rosto- O que está acontecendo?

– Rachel pode estar em perigo agora- falei sufocando um soluço em minha garganta- Nossas famílias são rivais, é por isso que namoramos escondido. Mas hoje mais cedo, eu senti alguém me observando, de inicio, achei estranho, mas depois ignorei. E agora a Rachel sumiu, eu acho que eles pegaram ela e ela pode estar sofrendo, com medo, sei lá o que. E a culpa é minha, eu...

– Hey, hey, hey- interrompeu-me Ártemis- Não fica assim, ok? Nós vamos acha-la. Luke, volta para o hotel e vê se ela não está por lá. Nico, Will, vão nas lanchonetes próximas e perguntem por ela. Thalia e Zoe vão atrás dela pelas redondezas. E quanto a mim e a você, Reyna... vamos procurar por aqui- falou ela.

Todos assentiram e logo saíram em disparada para ir as buscas.

Eu e Ártemis fomos a todos os lugares mais próximos e que desse para se esconder, mas em lugar alguém encontramos Rachel. A cada minuto que passava, minha garganta parecia se fechar ainda mais aguentando a angustia.

De repente, os minutos viraram horas. Já devia ser em torno de 18:00 da noite quando desliguei o celular pela milionésima vez ao tentar contatar a ruivinha, mas ela não atendia: ou caía na caixa postal ou era desligado logo após atender.

Eu e Ártemis nos encontramos com os outros assim que deu 18:34, na praia em que Rachel tinha sumido. Thalia e Zoe estavam com olhares cansados, Luke parecia arfar de tanto correr de um lado para o outro e Will e Nico estavam com os olhos preocupados enquanto ofegavam de leve.

– Algum sinal?- perguntei desesperada.

Todos negaram com a cabeça.

Meus olhos se encheram de lágrimas novamente, meu corpo começou a tremer e eu senti meus joelhos fraquejarem. Antes que eu pudesse cair no chão, Luke me segurou e me ajoelhou no chão devagar, acocorando-se ao meu lado enquanto me abraçava. Pus minha cabeça em seu peito enquanto chorava compulsivamente.

Eu estava desesperada. Estava preocupada, e me sentia culpada por tudo aquilo.

De repente, I NEVER CRY do Alice Cooper começou a soar por nossos ouvidos e, em minhas mãos, meu celular vibrando. Olhei sem vontade para a tela do celular já imaginando o que era, provavelmente minha mãe perguntando onde é que eu estava.

A foto de uma ruiva sorrindo e piscando o olho esquerdo com o outro levemente fechado, a franja caindo no rosto e dava para ver o quão feliz ela estava naquela foto. Abaixo da foto tinha “atender” em verde e acima tinha, em letras grandes com um coração no final, Rachel Elizabeth.

Atendi apressada ficando em pé.

– Rachel? Rachel!- atendi um pouco desesperada.

Todos me olharam esperançosos.

– Ora, vejam só. Não pensei que fosse ficar tão feliz em atender uma ligação- falou uma voz grossa e áspera do outro lado. Era uma voz masculina e extremamente fria- Quer falar com a ruivinha?

– Quem é você? O que fez com Rachel?- bradei rosnando para o celular.

– Opa, opa, opa. A garota está bem, nos divertimos muito, não é mesmo ruivinha?

– Hum, hummmm! Uhummm- pude ouvir apenas exclamações sofridas do outro lado.

Meu coração se apertou.

– Rachel!- chamei.

– Eu a liberto, Arellano- falou o cara do outro lado- Com uma condição.

– Qualquer coisa para ter Rachel de volta- falei firme.

– Vá para o mais longe que puder dessa praia em que você está, volte para casa e ignore a garota. Não chegue mais perto dela. E tudo ficará bem.

– Só preciso ficar lo-longe de-dela?- gaguejei sentindo meu corpo inteiro enrijecer.

– Sim. A escolha é sua, menina. Ah, e espero que saiba que ela não é tão inocente.

– SEU FILHO DA MÃE, O QUE FEZ COM ELA? PARA O SEU PRÓPRIO BEM, É BOM NÃO TER TOCADO EM UM MISERO FIO DE CABELO DELA, ENTENDEU?- gritei.

O cara só riu do outro lado.

– Seja como for- ele continuou- Estamos lhe observando e...

Eu parei de ouvir as ameaças dele olhando ao redor. Se eles estavam me olhando, se eles sabiam o que estava acontecendo... então estavam por perto. Eu só precisava descobrir onde.

Então, eu avistei um caminhão de Foodtruck ali perto. Estava totalmente apagado e apenas ele estava no meio da rua. Algumas poucas pessoas que passavam ali batiam, mas ninguém respondia.

– (...) e é por isso que eu acho que você nunca vai nos encontrar.

– Eu já te achei, filho da puta.

Deixei o celular cair na areia e caminhei na direção do caminhão. Mas então... eu perdi totalmente a noção do que eu estava fazendo, só lembro de pequenos flashs e logo depois, eu apagar totalmente ouvindo apenas um grito ao fundo.

– REYNA!