Gêmeos Potter e a Pedra Filosofal. escrita por Tordo em Chamas


Capítulo 2
Capítulo 2 - O vidro que sumiu.


Notas iniciais do capítulo

Dedico esse capítulo a Alicia Halliwell Cullen Black, que escreveu o primeiro comentário da minha história e Haaruno que favoritou!



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Quase dez anos haviam se passado desde o dia em que os Dursley acordaram e encontraram o sobrinho no batente da porta, mas a Rua dos Alfeneiros não mudara praticamente em nada. O sol nascia para os mesmos jardins cuidados e iluminava o número quatro de bronze à porta de entrada dos Dursley, e penetrava sorrateiro a sala de estar que continuava quase igual ao que fora na noite em o Sr. Dursley ouvira a funesta notícia sobre as corujas.

Somente as fotografias sobre o console da lareira mostravam o tempo que já passara. Dez anos antes havia uma porção de fotografias de uma coisa que parecia uma grande bola de brincar na praia, usando diferentes chapéus coloridos, mas Duda Dursley não era mais bebê, e agora as fotografias mostravam um menino grande e louro na primeira bicicleta, no carrossel de uma feira, brincando com o computador do pai, recebendo um beijo e um abraço da mãe. A sala não continha nenhuma indicação de que havia, outras crianças na casa.

No entanto os gêmeos Potter continuava lá, no momento adormecidos, mas não por muito tempo. Sua tia Petúnia acordara e foi sua voz aguda que produziu o primeiro ruído do dia.

— Acordem! Levantem-se! Agora!

Harry acordou assustado, mas Maggie simplesmente grunhiu.

A tia bateu à porta outra vez.

— Acordem! — gritou.

Harry ouviu-a caminhar em direção à cozinha e em seguida uma frigideira bater no fogão. Virou-se de costas tentando se lembrar do sonho em que estava e deu de cara com a irmã que dormia ao lado, Era um sonho gostoso. Havia uma motocicleta. Tinha a estranha sensação que já vira esse sonho antes.

— Sonhei com a motocicleta... — disse Harry com uma voz entorpecida.

— Eu também...— a irmã assentiu sem abrir os olhos.

A tia voltara a porta.

— Você já se levantou? — perguntou interrompendo a conversa dos dois.

— Quase — respondeu os gêmeos em uníssono, Maggie meio zangada.

— Bem, andem depressa, quero que você, Harry, tome conta do bacon e você, Maggie, dos ovos. E não se atrevam a deixá-los queimarem. Quero tudo perfeito no aniversário de Duda.

Harry gemeu, Maggie soltou um muxoxo de desprezo.

— Que foi que você disse? — perguntou a tia com rispidez.

— Nada, nada... — era a segunda vez no dia em que falavam juntos a mesma coisa ( Sério, nós temos que parar com isso Harry...).

O aniversário de Duda – como podiam ter esquecido? Harry levantou-se devagar e começou a procurar as meias e Maggie sua blusa. Harry encontrou-as debaixo da cama e depois de retirar uma aranha de um pé, calçou-as, em seguida, Maggie vislumbrou a blusa pendurado no teto, coberta de teia da aranha, a sacolejou, desabotoou a camisola e a vestiu.

Os gêmeos estavam acostumados com aranhas, porque o armário sob a escada vivia cheio delas e era ali que eles dormiam.

Já vestidos, saíram para o corredor que levava à cozinha, ainda cochichando pela história do sonho. A mesa quase desaparecera, tantos eram os presentes de aniversário de Duda. Pelo que via, Duda ganhara o novo computador que queria, para não falar na segunda televisão e na bicicleta de corrida. Para o quê exatamente, Duda queria uma bicicleta de corrida era um mistério para Harry e Maggie, porque Duda era muito gordo e detestava fazer exercícios – a não ser, é claro, que envolvessem bater em alguém. O saco de pancadas preferido de Duda era Harry, mas nem sempre Duda conseguia pegá-lo. Harry não parecia, mas era muito rápido.

Talvez fosse porque vivia num armário escuro, mas os gêmeos sempre foram muito pequenos e muito magros para a idade. Harry parecia ainda menor e mais magro do que realmente era porque só lhe davam para vestir as roupas velhas de Duda e Duda era quatro vezes maior do que ele. Já Maggie era vestida com roupas de doações, que sempre eram muito velhas e desgastadas, nunca acertavam seu tamanho, as vezes até muito adultas para sua idade, não que Maggie notasse. Mesmo sendo gêmeos, Harry e Maggie pouco se pareciam. Harry tinha um rosto magro, joelhos ossudos, cabelos negros e olhos muito verdes. Usava óculos redondos, remendados com fita adesiva, por causa das muitas vezes que Duda socara no nariz. Maggie tinha os cabelos ruivos encaracolados, mas domados e olhos castanhos escuros. A única coisa que os dois tinham em comum na aparência era uma cicatriz fininha na testa de cada um, que tinha a forma de um raio. Existia desde que se entendiam por gente e a primeira pergunta que se lembravam de ter feito à tia Petúnia era como a arranjaram.

— No desastre de carro em que seus pais morreram — respondera ela. — E não façam perguntas.

Não façam perguntas – esta era a primeira regra para levar uma vida tranquila como os Dursley.

Tio Válter entrou na cozinha quando Harry estava virando o bacon e Maggie os ovos.

— Penteie o cabelo — mandou, a guisa de bom-dia.

Mais ou menos uma vez por semana, tio Válter espiava por cima do jornal e gritava que Harry precisava cortar os cabelos.

Harry deve ter feito mais cortes que o resto dos meninos de sua classe somados, mas não fazia diferença, seus cabelos simplesmente cresciam daquele jeito – para todo lado.

Mais implicante que tio Válter com os cabelos de Harry, era tia Petúnia com os cachos ruivos de Maggie. A pesar de serem muito bonitos, tia Petúnia parecia ter desenvolvida um ódio por eles e nunca deixava Maggie ter o cabelo maior do que na altura do queixo.

Duda chegou à cozinha com a mãe. Duda se parecia muito com o tio Válter. Tinha um rosto grande e rosado, pescoço curto, olhos azuis pequenos e aguados e cabelos louros muito espessos e assentados na cabeça enorme e densa. Tia Petúnia dizia com frequência que Duda parecia um anjinho – Harry e Maggie diziam com frequência que Duda parecia um “porco de peruca”.

Os gêmeos colocaram os pratos de ovos com bacon na mesa, o que foi difícil porque não havia muito espaço. Entrementes, Duda contava os presentes. Ficou desapontado.

— Trinta e seis — disse, erguendo os olhos para o pai e a mãe. — Dois a menos do que no ano passado.

— Querido, você não contou o presente de tia Guida, e aqui está um grandão do papai e da mamãe, está vendo?

— Está bem, então são trinta e sete — respondeu Duda ficando vermelho.

Harry e Maggie trocaram olhares significativos, percebendo que Duda estava preparando um acesso de raiva começaram a engolir seus bacons o mais depressa possível caso o primo virasse a mesa.

Tia Petúnia obviamente também sentiu o perigo, porque na hora disse:

— E vamos comprar mais dois presentes para você hoje. Que tal fofinho? Mais dois presentes, está bem assim?

Duda pensou um instante. Pareceu um esforço enorme. Maggie reprimiu um riso de cabeça baixo. Finalmente Duda responde hesitante:

— Então vou ficar com trinta... Trinta...

— Trinta e nove, anjinho — disse tia Petúnia.

— Ah — Duda largou-se na cadeira e agarrou o pacote mais próximo. — Então, está bem.

Tio Válter deu uma risadinha.

— O baixinho quer tudo a que tem direito, igualzinho ao pai. É isso ai, garoto! — e arrepiou os cabelos de Duda com os dedos.

Harry olhou para a irmã de canto de olho e percebeu que ela fingia vomitar e tentou não rir, naquele instante o telefone tocou e tia Petúnia foi atendê-lo, enquanto Harry, Maggie e tio Válter assistiam Duda desembrulhar a bicicleta de corrida, a câmara de filmar, um aeromodelo com controle remoto, dezesseis jogos de computador e um gravador de vídeos. Estava rasgando a embalagem de um relógio de ouro quando tia Petúnia voltou do telefone parecendo ao mesmo tempo zangada e preocupada.

— Más noticias, Válter a Sra. Figg fraturou a perna. Não pode ficar com eles — e indicou Harry e Maggie com a cabeça.

Duda boquiabriu-se de horror, mas o coração dos gêmeos deram um salto. Todo ano, no aniversário de Duda, os pais dele o levavam para passar o dia com um amiguinho em parques de aventuras, lanchonetes ou no cinema. Todo ano deixavam Harry e Maggie com a Sra. Figg, uma velha maluca que morava ali perto. Os gêmeos detestavam o lugar. A casa inteira cheirava a repolho e a Sra. Figg lhe mostrava fotografias de todos os gatos que já tivera.

— E agora? — perguntou tia Petúnia, olhando furiosa para os gêmeos como se eles tivessem planejado tudo.

Harry sabia que deviam sentir pena da Sra. Figg, que quebrara a perna, mas não era fácil quando lembrava que ia passar um ano sem ter que olhar para o Tobias, o Néris, Seu Patinhas e o Pompom outra vez. A única que conseguiu se divertir na casa da Sra. Figg era Maggie, que adorava gatos, mas se entediava com as fotografias deles tão facilmente quanto Harry, por isso talvez, Maggie também se sentiu muito ansiosa de não ter que passar o dia inteiro em sua casa.

— Poderíamos ligar para a Guida — sugeriu tio Válter.

— Não diga bobagem, Válter, ela detestas os dois.

Com frequência, os Dursley falavam de Harry e Maggie assim, como se eles não estivessem presente, ou melhor, como se eles fossem alguma coisa muito desprezível que não conseguisse entendê-los, como uma lesma.

— E aquela sua amiga, como é mesmo o nome dela, Ivone?

— Está passando férias em Majorca — respondeu Petúnia, com rispidez.

— Vocês podiam nos deixar aqui — arriscou Harry esperançoso (eles poderiam assistir ao que quisessem na televisão para variar e, quem sabe, até darem uma voltinha no computador de Duda).

Tia Petúnia parecia que tinha engolido um limão.

— E quando voltarmos, encontrar a casa destruída? — rosnou.

— Não vamos explodir a casa — prometeu Maggie meio irritada, mas os tios não estavam mais escutando.

— Talvez pudéssemos levá-lo ao zoológico — disse tia Petúnia lentamente — e deixá-lo no carro.

— O carro é novo. Não vou deixá-lo sentado no carro sozinho.

Duda começou a chorar alto. Na realidade não estava chorando, fazia anos que não chorava de verdade, mas sabia que se fizesse cara de choro e gritasse a mãe lhe daria o que quisesse.

— Dudinha, querido, não chore, mamãe não vai deixar ele estragar o seu dia! — exclamou abraçando-o.

— Não... Quero... Que... Ele... Vá! — Duda berrou entre grandes soluços fingidos — Ele sempre estraga tudo! — E lançou um riso maldoso por entre os braços da mãe, Maggie lhe mostrou a língua em retribuição.

Naquele instante a campainha tocou.

— Ah, meu Deus, são eles chegando! — disse tia Petúnia nervosa um minuto depois, o melhor amigo de Duda, Pedro, entrou acompanhado da mãe.

Pedro era um menino magricela, com cara de rato. Em geral era quem segurava por trás os garotos enquanto Duda batia neles. Na mesma hora Duda parou de fingir que estava chorando.

Meia hora depois, Harry e Maggie, que não conseguia acreditar em sua sorte: estavam sentados no banco traseiro do carro dos Dursley, com Pedro e Duda a caminho do jardim zoológico, pela primeira vez na vida. O tio e a tia não tinham conseguido pensar no que fazer com eles,, mas antes de saírem, tio Válter puxara os gêmeos para o lado.

— Estou lhes avisando — disse, aproximando a cara grande e vermelha de Harry e Maggie — Estou-lhes avisando, moleques, a primeira gracinha que fizerem, a primeira, vão ficar preso naquele armário até o Natal.

Maggie olhou enojado para o tio, abriu a boca para dizer talvez algo que os manda-se imediatamente para o armário, mas Harry percebendo isso, a impediu falando antes:

— Não vamos fazer nada — disse Harry — juro...

Mas tio Válter não acreditou nele. Ninguém nunca acreditava em nenhum.

O problema era que sempre aconteciam coisas estranhas à volta dos gêmeos e simplesmente não adiantava dizer aos Dursley que não era culpa deles.

Uma vez tia Petúnia, cansada de ver Harry voltar do barbeiro como se não tivesse estado lá, apanhara uma tesoura de cozinha e cortara o cabelo dele tão curto que o deixara quase careca, exceto por uma franja, que ela deixou para esconder aquela cicatriz horrorosa. Como se não bastasse, decidiu cortar o cabelo de Maggie que estava tocando de leve nos ombros e o cortou bem mais acima do queixo, cobrindo as orelhas e fizera também uma franja na garota, o que foi uma péssima ideia já que o cabelo de Maggie era cacheado. Duda morrera de rir de Harry e Maggie, que passaram a noite acordado imaginando como que seria a escola no dia seguinte, onde já riam deles por causa das roupas folgadas e estranha e dos óculos de Harry remendados com fita adesiva. Na manhã seguinte, porém, quando se levantaram os cabelos estavam exatamente como eram antes de tia Petúnia cortá-los, e o pior, os de Maggie haviam crescido até um palmo acima dos ombros, como sempre quis. No início, Harry ouviu a irmã sugerir que usassem gorros para esconder, mas Duda, por algum motivo resolveu arranca-los, talvez para rir do cabelo dos dois, mas teve uma grande surpresa, inclusive os tios que ficaram furiosos. Tinham os deixado presos uma semana no armário por causa disso, apesar de suas tentativas de explicar que não saberiam explicar como é que os cabelos tinham crescido tão depressa, mais tarde, tia Petúnia, para alivio (ou não) de Maggie, cortou os cabelos da menina até o queixo como sempre fazia, e desta vez, Maggie não desejou que crescessem, pois não queria se encrencar.

Outra vez, tia Petúnia tentara obrigar Harry a vestir um macacão velho de Duda (marrom com pompons cor de laranja). Quanto mais tentava enfiá-lo pela cabeça dele, menor o macacão ficava, até que finalmente parecia feito para um fantochinho de dedo, e com certeza não ia servir para o Harry. Tia Petúnia concluiu que devia ter encolhido na lavagem, e Harry, para seu grande alivio, não foi castigado.

Quando no verão passado, vendo a grama amarelada, as flores secas e as arvores sem vida, Maggie desejou que o jardim voltasse a ser esmeralda, com lírios e begônias e arvores carregadas de flores verdes vivas. E de repente, o jardim ficou esmeralda, as arvores vistosas e as flores brotaram por todo o chão a sua volta. Emocionada, fez menção de gritar por Harry, mas quem apareceu foi Petúnia, que horrorizada, arrancou flor por flor do jardim e puxou Maggie para dentro, a menina ficou presa no armário por duas semanas.

Por outro lado, Harry se metera numa grande encrenca quando o encontraram no telhado da cozinha da escola. A turma de Duda o estava perseguindo, como sempre, e tanto para surpresa de Harry quanto dos outros, ele apareceu sentado na chaminé. Os Dursley receberam uma carta muito zangada da diretora de Harry, contando que Harry andara escalando os prédios da escola. Mas só o que tentara fazer (conforme gritou para tio Válter através da porta trancada do armário) fora saltar para trás das grandes latas de lixo da porta da cozinha. Harry supunha que o vento devia tê-lo apanhado na hora em que saltou.

Mas hoje nada ia dar errado. Valia até a pena estar em companhia de Duda e Pedro para passarem o dia em outro lugar que não fosse a escola, o armário ou a sala com cheiro de repolho da Sra. Figg.

Enquanto dirigia, tio Válter se queixava à tia Petúnia. Ele gostava de se queixar de tudo: das pessoas no trabalho, dos gêmeos, do conselho, de gêmeos. O banco e gêmeos eram seus dois assuntos preferidos. Esta manhã eram as motocicletas.

—... Roncando pelas ruas como loucos, os arruaceiros — disse, quando uma moto emparelhou com eles.

— Tive um sonho com uma motocicleta — falou Harry, lembrando-se de repente — Ela voava.

Maggie prendeu a respiração.

Tio Válter quase bateu no carro da frente. Virou-se para trás e gritou com Harry, seu rosto parecendo uma beterraba gigante e bigoduda:

— MOTOCICLETAS NÃO VOAM!

Duda e Pedro deram risadinhas.

— Sei que não voam — respondeu Harry — Foi só um sonho.

Mas desejou que não tivesse dito nada. Olhou para a irmã que balançava a cabeça com os olhos arregalados, Harry leu em sua expressão: Ficou louco de comentar isso com os Dursley? Se havia uma coisa que os Dursley detestavam mais do que as suas perguntas, era quando Harry ou Maggie falavam de coisas que faziam o que não deviam, não interessava se era sonho ou desenho animado, pareciam pensar que eles poderiam arranjar ideias perigosas.

Era um sábado muito ensolarado e o zoo estava cheio de famílias. Os Dursley compraram grandes sorvetes de chocolate para Duda e Pedro à entrada e, então, porque a mulher sorridente na carrocinha perguntara o que Harry e Maggie iam querer antes que pudessem afastá-los depressa dali, eles lhes compraram dois picolés baratos de limão. Não era ruim, os dois pensaram, lambendo-os enquanto observavam um gorila que coçava a cabeça.

— Se ele colocar uma peruca loira fica o cosplay do Duda — comentou Maggie baixinho.

Harry deu um sorriso malicioso.

— Não diga isso Maggie, não vamos ofender o gorila, coitado. — falou Harry em voz baixa para que só a irmã ouvisse.

Os dois riram.

Os gêmeos passaram a melhor manhã que já tivera em muito tempo.

Cuidaram de andar um pouco afastado dos Dursley, de modo que Duda e Pedro, que ali pela hora do almoço estavam começando a se chatear com os bichos, não recaíssem no seu passatempo favorito de bater em Harry. Almoçaram no restaurante do zoo e quando Duda teve um acesso de raiva porque seu sorvetão não era bastante grande, tio Válter comprou-lhe outro e deixou Harry e Maggie terminarem o primeiro.

Depois os gêmeos acharam que deviam ter adivinhado que estava bom demais para durar muito tempo.

Terminado o almoço, foram visitar o alojamento dos répteis.

Era fresco e escuro ali, com quadrados iluminados ao longo das paredes. Por trás dos vidros, rastejavam e deslizavam em pedaços de pau e em pedras todos os tipos de cobras e lagartos. Duda e Pedro queriam ver as enormes cobras venenosas e as grossas pítons que esmagavam um homem. Duda logo encontrou a maior cobra que havia. Poderia dar duas voltas no carro de tio Válter e amassá-lo até reduzi-lo ao tamanho de uma lata de lixo, mas naquela hora ela não estava disposta a fazer nada. Na realidade, estava dormindo a sono solto.

Duda parou, o nariz comprimido contra o vidro, observando as espirais marrons e reluzentes.

— Faz ela se mexer — choramingou para o pai.

Tio Válter bateu no vidro, mas a cobra não se mexeu.

— Faz outra vez — mandou Duda.

Tio Válter bateu no vidro com os nós dos dedos, mas a cobra continuou dormindo.

— Que chato — queixou-se Duda.

E saiu arrastando os pés.

Maggie veio se postar na frente do tanque e Harry a seguiu também solidarizado com o réptil, estudaram a cobra com atenção. Não se admiraria se a própria cobra morresse de tédio. Não tinha companhia a não ser aquela gente idiota que batucava no vidro, tentando incomodá-la o dia inteiro. Era pior do que ter um armário por quarto, onde a única visita era a tia Petúnia esmurrando a porta para acordá-lo, mas ao menos eles podiam visitar o resto da casa.

A cobra inesperadamente abriu os olhos, que pareciam contas.

Devagarinho, muito devagarinho, levantou a cabeça até seus olhos chegarem ao nível dos de Harry e Maggie.

E piscou.

Os gêmeos arregalaram os olhos e trocaram olhares surpresos como quem dissessem: "Você viu o que eu vi?". E olharam depressa a toda volta para ver se havia alguém olhando. Não havia. E retribuíram o olhar da cobra, piscando também.

A cobra acenou com a cabeça na direção de tio Válter e de Duda, depois levantou os olhos para o teto. Lançou um olhar aos gêmeos que dizia com todas as letras:

— “Isso é o que me acontece o tempo todo”.

— Eu sei — murmurou Harry pelo vidro, embora não tivesse muita certeza se a cobra poderia ouvi-lo — deve ser bem chato.

A cobra concordou com um aceno de cabeça enfático.

— Mas de onde é que você veio? — perguntou Maggie, incapaz de se controlar.

A cobra apontou com o rabo uma placa próxima ao vidro.

Os dois espiaram.

— “Boa Constrictor, Brasil”. Era bom lá?

A jiboia apontou novamente a placa com o rabo e os gêmeos leram:

“Este espécime nasceu em cativeiro”.

— Ah, entendo, então você nunca esteve no Brasil?

A cobra sacudiu a cabeça, mas um grito ensurdecedor atrás de Harry e Maggie fez os três pularem:

— DUDA! SR. DURSLEY! VENHAM VER ESSA COBRA! VOCÊS NÃO VÃO ACREDITAR NO QUE ESTÁ FAZENDO!

Duda veio bamboleando até onde o amigo estava o mais depressa que pôde.

— Caiam fora — falou dando um soco nas costelas de Harry.

Apanhado de surpresa, Harry caiu por cima de Maggie que estava ao seu lado, os dois caíram com impacto no chão de concreto.

O que se passou em seguida aconteceu tão depressa que ninguém viu como foi: num segundo, Pedro e Duda estavam encostados no vidro, no segundo seguinte, estavam saltando para trás soltando uivos de terror.

Os gêmeos sentaram e pararam de respirar: o vidro da frente do tanque da jiboia tinha sumido. A grande cobra se desenrolou depressa e escorregou pelo chão, as pessoas no alojamento dos répteis gritaram e começaram a correr para as saídas.

Quando a cobra passou rápido por eles, Harry e Maggie poderiam jurar que uma voz baixa e sibilante tinha dito: “Brasil, aqui vou eu... Obrigado, amigos”.

O zelador do alojamento dos répteis ficou em estado de choque.

— Mas o vidro — ele não parava de repetir — para onde foi o vidro?

O diretor do zoo em pessoa preparou uma xícara de chá forte para tia Petúnia enquanto se desculpava mil vezes.

Pedro e Duda só conseguiam balbuciar. Pelo que os gêmeos viram, a cobra não fizera nada a não ser fingir abocanhar os calcanhares deles quando passou, mas quando chegaram finalmente ao carro do tio Válter, Duda estava contando que a cobra quase lhe arrancara a perna a dentadas, enquanto Pedro jurava que a cobra tentara apertá-lo até matar. Mas o pior de tudo, pelo menos para Harry e Maggie, foi Pedro ter se acalmado o suficiente para perguntar:

— Harry e Maggie estavam conversando com ela, não estava, Harry?

Tio Válter esperou até Pedro estar longe da casa para brigar com os gêmeos. Estava tão zangado que mal podia falar. Conseguiu apenas dizer:

— Vá... Armário... Harry... Maggie... Sem comida — antes de desmontar em uma cadeira e tia Petúnia ter que correr para lhe servir uma boa dose de conhaque.

Muito mais tarde, deitado no seu armário, os gêmeos desejaram ter um relógio. Não sabiam que horas eram e não tinha certeza se os Dursley já estariam dormindo. Até que estivessem, eles não poderiam se arriscar a ir escondido até a cozinha buscar alguma coisa para comer.

Viviam com os Dursley havia quase dez anos, dez infelizes anos, desde que se lembravam, desde que era bebês e seus pais tinham morrido naquele acidente de carro. Não conseguiam se lembrar de ter estado no carro quando os pais morreram. Às vezes, quando forçavam a memória durante longas horas em seus armários, lembravam-se de uma estranha visão: um lampejo ofuscante de luz verde e uma queimadura na testa. Isto, supunha eles, era o acidente, embora não conseguissem lembrar de onde vinha toda aquela luz verde. Harry e Maggie não conseguia se lembrar nada dos pais. A tia e o tio nunca falavam neles e naturalmente tinham-no proibidos de fazer perguntas. E não havia fotografias deles na casa.

Quando era mais novo, Harry sonhara muitas vezes com um parente desconhecido que vinha levá-lo embora, mas isto nunca acontecera, os Dursley eram sua única família. Ainda assim, ele achava (ou talvez fosse só uma esperança) que estranhos na rua conheciam ele e a irmã. E eram estranhos muito estranhos. Um homenzinho de cartola roxa se curvara para Maggie e ele uma vez quando estavam fazendo compras com tia Petúnia e Duda. Depois de perguntar aos gêmeos, furiosa, se ele conhecia o homem, tia Petúnia tinha empurrado os meninos depressa para fora da loja sem comprar nada. Uma velha amalucada toda vestida de verde uma vez acenara alegremente para eles no ônibus. Um careca com um longo casaco púrpura, chegara a apertar suas mãos na rua um dia desses e em seguida se afastara sem dizer nada. A coisa mais estranha nessas pessoas era a maneira com que pareciam desaparecer no instante em que Harry e Maggie tentavam vê-los melhor.

Algo estranho para Maggie, é que lembrava-se vagamente de um homem velho de óculos sorrindo para ela, com uma grande barba que ela próprio puxou, mas as vezes achava que poderia ter sido um sonho.

Na escola, os gêmeos só tinham um ao outro. Todos sabiam que a turma de Duda odiava aquele estranhos gêmeos Potter com suas roupas velhas, estranhas e folgadas e os óculos remendados, e ninguém gostava de contrariar a turma do Duda.


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