Um Conto Do Destino escrita por QueenHallowen


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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- ACORDA DE UMA VEZ CRIATURA! NÃO VOU TE CHAMAR OUTRA VEZ! – ouço mais uma vez a voz insistente e eufórica de Isa.

Bufo, resmungo ainda sonolenta e jogo o travesseiro que tenho sobre minha cabeça na direção da voz dela.

- Não grita caramba! – digo.

Sou bombardeada com o travesseiro de volta.

- Talvez se você não fosse tão teimosa e não tivesse ido dormir tão tarde ontem à noite eu não teria que ficar me esgoelando para você se levantar daí! Anda logo! A gente vai se atrasar! – ela retruca jogando mais uma centena de coisas sobre mim.

Tento abrir meus olhos, a claridade no quarto é gigante e volto a fecha-los mais uma vez.

- Talvez eu tenha ido dormir muito tarde ontem de propósito só para não ir! Já pensou nessa possibilidade? – volto a resmungar me virando entre o emaranhado de lençóis, roupas, travesseiros e bugigangas de Iasmin Spínola.

- Não seja estúpida Clara! É o melhor presente de todos! Sua mãe foi demais e eu sinceramente não entendo porque você parece tão relutante em ir nessa viajem! – Isa me diz assim que me ponho sentada na cama tentando pateticamente me acostumar com a luz do sol que passa insistente pela janela.

- Minha mãe é realmente “demais” me dando uma passagem para um cruzeiro quando sabe que eu tenho pavor de água. – digo finalmente focalizando a visão da minha melhor amiga a minha frente.

Iasmin tem longos e invejáveis cabelos loiros, eles descem em cascata até um pouco abaixo do ombro em cachos adoráveis, cachos esses que na concepção dela são horrorosos. Ela é mais alta do que eu, e os olhos castanhos sempre tão escuros carregam para todo lado um brilho de sagacidade e zombaria.

E é claro que a criatura já estava vestida e pronta.

Isa revira os olhos na minha direção.

- Pelo amor de deus, Clara! Isso foi há uns 10 anos, você já deveria ter superado. –diz enquanto arrasta uma mala gigante até a porta.

Penso no assunto, detesto voltar até lá. Aquele momento agonizante em que estou sem ar e não consigo puxar nada exceto água para os meus pulmões.

Me arrepio e fico de pé na hora.

Isa me olha, faz aquela cara de coitadinha e se aproxima juntando as mãos rente ao rosto.

- Por favor, Clara! Vai ser demais! Isso lá é hora de desistir?! Com que cara eu vou nessa viajem se você não for? Sendo que sua mãe também me deu uma passagem só para acompanhar você e te impedir de fazer suas doideiras?! – e completa piscando as pestanas.

Semicerro meus olhos na direção dela. Chantagem emocional é mesmo uma merda.

Suspiro e vou na direção do meu guarda-roupa, a maior parte das roupas não se encontram mais lá desde que minha mãe e Isa me obrigaram a fazer as malas, mesmo que eu ainda tivesse em mente criar uma doença de ultima hora.

Pego um vestidinho florido no canto e me volto para Isa, que agora me encara com um sorriso vitorioso.

- Certo, botes e coletes salva-vidas fazem parte da tripulação, vou manter isso em mente.- digo pouco antes de me trancar no banheiro.

***

- Vocês estão lindas! – é a primeira coisa que minha mãe diz quando nos vê descendo as escadas com as malas.

Tento não sorrir, mas acabo fracassando.

Iasmin usa uma saia de cintura alta, uma blusa em tom pastel e uma sapatilha simples nos pés. Carrega duas enormes malas junto a nécessaire media inseparável sobre uma.

Eu permaneço com o vestido florido de alcinhas que tinha escolhido. Nos pés uso uma rasteira qualquer e desço junto a uma mala grande e outra media. As férias iriam durar cerca de 2 meses, o destino final do cruzeiro era o Caribe, mas antes disso iríamos passar em diversos lugares.

Talvez se eu fosse normal eu estaria surtando de felicidade exatamente como Iasmin.

Acontece que nunca me classifiquei como uma.

Desde meus 9 anos tenho pavor de qualquer lugar que me cubra com água acima da cintura. E tudo por causa daquele dia no lago, em uma casa de verão que meus pais possuíam.

Eu estava no píer brincando, vi algo na água e me aproximei da borda. Não lembro muito bem como aconteceu, mas no segundo seguinte não estava mais com meus pés sobre a madeira do píer e sim debaixo d’água.

Não havia nada naquele lago, mas até hoje posso jurar que meu tornozelo estava sendo puxado para o fundo enquanto eu tentava inutilmente ir na direção da superfície.

Afasto o pensamento assim que minha mãe se adianta na minha direção.

- Chamei um taxi, já está na porta. – diz.

- Não vai deixar a gente? – indago, arqueando uma sobrancelha.

- Eu adoraria, mas tenho uma reunião da qual já estou atrasada. – lamenta enquanto meche no meu cabelo.

De relance me vejo no espelho. Encaro-me por um momento, apenas o suficiente para registrar tudo. Meus cabelos são longos, quase tão grandes quando os de Iasmin, sinto-o acima do quadril e em alguns lugares é possível ver minhas antigas mechas coloridas.

Meus olhos castanhos chocolate ainda demonstram sono e não me recrimino por isso.

- Okay. –

Ela sorri, nos leva até a porta enquanto conversa com Iasmin e me faz parar e encara-la mais uma vez quando estamos na frente do taxi.

- Me prometa que vai se divertir. – diz abrindo seu tão acolhedor e conhecido sorriso.

Reviro os olhos e acabo sorrindo como ela.

- Eu prometo. – digo rindo mais um pouquinho quando vejo Isa brigar levemente com o taxista quando ele coloca as malas de todo jeito no taxi.

Sou abraçada mais uma vez e de um jeito estranho sinto vontade de ficar com ela mais um pouquinho. Quase como... Não sei. Uma despedida.

- E você mocinha! Prometa fazê-la se divertir! – minha mãe fala a Iasmin que levanta o polegar para ela.

- Pode deixar! E mesmo que eu não conseguisse... É impossível não se divertir quando Barbara vem conosco. – completa minha amiga.

Fecho meus olhos e faço uma cara sofrida.

- Oh, não! Nem me lembre! Sinto que vou passar vergonha viajando com duas malucas! – falo de um jeito desesperado que faz com que as duas riam.

Lembro-me da minha segunda melhor amiga, Barbara Maddox, a que era, sem sombra de duvidas a mais louca das três.

- Você está trocando os papeis Clara Morger! Que eu saiba, eu sou a mais sensata daqui. – Iasmin retruca enquanto arqueia uma das sobrancelhas loiras daquele jeito petulante que só ela sabe fazer.

Mamãe e eu acabamos rir.

Afinal... A afirmação de Iasmin realmente tinha um fundo de verdade.

- Okay! Chega de discussão! Entrem no carro e divirtam-se! – mamãe se despede com um ultimo aceno quando entramos no carro, Iasmin e eu lhe mandamos um beijo e eu acompanho com os olhos a silhueta da minha mãe enquanto ela vai ficando para trás.

Nem mesmo um quarteirão depois sinto meu celular vibrar.

Rio quando vejo a mensagem.

De: Babi

Para: Clara

Assunto: Sumiço Eminente

“ONDE DIABOS VOCÊS ESTÃO? CHEGUEI FAZ UMA HORA!”

Barbara realmente tinha o dom de parecer verdadeiramente histérica por uma mensagem de texto.

- Quem é? – Isa pergunta.

- Barbara, claro. – digo rindo enquanto me ocupo a digitar a resposta de volta.

De: Clara

Para: Babi

Assunto: Sofre de ansiedade crônica e não admite!

“Eu acordei tarde! #Culpada# A gente acabou de pegar o taxi. Estamos ai em poucos minutos criatura ansiosa.”

- Ótimo, meu celular tá sem sinal. – Iasmin resmunga quando tira o celular da bolsa.

Olho de relance para a pequena torre no cantinho no mesmo momento que o taxi para em um sinal, e é ai que vejo uma coisa estranha no meio da rua.

Uma mulher. Ela é morena e está vestida de um jeito completamente estranho. O cabelo é desgrenhado e parece mais uma retirante com aqueles dreads, mas o que é realmente estranho é que tenho a impressão que ela olha diretamente para mim com um sorriso sem duvida perturbador.

Antes que eu possa me aprofundar mais na visão um carro passa pelo sinal fechado bem ao lado. Ouço buzinas, desvio o olhar e quando volto para encarar a figura fantasmagórica no meio da rua... Ela já não está mais lá.

Arregalo meus olhos levemente e volto a me encostar totalmente no meu banco.

“Isso é sono, só pode.”

Não penso mais no assunto, ou tento, enquanto chegamos ao píer de Santa Lola na orla da cidade.

Meus olhos pousam sobre o magnífico navio, a estrutura é sem duvida gigantesca. Era branco e lustroso e me dava uma certa sensação de conforto. Acho que quase posso não sentir o mar quando estiver lá dentro.

- Uau! É ainda melhor ao vivo! – Isa diz, quase tão fascinada quanto eu.

- Vamos de uma vez antes que a Barbara tenha um colapso! – falo na direção dela, sorrio de orelha a orelha quando vejo a quantidade de pessoas que entram, elas se dividiam entre gargalhar e conversar. Quase tão jovens quanto nós.

É quando finalmente percebo que posso gostar dessa viajem.

***

- ISSO VAI SER DEMAIS! – Barbara diz ás 19:00, já zarpamos, nos acomodamos em um quarto gigante e eu realmente me surpreendo com a rapidez em que as roupas voltam a ficar espalhadas sobre a cama.

- Sério mesmo que vocês vão á essa festa? – pergunto assim que saiu do banheiro.

- Eu também não estou assim tão inclinada a ir, tem tanta coisa para conhecer nesse navio! Eu vi no folheto que tem uma biblioteca no quinto andar. – Isa vasculha roupa por roupa em cima da sua cama, mas não deixa o livro que lê de lado.

Barbara revira os olhos.

- Alô! A gente tá num navio bem “badass”, vamos ter quase dois meses para ficar aqui e vocês pensam em ir conhecer a biblioteca no primeiro dia? Com a festa de inauguração? – ela diz um tanto quanto revoltada.

Os cachos loiros balançam quando ela se vira para mim. O sorriso gigante que ela gosta de ostentar mais uma vez nos lábios, e é claro que os olhos castanhos brilham mais do que joias com toda a animação.

- Eu penso em ir até o cassino, é claro só para dar um olhada. Sou péssima em jogos. Talvez eu me arisque indo ao restaurante principal, disseram que a comida lá é magnífica e tem uma vista e tanto do mar. – digo enquanto abro minha mala de viajem e vou tirando algumas peças de lá.

- Ah, pelo amor de deus! Primeiro a gente passa na festa! – Barbara faz drama.

- Barbara! A festa é as 23! Dá tempo de sobra de ir até a biblioteca, conhecer o cassino, passear pelo navio e de quebra jantar antes de subirmos. –

Me viro para elas e aponto meu indicador para Isa embora mantenha meu olhar em Barbara.

- Viu só? Ela tem um ponto. – digo.

Babi apenas revira os olhos e bufa.

- Certo, vocês tem razão. Biblioteca, cassino e restaurante. Parece bom para mim. –

Eu e Iasmin rimos da cara que ela faz, mas no fim vencemos.

Visto uma coisa bem simples que deixa Barbara à beira de um ataque de nervos. Apenas uma saia jeans, uma blusa preta do Mickey junto a um casaco de couro da mesma cor e meu inseparável all star vermelho.

Iasmin usa um vestido branco discreto, as sapatilhas preferida dela estão de volta e quase posso rir disso.

Já Barbara usa um vestido azul escuro com detalhes em vermelho, nos pés um Escarpin preto magnífico.

Como planejado vamos à biblioteca, ela é realmente magnífica e levamos um tempo relativamente grande até que possamos sair dela. Iasmin carrega consigo uma quantidade absurda de livros e Babi e eu nos divertimos com isso.

Para achar o cassino é um verdadeiro desafio, tão grande que acabamos conhecendo o navio indiretamente. Barbara perde o queixo em algum lugar do chão quando enfim achamos o lugar. Era realmente magnífico e acho que perdi meu queixo em algum lugar do chão também.

Acabamos nos separando em algum momento e eu vou conhecendo cada mesa de jogatina, embora não me arisque em jogar.

Algum tempo depois, quando já eram 22:15 eu vi uma coisa realmente estranha no extremo oposto do cassino.

Uma pequena mesa, esquisita é relativamente suave para se qualificar. Está em um canto escuro do lugar e uma mulher está sentada lá, meio que brincando com umas bugigangas que mais parecem dardos. Ela me parece familiar mas não consigo lembrar da onde, embora ela permaneça com a cabeça baixa.

Vou me aproximando devagar embora ache que não deva.

Estou bem perto agora e já considero apenas me virar e ir embora como se nada tivesse acontecido.

Mas ela me vê.

Ergue a cabeça e me encara de um jeito serio e perturbador no inicio, bom... Talvez ela fosse de fato menos perturbadora serie, sei disso no momento em que ela ergue os lábios para sorrir.

Ela se levanta da cadeira num salto que me faz arfar de susto, se põe ao meu lado e sem nenhuma permissão começa a mexer nos meus cabelos ainda sorrindo.

- Ora, ora, ora! Enfim, aqui está! – diz com uma animação parecida com a loucura.

Tento me afastar de seu toque mas ela parece mesmo bem persistente. Muito perto para meu gosto, e não sei o que mais me perturba, o sorrio, a aproximação ou o fato dos dentes dela estarem banhados por um liquido preto.

- Eu esperei tanto por esse momento! Mas você é realmente bem difícil e escorregadia não é garota? – ela continua seu monologo louco sem se preocupar com minha falta de palavras.

- Olha... Acho que você me confundiu com outra pessoa. – digo enfim, mas ela apenas sorri mais um pouco me olhando de um jeito estranhamente sagaz ainda pior que Isa.

- Ah, não, não! Sei muito bem quem você é, vim te procurando a tanto tempo! Quase consigo uma vez, mas uma das suas amiguinhas estava lá para gritar para um dos seus pais, não lembra? – ela continua e dessa vez eu gelo. – Eu realmente quase consegui, mas como eu disse... Você é bastante escorregadia. –

Tento me afastar e ela agarra meu pulso.

- Mas agora chega de fugas, sim? Eles precisam de você. – a mulher de dentes negros me diz.

Olho para os lados a procura de um segurança, não encontro nenhum.

- Tome, este aqui é seu, vai te levar até lá. – continua e então tira algo de seu vestido desgrenhado e sujo. Algo que brilha e reluz.

Um colar de ouro.

Um colar realmente familiar.

- Isso é... Um vira tempo? – pergunto aproximando-me do objeto.

Ah, agora entendi tudo.

A mulherzinha estranha só estava tentando vender mercadoria. Mesmo que de um jeito bem maluco.

Quero rir da minha tensão.

Ela me olha, abre a boca como se estivesse surpresa e solta uma risada.

- Sim! Sim! Facilita muito as coisas, tome! É seu! – me empurra o objeto dourado.

- Clara?! – Ouço a voz de Barbara atrás de mim e quando vejo ela e Isa se aproximam. Suspiro aliviada.

- Arrumou uma... Amiga? – Isa pergunta arqueando as sobrancelhas para a mulher.

- Ah, que surpresa! Não está gritando dessa vez, não pestinha? – a mulher diz enquanto olha para Isa com um olhar desaprovador.

Iasmin apenas me olha, cética.

- Ela é tipo assim... Doida? – Babi sussurra aproximando-se de mim de maneira nada discreta.

A mulher olha para ela.

- Não tanto quanto você. – a de dentes pretos retruca.

Barbara se aproxima mais uma vez.

- Não gostei dela, ela é telepata. – “sussurra” para mim. Mas então percebe o que a mulher tem nas mãos. - OH MEU DEUS! ISSO DAÍ É UM VIRA-TEMPO?! – berra.

- É, ela tá tentando me vender. – digo afastando Barbara da mulher.

- Clara! Compra, compra, compra! Olha como é lindo! É igualzinho ao da Hermione! – implora a loira.

- Não estou lhe vendendo, estou dando. – a mulher diz erguendo o colar na minha direção.

- MELHOR AINDA! – Barbara diz tentando pegar o objeto.

- Barbara! – eu e Isa exclamamos.

- O que?! Ela tá dando essa coisa linda e DE GRAÇA. – se defende.

- Isso é que é estranho, de graça nem injeção na testa. – Iasmin retruca erguendo a sobrancelha mais uma vez.

A mulher agarra minha mão no meu momento de distração e coloca o vira-tempo na minha palma, fechando-a em seguida.

- Use-o e então estará lá. – diz.

Franzo o cenho.

- Onde? Do que você está falando afinal? –

- Viu só? Essa mulher é prova viva de que as drogas fazem mau! – Isa diz a Barbara.

- Drogada ou não... Ela tá dando um vira tempo idêntico ao da Hermione! – Barbara retruca.

- Vai ver é por isso que ela tá dando! – Isa replica arqueando uma sobrancelha.

- Então vamos aproveitar ué! A mulher vai acordar amanhã sóbria e nem vai se lembrar pra quem que foi que ela deu! – Barbara briga.

Elas se olham serias por um momento, até que então caiem na gargalhada de um jeito bem estranho.

- Deu, virgula, o vira-tempo. – Isa resalta.

As duas continuam a pequena “discussão” e eu apenas me ocupo a encarar a mulher enquanto esta também me encara sem nem ao menos piscar.

- Vai ter que conseguir os aliados certos, querida. – diz. – Quando chegar... Tem que se lembrar quem deve procurar. –

Me afasto dela a medida que a mulher se aproxima com aqueles dentes negros.

- Hã... Moça, acho que você exagerou no açai. – digo sem evitar olhar mais uma vez para seus dentes.

Barbara concorda, gesticula para os dentes e faz uma cara de nojo para a mulher.

- Nada de escapar mais uma vez! Você tem muito o que fazer! – ela continua em sua loucura, agarro o braço de Barbara e o de Iasmin e vou puxando as duas para longe o mais rápido que posso. – Ah! Outra coisa! Não se desespere, a morte tem sua beleza! –

Praticamente corremos para longe do cassino e só paramos quando chegamos às grades de contenção do andar.

- Okay!... Isso foi estranho. – Isa diz tentando recuperar o fôlego.

Olho para meu vira-tempo e Barbara o arranca da minha mão com instusiamo.

- Olha só! Céus! É idêntico! – diz.

- Ainda acho errado aceitar algo assim de graça. – Iasmin diz aproximando-se também.

Barbara alarga a corrente do vira-tempo e passa pelo pescoço de nós três.

Rimos.

- Isso é mesmo idêntico. – sussurro quando Barbara me passa o pingente do vira-tempo.

Encaro-o por um momento ainda fascinada.

- Vamos para Hogwarts agora? – Barbara caçoa.

- O máximo que conseguiríamos é chegar ao parque do Harry Potter mais rápido do que em um mês. – Isa retruca revirando os olhos, como sempre, cética.

Ignoro as duas, giro o vira tempo e então ele começa a se mover sozinho, a pequena ampulheta no centro roda e a areia rola de um jeito frenético.

Espero que alguma coisa incrível aconteça, embora soe ridículo até para mim.

Até que...

Nada.

Bufamos.

- Babaquisse. – resmungo tirando o colar de nossos pescoços e deixando-o de tamanho normal antes de empurrá-lo no bolso do meu casado ao lado do meu celular.

- OH MEU DEUS! Já são 23! Estamos atrasadas para a festa! – Barbara berra do nada e então, antes que eu possa sequer pensar em mais alguma coisa estou sendo arrastada a quase uma velocidade da luz na direção do ultimo andar do navio.

***

A festa estava mesmo bem legal. Luzes por todos os lados, coquetéis coloridos e com frutas rolando de mão em mão. A piscina no centro era sem duvida nenhuma gigante, um tobo-água deixava tudo ainda mais magnífico e eu apenas observava de longe as pessoas se jogando e sendo jogadas para a água.

Iasmin está sentada do outro lado no bar, conversava com um cara calmamente, diferente de Barbara que estava perto da piscina conversando com um loirinho da forma mais animada que alguém poderia estar.

Olho meu celular, está sem torre como o que Isa hoje mais cedo então apenas ouço musica encostada a uma grade de contenção do convés principal.

Olho para a água lá embaixo. Está frio e posso ouvir o quebrar das ondas no casco do navio.

Me sinto meio estranha, penso na mulher de dentes negros mais uma vez e sinto um arrepio que atribuo ao frio. Algo martela na minha cabeça e sinto que quero me lembrar de algo embora não consiga.

Tiro o vira-tempo do bolso mais uma vez, encaro cada detalhe assim como toco.

E é ai que as coisas começam a ficar estranhas.

A musica que toca em alto e bom som no convés principal para, as luzes também se apagam e a piscina está escura agora. Todos se viram assim como eu, estranham a mudança súbita.

Até mesmo o bar está silencioso, não ouço mais a batida constante das hélices do liquidificador.

O vento está mais cortante agora, a noite escura não me permite enxergar mais do que um palmo a frente.

Tento achar as meninas mas paro no ato quando começo a ouvir os primeiros gritos.

Forço minha visão, alguns jovens apontam para frente, gritam e tentam sair do convés principal.

É quando finalmente consigo ver o que os assusta.

Era uma onda.

Meu corpo gela e um grito de horror fica preso na minha garganta.

- Prepare-se. – a voz da mulher misteriosa se faz presente e quando olho para o mau lado lá está ela, olhando a onda como se fosse algo maravilhoso e não a morte em forma d’água.

As luzes voltam e não vejo mais a mulher. Encontro Iasmin e Barbara quase tão horrorizadas quando eu.

Grito alguma coisa que eu mesma não ouço tamanha a confusão no convés e então quase a onda está perigosamente perto me perco em pensamentos horrendos de morte e desespero.

Algumas pessoas correm, outras gritam, e outras apenas ficam paradas como eu, Iasmin e Barbara.

Ouço a voz da mulher de dentes negros mais uma vez.

“Prepare-se”

Fecho meu olhos, minhas mãos tremulas agarram a grade de contenção e me agacho perto delas.

A água finalmente nos acerta. É violenta e feroz de um jeito que eu nunca poderia imaginar. Alguma coisa bate na minha cabeça, posso ouvir os gritos, sinto o navio envergar e então não há mais nada em que me segurar.

***

Abro meus olhos.

Meu corpo flutua em uma imensidão azul escura. Sinto dedos gélidos agarrados ao meu tornozelo mais uma vez, lembro-se do píer dos meu pais, os gritos de Isa procurando ajuda na superfície. O desespero atrás de ar.

O mesmo desespero que sinto agora.

Não há ar, não há nada além do água e morte.

A água se torna um espelho em que me vejo pequena, tenho 9 anos outra vez, e é a primeira vez que consigo enxergar quem me puxa no fundo do lago.

Era aquela mulher.

A mesma que me deu o vira-tempo e a mesma que tentou me avisar.

Meu peito arde, minhas mãos estão erguidas sobre minha cabeça à medida que afundo e afundo, sendo levada para cada vez mais baixo pelos dedos frios daquela mulher.

“Jack Sparrow”

É ultima coisa que ouço.

Mas a ultima que vejo é algo bem lá no fundo do oceano. Velas negras, sombras se movendo dentro de um navio fantasmagórico que me faz desmaiar.

Aquela mulher tinha razão, a morte tinha mesmo sua beleza.


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Notas finais do capítulo

Comentários? Devo continuar?

PS -
APRESENTAÇÃO DE PERSONAGENS:
Clara -> http://auto.img.v4.skyrock.net/6322/89716322/pics/3192620855_1_2_Kpc2f4be.gif

Iasmin -> http://31.media.tumblr.com/6e716268a82653ae306d8e51b7d457f0/tumblr_inline_n1b3d9JP8D1r43228.gif

Barbara ->
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