Alguém tem algo a esconder escrita por Violet


Capítulo 6
Essas feridas não irão se curar


Notas iniciais do capítulo

- O título do capítulo de hoje é um trecho de "Crawling - Linkin Park"

Boa leitura :*



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Um corpo encolhido envolvendo suas pernas estava em posição fetal por sobre um degrau na entrada dos dormitórios das residentes, debaixo de uma chuva implacável. Se encontrava nu aparentando ter algo preso à sua boca, como um tecido vermelho. Não demorou muito para Morgana perceber de sua janela as feições de um rapaz, com os clarões dos raios que se alastravam num constante combate de luzes. Não deixando-se ter pensamentos segundos, foi de primeira. Abriu sua porta, saiu em disparada escadas a baixo. Atravessou o portal de concreto, que era mais morada para lodo do que o próprio propósito de ser um portal. Caminhou na chuva descalça até o primeiro degrau, percebeu que o tecido era uma peça íntima amordaçada em sua boca e prendia-se na nuca, desatou com esforço o nó do que seria uma cueca e afastando os cabelos dos olhos do rapaz que, aparentemente, jazia em paz na lama que se formara, percebeu quem era, não hesitando tentou levantá-lo.

– Consegue ficar de pé?- Ela apoiou seu tronco por sobre a parede de concreto do portal e notou edemas envolta dos olhos e lábios com uma cor escarlate.

Ele não respondeu, parecia estar terrivelmente machucado, embriagado, ou havia desmaiado. Não pensando mais, olhou pros lados, mas sem sucesso para ajuda. Tentou arrastá-lo. Morgana tinha bastante condicionamento físico por ser atleta. O moço estava terrivelmente desacordado, nem um sinal de consciência vinha durante o percurso que Morgana fez até levá-lo ao seu quarto, percebendo que o rapaz sangrava por entre as pernas, o envolveu num cobertor com todo cuidado. Ela evitou acionar de imediato a ajuda da polícia, visto que o código dos residentes era jamais solicitá-los em casos de embriaguez, isso poderia colocar em jogo suas instalações e bolsas auxílio, até ser jubilado do curso. No último caso seria necessário de ajuda médica e policial, mas o rapaz estava terrivelmente machucado. Era caso de emergência de fato. Já tendo posto deitado por sobre o sofá-cama, tentou pedir ajuda às colegas do quarto vizinho. Acionando a equipe médica, Morgana tentou despertar o rapaz mas sem sucesso. Os minutos pareciam uma eternidade e as moças desesperavam-se com a demora por socorro.

Ana andou por horas sem querer voltar para seu quarto, depois da aula de Anatomia Humana. Ao chegar na residência, percebeu o tumulto e quis saber o que havia acontecido para tanto. Antes de chegar ao quarto, perguntou a uma das curiosas que espreitava pela porta:

– O que houve?- Perguntou curiosa tentando ficar na ponta dos pés para espiar.

– Encontraram um rapaz desmaiado, muito machucado e aparentemente está embriagado, ou drogado, não sabem ao certo. - Disse a moça desbloqueando o touch do celular para espalhar a fofoca.

– De quem se trata? - A moça não conseguiu lhe explicar, visto que a equipe médica chegou afastando os curiosos pedindo espaço para passar, trancando a porta do quarto de Morgana em seguida.

Ana cruzou os braços e quando quis desistir, abriram a porta às pressas levando o rapaz numa maca. Espremendo-se entre as pessoas deu uma espiada no estado do moço, enquanto o mesmo passava por entre a confusão que se formara. Constatou o estado do rapaz com seus próprios olhos, chocou-se com a cena. E sobre quem se tratava.

– Não, não, não! - Seu coração rachou em milhares de pedacinhos.

– Moça se afaste, precisamos de espaço! Coopere por favor! - Disse um dos enfermeiros.

– Eu o conheço, posso ir junto? - Ana disse não sentindo mais nada que não fosse os estilhaços em seu coração.

– Tente ir ao hospital. - Disse o enfermeiro seguindo para ambulância.

Ana fincou seus pés no chão, seus dedos responderam ao exagero a que ela os expôs. Uma leve dor pulsante, que aos poucos foi sendo mascarada pelo torpor irradiado do chão até sua coluna vertebral. Parecia que tudo estava em câmera lenta. As pessoas correndo, a maca, o soar das vozes, as sirenes, aquela luz vermelha que girava pelos rostos chocados dos espectadores, os flashs do mar de celulares que buscavam registrar o máximo possível... os estilhaços latejando. A sensação de ouvido tapado lhe configurou a estranha crença de que estava presa dentro de si mesma, como se seu corpo fosse um recipiente difícil de quebrar. Estava inteiramente arrasada.

Ela precisava acompanhá-lo.


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Notas finais do capítulo

Não está sendo fácil para a Ana esses dias :/