Alguém tem algo a esconder escrita por Violet


Capítulo 3
Hey, Jude!


Notas iniciais do capítulo

-Finalzinho dos capítulos que se remeteram há 5 anos atrás;
— Surge uma surpresa importante no contexto geral da história;
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/610588/chapter/3

Ana jogou seus sapatos e retirou sua roupa encharcada, jogando-as pelo quarto. Ainda segurando fortemente o pedaço de papel que Evan a dera, se certificou de que não estivesse muito molhado.

"Apenas úmido." - Pensou.

Não conseguindo segurar a ansiedade, deitou-se na cama sem roupa mesmo, enrolada numa toalha, pensou que o banho poderia esperar.

Abrindo cuidadosamente, correu seus olhos por sobre a caligrafia não muito regular e aninhando-se em suas cobertas leu:

"Você não me conhece mais.

Ps.: Se te beijei, não consegui segurar.

Perdão.

Evan."

Ana não acreditava no que acabara de ler. Não entendia o porquê de Evan ter voltado à cidade, para apenas lhe entregar um mísero papel imbecil e ainda por cima pedindo desculpas por tê-la beijado.

"Patético." - Pensou.

Ela queria saber por onde Evan havia se escondido, o que tinha feito, como estava levando a vida. Mas não.

Levantou-se desgostosa da cama, caminhou despida até o banheiro, lançando descarga abaixo aquele fragmento inútil que Evan deixara.

Pensou se o veria novamente.

Não sabia Ana, isso demoraria mais do que havia previsto.

~*~

[Atualmente]

O som da tv despertou Ana.

De forma defensiva à competição sonora (fruto de seu esquecimento) escondeu seus ouvidos debaixo dos travesseiros. Não funcionou. Emburrada, jogou um travesseiro na direção da tv. Não funcionou. Decidiu levantar para desligar a tv que ela esquecera noite passada. Ana tinha essa mania de pegar no sono tão rápido a ponto de sempre esquecer-se da tv. Caminhou vagarosamente, batendo no que aparecia pela frente. Seu corpo ficava em constante vaivém, embebedada em sono. Pegou seu celular que estava em cima da cômoda e descobriu que ainda era 4 da manhã. Extremamente abusada, desligou a tv barulhenta.

– Quieta, trambolho. - Pronunciou.

Bocejando durante um espreguiçar-se longo, caminhou até sua janela afastando as cortinas. O campus estava calmo, sem a correria dos estudantes e o sol nem tinha indício de acordar ainda. Ana cursava engenharia genética há dois anos, era sua paixão.

Encostando-se na lateral de sua janela, pensou no dia anterior. Evan sempre fora mais distante, de fato, mas nada comparado a como ele está agindo nesse meio ano que entrou na mesma universidade que ela. Evan era inconstante, sumia repentinamente.

Abraçando a si mesma, lembrou da recepção hostil de Evan. Pés no chão, pensou que não iria mais se preocupar lembrando do que acontecera. Decidiu que tomaria banho, vestiria sua roupa, organizaria seu quarto e iria assistir aula, como se não importasse o que aconteceu. Ana por vezes representava bem, na maioria. Mas sabia, no fundo dos seus sentimentos, o peso que era carregar aquela bagagem "Evan". Muitos anos. Muitas histórias.

"Comece..." - Pensou.

Quando já estava pronta para começar, deu uma ultima olhada para o horizonte, percebeu que começara a amanhecer. Virando-se, se deu conta, a partir do reflexo lateral do olho esquerdo, que alguém surgira cortando a entrada principal da universidade. Escondeu-se através da transparência de sua cortina, quando notara um corpo esguio e sorrateiro mover-se no silêncio do estacionamento da universidade.

"Evan."

Ana perguntou a si mesma o que o faria chegar uma hora daquelas. Era verdade que eles não tinham mais um contato saudável, que ele até poderia ter outra pessoa. Esse pensamento a fez sentir como se milhares de agulhas a perfurassem. Engoliu seco e continuou a observar da janela. Evan normalmente usava casacos gigantes e jeans manchados, mas não dessa vez. Surpreendeu-se com suas roupas: camisa gola com um suéter por cima, dando-lhe um ar de nerd, calças de tecido verde musgo e um tênis arrumadinho. O que o faria vestir-se tão contrário ao de sempre? Ana nunca desvendava os segredos de Evan. Nem os entendia para pelo menos suspeitar de algo.

Ainda em choque, não quis mais ver. Caminhou até a cama, sentando-se, cruzou seus pés em posição de lotus e fechou seus olhos. Tentou deixar o silêncio tomar conta de sua mente, que insistia em explodir imagens do passado de forma psicodélica.

"Socorro! Para Sebastian! Me solta! Me solta! Alguém me ajude!"– Gritos ecoaram em sua mente.

Enjoada, abriu seus olhos e caminhou até o banheiro, lavando seu rosto em água fria. Encarou seu rosto no espelho. Gigantes olheiras demarcavam seus olhos, seus lábios estavam sem cor e sua face revelava um branco gritante por toda sua extensão.

Ainda encarando-se, cantarolou para si mesma enquanto saia do banheiro:

Hey, Jude, don't make it bad. Take a sad song and make it better. Remember to let her under your skin. Then you'll begin, to make it better...Na, na na na na na, na na na, hey, Jude! .

"Não fique mal."– Pensou.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Quem é Sebastian? Uuuuuh!
Espero que tenham gostado! :*