Marcas escrita por Random Ama


Capítulo 13
Capítulo 13




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Segunda-feira. O que eu não faria para evitar aquele dia? Acordei duas horas mais cedo e fui dar uma volta a pé. Eu não poderia evitar aquele dia de jeito nenhum, então por que ficava adiando? Lou já me dera uma baita bronca, mas prometeu me apoiar. Ele é só um garoto, pensei, não é como se alguém tivesse morrido ou algo do tipo. Mas para mim era doloroso. Dei um tapa na própria testa. Eu não iria ser molenga.

Voltei em casa para me arrumar rapidamente e fui para a faculdade. Lou estava com Peter, abraçados em frente à recepção. Peter me cumprimentou, mas notei um pouco de frieza.

–Sabe, Kaya, talvez seja uma boa ideia você evitar o Eddie por um tempo - Disse ele - Geralmente, quando algo dá errado, eu digo que ele só é mimado e tudo mais, só que... Bem...

–Tudo bem, Peter. -Interrompi - Já entendi o recado.

Dei um pequeno sorriso para Lou e me afastei.

A aula foi um pesadelo. Minha matéria não era uma das mais difíceis, mas parecia que eles tinham decidido mudar isso nos poucos dias que fiquei fora. Exercícios de postura, falas mais longa para serem decoradas e até técnicas de roteiro e direção. Eu não diria que teatro era minha paixão - só escolhi essa matéria por Lou e porque eu queria fazer faculdade. Eu não tinha muita certeza sobre o meu futuro. Na hora do almoço, me dirigi a uma mesa vazia.

–Ai meu Deus, você viu aquela matéria? Quer dizer, eles acham que somos robôs o temos memória eidética ou sei lá? Eu não quero saber como segurar uma câmera ou escrever um maldito roteiro de filme infantil. -Lou se juntou a mim.

Sorri.

–É precisa saber de tudo um pouco, senhora futuro-Oscar-de-atriz-coadjuvante.

–Sabe, mudei de ideia. Quero ser atriz principal. -Ela levantou os braços dramaticamente, como se estivesse pronta para receber seus fãs. Infelizmente, ela derrubou seu suco de morango. Seria um desastre, pois minha mochila estava no chão, se alguém não tivesse simplesmente segurado o copo.

–Mais cuidado da próxima vez, baixinha. -Eddie entregou o copo a Lou e saiu andando, em direção à fila.

Segurei a respiração por cinco segundos.

–Vai ter que se esforçar mais se quiser ser principal, Pouca Sombra. - Comentei.

•••

Pulei a última aula. Subi na minha Harley Davidson e fui direto ao Soho. Queria reencontrar velhos amigos e ouvir os acontecimentos dos últimos dias. Parei no bar de sempre, um pouco longe da cidade. Assim que desci da moto, senti uma mão em meu ombro.

–Foi um erro aparecer aqui tão cedo, Moranguinho. - Disse uma voz grave.

Hesitante, me virei. Um cara alto e esguio com cabelos castanhos até os ombros me encarava. Ele parecia dez anos mais velho desde que eu o vira, uma semana antes - tipo, quarenta e poucos anos.

–É sempre um prazer te ver Stefany.

Ele grunhiu.

–Não ache que não notamos sua pequena fuga, nem que a perdemos de vista. - Disse Stefan - Mas você deveria agradecer minha presença aqui, anjinho. Vim avisar que Jared teve alguns imprevistos, mas logo ele irá te visitar com seus irmãos.

–Agradeço sua preocupação– Respondi - Mas ela foi, assim como você, totalmente desnecessária.

O afastei com um empurrão e me dirigi ao bar.

–Essa sua marra não ira durar muito tempo, gracinha! - Gritou ele.

Entrei no meu segundo lar. Música calma tocava. Alguns novatos perdiam um jogo de sinuca, em um canto Dana fazia tatuagens, algumas mulheres competiam queda de braço sendo motivadas por seus maridos. Mais um dia normal.

–Kaya voltou! - O garotinho, Theo, gritou. Silêncio. Todos olharam para mim.

–Que decepção. Eu esperava confetes. - Eu disse.

Então o barulho voltou, só que pior. Várias pessoas vieram me abraçar e dar tapinhas em minhas costas. Algumas eu não conhecia, mas me deram um aperto de mão. Depois que consegui me neutralizar um pouco, sentei no balcão, apoiando minhas pernas nas de Joseph. Seu pai estava do seu lado. Nunca conseguia deixar de reparar como eles eram idênticos.

–Seu pai nos contou um pouco sobre a viagem - Disse Joseph, enquanto rasgava minha calça em tiras com seu canivete - Isso deixou Jared um pouco irritado... Ele fez algumas visitas.

Felix, seu pai, deu tapinhas no meu joelho ao ver minha preocupação.

–Não se preocupe criança. Nós deixamos bem claro que ele não é bem vindo aqui.

Sorri, agradecido.

–Queria que não fosse assim.

–Nós sabemos, querida -Disse ele - Mas os motoqueiros do Soho sempre estão prontos para uma briga. -Ele apontou para a bandana preta presa na cabeça, que mostrava nosso símbolo.

–Ritual de boas vindas! -Alguém gritou, levantando a mão de um dos novatos, musculoso e moreno, que parecia orgulhoso de si mesmo.

Todos correram em direção a ele, levando alguns objetos. No final do "ritual", ele tinha uma bandana, uma jaqueta, uma corrente com pingente em forma de placa e três riscos e um mês sem conseguir degustar nenhuma comida devido ao nosso famoso drink de boas vindas. Depois houve um concurso de karaokê de músicas de rock clássico que quase explodiu o tímpano de todos e, consequentemente, chuva de cerveja para comemorar a vencedora (e corajosa competidora). Voltei para casa tarde e renovada, além de parcialmente bêbada.

O mês foi complicado. Provas em cada dia e a cabeça de todos os alunos parecia prestes a estourar. Lou passava um dia comigo e o outro com Peter. O relacionamento deles ia melhorando cada dia - apesar das brigas estúpidas. Eddie ainda me ignorava e, para piorar a situação, estava sendo paquerado por uma maldita parceira de turma de Peter, da aula de jornalismo. Nas horas vagas, Lou e eu jogávamos dardos em uma foto dela pendurada na porta do meu quarto. Carol continuava me irritando, mas meus pais não poderiam estar mais preocupados. Eu quase não saía mais - não precisava de mais cicatrizes.

No último dia do mês de maio, enquanto eu organizava as fotos da viagem com Eddie, eu não aguentei mais. Não aguentei mais olhar seu rosto todos os dias sem poder falar com ele, ou considerar a ideia de ele ficar com outra garota. Peguei seu endereço do lixo, coloquei uma jaqueta e enfrentei a primeira noite fria em meses - eu precisava pedir perdão a alguém.


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