Incarcerous escrita por Ludi


Capítulo 3
Pedidos (Ir)recusáveis


Notas iniciais do capítulo

Psiu, você aí! Sim, você mesmo! Ainda lembra dessa história? Não poderia deixar UM FUCKIN`ANO sem atualizar essa gostosura, não é mesmo?

Antes que pensem que eu desisti, a resposta objetiva é não. A verdade é que, depois de escrever Cinzas, eu precisava dar uma desintoxicada das fanfictions. Foi too much, haha. E aí, no meio do caminho, a vida aconteceu. Me casei, estou prestes a trocar de apartamento, troquei de emprego e entrei numa batalha judicial com a Samsung por ter me deixado 6 meses sem meu notebook e me impossibilitado de escrever qualquer coisa, haha.

A boa notícia é que estou voltando. Não posso e não vou prometer um ritmo de atualização frenético como Cinzas tinha, mas me comprometo a dar meu melhor e garantir que a gente possa seguir em frente =)

A todos que comentaram no último capítulo, muuuuito obrigada. Foi por vocês que eu voltei.

Sem mais delongas! Ao capítulo!



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"O destino embaralha as cartas e nós jogamos."

Arthur Schopenhauer

3 – Pedidos (Ir)recusáveis

"Não, não, não!" Gina olhou de Harry para Malfoy e então para Harry novamente, se forçando a controlar uma vontade arrebatadora de descolar os cabelos do couro cabeludo, fio a fio.

Se ela tinha feito todas as conexões corretamente – e ela tinha bastante convicção de que aquele era exatamente o caso-, sua vida estaria prestes a virar de cabeça para baixo... Instintivamente, ela balançou a cabeça como se pudesse afastar a possibilidade com o simples gesto automático.

Diante da reação dela, Harry olhou cautelosamente para os lados no estreito corredor. "Er, podemos conversar dentro do apartamento, por favor?"

"Dentro do meu apartamento, " Recuperada do choque, Gina cruzou os braços e levantou o queixo, desafiando o universo a contrariá-la. "Você esqueceu de usar o pronome correto, Harry."

Por força do hábito, Harry coçou a cicatriz na testa num gesto cansado. "Gina..."

"Tá certo!" Gina jogou as mãos para o alto de maneira exasperada e deu meia volta para entrar na sua pequena sala, deixando a porta aberta para que os dois homens a seguissem. "Quanto antes essa conversa bizarra começar, mais cedo ela vai terminar e eu vou poder esquecer que ela sequer existiu."

Voltar para minha vida e terminar de me empanturrar com meus sapos de chocolate, para começar.

Harry acenou com a cabeça em direção a Draco que, com um suspiro que traduzia exatamente a sentença 'vou morrer de tédio nos próximos 30 segundos', entendeu o recado e seguiu o rival para dentro do pequeno cubículo que Gina Weasley chamava orgulhosa de apartamento.

Não escapou a Gina o olhar de desdém que Draco lançou ao seu redor quando adentrou a pequena sala e ela sentiu suas bochechas ficarem vermelhas. Era um apartamento muito decente, ainda que não fosse luxuoso. Se ele estava pensando que podia manter aquele nariz empinado ali dentro, estava completamente enganado.

"O que foi, Malfoy?" Ela se dirigiu a Draco com falsa doçura pela primeira vez desde que eles chegaram. "Esteve frequentando lugares melhores nos últimos meses?" A pergunta carregou uma dose incrível de veneno que fez a careta de Draco se intensificar ainda mais no seu rosto pontudo.

Obviamente, como membro da Ordem e pertencente à família dos Weasley coelhos, a megera ruiva sabia com detalhes da minha situação nos últimos tempos, fugindo de praticamente todos os membros da sociedade bruxa. Draco pensou e reteve uma careta. Se ela pensava que ele iria deixar barato, estava muito enganada.

"Melhor frequentados, com certeza." Ele respondeu friamente depois de olhá-la de cima a baixo.

As bochechas de Gina praticamente se inflaram com todos os desaforos que estava prestes a descarregar sobre Malfoy, mas Harry interveio antes. Para evitar uma guerra de proporções poucas vezes vistas – e isso era um bocado de coisa, considerando que eles eram ingleses -, ele deu um passo cauteloso entre os dois.

"Ei," Harry chamou a atenção para si. "Não estamos aqui para relembrar os tempos de Hogwarts."

"Ah, não?" Gina perguntou num tom dócil que fez Harry engolir em seco – aquela voz nunca era prenúncio de coisas boas. Talvez ele devesse ter deixado a fúria dela se dirigir exclusivamente ao Malfoy afinal. "Me ilumine, por favor, Harry. Exatamente por que você está aqui? Com Draco Malfoy a tira colo, de todas as pessoas."

Dois pares de olhos – castanhos e cinzas – miraram Harry com expectativa. Gina, com curiosidade ultrajada. Draco, com uma zombaria mais contida, como se estivesse se divertindo ao ver Harry sendo colocado contra a parede.

Harry não hesitou por um segundo sequer. "Gina, eu preciso de você."

Gina ficou estática, a raiva de segundos anterior totalmente esquecida.

Ela fechou e abriu a boca três vezes antes de emitir qualquer resposta enquanto Draco rolou os olhos com desdém diante do fato de que aparentemente a Weasley iria mesmo comprar aquela desculpa idiota, e foi se acomodar perto da janela da sala como se estivesse calculando rotas de fuga (e talvez estivesse mesmo).

Totalmente alheia ao desprezo de Draco, Gina não queria acreditar nos seus ouvidos. Por tanto tempo ela desejou ouvir aquelas palavras, com aquela exata entonação de necessidade. Como se Harry precisasse dela na mesma proporção em que ela precisava dele. Como se fossem companheiros. Como se fossem iguais.

Por um instante, Gina se permitiu ser mais do que a irmã de Rony. Mais do que a primeira namorada. Mais do que alguém que estivesse sempre à margem e necessitando de proteção.

Era uma sensação tão nova que ela se deixou levar por alguns momentos, pensando que finalmente Harry e ela teriam o que é necessário para reatar o namoro e levá-la adiante.

Até que Harry decidiu que era hora de abrir a boca novamente e quebrar metade do encantamento de Gina. (A permanência da outra metade foi posta da conta da menina de 11 anos que ainda era inocente o suficiente para ser deslumbrada por Harry Potter).

"Preciso que você abrigue e proteja Draco Malfoy durante um tempo, até que nós consigamos lidar de uma vez por todas com todos os comensais. " Ele disse com firmeza. "Pela Ordem da Fênix."

Pela Ordem da Fênix. Sempre pela porcaria da Ordem da Fênix.

Gina sentou pesadamente no pequeno sofá e apoiou o rosto nas mãos.

"Sempre a Ordem em primeiro lugar, não é?" Ela perguntou com a voz abafada pelas mãos sem acreditar na sua situação. "E de todas as pessoas do Universo, justo Draco Malfoy?"

A resposta de Draco para isso foi um suspirou ofendido que Harry e Gina resolveram por bem ignorar.

"Gin-" Harry começou a dizer enquanto se aproximava dela e do sofá.

"Não, Harry," Gina se manteve ainda na mesma posição. "Sem esse tom de voz."

Draco bufou sem se dignar a olhar para eles. "Eu tenho mesmo que ouvir isso?" Ele perguntou preguiçosamente ainda olhando pela janela. "Se sim, acho que prefiro tentar minhas chances lá fora com meu tio ou com Fenrir Greyback me caçando."

Gina levantou o rosto das mãos e mirou o perfil de Draco -a única coisa que conseguia ver dele – calculando o quanto de energia ela precisaria gastar para fazer com que ele entrasse em combustão instantânea só com o ódio do olhar dela.

"Malfoy tem razão." Harry suspirou e Gina arregalou os olhos diante da afirmação, desviando sua atenção de Draco. Malfoy tem razão?! Ela devia estar sonhando. "Podemos ter essa conversa em momento mais oportuno, Gina?"

"Quando?" Ela perguntou com um desafio explícito na voz.

"Quando tudo acabar." Harry respondeu sem hesitar.

"O que é tudo?"

Harry passou as mãos pelos cabelos, sem jeito. "Quando não houver mais receio de se viver numa sociedade após o que Voldemort fez."

"Isso vai durar quanto tempo?" Gina encarou Harry inexpressivamente.

Ela estava fechando o cerco.

"Droga, Gina!" Harry exclamou contrariado. "Como eu poderia saber?"

Gina sorriu vitoriosa. "É por isso que conversaremos agora." Ela enfatizou apontando um dedo indicador para ele e não admitiu contestação. "Vamos até meu quarto longe de orelhas indesejadas."

Malfoy, então aparentemente morrendo de inanição na janela, se sobressaltou ao perceber que Gina estava se referindo a ele.

"Merlin," Draco falou enojado, particularmente ofendido com a hipótese de que ele poderia se interessar pela miserável vida amorosa de seres inferiores. "Como se eu fosse querer ouvir isso. "

Harry finalmente se rendeu e se encaminhou até a direção onde Gina tinha apontado mas pareceu se lembrar de algo no meio do caminho. Ele se dirigiu a Draco com a voz firme. "Não tente nada espertinho, nem algum plano mirabolante. Nós somos sua melhor – talvez única - chance de sobreviver. "

Draco deu de ombros e sorriu da forma mais desagradável que podia – e isso significava alguma coisa afinal. "Se não houver nenhum armário sumidouro aqui, vocês estarão bem. "

"Ora, seu filhote de comensal-" Gina deu um passo em direção a Malfoy que por sua vez se apoiou contra a janela esperando ser lançado lá para baixo a qualquer instante.

Como ele ousava trazer à tona o incidente do sexto ano dele, quando ele sabia que tinha quase causado a morte de Gui e tantas outras pessoas? Se sentindo a representante do equilíbrio universal, Gina pensou que nada era mais justo de que o rosto da doninha branquela também receber uma quantidade considerável de cicatrizes – pelas mãos dela. E ela podia garantir que Malfoy não ficaria tão charmoso quanto Gui havia ficado quando ela terminasse o serviço.

Deu mais um passo em direção a ele, mas Harry a deteve no meio do caminho passando um braço pela sua cintura. "Gina, ele não vale a pena, você sabe disso." Ele disse próximo ao ouvido dela. "Vamos ter a nossa conversa e deixar Malfoy lidar com os próprios monstros."

Gina suspirou fundo, encontrando a verdade nas palavras de Harry.

"Por aqui. " Com uma última encarada em Malfoy, ela se virou para Harry e indicou o caminho para seu quarto onde eles poderiam falar a sós.

Adentraram o corredor estreito em absoluto silêncio até que Harry se julgou a uma distância segura de Draco. "Eu já sabia o caminho. "

"Não pode me culpar pelo excesso de informação." Gina deu de ombros ainda desanimada com a interação com Malfoy. "É que você não vem aqui há tanto tempo que achei que poderia ter esquecido o caminho até meu quarto."

Visivelmente, Harry engoliu em seco. "Eu sinto muito a sua falta, Gina. Você não tem ideia do quanto eu queria estar com você, mas há coisas que preciso resolver primeiro."

"Esse é o problema, Harry," Gina abriu a porta do quarto e permitiu que Harry entrasse, fechando-a na sequência. Ela sorriu tristemente enquanto se encostava na porta. "Eu não sou uma prioridade."

"Você pode ser muitas coisas, Gina, mas nunca foi injusta." Harry disse calmamente, mas com um toque de surpresa modelando sua voz. "Você é e sempre vai ser minha maior prioridade."

Gina ponderou por um instante, remexendo na barra do suéter. "Talvez tenha feito uma escolha errada de palavras. Nosso relacionamento não é uma prioridade."

Harry se sentou na beira da cama de solteiro onde eles haviam partilhado tantos bons momentos – eles não precisavam de muito espaço para o que se dispunham a fazer quando Harry frequentava mais seu apartamento-, passando levemente os dedos sobre a colcha colorida. "Como eu seria egoísta a ponto de colocar minha felicidade acima dos outros quando há tantas pessoas ainda precisando de ajuda?"

Gina suspirou cansada enquanto ia se sentar na cama ao lado dele.

Ela o amava e odiava por tanto altruísmo.

"Elas não são sua responsabilidade, Harry."

"De certa forma, são." Harry concluiu simplesmente. "Voldemort voltou pelo meu sangue. E tomou o poder porque eu fui lento em achar Horcruxes. E Dumbledore não está aqui para cuidar de todos nós."

"Harry-"

"Escute, Gina, por favor." Harry disse com firmeza antes que ela pudesse dizer mais uma vez que aquilo não era sua responsabilidade nem seu dever. "Nós temos a melhor chance de neutralizar grande parte dos seguidores de Voldemort, trazer às pessoas esperança de um mundo melhor, longe da influência de mortes e destruição. Por isso estou aqui" Harry apertou a mão dela carinhosamente. "Depois disso, poderia seguir em frente, ter espaço para recomeçar. Com você."

"Depois que prenderem os Comensais você promete que teremos tempo para nós dois?" Gina mordeu o lábio em dúvida. Tinha tantas coisas que ela queria contar, fazer, mas mal conseguiam se ver. Uma chance era tudo o que ela queria.

"Prometo." Harry disse solenemente e Gina acreditou com todo seu coração. Já era muito mais do que ela tinha conseguidos nos últimos dois anos. Uma promessa de futuro. Um limite de tempo.

"Do que você precisa?" Gina murmurou para as mãos entrelaçadas sobre o colo. Não tinha um bom pressentimento sobre os próximos acontecimentos, mas se isso significava que Harry teria alguma paz de espírito, não havia outra opção para ela. Iria ajudá-lo.

Harry pareceu suspirar de alívio. "Como você já deve ter percebido, conseguimos finalmente localizar os Malfoy. Não foi fácil, mas nós conseguimos convencê-los a cooperar."

"Eles tinham outras escolhas?" Gina ironizou a pretensa boa vontade dos Malfoy em ajudar.

"Não muitas, na verdade. Eles estão sendo caçados tanto pelo bando de Fenrir Greyback quanto por Lestrange. Para falar a verdade, me surpreende que eles tenham durado tanto tempo, sem dinheiro e vivendo quase na miséria. Não achei que eles tivessem estômago para isso."

Gina se surpreendeu com a descrição. Não conseguia vislumbrar os Malfoy naquela situação. "E qual o preço deles?"

Claro, quando estavam lidando com os Malfoy, tudo tinha um preço.

Nessa parte Harry pareceu verdadeiramente derrotado e Gina se sobressaltou. "Basicamente proteção. Principalmente para Draco, que não deve responder pelos seus crimes."

Será que aquela noite poderia ficar pior?

"Não acredito que nós vamos permitir que ele saia impune depois de tudo, Harry!" Gina exclamou com perplexidade. "Gui, Katia! Ele, ele..."

"Eu sei, Gi." Harry pousou suavemente a mão sobre a dela. "Foi o melhor que pudemos fazer, com o que tínhamos disponível. Foi a única forma de convencer Lucius Malfoy."

"Ele machucou pessoas!" Ela insistiu, sem saber ao certo como articular a ideia evidente – mas notadamente um pouco exagerada - de que Draco Malfoy era a encarnação da maldade naquele século. "Merlin, ele tentou matar Dumbledore!"

"Mas ele não o matou." Harry contrapôs energicamente. "E eu vi Draco através da mente do próprio Voldemort, vi como ele estava sendo forçado a fazer certas coisas-"

"Torturando pessoas, você quer dizer?"

"Gina, até mesmo eu posso ver que Malfoy não queria fazer parte disso, por mais que me desagrade admitir. Ele não nos entregou para os seus pais na Mansão Malfoy quando Bellatrix-"

"Claro, isso faz toooodos os seus débitos se evaporarem, não é mesmo?" Gina explodiu, interrompendo Harry e se afastando um pouco dele no processo. Não era a primeira vez que eles tinham uma discussão parecida sobre o destino das pessoas que lutaram a favor de Voldemort, mas nunca com aquela intensidade. Alguma coisa em Draco Malfoy fazia Gina querer arrancar globos oculares alheios com uma faca sem corte – talvez algo a ver com o fato de que a família dele sempre tinha feito de tudo para prejudicar a dela. "Deixar os Comensais da Morte entrar em Hogwarts e tudo que ele fez naquele ano-"

Harry ergueu as mãos num gesto de exasperação e se virou para encarar Gina nos olhos. "O que ele fez?"

"Eu, ele– " Gina gaguejou por um momento. "Fez muita coisa! Ele era como o rei da escola, torturando outros alunos sempre que os Carrow mandavam-"

"Ele torturou você?"

"Não!" Gina bufou indignada. "Mas o que isso tem a ver? Tudo bem se ele torturar outras pessoas, contanto que não seja eu a felizarda a estar na outra ponta da varinha dele?"

"Claro que não, Gin." Harry suspirou e tentou acalmá-la, vendo que aquela situação não os levaria a lugar nenhum. "Mas você já viu Draco machucar alguém a menos que ele fosse ordenado a fazer isso? E, por favor, não o julgue pelos atos de quando tínhamos onze anos e o mundo era um lugar diferente."

Gina abriu a boca para responder, depois a fechou. Ela não podia pensar em nada que pudesse usar contra Malfoy dadas as condições de Harry. Ela não conseguia acusar Malfoy de ter usado a Maldição Cruciatus à sua vontade, ainda que ambos Crabbe e Goyle tivessem feito torturas desse tipo, algumas vezes com Malfoy próximo a eles. E ele não tinha feito nada para impedir os dois trogloditas. Para Gina, aquilo era igualmente ruim.

Contudo, como não podia continuar atacando Draco naquele sentido, resolveu mudar de abordagem.

"É tão injusto que Malfoy escape de toda essa história ileso!" Ela bateu com uma mão fechada sobre a colcha da sua cama tentando emular o rosto pálido e sem graça de Malfoy.

"Você tem todo direito de se revoltar contra isso." Harry concordou sem relutar. "Acredite, é complicado até mesmo para mim algumas vezes."

Respirando fundo, Gina mirou Harry com atenção, como se houvesse um grande enigma sobre ele que ela ainda não tinha conseguido desvendar. "E eis que, ainda assim, você está aqui, me pedindo para interceder por ele."

"Sabemos que o último lugar que eles procurariam Malfoy é entre os trouxas, ainda mais longe dos seus pais. Você é a melhor opção que pude pensar, dado o lugar que está vivendo e pelo fato de que você pode protegê-lo." Harry sorriu timidamente para ela. "Se eu tivesse que escolher alguém para me proteger, tenho certeza que ficaria com você."

Apesar de todo o tempo de em que estiveram juntos, as bochechas de Gina ficaram vermelhas pelo reconhecimento de que ela era alguém capaz.

"Eu sequer sei como fazer isso, Harry." Gina estava pensativa, contemplando algum cenário daquilo que não acabasse em tragédia. Malfoy e eu, dividindo o mesmo teto? "Se eu não matar o Malfoy nos próximos tempos, com certeza algum dos perseguidores dele o fará. Eu sou apenas uma contra todos eles. Merlin sabe a quantidade de inimigos que aquela família esnobe e mesquinha teve a capacidade de fazer."

"O ponto é que eles não encontrarão vocês." Harry abriu seu maior sorriso desde que chegara no apartamento dela. "Até onde consigo ver, há apenas três formas em que eles poderiam rastreá-los. Através de informantes, para começar, e -"

"E também de dinheiro ou de magia." Gina completou pensativa, apoiando o queixo em uma mão.

"Exatamente." Harry sorriu tão acostumado com o rápido raciocínio de Gina. "Sobre os informantes, bom, já concordamos que colocar Malfoy no meio dos trouxas vai neutralizar essa possibilidade."

"Sim, é verdade." Gina teve que concordar com o ponto, ainda que sua aceitação não a agradasse totalmente.

"Vocês não poderão ser rastreados magicamente por nenhum dos informantes dos foragidos no Ministério por causa das regras de não utilização da varinha. A varinha de Draco foi confiscada antes de virmos para cá - considerando de quem estamos lidando, não seria uma surpresa se ele fizesse alguma coisa idiota - e você já está seguindo a política do Departamento de Execução das Leis da Magia."

Gina tossiu antes de ficar com as bochechas vermelhas. "É claro, é claro." Ela murmurou discretamente, sabiamente omitindo o fato de que quando Harry chegou ela estava prestes a lançar um feitiço particularmente doloroso em cima do seu ex-colega de quarto trouxa.

Parecendo não notar o embaraço da ruiva, Harry continuou pensativo enquanto tamborilava os dedos sobre os joelhos. "O que resta resolver é onde ele exatamente ele vai ficar e como explicar a presença dele para seu colega de apartamento."

"Acho que não precisamos nos preocupar com isso, na verdade." Gina deu um pequeno suspiro vitorioso ao se lembrar de tudo que tinha sofrido com Josh e que agora estaria livre dele. "Acabei de expulsá-lo daqui há uma hora."

Harry ajeitou os óculos, olhando-a com cautela. "Vou me arrepender se perguntar se você assustou muito o cara?"

"Com certeza." Gina deu um sorriso cheio de dentes.

"Então é melhor eu me contentar em ficar aliviado por não ter que me preocupar em esconder Malfoy desse rapaz."

Gina deu de ombros. "Ele estava sendo um idiota e atingi meu limite. "

Harry passou uma mão pelo cabelo, fazendo-o se espetar em diferentes direções. "Vamos torcer para que seus limites possam ser um pouco maiores com Malfoy."

"Basta que ele não seja um idiota como Josh."

Gina se arrependeu das palavras assim que elas saíram da sua boca e Harry a olhou como se ela tivesse incorporado Luna nos seus melhores dias. Ambos sabiam que, no quesito ser imbecil, Draco Malfoy era imbatível.

"Olha, você tem todo direito de achar Malfoy irritante. Merlin sabe o quanto você teria razão nisso." Harry tentou argumentar racionalmente. "Tudo que estou dizendo é para não procurar encrenca com ele."

"Eu não procuro encrenca com ninguém!" Gina se defendeu ofendida. E era verdade. Mesmo que, de alguma forma, as vezes a encrenca parecia procurá-la. Como tinha sido com Josh.

Harry a olhou com incredulidade e Gina preferiu mudar de assunto antes que aquilo descambasse para algo pior. "Ignorando por enquanto a charmosa e encantadora personalidade de Draco Malfoy, há ainda um pequeno problema monetário. A última forma que Malfoy poderia ser encontrado aqui é através do dinheiro, ou seja, para continuarmos no anonimato, ele não poderá ter acesso a nada da sua fortuna."

"Sim, você está certa." Harry concordou. " O dinheiro dos Malfoy estará fora de alcance até que os três estejam fora do perigo. Da última vez que eles tentaram dispor da sua fortuna para se esconder, Narcissa Malfoy acabou em coma por mais de um mês."

"Como então, em nome de Merlin, eu serei capaz de sustentar nós dois?" Gina perguntou estupefata. Mal dou conta de mim mesma, ela pensou sombriamente, mas manteve o pensamento para si. Não precisava da pena ou preocupação de Harry com suas finanças.

"A verdade é que não podemos arriscar ao liberar dinheiro no Ministério sem ter que prestar conta à auditoria bruxa depois. Se fossemos dispor de uma quantidade razoável de dinheiro, seria mais fácil de rastrear."

"E então...?" Gina incentivou, não gostando do rumo daquela conversa. "O que faremos?"

Harry tossiu e Gina teve a nítida impressão que suas bochechas estavam mais coradas. "Kingsley conseguiu incluir uma quantia para você nas despesas de material de escritório dele, mas bem, não é algo do qual podemos nos orgulhar."

Gina o encarou boquiaberta. "Isso não é desviar dinheiro do Ministério?"

Harry ficou ainda mais vermelho. "Não! Quer dizer, tecnicamente sim, mas vamos prestar contas de toda a quantia gasta quando conseguirmos prender todos os seguidores de Voldemort."

Ignorando o pequeno deslize ético em nome da sua saúde financeira, Gina foi direto a ponto. "Estamos falando de quanto?"

"O suficiente para cobrir os gastos que ele tiver com o aluguel." Harry disse ainda parecendo bastante envergonhado. "Eu mesmo poderia ajudar-"

"Sem chance. " Gina negou categoricamente. Aceitar dinheiro de Harry naquele momento – mesmo que fosse por causa de Malfoy – seria como admitir derrota e tudo que ela tinha feito até ali - a mudança de vida, distância da família-, não teria valido de nada. "Eu consigo me virar."

Por um segundo angustiante, Harry hesitou como se fosse dizer alguma coisa. Gina torceu as mãos sobre o colo, torcendo para que ele não o fizesse, colocando a perder o pequeno entendimento ao qual eles haviam chegado.

Não, Harry, por favor. Não duvide da minha capacidade de tomar conta de mim mesma mais uma vez.

Ele não disse nada e Gina suspirou aliviada.

Ele apenas acenou em concordância, se levantando da cama. "Entrarei em contato para saber de Malfoy."

Gina sentiu suas bochechas ficarem vermelhas de vergonha ou de raiva, não saberia dizer ao certo. "Por causa de Malfoy?""

"Erm," Harry tossiu quando percebeu seu erro. "Óbvio, para saber de você também."

"Fico feliz em saber."

Desconsiderando o tom sarcástico de Gina, Harry deu um último sorriso para ela que – Gina tinha embaraço de admitir – tinha o poder de dissipar um pouco do seu mau temperamento. "Preciso ir, Gi. Avisar o Ministro e o Sr. Weasley de que tudo deu certo. "

Aquele era um termo extremamente forte, mas Gina manteve o pensamento para si. Ela tinha a impressão de que, dali em diante, tudo que as coisas não dariam era certo.

"Eu sei que você sabe como se defender, mas-" Harry disse e franziu a testa num gesto preocupado. "Apenas se cuide, Gina. É de Draco Malfoy que estamos falando."

"Está tudo bem, Harry." Gina o tranquilizou com um sorriso travesso. "Qualquer eventualidade, eu estava precisando mesmo testar meus feitiços para espantar Bicho-Papão. Malfoy deve estar com saudades dele."

A expressão de Harry foi um misto de preocupação e humor que não escapou a Gina. E então, com último aceno afetuoso, ele aparatou para longe do seu quarto.

Não é possível que Harry Potter desconheça o conceito de 'beijo de despedida'!, ela pensou indignada com a lerdeza de Harry. Malditos homens!

Então, pondo de lado seus instintos mais libidinosos, Gina respirou fundo, se levantou com um esforço comparado a estar carregando a Fonte dos Irmãos Mágicos nas costas e caminhou em direção a porta como se estivesse prestes a passar pelo Véu da Câmara da Morte.

Ela escancarou a porta dramaticamente, adentrou o corredor e disse – sarcasticamente - em alto e bom som. "Lar, doce lar, Draco Malfoy."

Espero que você não se sinta em casa.


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