Incarcerous escrita por Ludi


Capítulo 1
Arranjos


Notas iniciais do capítulo

Olá!

Bom, eu havia prometido que não escreveria mais nada nos próximos quinze anos quando terminasse 'Cinzas', mas, como é regra geral na vida das pessoas, o Universo tem um jeitinho todo especial de contradizer nosso planejamento esmerado e cuidadoso. E, eis que aqui estou, tirando da cabeça e pondo no papel uma ideia que tem literalmente me atormentado há semanas.

É uma história bem menos pretensiosa, mais curta, mais leve e, principalmente, sem aqueeela carga dramática assim espero, já que tenho uma tendência angustiante de enveredar pelo drama.

Começamos exatamente dois anos e meio depois da Batalha de Hogwarts, numa sociedade que luta para se reconstruir depois da guerra. Eu me recuso a crer que o universo de Harry Potter tenha terminado com um 'Ok, matamos Voldemort, tudo é cor de rosa agora' e foi daí que a ideia para essa história surgiu.

Contudo, um aviso faz-se necessário. Quando comecei a escrever 'Cinzas', já tinha praticamente toda a história na minha cabeça, sabia onde queria chegar e quais artifícios usar. Isso está longe de ser verdade agora. Aliás, aceito sugestões e dicas de plot. ;)

E, para finalizar, minha prioridade é terminar minha outra história e outros projetinhos que clamam por um fim. Portanto, as atualizações podem vir a passos de formiga. Sorry =/

Espero que possam aproveitar e aguardo eventuais comentários com avidez.

Um grande beijo!



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Incarcerous:

Feitiço em que cordas são conjuradas e se amarram à pessoa atingida, prendendo a vítima.

***

"Embora a prisão deles esteja unicamente em suas próprias mentes, eles continuam lá. E têm tanto medo de serem ludibriados de novo que não conseguem livrar-se."

Crônicas de Nárnia

***

1 - Arranjos

Dezembro, 2000

Estava extremamente frio.

Essa era a única coisa que Draco Malfoy conseguia pensar enquanto ouvia o murmurinho a sua volta de conversas sussurradas e sigilosas, nas quais que ele não conseguia se concentrar.

Fazia um frio dos demônios.

Draco sempre havia achado que gostava do frio, mas aquilo tinha sido antes de chegar perto de ter todas as suas extremidades congeladas implacavelmente. Alguns graus a menos na temperatura ambiente e não haveria descendência para os Malfoy nos próximos anos. Inconscientemente, ele protegeu a parte que lhe era mais cara na sua anatomia e se remexeu desconfortável quando percebeu sobre ele o olhar avaliador da sua mãe, que estava sentada ao seu lado.

"Está mais do que na hora de você começar a encarar nossa situação com seriedade, Draco." Narcissa Malfoy sibilou para que os outros presentes no recinto – e à mesa onde estavam - não pudessem ouvi-la, mas alto o suficiente para que seu filho lhe desse o devido crédito. "Preste atenção!"

"Prestarei, mãe." Draco não a contrariou por força do hábito e a obedeceu por uma questão de sobrevivência. Nunca tinha sido muito saudável contrariar sua mãe, ainda mais naqueles tempos.

Ele obteve sucesso ao se concentrar por um total de 55 segundos. Ao fim deles, ele se entediou e começou a se focar nos detalhes do lugar a sua volta, muito para não ter que se concentrar - ouvir, ver, tomar conhecimento – nas pessoas que estava fazendo companhia à sua família, sentados à mesa decrépita do estabelecimento decrépito que pertencia a um velho bruxo não menos decrépito.

Draco e seus pais foram encontrados naquela taverna de beira de estrada em Kirkcaldy, numa cidadezinha gelada ao norte de Edimburgo, na Escócia. Ali, especificamente, eles estavam há menos de uma semana e Draco agradecia a Merlin por ter podido tomar um banho decente, além de comer algo quente que não tivesse a aparência (muito) nojenta. No dia em que chegaram, depois de meses percorrendo os recantos mais sujos da Europa, o lugar parecia mais confortável e luxuoso do que a Mansão Malfoy.

Agora, evidentemente, isso não é mais tão verdadeiro, Draco se deu conta ao ter que tirar uma traça da manga do seu casaco, que provavelmente tinha vindo dos trapos amontoados que o estalajadeiro chamava de cama.

O notável estabelecimento chamado Bafo de Rabo-Córneo – Draco sempre fazia uma careta ao se lembrar daquele nome, afinal, se fosse para ser minimamente semelhante ao bafo de um dragão, a merda do lugar deveria pelo menos ser quente -, tinha uma coloração esverdeada do bolor em todos os móveis, criaturas não identificadas escondidas nas frestas mais suspeitas e a presença das figuras mais maltrapilhas do mundo bruxo.

Ou seja, o s-i-n-ô-n-i-m-o de encanto.

"Como vocês nos acharam?" Lucius Malfoy se endereçou às pessoas da mesa que não pertenciam à sua família, cruzando os braços sobre o peito de forma superior.

Voltando sua atenção novamente para a conversa, Draco aproveitou a chance para fazer um experimento sociológico e averiguar se, depois daqueles anos sofridos, seu pai ainda tinha a influência para controlar uma conversa com simples gestos confiantes, mesmo vivendo em condições degradantes.

Aparentemente não.

Os interlocutores, sentados do outro lado da mesa, sequer se intimidaram com o tom utilizado por Lucius.

Kingsley Shacklebolt, Harry Maldito Potter e Arthur Weasley permaneceram impassíveis, com as mesmas caras de tacho que estavam quando entraram no Bafo de Rabo-Córneo, sentando-se agilmente à mesa dos Malfoy e pedindo uma bebida, sequer dando tempo para que Lucius, Narcissa e Draco pensassem num plano emergencial de fuga.

Encurralando-os.

Aquilo só parecia confirmar as suspeitas do seu pai de que, à sua família, não era permitido um só momento de distração ou tranquilidade.

Frustrado, Draco tamborilou os dedos longos na superfície da mesa deixando transparecer seu tédio diante do resultado desfavorável, o que despertou mais um olhar penetrante da sua Narcissa.

Ele estava sentado entre seu pai e sua mãe - que era visivelmente a forma que seus pais encontraram de mantê-lo protegido mesmo naqueles tempos instáveis. Antes, quando era um idiota, Draco se incomodava verdadeiramente com aquilo, mas, agora, não mais.

Não desde que falhara em matar Dumbledore.

Proteção nunca era demais, Draco aprendera aquela lição com muito custo.

A desvantagem daquela posição, contudo, era ficar frente a frente com o Cicatriz desnutrido que, por sua vez, estava espremido comicamente entre o Weasley-pai e Shacklebolt.

Depois de um instante, Shacklebolt abriu a boca para responder à pergunta de Lucius, mas se interrompeu quando uma garçonete mal humorada trouxe uma bandeja com alguns chocolates quentes, posicionando-os na frente dos Malfoy.

A boca de Draco se encheu de saliva, seu corpo clamou por alguma fonte de calor e seu fraco por doces deu a sentença final de que ele devia pegar uma delas e que fosse para o inferno o fato de que aquilo estava sendo pago por um Weasley, na melhor das hipóteses. Entretanto, um olhar rígido de Lucius quando ele estava prestes a esticar a mão em direção à abençoada caneca fez com que Draco se mantivesse imóvel, apenas ouvindo.

Talvez fosse prudente realmente saber o que estava acontecendo, afinal.

Olhando as xícaras intocadas – com um desejo quase saudoso - Draco controlou um estremecimento que ameaçou controlar seu corpo e olhou feio para Potter, só para conceder a si mesmo um pequeno prazer. Então, apertou a capa ao redor de si para não dar a eles o prazer de vê-lo demonstrar algum sinal de vulnerabilidade.

Alheio às indagações do filho referentes a chocolates quentes e antigas rivalidades, Lucius Malfoy abaixou os olhos quase que imperceptivelmente diante da constatação de que, naquela conversa, ele definitivamente não estava em vantagem.

Narcissa, por sua vez, envolveu os dedos longos e pálidos do marido com sua pequena mão enluvada de forma a confortá-lo. Não escapou ao Draco o fato de que havia um pequeno furo no tecido e ele engoliu em seco ao pensar como aquilo deveria afligir sua mãe. Ela, que sempre tivera um cuidado e rigor extremo com suas vestimentas, com sua aparência, com a forma que ela se apresentava para o mundo e com a forma que o mundo a via.

Se ao menos ele pudesse usar sua varinha...

Certamente, ele não saberia costurar ou algo do gênero, mas pelo menos contaria com o alívio de poder tentar. Ter que passar dia após dia sem magia, sem dúvida, era a pior parte –a maiorhumilhação, uma vozinha incômoda na sua cabeça completou – de se viver do modo que eles viviam...

"Encontramos vocês da maneira mais primitiva que se pode encontrar alguém: tendo informantes." Kingsley finalmente respondeu Lucius antes de completar num tom de aviso. "Assim comoeles também tem...".

Shacklebolt deixou a ideia no ar e até para Draco, com seu potencial desapego à concentração, não foi difícil perceber as implicações daquilo que ele tinha desejado dizer.

"Até agora obtivemos sucesso em nos manter numa posição..." Lucius parou por um momento procurando a palavra correta, mesmo que não houvesse nenhuma. "...discreta."

"A que custo?" Shacklebolt fez um gesto com a mão enorme abarcando o estabelecimento deprimente e continuou argumentando, sem dar chance para que Lucius respondesse o óbvio. "Contudo, eu lhe concedo um ponto, Sr. Malfoy: foi impossível rastreá-los através de magia. Eu suponho que vocês estejam evitando a todo custo usarem suas varinhas, para que as fontes ligadas ao Ministério – seja lá com qual intenção -, não pudessem rastreá-los. Certamente, isso garantiu a vocês tempo, afinal, quem diria que um Malfoy abriria mão do poder da magia e do dinheiro?"

Draco viu seu pai cerrar os punhos embaixo da mesa de tal forma que os nódulos dos dedos ficaram ainda mais brancos. Definitivamente, aquilo era um mau sinal. Ele só vira seu pai com aquela mescla de raiva e impotência nos eventos derradeiros da guerra ao lado do Lorde das Trevas.

Não, não queria pensar sobre isso. Resolveu que o mais sensato era voltar sua atenção para os outros; Weasley estava tagarelando em forma de sussurro, mas com a sutileza de troll.

Que típico da parte daquela família, Draco zombou enquanto tentava se concentrar no que ele estava dizendo.

"Sem a devida proteção, é só uma questão de tempo até que encontrem vocês."

"Não nos encontraram depois de todo esse tempo." Draco entrou na conversa só para receber um olhar de soslaio de Lucius. "É meio covarde demais achar que eles – sejam quem for - vão nos encontrar justamente agora, não é?"

"Falou o símbolo de coragem do novo milênio." Potter murmurou alto o suficiente para que todos ouvissem e recebeu olhares cinzas idênticos dos dois Malfoys do sexo masculino, cheios de frieza e reprovação. Narcissa se limitou a olhá-lo com a curiosidade de alguém que olha um animal particularmente nojento pela primeira vez.

"Harry, por favor!" Weasley sussurrou com intensidade – fazendo um escândalo ao tentar ser discreto. "Sabe que estamos aqui numa missão. Se não sabe deixar os assuntos pessoais fora disso, talvez devamos repensar a necessidade da sua presença nelas."

Os ombros de grilo desnutrido de Potter caíram e ele assentiu miseravelmente. Por consequência, Draco sorriu como não tinha feito em meses.

Kingsley pigarreou.

"Sua pergunta parece legítima, Draco. E eu te respondo com outra reflexão da minha parte: A chance de eles encontrarem vocês é tão pequena quanto eram as chances da Ordem?" Ele rebateu arrancando o sorriso de Draco dolorosamente do seu rosto. "Em parte você tem razão, demoramos longos meses para chegar até vocês. Não será realmente fácil, mas, eventualmente, eles conseguirão também. E, quando esse momento chegar, você vai desejar ter podido fazer diferente. Isso eu posso garantir."

"Não temos interesse." Lucius disse subitamente e Narcissa virou tão rápido a cabeça para ele que Draco achou que seu pescoço fosse quebrar.

"Exatamente no que você não tem interesse, Sr. Malfoy?" Weasley perguntou com paciência.

"Em nada que venha de você." Lucius rebateu com uma careta de nojo. "De nenhum de vocês, aliás."

Kingsley suspirou com aquele seu típico ar de mamute velho.

"Não está cansado, Lucius?" Ele perguntou honestamente, recebendo de Lucius apenas um olhar de gelo. "E quanto a vocês, Narcissa, Draco?"

"Tomaremos a decisão que for melhor para nossa família, Sr. Ministro." Narcissa respondeu indiferente e sem demonstrar simpatia, mas, ao mesmo tempo, reconhecendo a vantagem que os três patetas à frente deles possuíam.

Com aquela resposta simples, Draco soube instantaneamente que sua mãe estava dando dois claros recados: primeiro, os Malfoy podiam estar escondidos do mundo, mas o mundo não podia se esconder de um Malfoy. Ela estava ciente que Shacklebolt havia sido nomeado Ministro algumas semanas antes e de todo o cenário politico da Inglaterra. Para deixar ainda mais claro, Narcissa Malfoy não seria ignorante em qualquer barganha que eles pudessem fazer. Segundo, a família dela sempre vinha em primeiro lugar, não importava o que pudesse acontecer. E, se para proteger sua família ela tivesse que fazer um acordo com o diabo, certamente Narcissa não hesitaria por um segundo sequer.

Subitamente Draco sentiu que seu pai e ele estavam perdendo sua mãe para a argumentação dos idiotas da Ordem.

Não se eu puder evitar, Draco pensou rapidamente. Por nada no mundo iria deixar que sua família desse o braço a torcer para aquela laia.

"Se estamos cansados, certamente não é da conta de vocês." Ele grunhiu desaforado. Automaticamente, se recriminou mentalmente diante da infantilidade da resposta.

Mais proveitoso seria se eu tivesse dito que eles eram feios e bobocas.

Potter rolou os olhos para ele e Kingsley o encarou profundamente.

"Quanto tempo faz, rapaz?" Kingsley continuou encarando-o como se pudesse ver através da magra e esguia figura de Draco, usando a mesma linha de argumentação que usara com Lucius, dessa vez com mais sucesso, uma vez que Draco engoliu em seco. "Dois anos? Dois anos e meio? Fugindo, se escondendo, abrindo mão de tudo que lhe era caro..."

"Você deve saber melhor do que meu filho, Shacklebolt." Lucius tomou a frente de Draco de forma protetora, não gostando da abordagem do atual Ministro da Magia. "Afinal, foi um dos responsáveis pela situação em que minha família está."

"Não há outro responsável pela situação dos Malfoy do que o senhor mesmo." Harry interveio suavemente.

"Ora, seu moleque insolente, mestiço-" Lucius começou a levantar a voz quando Narcissa colocou novamente a mão sobre seu antebraço, num pedido mudo para que ele se acalmasse.

"Não ouse ameaçá-lo, Malfoy-" Weasley interveio, ficando com o rosto redondo –mais – vermelho.

"É o bastante!" Sem conseguir contar apenas com a sutileza, Narcissa interrompeu friamente a ambos, que se calaram diante da altivez da voz dela. Draco simplesmente se encolheu por antecipação, afinal, ele conhecia aquele tom de voz e tinha suficiente amor à sua vida para nem mesmo respirar mais alto quando sua mãe falava daquele jeito. "Todos vocês, me poupem de rompantes masculinos, carregados de testosterona e imbecilidade." Ela sibilou sem nunca levantar a voz ou se exaltar, passando os olhos azuis pelos cinco homens ao seu redor. Então, se dirigiu a Shacklebolt. "O que você quer realmente, Sr. Ministro?"

"Hoje não vim como Ministro ou sequer como um representante do Ministério, Sra. Malfoy." Ele disse gentilmente a despeito do tom gelado da mulher. "Vim como um membro da Ordem da Fênix."

"E não é a mesma coisa?" Narcissa perguntou retoricamente erguendo uma sobrancelha muito loira.

"Infelizmente, não. Não chegamos nem perto de poder dizer que a Ordem e o Ministério são um só." Weasley – já recomposto – se deu o trabalho de esclarecer. "E é exatamente por isso que estamos aqui."

Shacklebolt concordou solenemente. "Procuramos vocês porque queremos contar uma história e reconhecer um erro."

Ele fez uma pausa dramática e Draco bufou audivelmente, já se entediando pelo discurso dos mocinhos que viria.

"Comecem pelo erro," Ele pediu venenosamente. "Pelo menos vai ser mais divertido."

"Se é isso que deseja, jovem Malfoy." Shacklebolt perscrutou os três rostos pálidos antes de voltar a falar. "Erramos ao achar que para por um fim ao caos e à destruição, bastaria deter Voldemort. Supomos que o fim dele também significaria o fim do mundo de preconceitos, de desprezo, de valores distorcidos. Contudo, falhamos em ver que esses sentimentos foram difundidos por centenas e centenas de anos antes de Voldemort. Que ele simplesmente deu voz a esse sentimento."

"Visando a obtenção de poder ilimitado." Potter disse de dentes cerrados.

"Sim, obviamente." Shacklebolt concedeu sem pestanejar. "Nunca saberemos se ele acreditava mesmo nisso ou se era apenas um meio para atingir um fim. Entretanto, acredito que isso não importe mais. A verdade é que os frutos de Voldemort estão espalhados pelo Reino Unido e, temo dizer que, há quase três anos, quando Harry destruiu Voldemort de uma vez por todas em Hogwarts, aquele foi o primeiro passo de uma longa jornada."

Involuntariamente, a mente de Draco voltou para aquela madrugada de maio quando Voldemort invadira Hogwarts, quando o próprio Draco havia tentado sua última chance de voltar às boas graças com qualquer um dos lados, contanto que ele saísse ileso. Quando ele, Crabbe e Goyle entraram na Sala Precisa atrás de Harry Maldito Potter, no que culminou na morte de Vicente. Como, chamuscado, cansado e humilhado, ele tinha se arrastado pela batalha, se escondido como podia, se protegido com que tinha à disposição. E, quando tudo acabou, se lembrou ainda de como havia ficado feliz ao reencontrar seus pais e de como os três haviam permanecido entre os radiantes membros da Ordem da Fênix, mas sem realmente fazer parte deles. De como eles não haviam se comprometido, mas ficado satisfeitos ao partilhar dos louros da vitória. Obviamente, aquilo não havia gerado aplausos nem manifestações de carinho do lado do Potter e sua laia.

E quando ele achou quem inferno passaria...

A situação piorou no decorrer das semanas que se seguiram, onde ele é sua família mal podiam sair de casa. Nas raras ocasiões onde eles colocavam um pé para fora da Mansão Malfoy, era comum que algum acidente sobre circunstâncias suspeitas acontecesse. Certa vez, uma ponte próxima ao Beco Diagonal onde Narcissa costumava caminhar antes de fazer compras praticamente desmoronou um pouco depois que ela havia passado. Em outro momento, a cabine telefônica que levava seu pai pela entrada de visitantes do Ministério simplesmente perdeu o controle e caiu por alguns andares antes de parar com um impacto brusco no chão. A sorte de Lucius foi a presença da sua varinha ainda no bolso da capa, que ele prontamente usou para aparatar antes da colisão, levando consigo apenas umas costelas e um braço quebrado. Por fim, Draco, preguiçosamente sentado na Florean Fortescue, quase havia sido envenenado com uma poção altamente corrosiva misturada ao seu sorvete. Só havia escapado ileso porque algum – idiota, ele havia chamado no instante do acidente; santo, ele o chamava agora – tinha esbarrado na sua mesa e derramado um pouco de sorvete no chão. Um pouco de sorvete que praticamente derreteu o piso da sorveteria.

Tudo muito anônimo, discreto, estranho...

E, na época, Draco sequer podia imaginar que as coisas ficariam ainda pior. Com o tempo, essas 'casualidades' deixaram de ser discretas e passaram a ser mais frequentes, mais violentas, incendiárias. Não era raro que os atentados aos Malfoy envolvesse alguma explosão. A última delas, aquela que foi o estopim para sua atual situação, tinha resultado em Narcissa no St. Mungus, em coma por um mês e meio. Depois, eles se mudaram para a casa de campo na França, mas os infelizes eventos os seguiram implacavelmente, até que Lucius, graças aos antigos contatos no submundo da magia, descobriu que eles estavam sendo rastreados pelo dinheiro em suas inúmeras contas.

Aquele foi o primeiro passo para o isolamento. Desde então, eles tinham abandonado tudo – a Mansão, dinheiro, amigos, quem eles eram.

Passaram os últimos quase três anos vivendo de esparsas economias, da ajuda de ex-simpatizantes de Comensais e baseados em seus apurados instintos de sobrevivência.

"Erro reconhecido, eu aprecio sua humildade." Lucius disse num tom de quem não reconhecia nada e Draco estranhou ouvir as palavras 'apreciar' e 'humildade' saindo da boca do seu pai na mesma frase. "Agora vocês podem nos deixar em paz." Ele fez um gesto autoritário em direção à porta do Bafo de Rabo-Córneo como se fosse dono do lugar e não um dos seus 'hóspedes'.

"Em paz?" Weasley negou com a cabeça de cabelo ralos como se não estivesse acreditando. "Não precisamos nem dizer que você também tem contas a prestar. Alegar que estava sob o controle da Maldição Imperius pela segunda vez seria estranho até para você, Lucius."

O maxilar de Lucius ficou tenso e Draco quase podia jurar que estava ouvindo seus dentes rangerem. "Terminem sua maldita história."

"Mesmo escondidos, vejo que vocês não estão alheios ao que ocorre no mundo bruxo." Kingsley retomou a palavra e assentiu em direção à Narcissa, reconhecendo que ela sabia do que estava acontecendo, em partes. "Mas permitam que nós iluminemos um pouco mais sua situação. O mundo bruxo está dividido, não apenas entre a Ordem e os discípulos de Voldemort, mas também está fragmentado dentro dessa legião de Comensais da Morte restantes."

"Não restou mais ninguém que valha a pena dentre eles." Lucius fungou cheio de escárnio.

"É exatamente por isso que você deve temer." Weasley retrucou, não se importando com o tom de Malfoy. "Só restou o que havia de pior dentre aqueles que seguiam Você-Sabe-Quem. Atualmente, Fenrir Greyback disputa o comando dos que restaram com seu cunhado, Lestrange, que parece ter perdido o que restava da sua sanidade quando Molly... bem, quando Bellatrix foi morta."

Draco nunca havia gostado do Lobisomem, mesmo quando teve que trabalhar com a criatura e permitir que ele entrasse em Hogwarts. E agora, vislumbrando onde aquilo podia chegar, gostava menos ainda.

"Greyback sustenta seu apelo com base da ideia de que não há mais espaço para a aristocracia esnobe, que durante décadas ela deteve o poder para impor sua supremacia, mas não teve competência o suficiente para fazê-lo. Ele crê que só o caos é capaz de quebrar a sociedade e garantir sua influência sobre ela. Sua facção tem claramente o apoio de Comensais que não eram tão prestigiados ou que não fazem parte de famílias tradicionais, as legítimas puro- sangue."

"Por outro lado, os seus antigos amiguin-" Harry pigarreou quando Weasley olhou de forma reprovadora para ele. "Seus antigos companheiros de classe e ofício, defendem a causa das ricas famílias tradicionais, lutam para que os ideais de Voldemort não sejam manchados pelos mestiços, lobisomens e traidores."

"Vocês já devem ter entendido o que esses dois lados têm em comum, não é?" Weasley questionou com a voz cansada.

"São loucos?" Draco ofereceu com o lado mais prestativo da sua petulância.

Seu pai ficou visivelmente mais pálido quando chegou numa constatação que Draco ainda não havia compreendido totalmente. "Draco, quieto!"

Ofendido, Draco se virou para sua mãe em busca de apoio. Narcissa tinha levado a mão à boca.

"Eles querem a nós." Ela sussurrou para si mesma e, pela primeira vez em meses, se permitiu ignorar a presença de Draco.

Ele não era adepto de mostrar suas reações livremente, mas, naquele momento, Draco sentiu seus olhos se arregalarem e suas mãos tremerem levemente.

De repente, todas as ameaças, todos os ataques, fizeram muito sentido na cabeça de Draco. Eles não estavam sendo perseguidos por malucos dissidentes de Voldemort. Eles estavam sendo perseguidos por todos.

Inclusive pela Ordem da Fênix, é claro. Draco podia apostar sua mão da varinha que havia muita gente entre os amiguinhos de Potter que queria ver sua cabeça servida numa bandeja.

Era verdade que a solução poderia ser se esconder até que a maldita Ordem desse um jeito em tudo.

Mas nada se ajeitaria até que o destino dos Malfoy fosse determinado.

Ele fechou os olhos brevemente numa prece silenciosa a Merlin por terem conseguido fugir por quase três anos e mais uma pelo que ainda estava por vir.

"As duas facções querem suas cabeças." Weasley seguiu dizendo, dando detalhes de todas as formas pelas quais os Malfoy estavam na merda – e Draco não queria pensar que havia alguma dose de alegria pessoal dele naquilo. "Greyback quer vocês como uma forma de provar que o antigo regime é uma instituição falida, que as famílias puro sangue tradicionais perderam espaço e sua chance. Eles querem vocês como um símbolo da vitória."

"Rodolphus também nos encara como um símbolo." Narcissa mais afirmou do que perguntou, pensando no cunhado com quem nunca havia simpatizado muito.

"Certamente." Weasley concedeu sem complacência. "Na visão deles, vocês são considerados traidores que se recusaram a lutar por Voldemort até o fim."

"É para qual das duas facções vocês vieram nos entregar?" Draco perguntou com as mãos sob a mesa, para evitar que elas fossem flagradas tremendo.

"Estamos aqui para ajudar, Malfoy." Harry retrucou num tom que passava longe do solícito. Draco fungou com toda descrença que podia reunir, mas foi interrompido por seu pai antes que pudesse dizer qualquer coisa venenosa sobre a 'ajuda' que Potter estava disposto a oferecer.

"Não que eu não acredite na sua boa vontade para com a minha família - e, pensando bem, realmente não acredito." Lucius comentou dessa vez bem mais conivente, quase como se estivesse... vencido. "Mas, indo direto ao ponto, o que diabos vocês querem? Além de nos proteger com sua bondade infinita, é claro."

Kingsley ignorou o veneno do comentário. "Precisamos de armas que possamos usar contra eles. Provas efetivas do que eles fizeram, dos crimes cometidos, das atrocidades. Basicamente, precisamos que você ajude na investigação. Nada melhor do que ter alguém de dentro para conhecer os mecanismos, os meios pelos quais esses seguidores de Voldemort operam."

"Memórias?" Lucius perguntou resignado, como se já soubesse a resposta.

"Também gostaríamos de usá-las." Shacklebolt concordou. "São as provas perfeitas e, tendo-as em mãos, nosso trabalho será apenas caçar esses Comensais e prendê-los com o amparo da lei."

"Por que se dar ao trabalho de reunir provas contra eles?" Draco arrastou sua pergunta para denotar a estupidez do comportamento deles. "Vocês já sabem o que eles fizeram. É só uma questão de pegá-los e-"

"E então o quê, Draco?" Kinsgley perguntou pela primeira vez perdendo um pouco da paciência. "Deveremos matá-los? Torturá-los até que digam que se arrependem? Ou trancafiá-los e jogar a chave fora?"

"É bem o que andaram fazendo os últimos vinte anos com as pessoas mandadas para Azkaban." Draco cruzou os braços numa postura desafiante, se lembrando da prisão do seu pai no seu sexto ano. Prisão que levou Draco a se comprometer a fazer o impossível, como uma punição para sua família.

"Essas pessoas foram julgadas e condenadas por um tribunal legítimo." Weasley o contrariou. "E é isso que pretendemos fazer novamente."

Shacklebolt balançou a cabeça vagarosamente, absorvendo e concordando com o Weasley-pai. "Qualquer coisa diferente disso, nos colocaria no mesmo nível das pessoas que combatemos. É isso é inadmissível."

Draco podia jurar que nunca entenderia a cabeça daquelas pessoas, quando sua mãe quebrou seu silêncio avaliador.

"O que você tem em mente para nos proteger, Sr. Shacklebolt?" Narcissa perguntou. "Claro, na hipótese de aceitarmos fazer o que você pede."

Então era aquilo que ela queria: segurança.

"Até que as redes das duas facções de Comensais seja desmantelada, você terá toda a proteção que o Ministério poderá dispor e Lucius terá sua liberdade. Depois, se obtivermos sucesso, a senhora terá sua vida e status restaurados."

"E com relação a Lucius e Draco?" Narcissa cruzou as mãos sobre a mesa numa linguagem corporal bastante óbvia: ela estava se preparando para uma batalha.

Shacklebolt hesitou um milésimo de segundo e Draco sentiu seu estômago afundar, antecipando o que viria. "Eles também devem prestar contas ao Wizengamot, senhora, mas terão a garantia de sobrevivência, longe de condições degradantes."

Lucius se empertigou como se uma corrente elétrica tivesse passado pelo seu corpo.

"Vocês sabem tão bem quanto eu que meu filho não fez nada de errado, além de ter se deixado influenciar pelas ideias do seu pai. Qual de vocês, senhores, deixou de cometer esse imensopecado?" Ele perguntou sem rodeios com sua voz gelada.

Kingsley e Weasley se remexeram desconfortáveis na cadeira e Potter ficou ainda mais deslocado, todos ali sabendo que ele não tivera um pai para seguir.

"Se Potter mesmo depôs a favor de Draco no fim da guerra!" Notadamente, Narcissa olhou para Harry, desafiando-o a contradizê-la. "Qual o sentido em voltar a acusar meu filho?"

"Eu depus a favor dele no que se refere a morde de Dumbledore, Sra. Malfoy." Harry explicou da forma mais gentil que podia, afinal, não era fácil passar por cima do fato de que ela havia salvado a sua vida na Batalha de Hogwarts. "Mas isso não o isenta do colar de opalas que quase matou Cátia Bell, da Maldição Imperius utilizada em Madame Rosmerta, do próprio ataque em Hogwarts, dentre outras coisas."

"Na atual conjuntura, seria um luxo deixar os crimes de Draco passarem impunes." Weasley completou. "Qualquer coisa será usada contra nós para instaurar o caos na sociedade."

Narcissa os olhou como se não estivesse acreditando em seus olhos.

"Vocês tem coragem de vir até nós com suas ameaças veladas e previsões sombrias, pedir por ajuda – ou melhor, nos coagir para que nós os ajudemos – dizendo que nossa maior recompensa será Lucius e Draco sendo enviados para uma prisão?" O jeito que ela colocava as coisas fazia com que Harry se sentisse muito estúpido.

"Não, Sra. Malfoy." Weasley negou com a cabeça. "Sua maior recompensa é viver sem ter que olhar pelo ombro a cada dois minutos, é não ter medo de dar as costas para qualquer pessoa. É o conhecimento de que os membros da sua família estão vivos e bem, apesar da privação da liberdade."

"Não, obrigada, senhores." Narcissa ergueu o queixo de maneira altiva e pelo jeito que Weasley e Potter desviaram o olhar fez Draco pensar que mesmo mais próxima da mendicância do que da realeza, sua mãe ainda conseguia intimidar pessoas poderosas. "Se acham que estamos no fundo do poço o suficiente para aceitar tais condições, pensem outra vez, por favor. Prefiro descer um pouco mais numa ladeira degradante do que compactuar com aqueles que querem prender meu marido e mutilar minha família."

"Vocês não nos dão escolha." Draco ouviu seu pai dizer, entrando novamente na conversa depois de muito tempo num silencio contemplativo.

"Sempre há uma escolha." Kingsley Shacklebolt reverberou com sua voz irritante "Estar entre os menos favorecidos, apesar de extremamente inusitado, não te faz ficar invisível, Lucius."

"As únicas pessoas que eu gostaria que fossem invisíveis, senhores, certamente não somos nós." Narcissa fez menção de se levantar, mais Lucius entrelaçou seus dedos nos dela e a puxou gentilmente de volta à cadeira.

"Eu também tenho minha condições." Ele disse por entre dentes cerrados, como se estivesse empurrando as palavras para fora da boca com muito esforço.

"Lucius!" Narcissa exclamou chocada.

"Por favor, Cissy." Lucius retrucou no tom mais suave que ele tinha empregado desde que sentara àquela mesa. "Temos que pensar em Draco."

Draco se assustou e estava prestes a dizer que concordava absolutamente com sua mãe, mas foi impedido por Kingsley.

"O que você tem em mente, Lucius?"

Lucius suspirou profundamente. "Para ajudá-los a... desmembrar o que resta dos Comensais do Lorde das Trevas, eu quero que Draco seja livre de qualquer acusação."

"Já dissemos que não podemos fazer concessões –" Weasley começou.

"Oh, poupe meus ouvidos, por favor!" Lucius rosnou. "Para vocês terem se dado ao trabalho de trazer as pessoas mais importantes da maldita Ordem para nos procurar significa que vocês estão em uma situação tão difícil quanto a nossa. Talvez não tão desconfortável, mas igualmente nada promissora. A questão é que vocês precisam de nós. E só vão conseguir o que querem se protegerem Narcissa e Draco depois que tudo isso acabar, se eu for mesmo preso. Isso inclui devolver cada centavo que está nos nossos cofres e que foram confiscados pelo Ministério depois que desaparecemos, nossa casa e a liberdade deles."

"Pai, eu-" Draco tentou dizer que nunca iria permitir que seu pai se entregasse para que ele ficasse livre, mas não pôde completar.

"E quero total e irrestrita proteção até que terminemos nosso acordo." Lucius completou sem dar atenção a Draco.

Kingsley assentiu. "Vamos mandá-los para viver no Continente e nos veremos semanalmente, para coletar informações e também para fornecermos o que estivermos recebendo de dados. Estarão bem vivendo numa vila bruxa miscigenada."

"Não." Lucius foi firme ao negar.

"Devo deduzir que essa hesitação seja por viver entre mestiços?" Shacklebolt cruzou os braços como se estivesse achando graça da reação de Lucius. "Acredite, estarão melhor lá do que estão aqui."

"Eu e Narcissa podemos ir para esse lugar." Lucius respondeu, tentando ser mais didático. "O que eu quis dizer é que não é bom o suficiente para Draco."

Draco não objetou, mas não pode evitar o sentimento conflitante de 'não, não é bom o suficiente para mim' e ' está louco? Qualquer coisa é melhor do que viver em espeluncas no lado mais baixo da sociedade bruxa', mas sabiamente decidiu ficar quieto.

"Se importa de explicar?" Kingsley se inclinou para frente, visivelmente curioso.

"Draco é principal alvo dessas facções." Lucius explicou como se aquilo devesse ser muito óbvio para todos. "Eles sabem que, para me atingir, devem tirar o que eu mais amo no mundo. Seus alvos serão Narcissa e, notadamente, Draco. Com Narcissa ao meu lado, não posso me dar ao luxo de arriscar ter Draco no mesmo lugar. Como Draco já é muito capaz cuidar de si mesmo sem supervisão, eu ficaria mais confortável se tivesse Narcissa comigo, para protegê-la da maneira que achar mais conveniente."

"Não quer colocar todos seus ovos de dragão no mesmo cesto." Weasley comentou com algum ar de simpatia, como se ele não pudesse levantar objeções contra um homem que protege a família a todo custo.

"Sim." Lucius respondeu simplesmente.

Narcissa se empertigou, mas, no fundo, Draco percebeu como ela havia ficado lisonjeada com o gesto protetor de Lucius com relação a ela. "Também sei me defender tão bem quanto você ou Draco, Lucius." Ela disse sem demonstrar nada na voz, mas passando seus dedos levemente sobre os nódulos da mão do marido. "Entretanto, concordo com seu ponto. Draco é o que nos é mais caro e o que mais deve ser protegido."

Aproveitando momento de cumplicidade e a guarda mais baixa dos Malfoy mais velhos, Kingsley assentiu vivamente, no gesto mais ágil que Draco o vira fazer desde o começo daquela conversa. "Temos um acordo então. Você tem minha palavra de que Narcissa e Draco estarão protegidos por agora e que, quando tudo isso terminar, eles terão suas liberdades e propriedades de volta, sem burocracia, sem obstáculos da nossa parte."

E meu pai vai para prisão!, Draco pensou contrariado. Não podia deixar isso acontecer. Ele se inclinou no banco para objetar frente a frente com os idiotas diante dele, mas Lucius colocou a mão sobre seu peito suavemente. "Filho, não."

Draco o olhou surpreso por seu pai ter lido seus pensamentos quando Shacklebolt voltou a falar, como se estivesse pensando em voz alta. "O ideal é que ele viva num lugar onde ninguém pensará em procurá-lo, onde nem mesmo seus pais tiveram coragem de ir, mesmo vivendo numa situação quase impossível."

"Podemos, talvez, averiguarmos a possibilidade de que ele viva junto com..." Weasley parou por um momento, visivelmente pensando em como amenizar suas palavras. "...trouxas?"

Draco quase teve que buscar seu queixo ao pé da mesa, tamanho seu espanto. Lucius se remexeu desconfortável e Narcissa parecia uma estátua de tão rígida no seu assento.

"Entre os trouxas...?" Draco perguntou incrédulo. "Mas, mas-" Ele não sabia o que dizer, não sabia como apontar as milhares de formas pelas quais aquilo era tão errado. Resolveu se agarrar aquilo que lhe pareceu mais racional. "Como vou viver entre os trouxas, sem sequer ter proteção adicional?"

"Poderíamos designar alguém para protegê-lo enquanto não conseguimos desmantelar as redes dos comensais." Weasley sugeriu.

"Não podemos dispor de uma pessoa para uma tarefa assim, vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana." Shacklebolt objetou. "Precisamos da nossa máxima força para lidar com a guerra que está por vir."

"Eu não me importo com qual ser insuportável vocês escolherão para ajudar na escolta do meu filho ou qual será o operacional da coisa toda, contanto que, no fim das contas, Draco esteja tão protegido quanto for possível." Lucius ofereceu e as palavras não tiveram um efeito tranquilizante em Draco.

Foi então que ele olhou para Potter e viu como aqueles odiosos olhos verdes estavam postos sobre ele, como se estivessem maquinando algum plano, fazendo cálculos. E, se por si só aquilo já era irritante, a sensação só piorava quando Draco sabia que Potter estava pensando com relação ao seu futuro.

"Eu acho que tenho uma ideia." Harry disse passando as mãos no cabelo nervosamente e Draco teve a impressão de que Potter não iria gostar de nada daquilo que sairia da sua boca, muito provavelmente na mesma proporção em que Draco não gostaria.

Então, ele se deu conta de que era como se um feitiço Incarcerous tivesse sido lançado sobre ele. Quase podia sentir cordas invisíveis se entrelaçando em suas pernas, braços, abdômen. Cordas geladas que o amarravam a uma situação que ele não queria e temia.

De repente, Draco Malfoy voltou a se dar conta que fazia um frio dos demônios.


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