Na linha do tempo escrita por Fantasius


Capítulo 2
Ano 1500


Notas iniciais do capítulo

O universo no qual a história se passa começa a tomar forma.



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Joseph e Adam ficaram apenas cinco horas fora. E por sorte, ou azar, voltaram exatamente seis horas depois, encontrando assim Londres destruída e dominada. Não era um cenário bonito de se ver. A fumaça tornava o ar pesado e doloroso de ser respirado. Os gritos distantes faziam a cidade parecer um inferno.

– Doutor? – Joseph tremia – O que aconteceu aqui?

– Alguma civilização avançada chegou e dominou o lugar, aparentemente.

– Aliens?

– Talvez... – o senhor se dirigiu ao carro – Vamos dar uma passeada pela cidade. Se formos atacados eu acelero e nos levo ao passado.

Avançaram lentamente, observando todo o panorama apocalíptico de Londres. O cheiro de sangue estava impregnado no ar. Os gritos pareciam mais próximos. O centro da cidade estava quase todo destruído, tornando a passagem difícil. Fizeram uma curva e entraram numa rua paralela, onde o estrago não havia sido grande. Chegaram à avenida principal novamente. Havia uma grande pirâmide de arquitetura Maia no meio da rua. O cheiro de sangue era muito mais forte ali. Uma fila de pessoas entrava lentamente dentro do lugar. Nas calçadas estavam enfileirados, lado a lado, centenas de soldados vestidos de branco.

– Joseph – Adam sussurrou – Estão matando as pessoas ali dentro.

– O que é isso? Nunca vi essa merda em Londres.

– São Maias...

A fila andou. A porta da pirâmide se fechou. Todos que sobraram foram fuzilados, caindo como sacos no chão. Uma mulher sentada nas ruínas gritou e correu em direção a um dos soldados. O homem atirou na perna da moça, que caiu no chão.

– Bem vindo ao Regime da Nova Ordem Mundial – e atirou na testa dela – Vermes não serão aceitos.

Os soldados por todos os lados bateram os pés no chão e começaram a marchar em direção à pirâmide. Doutor Taylor se agitou dentro da Kombi.

– Maias e Nova Ordem? – olhou fascinado para Joseph – Fique aqui, eu já venho.

Antes que o jovem pudesse falar algo o homem saltou do carro e avançou, de braços levantados, gritando na avenida:

– Hey, eu e meu amigo estamos vivos! Gostaríamos muito de ingressar em sua pirâmide!

Felizmente nenhum tiro acertou o velho, fazendo ele apenas parar. O soldado que matou a mulher se aproximou de Adam e o encarou.

– Como? – e então gritou – COMO? Todos ou estão mortos ou dentro de Pirâmides. E você está ai fora, circulando de carro.

– Na verdade eu estava viajando no tempo, cheguei recentemente...

Foi cortado pelo soldado.

– Viajante do tempo – algemou o velho – Agora se puder me acompanhar... – se virou para os soldados – Peguem o outro.

Joseph não hesitou. Pisou no acelerador e avançou contra os soldados que vinham em sua direção. Não fazia idéia de como ativar a viagem no tempo, então apertou aleatoriamente os botões do painel. Quando achou que estava perdido sentiu o carro acelerar numa velocidade incrível. Um soldado levantou a arma e atirou contra o vidro, acertando Joseph e quebrando o vidro. O menino fechou os olhos e rezou para qualquer Deus que pudesse ouvi-lo: Por favor, me leve para algum lugar seguro. Joseph foi invadido por uma dor dilacerante que tomou conta do corpo. Abriu os olhos e olhou pelo redemoinho de flashes. Via claramente milhares de Josephs caminhando ao redor do carro. Após alguns passos todos envelheciam e morriam e iniciavam um novo ciclo. O garoto não raciocinava mais. A dor no ombro era muita. Sua pele queimava. Nada daquilo fazia sentido. Joseph fechou os olhos e desmaiou.

Acordou em 1525, numa cama quente. Passou a mão no rosto e sentiu uma barba que não era dele. Seu corpo doía muito, como de um velho. Joseph ainda não sabia, mas estava dez anos mais velho. Olhou para os lados e viu que se encontrava em um pequeno quarto de uma casa de madeira. O sol entrava tímido pela janela e feria os olhos do viajante. Tentou se levantar, porém suas pernas não agüentaram o peso de seu corpo, fazendo-o ir ao chão num estrondo. Em algum cômodo ao lado ouviu o barulho de passos. Seria então aquele o fim?

Na porta surgiu uma moça de estatura média e cabelos castanhos. Seu rosto era de feições suaves e belas. Ela parecia familiar. Olhou para Joseph caído no chão com benevolência e se dirigiu a ele, ajudando-o a levantar.

– Que bom que o senhor acordou – seu tom era cortês – Devia ter chamado por ajuda em vez de ter tentado se levantar.

– Onde eu estou? – Joseph olhou para a garota que o ajudava a se levantar e se sentar na cama – Que ano é? Aonde esta a Kombi que eu vim?

– Então o nome daquele veículo mágico é Kombi – ela sorriu – Escondi aquilo nos estábulos, cobri com feno, se aquilo for visto irá trazer muitos problemas – ela se sentou ao lado dele – Você está num vilarejo próximo a Londres e bem... Não é ensinado a uma moça esse tipo de coisa de anos e datas...

Joseph se sentiu constrangido. Supôs que estava na idade média e aquele lance de viagem no tempo realmente funcionava. Ficou em silêncio para reformular suas idéias. Doutor Taylor fora capturado no futuro. Ele estava em algo próximo a 1500. As coisas não podiam ser melhores.

– Eu me chamo Mira Evans, e você?

De certa forma o nome da jovem não era estranho, com se tivesse sido ouvido recentemente em outro lugar.

– Joseph Ross...

Um silêncio constrangedor pairou no quarto e foi quebrado pela jovem.

– Você... É um bruxo?

Os olhos da menina estavam cheios de lágrimas.

– Na verdade eu não sei o que eu sou – Joseph olhou para fora da janela, como se esperasse que as nuvens lhe mostrassem a resposta – E de qualquer forma você não acreditaria.

Novamente o silêncio.

– Eu vou preparar o jantar – Mira se levantou – Vou deixar o senhor descansar.

Joseph não queria descansar. Joseph queria sair daquela cama e se olhar em um espelho. Aquela barba não devia estar ali, muito menos àquelas dores no corpo. E definitivamente aquele cheiro de velho não o pertencia.

Repassou todos os acontecimentos recentes em sua mente. Seu cachorro morreu. Viajou no tempo. Voltou e encontrou sua cidade destruída e dominada. Viajou um pouco mais. Estava velho. Preso numa cama.

A vida de Joseph era realmente uma sucessão de merdas.

Resolveu dormir. Mas seu desejo era não acordar jamais.

Acordou e já estava escuro. Tinha alguém mais no quarto, mas na escuridão não podia ser visto. Alguém caminhava nas trevas na direção do homem deitado. Joseph ouviu com atenção. Eram passos pesados e algo neles parecia pressagio de morte. O ar estava frio como numa noite de inverno. As estrelas que podiam ser vistas pela janela pareciam mortas. O mundo parecia morto. Uma mão gelada e mortal pousou sobre o pescoço de Joseph. Um grito tentou escapar de sua boca, mas foi interrompido por outra mão forte. “Que merda é essa?” era o único pensamento que passava pela mente dele. A mão em sua garganta começou a apertar, e logo o ar começou a faltar.

– Eis me aqui – uma voz rouca sussurrou nas trevas – O Vigilante.

Quando Joseph achou que tudo estava perdido as mãos se afrouxaram. Mira entrou no quarto com uma vela em mãos. O mundo pareceu se iluminar com a luz da chama. O homem respirava com dificuldade. Olhou para os lados, não havia ninguém ali. Apenas a moça, encarando-o na meia luz.

– Tudo bem? Eu vim te acordar para tomar café.

O homem olhou para fora. O sol nascia gélido, tingindo o céu de rosa, vermelho e azul. Joseph nunca vira o espetáculo do amanhecer lúcido. Sorriu e com a ajuda de Mira se levantou e andou até a cozinha.

Passaram-se quatro dias para que Joseph conseguisse andar sem a ajuda da jovem, que agora já o olhava com menos desconfiança. O reflexo no espelho não pertencia a Joseph. A barba que crescia farta pela sua face não era dele. Nem as rugas. Nem os olhos que pareciam ter visto o milagre do nascimento e a dádiva da morte.

Numa manhã andou até o estábulo, onde a Kombi estava escondida. Antes de tirar o pano que cobria o veiculo rezou a qualquer Deus que pudesse ouvi-lo para que não tivesse sido danificada a fim de voltar para seu tempo. Para sua casa. “Que casa?”

Exceto pelo para brisa quebrado devido ao tiro que recebeu e a lataria um pouco arranhada tudo estava em ordem. No interior os painéis estavam inteiros, não que Joseph entendesse. Poderia voltar para Londres. Quem sabe uns anos antes de tudo aquilo acontecer. Ou mais para frente no futuro. Olhou para o céu da idade média. Tão azul e puro, imaculado da destruição que a raça humana iria fazer no futuro. Talvez não devesse voltar.

Pelo menos não agora.

Mira aceitou a decisão de Joseph com alegria. Pela primeira vez na vida os dois estavam tendo uma vida boa. Os problemas pareciam fazer parte de uma vida que nunca pertencera a eles. Numa tarde antes do sol se por, a jovem contara um pouco de sua história para o homem. Sua mãe morreu no parto dela, deixando-a aos cuidados de seu pai. Cinco anos atrás seu pai saiu numa manhã de outono e nunca voltou. Provavelmente havia sido morto ou simplesmente fugiu para longe. Mira ficou ali e prometeu a si mesma que nunca iria desistir. Levava a vida como se nada tivesse acontecido, dizia aos outros na cidade que seu pai estava muito doente, para evitar perguntas indesejadas.

Joseph também contou um pouco de sua vida. Falou sobre sua infância, sobre sua fuga para Londres. Suas experiências com drogas. Contou sobre a viajem anterior, omitindo apenas a parte que se deitou com Marie. E por fim disse que quando voltou para seu tempo, encontrou tudo destruído e dominado por uma possível raça superior.

Foi também nessa noite que Joseph por fim beijou Mira.

O homem resolveu respeitar os votos da garota de se manter pura até o casamento. Não que ele tivesse planos de viver eternamente na idade média, sem drogas e fazendo sexo apenas para reprodução. Porém estava cogitando a idéia. Aquele lugar era o único lugar seguro. O único lugar que tudo parecia estar bem.

Os dias transcorriam em uma tranqüilidade imensa. Acordavam cedo. Limpavam a casa. Cuidavam do campo. Às vezes iam até a cidade. Iam à igreja. Faziam tudo que um camponês da idade média devia fazer. Exceto morar juntos antes do casamento. Foi ai que começou a desgraça da vida perfeita de Joseph e Mira.

Numa manhã, na qual estavam sentados na varanda da casa, avistaram um grupo, portando a bandeira do reino unido, vindo a cavalo na direção deles. Era a primeira vez desde que Joseph surgira que recebiam visitas. O homem sentiu a pele de Mira esfriar.

– Joseph, não fale nada daquelas suas loucuras do futuro, por favor – os olhos da moça estavam cheios de lágrimas – Irei dizer a eles que você é meu primo. Entre, por favor.

Joseph entrou sem questionar. Algo em sua mente sabia que aquilo era o certo a fazer. Passaram-se alguns minutos. Os cavalos se distanciaram a galope. Mira entrou chorando e abraçou Joseph, que não questionou o motivo das lágrimas. Ficaram ali abraçados por um longo tempo.

– Oh Joseph – soluçou – Alguém na cidade... Fui acusada... – mais lágrimas riscaram o rosto da jovem – Bruxaria... Assassinato... Mas eu juro que eu não matei meu pai – soluçou novamente – Vou ser queimada em alguma fogueira. Oh Joseph, por favor, vá embora, não quero que isso aconteça com você. Vá para longe.

Ele não sabia o que falar. Tudo desmoronou novamente. Talvez estivesse fadado a perder tudo que amava. Tobi. Londres. Mira.

Não dormiu naquela noite. Não podia deixar aquilo acontecer. Não podia entregar Mira para ser queimada como bruxa. A idéia veio num repente. Correu até o quarto dela e se pôs a cutucá-la.

– Mira, acorda – balançou ela – acorda!

A menina abriu os olhos e pulou. Olhou para Joseph parado ali, sorrindo. Talvez tivesse enlouquecido de vez.

– Joseph, achei que tinham vindo me buscar.

– Não vieram – ele sorriu - Nem vão vir.

Puxou sua amada pela mão e saiu correndo com ela pela porta da frente. A lua iluminava o caminho até o estábulo.

– Joseph! Para! Onde você pensa que esta indo?

– Te salvar!

As estrelas pareciam sorrir, aprovando a ação dele.

Abriu o estábulo e mandou a menina entrar na Kombi. Ela entrou e começou a questionar novamente.

– Joseph? O que é tudo isso? Não quero andar nessa porcaria – ela olhou para fora – Estou sendo acusada de bruxaria, não irei andar no seu veiculo de bruxo... – algo pairou na mente dela – Veiculo de bruxo. A culpa é sua – sussurrou – Alguém viu essa porcaria! Achou que me pertencia!

– Fica quieta Mira – Joseph se sentou no banco do piloto – Não sou bruxo, já disse – olhou com firmeza para ela – Eu disse que minha casa estava destruída, mas lá talvez seja mais seguro que aqui. Não vou deixar que te destruam.

Os olhos de Mira se encheram de lágrimas. Era a primeira vez que alguém provava que a amava. Mesmo que ele fosse um bruxo, ele a amava e estava tentando levá-la para longe das fogueiras da inquisição.

Joseph puxou com firmeza várias alavancas, apertou botões, ajustou o calendário para 19/02/1985 e o relógio para 03h21min. Parecia saber o que estava fazendo, porém só estava imitando gestos que se lembrava de doutor Taylor fazendo. Segurou a mão de Mira com força e pisou no acelerador.

As estrelas rodopiaram. A lua pareceu descer e colidir com eles. Mergulharam num vórtice de flashes e cores. Mira fechou os olhos e retribuiu o aperto. Joseph notou que uma poeira entrava pela rachadura no para brisa e se acoplava neles, talvez isso o tivesse envelhecido. Pelo visto não era tão seguro assim viajar no tempo. Tirou sua camisa e a segurou contra o vidro, tampando o buraco. Esperou que isso funcionasse. A viagem pareceu demorar por muito tempo. E tão súbita como começou, parou.

A Kombi quicou por alguns metros, até que Joseph conseguisse freiar. Olhou para fora. Estava novamente naquele cenário apocalíptico de Londres destruída. Os incêndios eram menores, porém a fumaça no céu não. Pirâmides Maias planavam sobre o céu, tal como não deviam fazer. Olhou para Mira, ela estava de olhos fechados, tremendo, exceto por isso estava bem, não havia envelhecido nem rejuvenescido. A camisa, que agora se encontrava queimada e se desfazendo, pelo visto servira para seu propósito.

– Desculpa te trazer aqui – o tom da voz do homem era meigo – Mas, por favor, abra os olhos meu amor.

Seria certo chamar alguém que morreu a centenas de anos de “Meu amor”? Mira abriu os olhos lentamente e olhou tudo destruído ao seu redor.

– O que você fez? – tinha uma ponta de medo e coragem na voz dela – Você destruiu tudo?

– Eu te trouxe para o meu tempo.

Joseph desativou tudo e pisou no acelerador. Começaram a andar como um veiculo normal. Cruzaram as ruas destroçadas de Londres com medo de serem atacados. As pirâmides voadoras cintilavam como estrelas no céu encoberto de fumaça.

– Joseph o que aconteceu aqui?

– Eu adoraria saber Mira. Eu voltei no tempo e quando doutor Taylor me trouxe de volta estava tudo assim.

Um silêncio constrangedor caiu sobre os dois. “Que merda estou fazendo?” pensou Joseph “Por que eu trouxe ela pra esse lugar destroçado? Podia levá-la para ainda mais no futuro, quem sabe tudo tivesse sido restaurado. Ou apenas alguns anos pra frente de 1500. Como fui trouxa.”

– Me desculpa Mira – socou o volante – Eu não devia ter te trazido aqui. Vamos para outro lugar. Certo? Que tal 2070? Ou o ano 3000?

– Mas será que até lá tudo não teria apenas piorado?

– É um risco.

Joseph repetiu o processo das alavancas, botões, datas, horários e acelerou, jogando-os no vortex temporal. Rodopiaram por alguns segundos até que pararam. Nada havia mudado. Estavam ainda na Londres destruída. Provavelmente no mesmo dia. Porém cercados por vários homens altos mascarados e vestidos de branco apontando armas para eles.

– Desçam do veiculo – gritou um deles – Mãos para o alto.

Mira olhou suplicante para Joseph. Mas o que ele podia fazer perante todos aqueles caras armados? Pisou no acelerador. Avançaram por cima dos guardas que abriram fogo. Estilhaços de vidro caiam pra dentro. A mulher se escondia debaixo do painel frontal. Joseph continuava pilotando, porém sem enxergar para onde os guiava. Pelo retrovisor viu que uma grande bola de chamas os perseguia. Sentiu o calor os envolver. Havia tirado Mira da idade média para que não fosse queimada e a trouxe para um futuro apocalíptico para morrer queimada. Virou o volante para a esquerda, saindo das chamas. Estava coberto de cinzas e seu peito já contava com algumas queimaduras. Freiou, não havia como fugir.

– Perdão Mira – Joseph se inclinou e a beijou – Eu só queria ajudar.

Os guardas seguraram o veiculo novamente.

– Não vamos pedir de novo! Saiam!

Joseph abriu a porta e saiu puxando Mira. Tentar escapar da morte não pareceu uma escolha naquele momento. A morte parecia não gostar de ser contrariada.

– Viajantes do tempo clandestinos – um soldado deu um passo à frente – Tenho nojo de vocês! – ele encarou Joseph – E você pelo visto e aquele garoto que me atropelou ontem. Envelheceu um pouco?

– Que pena que você não morreu – teria ele enlouquecido? – O que você fez com o Doutor Taylor.

Todos os soldados riram.

– Aquele homem ridículo? – o comandante apontou para cima – Está lá em cima, naquela pirâmide – ele olhou para Mira que tremia grudada em Joseph – Pelo visto arrumou uma namoradinha do passado. Hei garota, sabe o que acontece com viajantes ilegais? – a arma dançou na mão dele – Eles morrem.

Joseph soltou a menina e pulou sobre o comandante desferindo-lhe um chute no estômago. Primeiro ele ouviu o grito de sua amada. Depois os tiros. Por fim a dor e a escuridão.

O chão era gelado.

Sabia que seus olhos estavam abertos, porém a escuridão era intensa. Seu corpo inteiro doía. Sentia o lugar que os tiros acertaram queimando. Onde estava agora?

– Mira? – implorou para a escuridão – Mira? – chamou mais uma vez – Mira?

Nada. Amaldiçoou todos os deuses e se sentou no chão. As feridas arderam e uma lágrima silenciosa escapou. A porta abriu e uma luz morta invadiu o recinto ferindo os olhos do homem.

– Sério que vocês humanos demoram tanto tempo para se recuperarem? – Joseph reconheceu a voz, era o comandante que ele havia atacado - Ponha-se de pé! O Sacerdote quer te ver.

Não eram todos os humanos que demoravam em se recuperar, porém Joseph nunca fora o mais forte dos humanos. No entanto ele tentou não demonstrar fraqueza perante o homem mascarado. Apoiou-se na parede e saiu cambaleando atrás dele. Andaram por um longo e iluminado corredor de ferro. Aquele lugar era um labirinto. Nunca iria achar a saída dali, mesmo em perfeito estado de saúde e sem ninguém o perseguindo. Começaram a subir uma escadaria aparentemente muito longa. “Que tamanho tem esse lugar?”. Tropeçou, mas não se deu ao luxo de cair.

A subida pareceu demorar varias horas, embora tenham se passado apenas 3 minutos. Saíram em fim para fora daquele labirinto. O céu parecia estar nublado, no entanto era fumaça decorrente de vários incêndios. O vento soprou os cabelos de Joseph. Quando que eles cresceram tanto? Notou então que estava em uma daquelas pirâmides voadoras. Um pouco a frente havia um trono elevado, onde um senhor mascarado se sentava. Aos pés dele se encontrava Mira, visivelmente pálida e fraca; e Doutor Taylor, com um olhar furioso.

– Chegou o ultimo desintegrado. Pois bem, eu sou o Sacerdote – a voz do Sacerdote era grave e respeitosa – Vocês três burlaram a lei de viagem temporal. Porém analisei o histórico de vossa... errr... Máquina do tempo, e constatei que estavam fora enquanto instalávamos nosso regime. Então peço perdão pelo inconivente de terem sidos capturados, agredidos e a fins, por meus soldados – ele sinalizou com a mão o horizonte – Nosso Regime só visa trazer a paz e a prosperidade para vocês humanos. Porém aceitar e necessário.

Guardas entraram por onde Joseph havia entrado e cercaram todo o pátio, permanecendo ali como estatuas silenciosas.

– Meus soldados obedecem a ordens de qualquer um – o Sacerdote bateu palmas – Contanto que quem lhe dê ordens seja uma pessoa de bem, eles irão manter a paz e a prosperidade no mundo novo. Observem - ele se virou para os homens – Cada um, atire no homem ao seu lado. Se matem.

Em questão de segundos cada um dos soldados apontava a arma para o homem ao seu lado. Puxaram o gatilho. Sangue voou para todos os lados, sujando o pátio. Eles despencaram como sacos de areia vazios. O Sacerdote voltou a falar, porém um pouco mais triste.

– Infelizmente o mundo não é mais puro e eles não iriam obedecer ninguém. Como podem ver, não fomos aceitos em seu mundo também. Por isso tudo isso com suas cidades. Peço perdão, não ira se repetir – ele se levantou – Todos que nos aceitaram serão reintegrados as suas cidades e serão reeducados para que a paz permaneça – assumiu então um tom sério – Eu irei relevar dessa vez os crimes de vocês. Principalmente o seu Joseph Ross, trazer garotas de outros tempos para habitar o seu tempo. Serão reintegrados e reeducados. Doutor Taylor irá receber sua Kombi de volta, intacta, exceto que tiramos os módulos de viajem temporal dela.

O Sacerdote olhou para o rosto de cada um deles ali e se sentou no trono de novo.

– Espero que não tentem fazer mais nada. Agora se puderem acompanhar o Comandante ele irá levar vocês a pequenas naves que ira devolve-los a civilização.

Mira se levantou e correu para Joseph, o abraçou com força. Como era reconfortante no meio de tudo aquilo o abraço da menina. Doutor Taylor passou pelos dois sem se quer olhar na cara do menino. Não podia culpar ele, a propósito não é todo dia que você é abandonado num apocalipse e sua máquina do tempo é roubada.

Acompanharam o comandante por mais uma infinidade de corredor até chegar a uma sala com varias cápsulas.

– Espero que os senhores consigam se reintegrar, qualquer tentativa de abandonar a cidade será interpretada como uma atitude hostil – ele sinalizou para uma cápsula maior, onde a Kombi estava- Por favor, entrem ali.

Obedeceram sem questionar, andando em silêncio. O comandante abaixou uma alavanca e eles despencaram da pirâmide. Era uma sensação diferente. Eram puxados para baixo numa velocidade fascinante, mas seus corpos permaneciam parados no lugar. Joseph achou que se colidissem contra o chão na velocidade que estavam iriam morrer.

Não morreram.

Infelizmente.

A cápsula caiu no meio de uma rua, destruindo tudo ao redor; pelo visto a Nova Ordem não prezava no momento pelo bem estar das cidades. A porta se abriu e a luz invadiu o cubículo.

– Muito bem Joseph – Taylor estava incrivelmente calmo – Ótimo. Você me abandona aqui. Volta. É capturado. E minha máquina é destruída. Muito bem Joseph.

Joseph abaixou a cabeça. O velho tinha razão.

– Não tenho mais 17 anos para ficar apanhando de soldados brutamontes – prosseguiu ele – E você também parece ter envelhecido uns dez anos.

– O que vamos fazer agora? – perguntou Joseph – Não podemos sair da cidade, tudo que nós sobra é ficar aqui.

– Isso é tudo que sobra pra você Joseph – o senhor entrou na Kombi – Eu tenho todo o tempo para ir.

– Eles destruíram sua máquina!

Doutor Adam sorriu, pelo visto tinha uma carta na manga.

– Saia daqui Joseph

Mira puxou o braço dele. No fundo de seus olhos o medo podia ser visto. Tirada de seu tempo e trazida a um mundo destruído, Joseph não podia julgá-la por temer.

– Doutor, você vai nos abandonar aqui?

– Foi exatamente o que você fez Joseph.

O motor da Kombi roncou e o veículo começou a se mover, acelerando lentamente, até que num flash desapareceu no ar.

Joseph já achava o universo injusto. Agora, no entanto pode ver que tudo que ele pensara sobre as injustiças estavam erradas. O universo era muito justo, até de mais. Saiu da cabine e se sentou nas ruínas, junto de sua amada. Tudo que podiam fazer agora era aceitar aquele mundo destruído e dominado.


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Notas finais do capítulo

Até a próxima.



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