-Depois de três meses longe de casa, eu estava de volta. Era uma citação reconfortante, pelo que eu me lembro, porem não totalmente. Esse tempo, pelo que diziam, teria me ajudado a me tornar um pessoa melhor, mas eu temia que isso não fosse realmente verdade. Da para sentir sabe, quando as coisas então erradas, por mais certas que elas estejam. Claro que eu me sentia renovado. Quer dizer, eu me sentia “fresh”, de acordo com as gírias americanas... você me entende? Bom sei lá, eu estava muito mal. No meu caminho de casa havia gente me julgando, e noticias de jornais ainda apontavam com letras bem grandes que o herói Flecha havia matado sua mulher. Mas era mentira. Eu nunca faria isso com ela e você sabe! Ahrg, desculpe, esse soco no ar acabou quebrando sua prateleira... pagarei por ela depois, mas preciso prosseguir. Eu cheguei em casa e tranquei a porta... algo estava me incomodando... eu ainda sinto isso. As vezes essa sensação volta... sei lá, ainda me sinto culpada por tudo, independentemente de não ser verdade. Eu ainda tenho aquela sensação de culpa dentro de mim... eu sei que sou normal, mas mesmo com meus adereços naturais, como meus poderes, continuo sendo humano, eu também erro. Estou chorando, eu também erro... estou indeciso. Eu liguei o radio na minha estação de musicas favorita. Eu estava pensando nela. A musica estourava na minha cabeça, como eu as vezes sinto que ela faz mesmo que seja inexistente. Eu nunca havia escutado um silencio tão alto como aquele! Era tudo como é, tudo tão injusto! Claro, que me chamo flecha, filho do senhor incrível e da mulher elástico, não posso ser assim, como sou agora, mas não consigo evitar! Eu não consigo. Ela estava pegando fogo, sua pele, seu cabelo, começaram a queimar, do nada! Era horrível, eu tentei toca-la, e então tudo explodiu. Eu acordei... ela estava ali... mas você sabe que além da velocidade desenvolvi meus poderes de clarividência... estou com medo... eu não aguentaria perde-la...

-escute, se o que você esta dizendo, sobre a clarividência e tudo... se isso é real, acho que é inevitável que você apenas espere por esse momento. Sou apenas um psicólogo, não tenho nada para fazer além de pedir para que se conforme com a situação... ou você poderia deixar Hillary, acho que assim, talvez, esse momento não aconteceria, afinal, vocês não estariam mais juntos...

***

“Querida Hillary,

estive pensando... bom, eu fui para o psicólogo e tudo. Ele me disse uma coisa. Ele me disse ‘ou você poderia deixar Hillary’. Meu deus, me senti tão mal nesse momento... eu te amo tanto Hillary. A um tempo atrás tive um sonho. Na verdade foi um pesadelo, onde eu te perdia... eu sofri tanto, antes, durante, depois, você queimava... Hillary, eu perdi o tempo, o ar, o sentido de vida, eu perdi tudo pois eu perdi você.

Eu não quero admitir o real motivo desta carta, mas simplesmente quero que saiba que a amo, acima de todas as coisas desse mundo. Eu preferia não ter poderes, para não ter essa vida arriscada, assim não precisaria te deixar. Eu nunca resisti a ideia de te perder, e eu tenho medo que depois de tudo você se perca como eu fiz.

Me perdoe Hillary, por tudo. Dia a meus pais que eu os amo também. Vindo de você, acho que isso os magoaria menos. Isso tornaria tudo menos real. De um beijo em meu irmão e reconforte minha irmã. Nunca deixe-os, por favor.

Desculpe-me também por escrever tudo isso no computador. Tentei escrever uma carta, com a minha própria letra, mas infelizmente, chorei em todas as vezes que tentei. Eu sofro muito, sou muito sentimental e as vezes a vida me machuca de mais.

Hillary, eu te amo. Eu espero que você nunca tenha que perguntar para mim ‘você não se lembra o porque me deixou?’. Eu sei que me perguntaria isso nos momentos em que pensaria que eu fui em bora porque não te amava mais. Eu te amava. Eu te amo. Eu sempre te amei e sempre vou te amar. EU TE AMO MUITO em todas as variações de tempo desse verbo!

Beijos meu amor, te vejo em outra vida. Com tudo o que posso lhe oferecer,

Seu amado Flecha.”

Essa foi a carta encontrada no bolso do herói, que se matou algumas horas depois de sua consulta com aquele psicólogo. Perder Hillary seria tão insuportável que a morte lhe parece mais acolhedora do que a própria ideai de não ter mais a sua amada junto dele todas as noites em que ele não precisa de nada a não ser sua presença.

Mas, nem por um segundo ele pensou nela. Por nem um segundo se quer ele pensou no que ela teria que passar apos perde-lo completamente. Ela estava gravida. Pretendia dar a noticia a ele naquele dia. O bebe que estava dentro dela seria a sombra de todo aquele amor que ela perdera. Aquela criança seria assombrada pela carta suicida do pai, por mais que fosse linda, por mais que fosse de amor.

A menina cresceu linda. Hillary deu um jeito de fugir da imprensa, escondeu a carta, achou um homem que pudesse dizer que era o pai da menina, AnneMarry, com letras maiúsculas no meio de um nome só. Era assim que seu verdadeiro pai gostava, como Hillary, sem contar para Toby, escolheu para que fosse sua prova de amor a seu herói.

As vezes ela acordava com medo, ela tinha sonhos estranhos, sonhos de uma clarividente em desenvolvimento. Ela via seu pai, mas ela não entendia. Aquele homem não fazia parte da vida dela. Ela ouvia musicas atordoantes, lembrava de senários que nunca tinha visto. Era assim, tudo aquilo fazia parte de sua vida, como filha de alguém como aquele cara que fez sua mãe sofrer tanto, não pelo momento de sua morte, mas pelos momentos em que viveu. Uma noite ela sonhou com um poema, recitado por ele. Era como vente. E ele estava ali, para lembra-la de que as coisas não terminadas nos sonhos são apenas incentivos para acordamos para termina-las.

“ lembra-se daquele salgueiro, em que costumávamos rir

aquele em que eu te abraçava

aquele em que eu te vi

e pela primeira vez

me apaixonei profundamente

era um sonho

que eu vivia

enquanto acordado

feito para te contemplar

pois eu te amo

e sempre vou te amar

lembra-se daquele salgueiro, que foi herdeiro

de nossa felicidade

nossa paz

e da prosperidade

do nosso amor?

Eu acordei do sonho ao amanhecer

Para realizado

E assim poder dormir ao seu lado

Ao anoitecer

Então me espere e leve essa jura de amor

Ao lado esquerdo do peito

Para que então viva sem toda aquela dor

Lembra-se do salgueiro

Que você ainda não conheceu?

Ele esta te esperando, para que você também veja o amor

Abrace que ama

Se apaixone

Profundamente

E profundamente se apaixone novamente

Todos os dias

E sente-se naquele salgueiro,

Para enfim encontrar a felicidade

A paz

E a prosperidade

Não só em seus sonhos

Mas na realidade

Para todo sempre

Junto a ti vou estar

Como quando adormecer a luz do luar,

Minha pequena Hillary

Minha pequena Anne

Minha pequena amada

Para sempre vou te amar”

E assim foi, ele sempre as amou. Elas foram sempre a quem ele se lembrava, mesmo que não se lembrasse, pois agora estava no chão. Ele se foi quando pulou da janela e caiu no chão, deixando apenas as memorias da carta em que seu amor escondia as mais belas palavras, e as mais sinceras também.

Hillary morreu dia oito de Outubro, aos 97 anos, alguns apos seu marido Toby. AnneMary nunca percebeu seu dom. E aquelas agonias, que sempre a acompanhavam se tornaram naturais, mas ela sabia, de tudo. Sua mãe foi enterrada junto a seu verdadeiro amor, para que descansassem em paz. A criança, fruto de tão apaixonado amor teve gêmeos, batizados de Leyla a menina, e Kennedy o menino. Eles não tinham poderes. Essa geração havia morrido, e esses dons não seriam passados a diante em relação a família de AnneMary, mas essa era uma virtude que poucos conquistavam, e tampouco desejavam.

Assim, ao longo dos tempos, aquele amor se perdeu, e no dia em que o mundo virar pó, que a vida não existir mais, que o universo que conhecemos se contrair em um simples buraco negro, eles estarão lá, onde o passado, o presente e o futuro coexistem, esperando para reviverem, e aprenderem a amar como um dia fizeram.

E foi assim que tudo acabou, em pó. A terra deixou de existir, para assim, não haver outro final além da morte para essa estória que nunca poderia ter um final feliz, pois a sorte não estava a favor deles. Os amores jovens acabam assim, esquecidos como todos depois da ultima forma de vida deixar de existir, simplesmente por que não existem finais felizes, e as três palavras tão fáceis de falar, como eram “eu te amo” morreram junto a tudo, pois o recomeço seria diferente, e nessa nova vida todos poderiam ficar juntos, assim como dito no poema, que dava esperanças aqueles que como todos, que agora já estavam mortos um dia acreditaram.

Espero que você, que leu essa historia, de amor, medo, sofrimento e felicidade, em seus extremos e opostos, possa entender que isso vai acontecer. Desculpe, mas não posso fugir da realidade. Até lá, independentemente de quem você seja.