Eu tinha plena consciência de que me arrependeria depois. Senti a mão apertar levemente a minha antes de inspirar e cair inconsciente.

(...)

Abri meus olhos lentamente.

Só conseguia me lembrar de ter me afogado. De ter sido tirada de lá e de levantar dez vezes da cama para ir ao banheiro, jogar a água fora. E de todas as vezes, eu nem conseguia abrir totalmente os olhos. Porém, alguém estava ali, me ajudando.

Apoiei meus cotovelos na cama, um pouco zonza.

Olhei á alguns metros, vislumbrando um corpo de braços cruzados.
Jason.

– Até que enfim a bela adormecida acordou. - Sem dúvidas, Jason me pagaria mais tarde por ter me comparado.

Olhei-o novamente. Não era Jason, embora fosse bem parecido.

– O que você está fazendo aqui? - Perguntei. - Jason quem deveria estar, não você.

Asher coçou a nuca, veio na minha direção, parando ao lado da cama e me lançou um sorriso cínico.

– Você deveria agradecer, não é todos os dias que você quase morre. - Ele continuava com os braços cruzados, erguendo a sobrancelha.

Eu não entendia como sua voz podia ser tão parecida quanto á de Jason (só com um pouco mais de sarcasmo). Apesar dos olhos e o cabelo loiro, Asher era bem parecido com o irmão mais velho, e indiscutivelmente diferente dele.

Eram tão iguais, e no entanto, tão diferentes.

– Além do mais, Jason estava muito ocupado sendo acalmado por Darcey.

Não me leve a mal, mas seu noivo não tem nenhum pingo de consideração - Asher falava, com um sorriso malicioso.

– Eu não ligo para o que ele faz ou deixa de fazer.

– O problema é todo seu - Ele saiu de perto.

Parei para raciocinar.

– Quem me tirou da água? - Disse, preocupada.

– Eu - ele deu de ombros, enquanto observava a sacada.

Me levantei atônita. Quem ele pensava que era? Eu deveria agradecer por ele ter me tirado da água. Mas não. Não era ele quem deveria ter feito aquilo. Jason deveria estar lá. Não era ele quem também queria que aquela droga de casamento acabasse?

Resmunguei, indo pegar um roupão dentro do guarda-roupas. Senti-me observada por Asher, o que claramente me incomodou. Eu estava só com a roupa de piscina e não queria continuar daquele jeito.

Vesti o roupão e calcei um par de chinelos.

– O médico disse que você não pode ficar andando por ai, nem coma muito e etcetera, e etcetera.... - Asher falou, entediado.

Ouvimos batidas na porta. Caminhei lentamente até a mesma, e ao abri-la me deparei com Jason.

– O que você quer? - Perguntei, furiosa.

– Saber se você está bem - ele disse. - Além do mais, temos que fingir que nos preocupamos com o outro, certo? - Ele sussurou a última parte.

Por algum motivo, ouvir aquilo doeu.

– Estou bem. - Disse, entrando novamente no quarto, lhe dando as costas.

– Ok - ele me seguiu. - Você ainda está aqui? - Ele falou, erguendo as sobrancelhas. Asher deu um sorriso de canto.

– Era para você estar, mas já que sou o filho exemplar....

– Cala a boca e vaza - Jason foi direto.

– Já está com ciúmes? - Asher levantou os braços em rendição.

– Jamais.

Asher caminhou lentamente até a porta, esbarrando de propósito no ombro do irmão. Pelo curto momento em que estavam lado a lado, observei suas fisionomias. Se não fosse por pouquíssimas coisas, eles poderiam ser considerados gêmeos.

(...)

Madison e Elena, haviam me arrastado para a festa, após me entupir de perguntas e vitaminas e comida. Eu já estava bem melhor, um pouco traumatizada por causa da piscina, mas bem.

A maior parte dos jovens olhavam para mim. Se curiosidade matasse, eles estariam bem mortos.

Jason estava tentando ser menos insuportável e havia me deixado bem longe da água. No entanto, ele aproveitava, conversando não muito longe de mim, só para se assegurara que eu não "daria á louca" e saísse sem alguma "ajuda" de volta para meu quarto ou qualquer lugar que fosse.

Tinha quase certeza que ele só estava fazendo aquilo para manter a postura de bom namorado.

Somente Asher e eu sabíamos que aquelas piscadas bestas e beijos na bochecha, eram pura fachada.

– Como vai minha linda namorada? - Ele perguntou, se sentando ao meu lado e passando o braço redor do meu pescoço.

– Se você não tirar esse braço dai, você não estará vivo para ouvir a resposta. - Sussurei.

– Você sabe como ameaçar alguém - ele falou, tirando o braço rapidamente.

Não era uma verdade, mas também não era mentira. Quando eu queria, meu poder de persuasão podia se elevar bastante.

Como tinha guardado meu livro e celular no quarto, não tinha nada que pudesse fazer á não ser, observar os outros se divertindo.

– Porque não me disse, que não sabia nadar? - Jason perguntou, olhando para mim.

Olhei para ele e dei de ombros.

– Não achei que entraria na piscina. Ninguém precisava saber.

– Mas devia ter me avisado. - Ele falou, irritado.

– Não tenho que dar satisfações á você.

Ele murmurou algo, mas eu nem estava prestando atenção nele. O que me intrigava, era o fato dele não estar comigo e sim com Darcey:

" - Além do mais, Jason estava muito ocupado sendo acalmado por Darcey".

Eu estava curiosa. Embora não fosse da minha conta, eu sabia que, apesar de não termos nada, literalmente, ele pelo menos deveria me dizer. Era ele quem deveria ter me tirado de tirado da água (a palavra "salvado" era meio nostálgica para mim. Por isso evitava pensar ou falá-la. Me lembrava príncipes encantados e princesas indefesas).

Eu me lembrava muito bem que havia sido beijada. E não deveria ter sido Asher á fazer aquilo.

Balancei a cabeça.

Deixaria essa parte para depois.

(...)

Quando Jason me entregou meu celular, alegando ter o ouvido tocar, me senti extremamente feliz.

Liguei novamente para o número de antes. Até que ele fosse novamente atendido.

– Alô? - Sua voz demonstrava seu cansaço e que tinha acabado de acordar.

– Ethan? - Indaguei, feliz.

Nem perguntei se ele estava dormindo.

– Ad? - Ethan despertou. - È você mesmo?

– Existe outra Adly na sua vida por um acaso? - Brinquei.

– Desculpe não ter atendido antes.... Estava numa reunião.....

– Não precisa se desculpar, o problema sou eu. Queria que estivesse aqui. - Suspirei.

– Vi as notícias - ele disse.

Ficamos em silêncio por alguns segundos.

Ele não queria falar sobre meu "namoro". Nem eu. Ele pigarreou.

– E Nova Yorque, é tão fantástica quanto dizem? - Ele quebrou o gelo.

– Não fui para nenhum lugar em especial - respondi. - Em que reunião estava?

– Estava demorando para perguntar - rimos.

– Fala logo - apressei-o.

– Ok, ok. Lembra que meses atrás, recebi um convite para trabalhar NYPL (New York Public Library)?

– Na NYPL? Aquela biblioteca que você queria trabalhar, aqui? - Perguntei, ansiosa.

– Exatamente.

– E então? - Perguntei, sentindo meu coração parar.

– Fui aceito. - Ele disse. Sabia que ele estaria sorrindo naquele instante.

Dei um gritinho de empolgação, o que me surpreendeu (eu não costumava gritar daquele jeito). Trabalhar na NYPL era o maior sonho de Ethan. Ele era apaixonado por livros. Estava feliz por ele. E mais ainda por saber que ele estaria na mesma cidade que eu.

– E quando você vem? - Falei, sentindo meu coração bater mais rapidamente.

– Ainda tenho que resolver algumas coisas, porém, em breve, estarei aí.

Permiti que algumas lágrimas de felicidade caíssem discretamente.

– Você não tem ideia do quanto estou feliz, Ad. - Ele começou. - Acho que nunca, em toda a minha vida, tinha recebido uma notícia tão boa.

Voltamos a ficar em silêncio. Sinceramente, eu não tinha muito o que dizer. Só queria ouvir a voz dele; no entanto, o mais importante, era pedir perdão.

– Você me desculpa? - Falei, tímida.

– Pelo que?

– Naquele dia, quando eu fui embora. Não deveria ter brigado com você.

Ouvi ele suspirar.

– A culpa é toda minha, eu deveria ter sido compreensível. Mas não vamos pensar nisso, tudo bem? - Sorri.

– Vou fazer isso acabar, vamos ficar juntos de novo, eu prometo. - Falei.

– Eu sei, que mais ninguém além de você, deixa de cumprir suas promessas.

Saber que apesar de termos brigado, ainda mantínhamos nossa relação um tanto estranha, era reconfortante.

– Tenho que desligar, meu horário de descanso acabou, mas assim que puder, te ligo.

– Tudo bem.

– Até mais Ad. Te amo.

Queria poder ter dito a mesma coisa antes dele desligar o telefone. Mas a dúvida de saber se aquilo havia sido real, ainda martelava em minha mente. Ethan e eu poderíamos nos ver em breve.