Você sempre vive mais uma vez escrita por Smigle


Capítulo 1
Capítulo único




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Eu já deveria ter percebido o que não fazer mas todas as luzes parecem muito mais sedutoras. É excitante o modo como todos podem secar uma garrafa tão rápido e ainda assim nós pedimos por mais. Gosto tanto de saber que aquele momento é inconsequente, que tudo que importa são as risadas, as brincadeiras. São momento em que eu vejo que tudo pode estar bem uma hora.

O mundo é simples, as pessoas que costumam dificultar tudo. Dinheiro, profissão, preconceito, autoritarismo, moral, parece que tudo foi criado para impor uma regra sobre todos. Parece até que o objetivo de tudo e todos é estar sempre acima desse mesmo tudo e desse mesmo todo.

Mas existem momentos em que essas coisas não existem. Momentos perfeitos diga-se de passagem. É bom ficar grande, sentir toda uma grandeza percorrendo sobre você, mas que equipara-se com a mesma de todos os outros.

De repente aquele pequeno espaço passa a ser o nosso lar e criamos laços que parecem inabaláveis. Muita música ecoando com letras que nem ao menos consigo prestar atenção em entender, pois estou ocupado demais conversando ou assistindo alguém especial me encantar ao fazer alguma banalidade.

Nós não nascemos doentes, somos apenas incompreendidos até por nós mesmos. Nunca pensei que daria tanta risada em tão pouco tempo e isso faz todas as poucas horas serem infinitas. Não ligo para quem desaprova ou não, tudo já está perfeito e não há ninguém que possa estragar.

Apesar disso, posso ainda me decepcionar com o menor dos acontecimentos e quem era minha musa até o momento simplesmente se definha e dá espaço à uma figura tenebrosa e cruel. A pior parte é que não consigo lutar contra mim mesmo e acabo me entregando a todas aquelas mentiras que a primeira vista são tão sedutoras. Nos momentos depois já estou desistindo de tudo e não entendo por que alguém sentiria prazer em me machucar tanto assim.

Eu odeio o momento, odeio as risadas, odeio aquele infinito e por isso mesmo declaro tudo acabado. Mas as coisas não funcionam assim naquela situação e como se não bastasse ainda existem mentiras mesmo após de eu ter dito todos os meus pecados. Parece impossível de se recompor e por isso fico ali destruído e sozinho.

Renegado por mim mesmo ainda imploro misericórdia mas todos ainda são iguais e por causa disso não temos voz. Ele não tem voz, eu não tenho voz, nem você tem. Por causa disso tudo vira lágrimas introspectivas sem sentido para qualquer observador.

Mas eu entendo toda aquela história, sei o que passa em minha cabeça, sei o que está totalmente errado e o que a princípio parece estar correto. Por isso mesmo eu necessito correr, preciso tentar explodir tudo aquilo que já está aprisionado por tanto tempo. Todo aquele ódio que não sabe como esvair sai de meus poros, de meus olhos, de minha boca e de todas as formas possíveis. Seja qual for a sonoridade e a imagem, ele está se libertando de um modo irado e tenebroso.

É por causa disso que não passo mais despercebido. As pessoas gostam de reparar quando você tem ódio disfarçado de frustração em seu rosto. Parece que todas as pessoas são humanitárias, parece que todas são pessoas amigáveis e por um instante elas até são, seja pelo efeito de qualquer substância eu ainda acho aquele momento válido. Rostos e expressões desconhecidos finalmente tornam-se meus aliados. Apesar disso, os que estão no poder parecem sempre os que menos entendem todo aquele momento e aqueles que aparentemente nem ao menos saberiam interpretar aquela cena acaba compreendendo tudo que passa em sua cabeça.

Nessas horas fica aquela ânsia de subir, subir o mais alto que me for permitido pra sentir todo aquele vento em meu rosto dando-me a sensação de que ninguém mais está ao meu lado e por isso eu tomo conta de mim mesmo.

Só que nada na realidade funciona desse modo. Na realidade quando estou prestes a bater minhas asas, uma mão me segura pelos pés, imobiliza meus braços, estrangula meu pescoço e puxa minha cabeça. A única parte de mim que ainda funciona são meus olhos, sozinhos piscando. Tornar-se inerte por causa da realidade é horrível e preciso sempre ceder quando necessário.

Meus pés voltam a tocar o chão e percebo que aquelas mãos da realidade estavam apenas querendo que eu não voasse naquele instante, meu voo deveria aguardar por que eu não tinha como bater as asas rápido o bastante. Apesar de estar de volta à Terra, minhas pernas estão bambas e não consigo nem andar normalmente. Desentendo o que é tudo aquilo e basta apenas uma rabiscada no olhar de alguém para entender o sentido de tudo que se passa.

A vulnerabilidade me preenche e tudo que preciso é ir embora, preciso de um local seguro onde aquelas pessoas sejam cuidadosas comigo para sempre. Momentos incomuns como esse me fazem sentir especial. Mesmo que por obrigação eu me sinto privilegiado, ainda que isso signifique o ódio de todos aqueles que parecem gostar de mim.

Todas aquelas mãos da realidade me puxam aos caminhos rotineiros do meu dia-a-dia e já consigo entender o que está prestes a acontecer. Não me sinto completamente devastado por que tentei fazer o que realmente queria, tentei fazer tudo aquilo que me foi imposto e não tive culpa se não fui o bastante.

Quando tudo já deveria estar mais calmo eu percebo na quantidade de passos incorretos que cometi. Tudo que poderia ter feito melhor mas por culpa da impulsão não consegui. São os únicos momentos em que me arrependo de alguma coisa. Tudo que me resta então é pedir que o tempo volte e eu possa fazer todas aquelas coisas de um jeito melhor e que me machuque bem menos. Só que preciso esperar até momentos como aquele se repetirem, e por Deus como eu quero que aquilo se repita. Quero que por todos os instantes da minha vida uma noite torne-se infinita e que, assim como eu, todos ao me redor tornem-se imortais.


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