Lembranças escrita por mlna


Capítulo 18
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

E NUM É QUE EU TÔ VIVA???? KKKKKKKKKK
Vamos lá! Preciso esclarecer algumas coisas para vocês, né?
Eu comecei a escrever essa fic há muito tempo, num momento muito complicado a minha vida. A Regina sou eu nessa fic, basicamente. Escrever aqui era o que me mantinha com os pés no chão e ler o que vocês comentavam me revigorava de uma maneira inexplicável!
E aí depois eu fui egoísta. A vida foi melhorando aos pouquinhos, eu comecei a me sentir melhor e abandonei isso aqui. Abandonei vocês. Me desculpem por isso.
Essa história merece um final. Tá aqui mais um pedacinho dela.

Obrigada a todos! Espero que amem.
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Na volta para casa depois de um dia longo e repleto das mais extremas emoções, Henry voltou no carro de Emma, e eu comecei a estranhar. Não chegava a ser ciúme, mas o quê custa voltar comigo?

Assim que pisamos em casa, Emma jogou seu casaco em cima do sofá e subiu as escadas ligeiramente. Aproveitei esse tempo sozinha com meu filho para me aproximar dele.

— Divertiu-se hoje, Henry? - Perguntei, passando a mão em seus cabelos.

— Muito! Mas, mãe, o que você foi fazer hoje tão cedo e que tirou a Em de casa também? Tinha que ser tão cedo? A Mary nem estava acordada quando a Emma me deixou lá!

Apesar do divertimento de sua fala, eu apenas sorri e sentei-me ao lado dele no sofá, segurando o casaco de Emma em minhas mãos. Seu cheiro estava impregnado e eu me aproveitei daquilo.

— Henry, eu fui… denunciar seu pai. Quero dizer, Robin. E ele foi preso. Eu sei que vocês se davam mais bem do que mal, mas ele é mau, Henry. Eu fiz o que precisava ser feito.

— Uau… tudo bem, mãe. Ele te machucou de verdade, não é? Ele é perigoso e eu nem gostava tanto dele assim, afinal de contas, nunca me deixou dormir na casa de nenhum colega. - Sua expressão tornava-se cada vez mais triste, frustrada e até mesmo envergonhada. Meu desejo era proteger Henry de toda mazela do mundo mas, ao mesmo tempo, gostaria de dar a ele a liberdade para explorá-lo da maneira que eu nunca pude.

— Venha cá, meu amor. - Envolvi-o num abraço e o senti chorar em meu ombro um choro que parecia estar guardado em seus olhos há tempos. - Pode chorar, filho. Chore tudo o que quiser. - Afagava sua cabeça enquanto lembrava das palavras que Robin disse, em mais de uma ocasião. Viadinho. Baitola. Marica. Antes que a raiva pudesse me consumir por completo, percebi a presença de Emma na sala pois, apesar de meus olhos estarem fechados, o cheiro daquele perfume era singular.

— Ahn, Regina? - Emma chamou.

— Sim? - Respirei fundo e abri meus olhos. Quando me virei, eles traçaram toda a extensão do corpo de Emma e a visão só melhorava a cada curva. Sua pele reluzente estava, em sua maior parte, exposta. Um vestido preto frente única que acabava bem antes de seus joelhos cobria aquele fenômeno natural. Seus cabelos estavam lisos, mas ainda muito brilhosos, e caíam por cima de seus seios, escondendo-os. O decote revelava um mistério enlouquecedor, e algumas pintinhas mapeavam a região do peito como se implorassem para serem exploradas.

— Uau, Ems! Você está gata demais! Quero dizer, você é gata, mas hoje está demais. - Henry esclareceu. Foi como se ele tivesse lido meus pensamentos.

Após uma risada envergonhada e um par de bochechas coradas, Emma respondeu.

— Muito obrigada, Henry. Fico lisonjeada. - Ela levantou a barra do vestido suavemente com a ponta dos dedos e se curvou diante dele, como uma princesa. - O que você acha, Gina? - Ela deu uma voltinha. Foi razoavelmente rápida mas, em minha mente, aconteceu tudo em câmera lenta. Suas costas estavam cobertas pelos cabelos, então meu olhar desceu e repousou sobre suas ondulações perfeitas que, graças àquele vestido colado, estavam bem aparentes. Emma Swan era, definitivamente, a criatura mais bela que já andou nesta terra.

— Gina? - Ela me tirou do transe, estalando os dedos na minha frente.

— Oh, ahn, sim, você está linda. - Limpei a garganta. - Aonde está indo? - interroguei.

— Tenho um encontro. - Emma revelou, alguns decibéis mais baixo.

— Um encontro? Com quem? - Ao contrário dela, elevei minha voz. Seria inútil, de qualquer jeito, tentar esconder meus sentimentos.

— Com a delegada Bell. Quero dizer, a R-

— Rose. Sim, eu sei como ela se chama. Divirta-se. - Esforcei-me ao máximo para montar um sorriso em meu rosto, e parece que consegui, já que Emma genuinamente sorriu de volta.

— Não vou voltar tarde. Qualquer coisa, me ligue ou mande-me uma mensagem, está bem? - Ela se aproximou, pondo uma das mãos em minha cintura. Henry observava a cena de longe. - E, caso você durma e tenha um pesadelo, lembre-se: é apenas um sonho ruim. Não é real. - Finalizou seu discurso acariciando uma mecha de cabelo para trás de minha orelha e se despediu. Emma Swan estava escapulindo de minhas mãos e parecia não haver nada que eu pudesse fazer.

Henry deu seu boa noite e foi se deitar não muito depois de Emma ter saído. Talvez ele tivesse percebido que eu precisava de um momento a sós comigo mesma para digerir o que estava acontecendo. Mas… será que meu filho desconfiava de meus sentimentos por Emma? Eu não ficaria surpresa, já que sempre foi tão esperto. Pensando nele, subi as escadas e parei à porta do quarto de hóspedes. Ele dormia sereno, agarrado a um bicho de pelúcia. Ainda que me assustasse com sua astúcia, aquela cena me fez lembrar que Henry ainda era apenas uma criança de quase onze anos. Lutei tanto para criar meu filho da melhor maneira possível e olhar para ele, saudável como sempre foi, me transbordava de orgulho por ter certeza de que aquela uma das únicas coisas em minha vida que fiz certo. Dava-me também esperança. Esperança de que a geração dele fosse menos cruel, mais tolerante e vanguardista. Sorri com todos aqueles planos que eu fazia para o futuro do planeta e sacudi a cabeça, espantando-os para longe. Segui em direção ao banheiro, a fim de me preparar para me juntar ao meu filho numa noite de sono tranquila.

Porém, algo me fez parar no meio do caminho. Mais especificamente, na frente do quarto de Emma Swan. Olhar para aquele cômodo era como encarar uma caverna cheia de mistérios e pedras preciosas escondidas dentro de suas paredes. As paredes de Emma eram simples, cor de gelo, e exibiam um quadro de fotos e alguns pôsteres de projetos de engenharia. Aquelas paredes pálidas abrigavam a vida de Emma e eu estava louca para explorá-la. Elas ouviram suas teorias, seu choro, seu ronco, suas demonstrações de prazer… respirei fundo. minha jornada começava ali.

Com passos cuidadosos, tal qual um investigador da polícia, examinei sua prateleira de livros. Era um mais grosso que o outro, todos contendo números e mais números. Alguns papeis se empilhavam no canto. Nada de interessante até então. Mudei para o quadro de fotos. Ali estavam penduradas fotos de Emma em sua infância, brincando de bola e ajudando sua mãe na cozinha, toda suja de farinha. Uma foto em sua festa de formatura do colégio ao lado de um rapaz alto. Ele devia ser o jogador de basquete mais popular da escola. Ao lado, Emma dentro de um carro segurando sua carteira de habilitação. Embaixo, um capelo em sua cabeça indicava que a faculdade acabou. Tantos momentos especiais eternizados naquele quadro. Emma era uma pessoa feliz pois seu passado a preenchia por completo. Sem vácuos. Sem buracos. Ela vivera tudo o que se espera que uma pessoa viva. Sentei em sua cama e passei a mão no lençol. Era macio como a pele dela. Apertei seu travesseiro e o trouxe até meu nariz, sentindo o perfume que seus cabelos deixam ali todas as noites. Notei que havia um criado-mudo. Em cima dele, um caderno com capa de couro. Meus olhos se fixaram naquele objeto por longos segundos, estudando se era ou não uma boa ideia abri-lo. Talvez seja  ir longe demais. Mas ela nunca saberia. Mas é desonesto. Mas eu preciso entrar na mente e no coração de Emma e saber onde exatamente eu me encontro nessa confusão toda. Decidi abrir. Passei o olho por datas antigas e escaneei estórias de seu cotidiano antes de se mudar para Nova Orleans. Ela realmente era feliz. A palavra ‘Lily’ se repetia muitas vezes, logo, para evitar frustrações, virei essas páginas rapidamente. Foi então que eu vi meu nome pela primeira vez. Franzi o cenho e tratei de ler o que estava escrito. Ela contava do dia em que me conheceu.

 

Diário,

Meus dias aqui na Luisiana finalmente começaram a fazer sentido. Fui fazer um serviço numa igreja e deus acabou me enviando um sinal. Conheci uma mulher chamada Regina, frequentadora do templo. Ela me guiou até o transformador e ficamos conversando no escuro sobre coisas religiosas. Apesar de eu não acreditar em deus, acho que dei conselhos a ela. Eu senti que minhas palavras mexeram com ela. Espero vê-la novamente porque, assim que a luz voltou, eu pude ver o quanto ela era linda.

 

Eu estava no diário de Emma. Finalmente alcancei meu lugar dentro dela.

No dia do mercado.

 

Diário,

Eu a vi novamente. Nos encontramos por acaso (será?) no supermercado e quase atropelamos uma a outra. Ela me convidou para almoçar em sua casa e eu, é claro, disse que sim. Eu encontrei uma amiga. Mais do que isso, até mais importante, eu encontrei uma mulher que precisa de mim muito mais do que eu poderia imaginar. Regina é a melhor cozinheira do mundo e afirma ter outros dotes que não duvido que sejam verdadeiros também. Mas é uma mulher solitária, apesar de ser casada há mais de oito anos. Achar Regina nesse tornado em sépia que é a minha vida foi como aterrissar com minha casa em Oz, versão em cores. Ela ri de minhas piadas cafonas de um jeito genuíno e sua risada incendeia minha alma. Ela me pediu para fazer parte da minha vida e, com aqueles olhos cor de madeira me olhando como se não houvesse um amanhã, como eu poderia recusar?

Regina Mills, eu quero te desvendar. Mas sou uma bagunça, uma merda de uma bagunça que não consegue se encontrar nem com os raios de sol que emanam do seu sorriso me iluminando. Mas não desista de mim. Um dia eu lhe contarei tudo sobre mim.

 

Ler aquelas palavras sobre mim doía mais do que me fazia feliz. Eu a deixei escapar e agora ela provavelmente escreve essas mesmas palavras para outra mulher, com quem estava, naquele momento, compartilhando um jantar romântico à luz de velas. Não, não posso pensar nisso, é doloroso. Terminei sem marido, sem a Emma, sem dignidade. Para mim, não existia aquela história de ‘você constrói a sua própria felicidade, seja feliz sozinha’ e qualquer outra merda que falem sobre isso por aí. Minha felicidade fez morada em Emma e de lá ela não sai mais. Ela roubara meu coração no momento em que as luzes se acenderam naquela igreja. Não ousaria culpá-la por nada disso, é claro.

— Bem feito, Regina. Você é uma idiota. Uma idiota apaixonada por uma mulher que era apaixonada por você. - Resmunguei numa voz quase inaudível. - Agora que a desgraça já está feita, vou continuar olhando esse diário idiota. - Declarei, cruzando as pernas e folheando algumas páginas até chegar na última data escrita.

Hoje.

 

Diário,

Hoje fomos ao parque depois que saímos da delegacia e almoçamos. Assistir ao Robin perder sua dignidade por completo, sendo carregado por policiais, abriu meu apetite e me aliviou quase totalmente. Mas a expressão no rosto de Regina. Aquilo me fez revirar o estômago e meu coração se apertou como se alguém estivesse tentando esmagá-lo, reduzi-lo a pó. Aquele canalha, apesar de ser um monstro, uma besta, era marido dela. Foi com ele que ela construiu seus pilares, regou suas raízes e fez uma família. Era impossível decifrar o que Regina estava sentindo no momento - decepção? alívio? dor? Eu não conseguia olhar para ela daquele jeito. Eu precisava daquele sorriso pelo qual tão facilmente me apaixonei de volta.

Felizmente, seu sorriso já estava de volta agora ao fim do dia. Eu não sou muito boa com palavras, e você sabe bem disso, mas é simples escrever sobre a Regina. Eu a amo, sempre amei, desde que ouvi sua voz no escuro. Regina não saiu de meus pensamentos nem por um segundo, nem quando Lily voltou, nem quando Lily adoeceu, muito menos quando Lily partiu mais uma vez. Regina me faz querer ser uma pessoa melhor. Ela trouxe de volta a luz e o amor do qual eu já havia desistido. Ela me ensinou que não há passado obscuro demais que não possa ser repintado num futuro surrealista, no mundo dos sonhos. Estou estudando um pouco de arte por causa dela. Quero que tenhamos mais um tópico em comum para conversar. Regina me faz querer aprender poesia, aprender as cores de seu mundo tão particular e cheio de tesouros.

Não tenho medo de te contar, diário, que estou completamente, perdidamente, surrealmente apaixonada por Regina Mills.

 

Emma.

Apaixonada.

Emma apaixonada por mim.

Por mim, Regina Mills, a senhora do caos, da tempestade, do calor e do frio. A protetora do medo, a guardiã da covardia. A guerreira da solidão.

Era hora de ser brava. Eu precisava, de uma vez por todas, ter coragem e enfrentar meus monstros, minhas inseguranças. E a hora era agora.

Peguei meu celular no fundo da bolsa e, com as mãos trêmulas de ansiedade, digitei uma mensagem.

 

R: Emma, onde você está? Estou indo te buscar.

Apaguei antes de clicar para enviar.

R: Emma, eu li o seu diário. Venha para casa.

Mais uma vez, apagada.

R: Emma.

Enviar.

Esperar…

Esperar…

Esp-

E: Regina!

Um sorriso bobo se moldou em meus lábios pela mera menção de meu nome. Imaginar Emma o dizendo era abrasador.

R: Desculpe interromper seu encontro.

Eu estava particularmente ansiosa pela resposta desta mensagem. Depois de tudo o que eu li, era esperado um ‘ainda bem que interrompeu’, ou até mesmo ‘queria que fosse você aqui comigo’.

E: Sem problemas. Qual o babado?

Era isso? Era só isso que ela tinha para me dizer? Como ela ousa, depois de me dizer tudo aquilo, ainda perguntar ‘qual é o babado’?

Ah. Não era para eu ter lido aquele caderninho de couro. Não era para eu ter entrado no quarto de Emma, em seu mundo particular, e ter invadido sua privacidade. Não era para eu ter bisbilhotado sua vida, não era para eu ter entrado em seu coração e trancado a porta. Eu sou essa pessoa, a que se intromete, a que viola, a que desobedece.

E, por ser a transgressora que sou, resolvi meter o bedelho na vida amorosa completamente destrambelhada de Emma Swan.

R: Nada. Só queria me certificar que você está bem.

Que mensagem estúpida. Talvez ela pense que eu só estou entediada, e não tentando dizer que eu também sou apaixonada por ela.

E: Tô bem… eu já ia mesmo te mandar uma mensagem. Mas não quero te atrapalhar.

O que ela está insinuando? Que eu a atrapalhei? Que eu sou um fardo que deveria ser levado pela enchente? Ugh. Regina, recomponha-se. Ela está apaixonada por você. Pelo menos, até hoje de tarde, ela estava.

R: …

Nenhuma resposta. Uma angústia tomou conta do meu peito rapidamente e lágrimas já começavam a se formar na beira de meus olhos, ameaçando cair. Emma estava ocupada demais para se importar com meus cuidados. Ou talvez eu só estivesse cedendo às emoções que desabrocharam ligeiramente à flor da pele. Não custava nada insistir mais um pouco.

R: Você nunca me atrapalha, na verdade, eu já estou com saudade.

Não sabia se estava preparada para ser tão ousada e me expor tanto assim, então, pela enésima vez naquela conversa, apaguei a mensagem antes que eu fosse burra - ou corajosa -  o suficiente para mandá-la.

R: E aí?

A resposta veio em segundos.

E: Tem como você trazer uma coisa aqui para mim? É um caderno, está em cima do meu criado-mudo.

O sentimento de solidão e derrota foi aplacado brevemente pela mensagem que eu relia e relia. Ela queria que eu fosse ao seu encontro. Mesmo que fosse para levar um caderno estúpido que eu não-tão-acidentalmente-assim li.

R: Você precisa disso agora? Acho que você só está com saudade do meu rosto ;)

Sem pensar que o mundo é real, cruel e complicado, eu enviei a mensagem. Minha boca secou e meus olhos não sabiam para onde olhar. O toque da resposta soou como um canhão me atingindo no peito e tive que fazer um esforço físico para levantar o celular e lê-la.

E: Ainda bem que você me conhece :) Bourbon Street, um bar em frente ao restaurante onde almoçamos hoje. Vem logo.

A caminho do bar, minha cabeça se revirava em cambalhotas circenses tentando entender o sentido de algo sobre aquele dia. Robin fora preso. Emma me levou para almoçar. Fomos ao parque e, sem mais nem menos, seu rosto se nublou. Eu li em seu diário que ela estava apaixonada por mim, enquanto ia em um encontro com outra mulher. O que eu não estava vendo? Ou será que eu havia visto coisas demais? Talvez Emma estivesse com medo ou exausta demais para amar uma pessoa tão danificada como eu. Pois Emma também era escangalhada. Dois quebrados nunca poderiam fazer um inteiro e, por essa simples causa, ela optou por aprender a amar alguém mais ileso. Rose. Ela era a destinatária das mensagens no parque. Ela para ela que Emma provavelmente pediu socorro daquela tarde deprimente e deplorável. E agora a sua salvadora estava lá, na cadeira da frente, acariciando seu tornozelo na canela de Emma, oferecendo a ela o mais sensual dos sorrisos. E eu… eu estava indo levar um caderno-confessionário para essa novela mexicana que inventei em minha cabeça sequelada.

Logo que estacionei o carro na esquina, tratei de não perder mais um segundo dentro do veículo. Sabe quando estamos muito apertadas para ir ao banheiro enquanto tentamos  encaixar a chave na fechadura da porta de casa? Estamos a segundos de distância do alívio que tanto precisamos mas ainda há o obstáculo da porcaria da chave que parece ter feito um decreto assinalando que não entraria no buraco da fechadura. Nossa vontade só aumenta e começamos a fazer dancinhas esquisitas para evitar que uma tragédia aconteça em frente ao seu lar.

É, é um exemplo tolíssimo, mas é no quê consegui pensar.

Eu me sentia assim naquele momento. Emma estava tão perto, e parecia que não a via há muitos anos. Meus olhos ardiam de dor por estarem tanto tempo longe daquelas esmeraldas reluzentes. Como se houvesse um radar instalado em seu coração, Emma me localizou e seu olhar me acompanhou por todo o caminho até que eu estivesse de frente para ela.

Parei com a cintura encostada na ponta oposta da mesa, usando-a para me impedir de ir até ela e beijá-la com toda a força que ainda restava em mim.

— Olá, senhorita Swan. - Cumprimentei-a formalmente, oferecendo um sorriso apertado.

— Senhorita Mills. - Ela respondeu com uma pequena reverência.

— Trouxe seu guarda-chuva. - Eu disse, mas não fiz a menor questão de entregá-lo a ela. Àquela altura, eu esperava que ela soubesse que era tudo uma armação.

— Boa noite, Regina. - Ela tentou novamente, enlarguecendo o sorriso.

— Já nos cumprimentamos, Emma. - Essa mulher está louca?

— Eu sei.

— Onde está Rose? - Perguntei nervosamente, olhando ao meu redor.

— Não sei, por quê? - Ela franziu o cenho.

— Emma…

— Regina.

— Emma, você tinha um encontro com Rose agora. Ela não veio? Está no banheiro? Você a enxotou? - Falei a última parte com um tom divertido e surtiu efeito imediato pois uma risada escapuliu do semblante sério e genuinamente confuso de Emma.

— Você não faz sentido algum. - Foi tudo o que ela respondeu, levantando-se lentamente e se aproximando de mim. Perto demais.

— Como? Emma, não estou entend-

— Como é que eu tinha um encontro com Rose Bell se o meu encontro acabou de chegar? - Ela sussurrou com as sobrancelhas erguidas e os lábios apertados.

Levei alguns segundos para entender o que estava acontecendo, por quê Rose não estava em lugar algum e por quê Emma parecia plácida demais. Só quando consegui conectar os pontos é que me lembrei de piscar os olhos e respirar.

— M-mas… como assim?

— Regina, você aceita se sentar à essa mesa num encontro comigo? - Ela perguntou galantemente, puxando para trás a cadeira ao meu lado para que eu pudesse me sentar. Como se não houvesse escolha. Como se ela soubesse que eu não conseguiria escolher outra resposta.

Silenciosamente, sentei-me de frente para ela.

— E-eu ainda não estou entendendo o que está acontecendo aqui. - Regina murmurou mais para ela mesma do que para Emma.

—É um encontro, Regina. Entre mim e você. O que quer beber? - Ela finalizou com o mais natural dos sorrisos, como se meu mundo não estivesse girando a oitenta por hora naquele momento.

Um garçom simpático nos aproximou de nós e fez a mesma pergunta de Emma. Ela pediu uma garrafa do vinho mais caro do restaurante e algumas entradas. Ele desapareceu por entre as mesas e entrou no mundo à nossa volta, que permanecia alheio ao terremoto que acontecia entre minha cabeça e meu estômago.

— Emma, por que você fez isso? Não era mais fácil ter me convidado? Estou toda desarrumada e -

— Você está linda. - Emma interrompeu. - E, sério, fácil? - Ela continuou, torcendo o nariz. - Cite três coisas em nossas vidas que tenham sido fáceis. - Respirando fundo e escavando meus olhos com seus oceanos, ela se recusou a parar por ali. - Eu não te convidei porque você merece ser surpreendida positivamente, pelo menos uma vez. Quando foi a última vez? Nascimento do Henry?

Eu sei que ela não teve intenções de me machucar com aquelas palavras, mas era sempre difícil ouvir da boca dos outros que sua vida é, realmente, miserável. Ela continuou:

— E eu mereço ver seus olhos brilhando de alegria e emoção, ao invés de tristeza. Eu não aguento mais sofrimento. Não suporto mais pedir desculpas. Eu mereço ser feliz e você merece ser feliz. Então, eu penso, por que não juntar as felicidades e fazer delas uma enorme bola de felicidade sem fim?

Talvez Emma não percebesse, mas havia uma inocência sempre presente em suas palavras, Assim como provavelmente não percebeu que sua maré encheu e e uma lágrima sorrateira escapou. Ela rapidamente a enxugou e riu.

— Entendeu?

Minha risada a seguiu como uma criança segue os pais em uma loja de doces.

— Entendi.

Num timing perfeito, o garçom retornou com duas taças e um balde de gelo com uma garrafa de vinho tinto dentro. Fomos cordialmente servidas e logo ele depositou as entradas à nossa frente. Se despediu com um amistoso “bom apetite.”

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— Regina, você não acha que meia garrafa de vinho já está de bom tamanho por hoje? - Emma alternava seu olhar assustado entre mim e a minha taça. - Vou pedir a conta, pode ser?

— Ah, mas já? Acabamos de chegar, Emma… - Choraminguei fazendo um gesto para as pessoas à nossa volta. Ou melhor para as cadeiras viradas em cima das mesas. Éramos as únicas habitantes daquele estabelecimento além do gerente e de um garçom. Devia estar pagando seus pecados.

— Não tem mais ninguém aqui, e você está um pouco bêbada. - Ela constatou o óbvio num tom sereno e cheio de afago. Naquela altura do campeonato, eu tinha certeza de que nunca, nunca me cansaria de escutar aquela voz. - Vamos para casa.

O caminho de volta foi completamente silencioso, salvo o som da rua, de algumas cigarras e o murmurar do rádio numa estação qualquer. O mundo girava. Emma eram duas. Meus braços estavam dormentes. Eu estava bêbada no primeiro encontro com Emma Swan. Regina Só Faz Merda Da Estrela estava de volta à 220 volts.

Quando dei por mim, cambaleando até a porta, estávamos em casa. Quando eu estava prestes a girar a maçaneta, a mão quente de Emma cobriu a minha e deu-lhe um breve aperto.

— Você sabe a tradição dos bons primeiros encontros, não sabe? - Ela questionou, procurando a resposta em meus olhos.

— Eu não sei. Não estive em primeiros encontros suficientes para se fazer uma tradição. Do que se trata? - Coloquei um tom empreendedor na última parte.

— Talvez seus encontros só não foram bons encontros.

— Acho que isso você já pescou. - Dei uma risada inebriada, a qual Emma acompanhou.Quando ela se dissipou no ar ameno, ela continuou.

— Dizem que o fim de um primeiro encontro, bem na porta que irá separar as duas pessoas por algum tempo até que possam se ver novamente, é selado com um beijo. Uma promessa.

— Emma, você sabe que moramos na mesma casa, não é? Acho que essa tradição não se aplica a nós. - Apesar de minhas palavras me afastarem, eu dei um passo adiante, encurtando ainda mais a distância entre nossos corpos.Meu olhar viajante percorreu toda a extensão do rosto de Emma até que parou sobre seus lábios.

— Você quer que eu te beije ou não, Regina Mills?

— Não me lembro de algum dia não querer.

Tentei terminar a frase pontualmente, mas as últimas palavras foram abafadas pela presença de Emma Swan tomando conta de meus lábios. E eu tinha noventa e nove por cento de certeza que não era só um efeito colateral do álcool.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Se ainda tiver alguém aqui acompanhando, deixa seu comentário pra mim!!! ❤