Lembranças escrita por mlna


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Minhas lindas ♥ estou começando essa fic e tenho MUITOS planos pra ela. Mas eu vou logo avisando que será impossível eu postar todos os dias. Vou TENTAR postar toda semana. Juro.
Queria avisar logo no primeiro capítulo que o foco dessa fic é um angst. Então se você curte hot, fica aqui e dê uma chance pra essa história ♥
Espero que amem.



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- Todo mundo diz que a vida é feita de momentos. De lembranças. Dizem também que não precisamos fotografar tudo o que vemos pela frente apenas pela mera vontade de recordar aquela situação mais tarde, pois o que conta de verdade são as memórias. Mas e quando é justamente essa parte que lhe falta? A lembrança, a recordação, a memória? Bem, eu demorei para achar a resposta dessa pergunta. Mas achei. E é essa trajetória que vou contar.

Meu nome é Regina Mills. Mas disso todos sabem. O que poucos sabem é como eu me tornei a Regina que sou hoje. Porém, não se preocupem: saberão a partir de… agora.

Nova Orleans, Louisiana, 2005.

O dia está frio, apesar de o clima em Nova Orleans ser sempre ameno, agradável e aconchegante. É inverno e as crianças aproveitam para calçarem suas galochas de joaninha ou de exploradores da natureza para irem à escola nesse dia chuvoso. Bem, seria o que todas fariam se não fosse um domingo. E domingo, pelo menos na casa dos Mills-Hood, é dia de ir à igreja. Portanto, eu e meu marido acordamos às 7h, como de praxe, e nos dirigimos até o quarto de nosso filho para que pudéssemos acordá-lo. Henry, de 10 anos, atendeu a meu chamado sem pestanejar. Parece que, depois de um tempo e sabendo que não há para onde correr, ele acabou aceitando nosso estilo de vida.

Enquanto descemos as escadas, Robin já estava na cozinha preparando o café da manhã. Eu e Henry nos sentamos à mesa e conversamos sobre as expectativas para a semana que chegava. Era sempre a mesma coisa: meu filho falava da escola e de como era chato ele ser o único que não podia dormir na casa de seus colegas. Eu falava sobre cursos que gostaria de começar. E Robin... bem, ele continuava cozinhando e me dando um sermão sobre o porquê ele devia trabalhar e se instruir e eu não. Mas era bom. Claro, não a parte de eu ser praticamente uma criada dentro da minha própria casa, mas o dia de domingo. Era bom ter a certeza de que, não importa o quanto tivéssemos brigado durante a semana, no domingo estaríamos os três ali, na cozinha, comendo e conversando – ou revisando assuntos anteriores.

- Mas, mãe, você ainda não me disse por que eu não posso dormir na casa do August. Só porque ele é ruivo? – Henry se questionou mais do que à mim, o que me fez rir.

- Henry, querido, é claro que não! Nós já conversamos sobre isso... – Tentei desviar do assunto, oferecendo-lhe um sorriso de trégua.

- Mãããe, mas hoje é domingo. Hoje é dia de falar sobre isso. – Ele choramingou. Era terrivelmente adorável.

Antes de responder de uma vez por todas, fechei meus olhos e suspirei. A verdade é que nem eu entendia muito bem por quê. Mas Robin foi mais rápido.

- Henry, olhe para mim. – Meu marido se abaixou para ficar na altura de Henry e moveu a cabeça à procura de seus olhos. – Esse tipo de coisa... dormir na casa do colega... pode ser uma má influência, filho. Ainda mais na casa de outro menino. Pode parecer besteira, você pode ficar com raiva de mim agora, mas, no futuro, você vai me agradecer. Quando você tiver a sua esposa e seus filhos, lembrar-se-á do que te falei hoje e será grato.

Robin esperava que Henry entendesse. Eu conseguia ver em seus olhos a esperança de que ele compreendesse que ser severo a esse ponto tinha um fundamento. Que fundamento era esse, bom, eu já não sei.

- Eu sei, pai, mas-

- Sem ‘mas’, Henry. Vamos, sua avó já deve estar nos esperando. Vá se arrumar.

Essas foram as palavras finais de meu marido. Robin não era um homem grosso; era só muito conservador. Até demais. Porém, depois de tudo o que ele passou, eu não o culpava quando, vez ou outra, agia de forma agressiva.

E não, não íamos à igreja pela manhã. Poderíamos, pois havia um culto também nesse horário, mas era uma pena desperdiçar uma manhã tão agradável – apesar de gelada.

- Querido, não precisava ter falado daquele. – Falei assim que não pude ouvir mais os passos de Henry, e me aproximei de Robin, que agora lavava a louça. Passei as mãos em seus ombros e os massageei de leve. Havia tanta coisa para ser dita sobre seu comportamento, sobre seu fanatismo que estava se tornando cada vez mais visível e irritante... mas agora ele estava alterado. Não adianta, por mais que ele tente me explicar, eu nunca entenderei esse ódio disfarçado pelos gays. Estamos em 2005, tudo bem, não é comum vermos casais homossexuais andando de mãos dadas nas ruas, ou se beijando, ou apenas vivendo. E Henry tem dez anos. Quer apenas dormir na casa de um colega, talvez passarem a noite inteira acordados jogando vídeo game, ou construindo sentinelas improvisadas para brincarem de guerrinha na sala de estar. Mas meu legítimo esposo não alcançava essa inocência. Para ele, era oito ou oitenta: ou ia para a casa dele e já era considerado “um bichinha” (termo que eu odeio, usado por ele) ou simplesmente não ia e mantinha a honra e a reputação dos Mills-Hood.

Então eu simplesmente, e, como sempre, me calei.

- Eu é que não devia estar lavando essa louça. Já fiz café da manhã porque você estava lá em cima mimando o Henry. Regina, estou falando sério, você precisa ser mais dura com ele. Ele é homem! Tem que agir como tal! – Ele se virou para mim e depositou suas mãos gentilmente em minha cintura. – Meu amor, não podemos errar na criação dele. Por favor.

Mais uma vez, essas foram as palavras finais. Só que, dessa vez, eu não estava disposta a argumentar com ele sobre a criação de Henry. Seria ridículo.

- Mãe, pai, estou pronto! – Henry veio correndo em nossa direção, suas galochas de borracha fazendo um barulho engraçado em contato com o assoalho de madeira. – Vamos? Estou morrendo de saudades da vovó.

- Vamos sim, querido. – Dei a ele um sorriso sincero e, acima de tudo, cheio de esperança de que esse dia pudesse melhorar, pelo menos um pouquinho.

Meus pais, dona Cora Mills e senhor Henry Filho, moravam em Montgomery, no Alabama. Seria impossível visitá-los sempre, então, quando meu pai morreu, minha mãe comprou uma casa em Jefferson, uma cidade a menos de 20 minutos de Nova Orleans.

O caminho até a casa de minha mãe foi silencioso. A não ser pelas vezes em que eu cantarolava algum pedaço de alguma música que tocava no rádio. Assim que chegamos, Henry foi o primeiro a sair – ou melhor, pular – do carro, deixando eu e Robin para trás. Suspirei. Não poderia conter mais a minha vontade de ser sincera com meu marido. Então, usei meu tom mais cansado:

- Robin, eu... – Mas parecia que alguma força havia sugado minhas palavras. Abaixei a cabeça e olhei para baixo. – Eu te amo. – E foi tudo o que eu disse. Era sempre tudo o que eu dizia.

Ele sorriu genuinamente, acariciou minha coxa e respondeu docemente:

- Eu também te amo, Regina. Eu te amo muito.

Sorrimos um para o outro. É claro que meu sorriso era muito mais triste do que satisfeito ou encantado. O de meu marido que era assim.

Saímos do carro e fomos ao encontro de Cora, que já estava nos esperando à porta, abraçada em Henry.

- Olá, meus amores! Que bom vê-los! Achei que vocês nunca mais fossem visitar a velha aqui! – Cora comentou entre uma risada. Abraçou-me apertado e depois abraçou Robin dando tapinhas nas costas dele.

- Mãe, nós visitamos a senhora há duas semanas. Não pira! – Respondi, já entrando na casa e conduzindo minha família a fazer o mesmo.

Acomodamo-nos na sala de estar e ali ficamos conversando sobre nossas vidas. Robin era professor de Biologia, mas estava tentando ingressar na política. Então nossa conversa foi basicamente sobre os planos de meu marido de ser vereador e, posteriormente, ser, segundo ele, “o presidente do planeta e instaurar o protestantismo como a religião universal”. Eu queria rir do quão estúpido foi aquilo, mas me segurei.

Quando Ella, a cozinheira de mamãe, anunciou que o almoço seria servido, por volta da uma da tarde, todos nos dirigimos até a elegante sala de jantar e compartilhamos uma refeição agradável. A parte favorita de Henry foi a sobremesa: petit gateau com sorvete – embora eu tenha tentado impedi-lo de tomar sorvete no inverno. Mas, como dizem que mãe educa e vó deseduca, Cora e Henry Mills conseguiram o que queriam.

Ficamos mais umas horas por lá, tomando um café bem quentinho e relembrando histórias constrangedoras de minha infância. Apesar de ser casada com Robin há oito anos, sempre havia alguma história a ser esclarecida. A que estava prestes a começar era a maior, mais complicada e mais devastadora de todas. Para ele.

- Bem, mamãe, já vamos indo. Temos que estar na igreja às sete em ponto, ou não conseguiremos um bom lugar. – Eu disse, num tom doce, e despedi-me dela com dois beijinhos na bochecha. Robin a abraçou e devolveu os tapinhas nas costas. Mamãe se abaixou para ficar na altura de Henry e lhe deu um abraço apertado, sacudindo-o de leve.

- Está bem. Mas não sumam!

- Mamãe, viemos duas semanas atrás. – Virei a cabeça em meu caminho até o carro e acenei para ela.

Minha mãe sofre de uma doença cruel e sem cura chamada Alzheimer. Embora os estudos para seu tratamento estejam avançando cada vez mais, não há uma profilaxia. Desde que meu pai morreu, ela vinha apresentando esquecimentos e situações embaraçosas. A sorte é que a herança deixada para mim foi convertida em tratamento para mamãe, e a outra parte eu guardei. Afinal, não sabemos o dia de amanhã.

Esses foram meus pensamentos no caminho de volta. Mais uma vez, não houve muita conversa. Henry havia pegado no sono e Robin estava atento à estrada. Minha mão esquerda repousou em seu joelho e meu polegar acariciou-o. Ele me olhou, sorriu e tirou uma das mãos do volante para que ela se enlaçasse na minha. Apesar dos infinitos pesares, eu era feliz com meu marido.

Decidimos ir direto para a igreja. Embora Henry tenha protestado, conseguimos acordá-lo e Robin pediu para que pusesse a melhor expressão de felicidade em seu rosto. Cumprimentamos alguns irmãos de quem éramos mais próximos e Robin decidiu que iria ajudar nos dízimos e ofertas. Já que Henry logo iria para a escola dominical, tratei de procurar Mary Margaret, minha melhor amiga.

- Mary, querida, que bom que te achei! Hoje ficarei sozinha... de novo. – Cumprimentei-a com um abraço apertado e logo dei um sorriso triste.

- Regina, você devia conversar com ele sobre isso. – Agora eram dois sorrisos tristes.

Dei de ombros e nos sentamos. O culto começou pontualmente e era a mesma história de sempre: problemas comuns a todos, como dinheiro, saúde, vida amorosa, explicados e “resolvidos” por uma passagem bíblia muito mal interpretada. Eu fingia prestar atenção a todas as palavras, soltava um “amém” de vez em quando, só para não parecer completamente desligada.

Porém, enquanto Sidney, o pastor, um homem negro e grisalho, dava sua fala enfática e ensurdecedora, um estouro foi ouvido. Se tivesse sido apenas comigo, diria que foi meu tímpano. Mas não. O estrondo trouxe consigo um brinde: a escuridão. A luz simplesmente acabou. Como a igreja havia acabado de passar por uma reforma, já se esperava que algo do tipo pudesse acontecer. Alguns suspiraram alto, assustados. Dava para ouvir o barulho das crianças gritando na salinha. Eu e os outros responsáveis começamos a nos mover depressa a fim de resgatá-los do sinistro. Mas, quando estava no meio do caminho, uma mão puxou meu braço. Mesmo no escuro, eu sabia quem era.

- Regina, preciso achar minha esposa. Ela não enxerga muito bem e deve estar assustada com tudo isso. Preciso que você ligue para esse número aqui no visor. – Sidney falou às pressas, entregando-me seu celular. Não me deu tempo de responder, já que logo havia sumido na multidão de sombras perambulando pelo templo.

Sem me preocupar em olhar o nome, apenas cliquei em discar. Após alguns segundos, uma mulher atendeu.

- Pois não?

- Olá, aqui é do celular do Pastor Sidney Glass.

- Oi! Algum problema?

- Então... acho que algum transformador estourou aqui. Estamos sem luz. Pediu para que eu ligasse para a senhora.

- Senhora está no céu, eu acho. Estarei aí em cinco minutos.

- Nós não acr- Mas ela havia desligado.

Robin havia pego Henry na salinha e estavam os dois na parte externa, que era iluminada por um poste da calçada. Eu decidi ficar lá dentro, no escuro mesmo. Estava sozinha no templo, sentada em uma das cadeiras, olhando para o chão. De repente, senti uma mão em meu ombro.

- Com licença. – Uma voz feminina ecoou e eu logo reconheci. Cinco minutos depois, ali estava ela. A salvadora.

- Olá. – Levantei minha cabeça e procurei seu rosto no escuro. Estava atrás de mim. Mesmo na caligem, consegui posicionar-me de frente para ela.

- Estou procurando o Pastor Sidney. Recebi uma ligação há pouco de uma mu-

- Era eu. – Ainda bem que estava escuro, pois assim não dava para ver muito bem meu sorriso bobo.

- Ótimo! Sou Emma Swan, engenheira elétrica. E você?

- É um prazer conhecê-la, senhorita Swan. Meu nome é Regina. Regina Mills.

- O prazer é todo meu. – E inesperadamente, senti uma mão pegar a minha. Ela foi conduzida para o alto até que senti os lábios quentes dela na superfície. Ela havia beijado minha mão! – Então, Regina, você pode me levar até o transformador? – Disse calmamente, enquanto soltava minha mão.

- C-claro. Me acompanhe. – Comecei a andar.

- Regina.

- Sim?

- Eu não estou enxergando nada. Não sei para onde você está indo. Preciso que você me conduza. – Emma riu.

- Ah, sim, claro! – Eu a acompanhei na risada e voltei para buscá-la. Peguei seu antebraço e fui andando um pouco na frente. Quando chegamos até o local, ela pegou uma lanterna e iluminou um pouco o local, mas apenas o suficiente para que pudesse ver o transformador. Na mosca: estava queimado. Nossos rostos continuaram ocultos enquanto ela o consertava.

- Senhora Swan? – Comecei, com a voz um pouco falhada.

- Regina, eu já disse, é Emma. Senhora está no c-

- No céu. Eu sei. Nós não acreditamos em Nossa Senhora.

- Não? – Notei surpresa em seu tom. – Então, no que vocês acreditam?

Essa a pergunta de um milhão de dólares. A verdade é que havia um ‘eles’ e um ‘eu’. Eles acreditavam em Deus, em sua perfeição. Eu acreditava no Deus dele em sua perversão. E em meu Deus como a perfeição infindável e intransferível. E essa pergunta mudou minha vida para sempre.


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Notas finais do capítulo

Amaram? Odiaram? Querem mais?
C O M E N T E M :]