Eu encarava o Christian como se não houvesse amanhã. Ele ainda segurava minha mão, o que me fez corar fortemente.

– Eu ainda estou aqui, sabiam? – Disse Bia atrás de mim. Assustei-me e puxei minha mão com força das mãos dele.

– Ah, claro. Como poderíamos esquecer-nos de uma presença tão magnifica aqui? – Falou Christian, com um tom irônico.

– Christian, saia de perto da Lize. – Bia disse com um tom ameaçador.

– E se eu não sair? O que você faz? – Aproximou-se mais de mim. Eu não tinha palavras; estava pasma. Acabara de conhecer Christian, e já era motivo de briga? Isso Elizabeth. Você merece um prêmio. A pessoa mais imbecil do mundo.

– Mato você. – Fuzilou-o com o olhar e avançou nele, com os punhos fechados. Pronto, agora é briga. Eu já estava preparada para gritar e separá-los quando Bia, do nada, o abraçou. Passou seus braços pelo pescoço do garoto e aconchegou sua cabeça no ombro dele. Como ele era maior, abraçou a cintura de Bia. Eu fiquei mais pasma ainda. – Eu estava com saudades, cara.

– Eu também, Bia, eu também... – Murmurou ele, fechando os olhos. – Pensei que nunca mais nos veríamos.

Desfizeram do abraço e começaram a conversar, me ignorando completamente.

– E então, como vão meus tios? – Perguntou ele.

– Estão bem, eu acho. Faz tempo que não nos encontramos com nossos pais... – Bia respondeu, desviando o olhar para baixo. É verdade. Desde a nossa viagem para o acampamento que nós não nos encontramos mais. – Mas devem estar bem. Então, cadê o pessoal?

– Na cozinha, com a Bell.

– Beleza. Encontro você lá então. Até mais – Fizeram um “toca aqui” e Christian saiu. Bia voltou seu olhar para mim, só então percebendo que eu existia. Fiquei encarando-a. – O que foi? – Riu.

– Vocês... Vocês são amigos?

– Claro que sim! Nós somos amigos desde que nascemos. Meus pais e os pais deles são muito chegados, sabe?

– Mas então o que foi aquela ceninha de luta?

– Ahn... – Murmurou. Parecia tentar achar alguma resposta. – Ah, sei lá. Um “bem-vindo de volta”?

Rimos e desfazemos as malas.

– Ei Bia – Chamei-a. Ela direcionou seu olhar para mim. – Quando vamos nos encontrar com nossos pais novamente? É que, você sabe, eles foram meus primeiros pais adotivos... Eu queria muito revê-los.

– Eu não sei Lize... Também sinto saudades, mas enquanto estamos procurando suas peças, nós não poderemos reencontrá-los – Respondeu triste. – Aliás, você conferiu seu colar?

Ih. Eu havia me esquecido completamente dele! Peguei-o e abri-o. A única luz acesa era a da preguiça.

– Não... Só você está acesa. Mas quando descermos lá em baixo eu olho novamente.

Terminamos de arrumar as malas e fomos até a cozinha. Todos estavam lá. Lucy estava agarrada no braço do Kevin, contando para uma mulher que era namorada dele; Alice estava comendo, e Anne encarava-a com uma cara esquisita; e Oliver estava em um canto, mexendo no celular. Também estavam na cozinha Christian e mais dois garotos, com a mesma aparência que o mesmo. Havia também duas garotas, uma alta e uma pequena. Também estavam um casal, provavelmente os pais de Christian.

– Oh, vocês chegaram! – A mulher veio até Bia e eu. – Oh, Bianca! Como você cresceu!

– Eu estava com saudades, tia! – Abraçaram-se com força. Bia foi até os irmãos de Christian cumprimenta-los, enquanto a Belle voltou toda sua atenção para mim.

– E você, é a Elizabeth?

– S-Sou sim, muito prazer – Abraçou-me com força.

– Bem-vinda! Sou Belle Lee Parker.

Após nos conhecermos, Belle chamou seus filhos. Todos fizeram uma fila de lado, e cada um começou a se apresentar devidamente.

– Sou Christian Lee Parker. O filho mais velho – Sorriu galanteadoramente para mim. Corei levemente.

– Edward Lee Parker – Apresentou-se o garoto ao seu lado.

– Sofia Lee Parker, muito prazer! Sou a irmã do meio – Disse animada.

– Steve Lee Parker.

– E eu, Marie Lee Parker, a ultima filha – Sorriu.

– Sou Elizabeth Morgan, prazer em conhecê-los! – Respondi-os.

– Então, Elizabeth, você é uma herdeira, não? – Belle perguntou.

– Sim, sou. A única peça que falta é a avareza.

– Oh, que ótimo! Marie, Christian e Edward são as três peças cujo pecado é a avareza. Você tem o colar?

– Tenho, sim. – Peguei-o e o conferi. Todas as luzes estavam acesas. – Um de vocês é a minha peça, mas... Terei que conferir ficando a sós com cada um.

– Venha para o meu quarto! – Marie disse, pegando em minha mão e levando-me até o segundo andar. – E então, sou eu?

Conferi o colar. Nem uma luz acesa.

– Sinto muito...

– Nhaw. – Murmurou. – Então tente com os dois bocós lá.

Descemos novamente as escadas e anunciei que Marie não era minha peça.

– Vamos lá, Elizabeth – Disse Christian. Subimos novamente as escadas e então olhei meu colar. Avareza estava acesa.

– É você Christian! – Comemorei.

– Vamos avisar aos outros!

Descemos as escadas e então contei que achei minha ultima peça. Todos lá comemoraram, mas acho que a que mais comemorou foi eu. Eu não podia estar mais feliz, eu finalmente havia encontrado todas as minhas peças! Infelizmente, apenas duas estavam conquistadas.

– Christian, hã... – Chamei-o para um canto. – Você poderia me dar seu coração, por favor?

– Não é assim que funciona a coisa, Elizabeth – Ele riu, colocando a mão em minha cabeça. – Mas sabe, posso fazer você conquistar meu coração fácil, fácil.

– E-Eu não tenho dinheiro aqui comigo... – Murmurei. Eu realmente não tinha dinheiro algum.

– Ninguém aqui falou em dinheiro! – Riu suavemente. Apontou para a cozinha, onde estavam todos. Segui com o olhar onde o dedo indicava, e vi Lucy.

– Lucy? – Perguntei.

– Sim. Vendo meu coração em troca de uma noite com ela.

– E-Eu não posso vender as pessoas assim...

– Ela é a luxuria, não é? – Perguntou.

– Sim, é.

– Então ela não irá me recusar. Confesse, eu sou mais gostoso que aquele bocó do Kevin.

Parece que a palavra “bocó” é xingamento nessa família.

– Eu vou falar com ela... – Murmurei. Fui em direção ao casal e chamei Lucy para um canto. – Lucy, eu...

– Estou tão feliz por você, Lize! Finalmente está com todas as suas peças!

– É, obrigada... – Desviei o olhar. Eu não teria coragem de falar o que eu precisava falar.

– O que foi Lize? Você parece desanimada...

– É que o Christian... Ele quer que... Eu use você... Para conquista-lo...

– Uh? – Olhei para ela. Seus olhos estavam arregalados e sua boca estava num perfeito formato de “o”. – Ele quer uma noite na cama comigo?

– Si-Sim.

– Ah, tudo bem. – Deu de ombros. – Faz tempo que não fico com alguém. Por mim, eu ficaria com o Kev todas as noites, mas ele não me quer! – Fez biquinho. – Fala pra ele que essa noite, seu corpo será meu. E o coração será seu. Hihi.

Corei levemente e fui em direção ao Christian. Eu olhava para o chão, com a maior vergonha possível.

– E-Ela aceitou.

– Eu disse! Hum, parece que hoje terei uma ótima noite – Disse maliciosamente e saiu de lá, me deixando no canto. Recuperei-me do transe e fui até meus amigos.

Tinha comes e bebes na mesa, e todos nós estávamos festejando. Ouvi o som de um telefone, e vi Belle pedindo licença para ir atendê-lo, mas ninguém deu atenção. Não demorou muito, e quando voltou, seu olhar era de quem parecia ter visto uma assombração.

– O que aconteceu querida? – Perguntou Andrew.

Todos ficaram quietos. Estávamos preocupados com Belle, e ela tinha problemas para contar-nos o que ouvira no telefone, o que nos deixou mais ansiosos.

– Kevin... Bianca... Seus pais... Faleceram.

Nada mais foi ouvido no cômodo. Eu comecei a suar frio, não acreditando em tal historia. Tentei olhar para Bia e Kevin, mas meu corpo não correspondia aos meus pensamentos.

– Como assim? – Perguntou Bia, com desespero na voz. – Isso é brincadeira, não é? Não é?

– Eles estavam indo á uma convenção de caçadores... E numa curva fechada, eles bateram em um caminhão – Ela parecia ter dificuldades para dizer as palavras.

“– Mãe, pai, porque vocês não me contam porque estamos saindo de casa?

– Não é nada de mais, Elizabeth. Tudo vai ficar bem.

– Nós apenas vamos mudar as coisas, querida.

E a única coisa que vi após ouvir tais palavras foi clarão branco. E um estrondo surdo.”

Mas... Mas o que foi isso? Que coisa foi essa que eu vi? As vozes que ouvi?

– Isso não pode ser verdade! – Ouvi Kevin gritar. Saí do transe e abri os olhos. A cena que vi foi horrorosa.

Kevin estava gritando com Andrew e Belle, mas Lucy e Christian seguravam seus braços. Ambos estavam com os olhares tristes. Bia estava chorando em um canto, Alice, Sofia e Marie davam apoio á ela. Oliver e Anne não olhavam para ninguém e não falavam nada, apenas estavam sentados. Edward e Steve não estavam mais na cozinha. Andrew segurava os ombros de Belle e a mesma chorava. Eu não sabia qual era meu estado, só sei que suava frio. Eu não queria escutar mais nada, então coloquei as mãos nos ouvidos, fechando os olhos com força, sentindo as lagrimas saírem pelos meus olhos, molhando meu rosto.

– Mas que porra, droga! – Ouvi a voz de Kevin mais uma vez, e então abri meus olhos. Nunca vi Kevin tão estressado como vi agora. Ele livrou seus braços bruscamente das mãos de Lucy e de Christian e estão saiu da casa. Ninguém tinha coragem para ir atrás do mesmo.

Levantei-me da cadeira onde estava e fui à direção que Kevin seguira. Ele havia saído da mansão, e estava sentado num banco, no meio do jardim. Fui até ele. Ele olhava para o horizonte, sem nenhuma expressão em seu rosto, e nenhum brilho nos olhos; seu olhar era triste.

– Kevin... – Disse, mas fui interrompida pelo mesmo.

– Não fale nada, Elizabeth. Não quero ouvir sua voz.

– Eu queria te ajudar...

– Ajudar? – Olhou para mim. Seu olhar era cheio de desprezo. – Você pretende ajudar no que exatamente, Elizabeth? Pelo que eu saiba, nós estamos nessa merda de viagem por sua causa. Nós estamos nos afastando de nossas casas por sua causa. Eu perdi meus pais por sua causa! – Gritou. – É tudo culpa sua! Você se meteu nas nossas vidas! Você nem sabe como é perder alguém, não sabe o que estou sentindo.

Sem dizer mais nada, apenas o abracei. Inclinei-me em sua frente e abracei seu pescoço. Lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto novamente.

– Eles eram meus pais também – Apertei o abraço. – Sinto muito por ter que fazer essas coisas, Kevin... Eu não queria causar tantos problemas para vocês...

– S-Saia de cima de mim.

– Eu sei como é perder entes queridos. Sei como está se sentindo. Sei como é perder os pais. Mas eu estou aqui para você, Kevin. Eu estou aqui para te apoiar, para o que der e vier. Nós somos irmãos, não somos? Eu estarei ao seu lado, seja entre a alegria, a tristeza, a felicidade, a raiva, e tudo o mais. Eu não vou lhe abandonar, então, Kevin... Não se preocupe, pois você nunca estará sozinho.

Senti seus braços passando por minhas costas e sua cabeça se aconchegando em meu ombro. Ouvi soluços. Kevin estava, finalmente, chorando.

– E-Eu não quero perder mais ninguém, Elizabeth...

– Está tudo bem, Kevin – Comecei a acariciar seus cabelos. – Eu estou aqui para você. Sempre estarei aqui quando você precisar.

– E-Eu posso confiar em você?

– Claro que pode Kevin! – Desfiz o abraço, segurando seu rosto e limpando algumas lagrimas com meu dedo. – Nós somos irmãos, afinal. É para isso que irmãos servem.

– Estou confiando em você, Elizabeth... – Ele sorriu. – Não me decepcione.

Foi então que eu conquistei o coração sentimental e duro de Kevin com a minha confiança.

– Kevin, você... – Era tamanha a minha felicidade. Esbanjei meu melhor sorriso e mais algumas lagrimas saíram de meus olhos.

– Vamos, Elizabeth, vamos entrar – Levantou-se, secando os olhos com as palmas das mãos. – Nós não podemos ficar tristes para sempre, não é?

– Sim! – Começamos a andar lado a lado para a mansão.

– Quero que você anime a todos naquela casa. Afinal, quem melhor do que a herdeira para animar suas peças? – Colocou a mão em minha cabeça, descabelando-me.

Finalmente, Kevin... Alguém conseguiu conquistar seu coração.