''Deixe as pessoas pensarem que eres inofensiva então quando desconfiarem de você, mostre suas garras e os deixe surpreendidos com sua bravura e audácia '' - Princesa Reina, da Dinamarca

Selecionada Barbara Frost

As meninas tentavam não fazer barulho, enquanto cochichavam sobre a demora do príncipe.

Elas não entendiam que ele poderia estar ocupado?

– Queria poder virar uma mosca e saber o porque da demora de Sebastian... - Blair sussurrou.

– Ele deve estar chegando - falei.

Com o tempo, era fácil aprender á esperar. Eu era da Cinco, e ter paciência, com certeza estava no rótulo das pessoas á baixo da média.

Enquanto nenhum membro da família real atravessava as portas duplas, comecei a brincar com um fio loiro e solto da minha trança. Minha criada, Luana era especialista e sabia muito bem como transformar um cabelo sem graça como o meu, numa obra de arte.

– Você viu como ela meche no cabelo? - Blair apontou discretamente para Heidi, uma oriental, á algumas cadeiras depois da sua.

– Ahãm? - Perguntei.

– Agr, não viu o jeito irritante que ela tem?

Blair continuou falando por longos minutos.

Me distrai facilmente, enquanto via Angela desenhar num dos guardanapos. Ela era bem quieta, apesar de estar se enturmando, vezes ou outra, olhava para a porta, segurando e manuseando pausadamente a caneta.

Ela olhou para mim e sorriu, em seguida, voltou ao desenho.

As portas dupla se abriram, revelando as três princesas.

Em harmonia, todas nos levantamos e fizemos uma reverência.
Rosie tentava andar com classe, sem sucesso já que a prima andava atrás, fazendo várias tentativas de pisar em seus pés. Christy havia amarrado o cabelo, que geralmente caía perfeitamente nos ombros e Reina desfilava com um vestido cinza, apagado, que fazia seu sorriso largo e bonito - além do colar de pérolas ao redor do pescoço - se destacar ainda mais.

– Bom dia - Christy levantou a postura, seguindo até seu assento com as irmãs e prima atrás de si. Assim que se acomodaram, prosseguiu: - Meus tios e meu primo, chegarão em breve.

– Sentem-se - Reina sorriu amavelmente.

Me acomodei na minha cadeira antes de ouvir o burburinho feminino recomeçar.

Senti meu pé formigar. Como era um bailarina e, estava á alguns dias sem dançar e meus pés não tinham se acostumado com todo o luxo e conforto, era necessário me manter - ou tentar - o máximo de tempo em pé. Mas naquele momento, eu não seria louca de começar a andar pela sala de jantar.

As portas duplas se abriram novamente e a família real adentrou.

Como sempre, Esther demonstrava calma e paciência. O rei, parecia não se importar em mostrar sua afeição um pouco irritada. Sebastian tinha uma expressão cansada, porém, sorriu ás selecionadas.

Nos levantamos fazendo uma reverência - que a ranha imediatamente dispensou - e os três seguiram á seus assentos.

Eles eram uma família muito bonita - precisava admitir.

Diferente da minha, que tinha sido parcialmente destruída por um acidente. Fiquei imaginando o que teria acontecido com a minha mãe, se ela não tivesse se acidentado e virado uma Oito quando meu pai não conseguiu mais cuidar dela.

Eu nem mesmo conseguia me lembrar do rosto ou de seus olhos, embora minha avó tenha dito que os meus eram extremamente parecidos aos dela.

Seria maravilhoso tê-la de volta.

O café da manhã foi servido e Blair estava ansiosa para devorar seus bolinhos.

– O que é aquilo? - Uma ruiva ao meu lado direito perguntou, receosa, olhando para uma cesta de recheada de croissants á as frente.

Como é que ela não sabia o que era?

– São croissants - respondi.

– Sou Melony. - Ela falou em seguida. - Como quase nada com queijo. Aliás, gorgonzola me faz muito mal.

Dei de ombros e voltei minha atenção ao prato de torta de uva.

A claridade da manhã entrava pelas grandes janelas, bem espalhadas por uma parte da sala, especificamente, o que ficava á minha frente. Alyna e Monyra sentavam bem na frente de uma parte de vidro, um pouco maior que as outras.

Em algum momento, todas as garotas ficaram em silêncio. Ergui meus olhos e me deparei com o príncipe, já de pé.

– Senhorita Lucy, poderia me encontrar daqui duas horas no jardim? - Sebastian perguntou, após abotoar o terno.

– Claro, alteza - Lucy respondeu, tímida.

Sebastian saiu em seguida, com um aceno e em seguida, o nem tão leve burburinho voltou.

Aquele seria o primeiro encontro do príncipe.

(...)

Katie

Angela estava mais quieta que o normal, e isso durava desde o dia anterior. Ela quase não falava e no tempo em que ficou dentro do quarto, ficava sentada na varanda olhando o sol quente de Angeles, ou voltava á desenhar.

Ela guardava um caderno e um conjunto de folhas dentro do guarda-roupas, quando percebeu que eu estava olhando. Desvie o olhar e voltei a costurar o vestido.

Ouvi ela dar um pequeno riso.

Observei-a de soslaio, voltar á varanda, manter a postura ereta e suspirar.

Angie era uma Cinco. Sua antiga província, Arizona, havia sido atacada naquela manhã, como em San Diego no dia anterior - uma Ong havia sido incendiada (Kauê tinha me contado).

Eu não contaria á ela, pelo menos, não agora. Seria muito melhor se eu não me intrometesse e deixasse a poeira baixar.

Olhei para Angela, o cabelo castanho caindo delicadamente abaixo dos ombros. Ela estava de costas, e o vestido azul-claro e esvoaçante lhe dava um ar um pouco mais angelical, que o normal.

– Que horas são? - Ela indagou, sem se virar.

Virei-me para o relógio perto da porta.

– Quatro e meia. - Respondi.

Angie se levantou, ajeitou o cabelo e pediu para que eu lhe trouxesse uma tiara prateada.

Busquei por uma dentro da caixa de bijuterias. Angela analisava seu rosto no espelho da penteadeira.

– O que você acha disso? - Ela apontou para uma pequena marca acima do olho. - È horrorosa, não? - Ela deu um sorriso triste.

Katherine e eu havíamos feito de tudo para encobrir a cicatriz. Mas sempre ficava uma pontinha. A mesma, incomodava muito a garota.

– Acho que a senhorita não deveria se preocupar com isso. Você já é linda, uma cicatriz não irá mudar isso.

– Muito obrigada, Katie.

Ela saiu da frente do espelho, permitindo que eu ajustasse a tiara de brilhantes sobre seu cabelo.

Angie sorriu.

– Vou dar uma volta. - Ela disse por fim.

Ela rumou apressadamente á porta, fechando-a ao sair. A saída repentina de Angela havia me deixado bastante curiosa.

Voltei a costurar o vestido, perdida em pensamentos.

(...)

Angela só voltou para o quarto minutos antes do jantar. Katherine ficou responsável por lhe ajudar no banho. Eu não queria sobrecarregar minha colega.

A garota saiu enrolada num roupão e se sentou numa cadeira. Corri para começar arrumar seu cabelo.

– Onde a senhorita estava até agora? - Katherine perguntou.
Suas costas estavam mais curvadas, me preocupei.

– Oh! Desculpe-me, não deveria estar me metendo na sua vida.

– Não há o que se desculpar. Eu estava no salão, conversando com as meninas, nada de mais. - Angie sorriu através do espelho. Seu sorriso estava mais aberto e seus olhos brilhavam.

Fingi não ouvir nenhum pingo do diálogo.

Trancei o cabelo dela em seguida pondo-o num coque. Coloquei uma tiara preta e cintilante, combinando o vestido rendado nas costas e alças finas. O roxo bem escuro combinava perfeitamente com a tiara e o par de saltos prateados.

Angela chegaria um pouco atrasada, porém, deslumbrante.

– Pronto - afirmei.

Angie se levantou e abraçou Katherine, em seguida á mim.

– Obrigada meninas, até mais.

Angela cruzou a porta e Katherine começou a organizar a bagunça que tínhamos feito.

– Ei, deixa que eu arrumo isso - falei, antes que ela se agachasse e tentasse pegar alguns lençóis no chão.

– Pare menina! - Ela bateu sua mão enrugada e fina, delicadamente sobre a minha, ri. - Eu vou fazer isso e pronto.

– Mas sua coluna.... - Tentei argumentar.

– Minha coluna? Que se dane. Eu tenho mais o que fazer.

Balancei a cabeça. Como ela podia ser tão teimosa?

Recolhi os sapatos espalhados pelo quarto, colocando-os em seus devidos lugares.

– Hoje o príncipe teve seu primeiro encontro - Kath falou.

Virei-me surpresa.

– Sério?

– Sim, pelo menos é o que as outras criadas estavam dizendo.

– Explique melhor - pedi.

– Ele convidou uma menina, no café da manhã. As senhoritas não paravam de dizer sobre isso. Imagino o quão sortuda ela é. O príncipe é lindo, não?

Comecei a rir. Apesar de Kath ser viúva á mais de dez anos, ela nunca deixava de brincar sobre o quanto os guardas, conselheiros e até mesmo o príncipe - principalmente ele - eram bonitos e que, pegaria todos numa "rajada só".

– Menina, poderia pegar um copo d´água para mim?

– Claro. - Despejei a água da jarra num copo e lhe entreguei.

– Muito obrigada.

Ela fungou e devolveu o copo á mesinha.

Ajustei meu coque por dentro da touca.

– Deixe-me ajudá-la com isso - fui ao encontro dela, que tentava tirar o avental apertado, já que ela tinha adquirindo alguns quilinhos em seu tempo de "férias".

– Vai para o seu quarto, eu dou conta do serviço- avisei.

– Não, eu quero trabalhar.

– Você não está tão bem quanto antes, vá e depois nos vemos, pode ser?

– Tentei convencê-la, fazendo um biquinho.

– Você é impossível, senhorita Prior.

Ela se despediu e saiu caminhando vagarosamente do quarto, as costas curvadas.

Sua situação estava me preocupando cada vez mais, não sabia até quando Katherine conseguiria ficar no palácio. Aliás, ela era uma das mais velhas de lá. Ela tinha visto o casamento dos reis e visto o príncipe crescer, de perto. Ela não podia simplesmente ser ignorada.

Sentei-me na cadeira e suspirei.

(...)

Kauê

Guardei minha arma em seu devido lugar antes de comer.

Eu teria apenas três horas de descanso até ter de voltar ao meu posto habitual.

Terminei de comer e voltei para meu quarto. John estava deitado, de costas em sua cama, e assim que fechei a porta, se moveu.

– Eaí cara? - Falei.

Ele grunhiu alguma coisa e se virou. O cabelo ruivo estava extremamente bagunçado e algumas marcas no rosto o deixavam bem engraçado.

– Se o Karl chegar, diga a ele para não me acordar, está bem? - Ele falou com a voz rouca.

– Pode deixar.

Peguei uma toalha e minhas roupas e entrei no banheiro.

Deixei a água morna cair sobre meu corpo. Eu nunca tinha trabalhado tanto até os últimos dias. E por mais que gostasse do que fazia, eu não era de ferro.

Me sequei assim que sai debaixo do chuveiro. Vesti minhas roupas rapidamente e sai secando o cabelo.

Karl estava sentado na sua cama, lendo um jornal.

– Você viu? - Ele apontou para um artigo.

– Leia - John, que provavelmente não tinha conseguido dormir, falou.
– Esta manhã, outra província, Arizona, foi vítima dos rebeldes - Karl começou.

" Oito bairros da Dois, foram atacados. Não houve nenhum registro de morte, embora as casas e alguns carros, tenham sido destruídos ou levados.

Um dos moradores, disse: Estava quase saindo de casa, quando fui abordado. Eles não esperaram para que eu saísse. Simplesmente começaram a jogar pedras e falarem para que eu fosse embora. Fiquei assustado....

Nossa segurança está em risco. O que nos leva á questionar: Será que apesar do palácio estar muito bem protegido, ele não possa ser também alvo destes baderneiros?

Clamamos por misericórdia.

_Reportagem por Emily Monroe

– E então? - Karl falou. - Você acha que....

– Não é impossível - afirmei.

– Mas o palácio está muito bem protegido, e porque eles viriam para cá? - John falou.

– Não tenho a mínima ideia.

Sentei-me na minha cama.

Eu nunca tinha presenciado de fato um ataque rebelde. Fazia muitos anos que o palácio não era atacado. No entanto, não seria impossível. Os rebeldes tinham suas próprias maneiras de conseguirem o que quisessem e, A Seleção, era uma ótima oportunidade.

++

...Três grupos, dois obetivos, uma única chance...