Turquesa escrita por Ju Azul


Capítulo 1
Um Tiro




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"Quando eu tô contigo não quero estar contigo"

Era sexta a noite, estávamos os dois sentados na calçada, aquela calçada de sempre, nela já tinha um tempo que trocávamos ideia, um abraço aqui, uma indireta ali, por que você me abraçou mesmo? Ah é, eu disse que não sabia fazer essas coisas e você tratou de querer me ensinar né. Que abraço estranho, meio errado, desengonçado, algo mudou.

No chão ali era melhor ainda, você subindo a mão na minha nuca, agarrando o meu cabelo azul, você se jogando em cima de mim: "Ah, que dor de cabeça, preciso de um colo, se ajeita ae" e assim eu me arrumava inteira pra que você tivesse conforto e eu você bem perto. "Tão próximos", tão próximos em tão pouco tempo, falávamos um com outro não tinha nem uma semana, mas todo dia tínhamos que trocar uma palavra, um sorriso, um aceno, e a noite era nossa, não no sentido comum, era o nosso momento de encostar as mãos, ter uns olhares demorados... ninguém pra ver, ninguém pra ver. Minhas mãos em você, suas mãos em mim, era muito frio aquele mês, precisávamos nos esquentar certo?

Um na cabeça do outro, um no corpo do outro, as peles se roçavam e eu comemorava cada toque, não queria seu beijo apesar de tudo, queria seu olhar mais intenso, como se eu fosse uma descoberta e tanto, e ainda, como se eu fosse desaparecer em breve e você só tivesse aquele minuto pra me contemplar. Acho que tinha esse olhar pra você as vezes.

Eramos amigos, amigos de uma amizade rápida e estranha, sempre que ia embora você dava um jeito de andarmos juntos, ou era eu, e naquela hora percebi, mais uma sexta e mais um olhar na sua direção como se você fosse um acidente de carro e eu tivesse que capturar o máximo de detalhes em pouco segundos antes de seguir a estrada. Todo tempo do mundo e não era suficiente, não com você, duas horas sentados um do lado do outro, discutindo assuntos irrelevantes mas que serviam ao propósito de nos aproximar, de justificar aquele tipo de relação. Olhei mais uma vez pros seus olhos escuros e pras linhas fundas ao lado do seu nariz, por que nunca me joguei em cima de você? Nunca disse: "Se arruma ae que eu quero deitar", nunca nem fui te abraçar.

Nunca nem conheci você. Aquela sexta não seria eterna e o tempo parecia estar se esquivando da gente.

Na segunda de outro mês você disse que seria melhor falar pessoalmente, eu, que já sabia dois dias antes que você queria conversar cara a cara, tratei de ficar bêbada e sair com outro cara, tratei de beijá-lo e abraçá-lo e de ficar de mãos dadas com ele o caminho todo, tratei de fingir ser a namorada dele, tratei de me sentir incrivelmente bem, tratei de chegar em casa a noite e pensar que queria ter feito tudo isso contigo: "Pode falar por mensagem mesmo" escrevi com água rápida caindo na tela do celular, caralho. Na quarta já te vi, já te vi com os olhos em outra, dando voltas em outra, mas a noite a esperança ainda estava lá, a noite era nossa certo? Você correu na direção dela um segundo antes de eu te gritar, foi embora com outra e a rua ficou mais escura, uma nuvem cobriu a lua por acaso.

"Eu sou uma pessoa triste né."

"E ela estava ali, feliz, animada, ela estava bem ali."

Você me trazia a tristeza garoto, estar com você enquanto coisas saiam da sua boca, coisas sobre o passado, histórias estranhas que muito conversavam conosco, me faziam questionar tudo entre nós, você me fazia querer correr e chorar pro céu.

"Quem sou eu pra você?"

Não estar com você só me fazia querer deitar e olhar pro teto infinitas horas, imaginar como seria estar contigo assistindo um filme sobre um baixista e uma mina de cabelo azul, me confundiu, me deu algo novo, me deu o início de tudo e antes que eu pudesse se quer entrar no seu mundo você evitou meu olhar e eu caí, acertei o fundo. Agora eu fumava sozinha e longe da sua vista. Fumei, sonhei com um perdão, bebi, sonhei com um reencontro leve, fumei e bebi, sonhei com um beijo, infelizmente um que nunca aconteceu, nem nunca vai acontecer porque nenhum beijo, nem os que rolaram nesse meio tempo, podem se igualar a um sonho. E é isso que eu sou, depois de quase um ano, depois de noites desenhando aquelas noites de sexta, é isso que sou, um sonho, uma sonhadora, algo inexistente no plano físico. E você, você é o mesmo sonho, o mesmo abraço, o mesmo toque, o mesmo cara que parece incapaz de discutir problemas e finge estar feliz, o mesmo tom de verde que não se mistura ao azul que você tanto odiava.


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