Contos de Garras e Sangue escrita por Rick Batista


Capítulo 16
Meu próprio bando


Notas iniciais do capítulo

Andy continua pela área, marcando território e reconhecendo os cheiros ao seu redor. Predador ou presa? As vezes, tudo se resume a isso. Mas quem sabe seja hora desse lobo solitário aprender a andar em bando.



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Escola “Santa Virgem”, 10h00.

Hora da pausa, os alunos se espalham pelo pátio da escola e outras dependências. Andy se senta em um canto isolado, fones de ouvido o tirando do tédio solitário de sua realidade escolar.

Após algum tempo, começa a observar os grupos de garotas reunidas por lá, todas de uniforme escolar (blusa social e saia). Examina as curvas e o “tipo” provável, um bom passatempo pelo menos. Quatro delas conversam próximas ao portão, duas sentadas e duas de pé: a mais alta e de pé é uma garota negra de cabelo Black Power. Tem traços de modelo, usa óculos da moda e parece ser a líder do grupo. Uma dupla de irmãs sentadas competem em tamanho de seios, as duas um pouco acima do peso e de cabelos castanhos, uma com cabelos longos cacheados e a outra com cabelos curtos e alisados. Por último, uma garota baixinha, de pé e afastada, muito branca e de franja azul num cabelo preto, não possui nenhum atributo físico que lhe chame atenção.

Andy resume o grupo em: “patricinha-metida”, “tetudas- gordinhas” e “tábua-branquela”. Afastada do grupo, no extremo oposto do Andy e contrastando com as demais garotas, uma jovem de uniforme surrado, All Star de bota e pulseiras de banda de rock, balança a cabeça ao som de música do celular. Ele ri ao reconhecer de quem se trata: Mandy Duncan, a irmã do mecânico.

Mandy está deitada no banco, de olhos fechados enquanto ouve música (System off a Down). De repente fica alerta por conta de um pé cutucando sua bunda.

— E ai, Hello Kitty. — Andy fala, sorriso irônico na face.

Não queria ser vista comigo? Só lamento, pensa ele.

Ela aproveita a posição e dá um chute na barriga do garoto, com força. Ele sente a dor, e leva a mão a barriga.

— ...e ai, Scooby Doo. — ela responde.

Ela retira os fones e muda a postura para ficar sentada, ele se senta ao lado dela enquanto massageia a região dolorida. Sem encarar a garota, meio sem jeito, pergunta:

— Qual o lance com vampiros?

Ela o encara por um tempo, surpresa com a pergunta, sem saber que ele foi sobre eles diretamente do líder da matilha. Depois responde:

— Encontrou algum, foi?

Ele dá um peteleco no nariz dela, a garota solta um gritinho e leva as mãos ao rosto.

— Não mete o nariz onde não é chamada, eu que perguntei primeiro.

Ela o encara com olhar assassino, ele devolve o olhar frio e ficam assim por um tempo. Então ouvem os risos e percebem que todos os alunos estão olhando para eles.

— Olha gente, a “Maria gasolina” desencalhou! — grita a menina de cabelos curtos e seios grandes, os outros rindo em coro ou fazendo piadas do tipo. — E vocês achando que ela era sapatão.

Mandy se levanta, dá o dedo para as colegas e puxa o Andy pelo braço.

— Já que querem assunto, vamos dar a eles. — ela fala.

Andy fica surpreso com o gesto, saindo sob os vivas e piadas de algumas dezenas de adolescentes. Na quadra de esportes do colégio, agora vazia, o casal passeia, enquanto fala de assuntos impróprios para as pessoas comuns. A menina carrega uma bola de basquete que segue quicando enquanto anda.

— Como posso explicar? Vampiros são... ultra-mega-power perigosos. São fortes e rápidos como a gente, mas só que cheios de truques bizarros. — Ela fala, de repente jogando a bola na direção do rosto do garoto, que agarra por reflexo.

— O Jimmy diz ter encarado um ou outro no passado, falou que a maioria deles é bom de papo e sabe manipular as pessoas normais pra... — interrompe a frase para defender a bolada que ele devolve no rosto dela.

— Como a gente reconhece eles? — Ele pergunta, em seguida saltando na grade da arquibancada e se pendurando nela.

A jovem mecânica para por um momento, faz mira e arremessa a bola na cesta, errando por pouco.

— ... o cheiro, meu irmão diz que eles cheiram a coisa morta. — ela diz, tom de frustração pela falha. — Fora que alguns dão a maior pinta, e só são vistos a noite.

Ele faz sinal pedindo a bola, ela pega e depois lança para ele. Andy mira e acerta a cesta, isso de um ponto da arquibancada bem mais difícil que o dela, e então diz:

— Tá de boa então, valeu pelas dicas, Hello Kitty.

— Ei! — Ela grita — O Jimmy anda preocupado contigo, tu tem conseguido se virar?

— Tô de boa. — ele responde, já em direção a saída da quadra.

— Se liga, ô passa-fome. — Ela fala, andando mais para perto. — A gente vai tá na praça da cidade essa noite, na festa. Se ver o Jimmy, aproveita que ele te paga uma quentinha.

Ele dá o dedo para a garota, ainda de costas e andando. Ambos riem sozinhos.

[...]

Em um depósito mal iluminado e com pilhas de caixas alcançando de três a quatro metros, um jovem de roupas escuras e capuz se esgueira. Ele está ciente dos vigias, ao menos três deles o rapaz consegue avistar enquanto caminha pelas caixas cheirando a urina de rato. Seu objetivo é um só: entrar em uma sala trancada, cem metros à frente.

Round one..., pensa ele.

Andy tem excelente forma física, se movendo como uma sombra ele salta por entre as pilhas de caixas e vigas, camuflado pela escuridão e sem fazer qualquer barulho. O garoto passa por dois dos vigias apenas sendo furtivo, quando chega no último, percebe que terá de ser mais criativo.

Round two...

Vindo de um ponto cego do homem barbudo de uniforme cinza, altura mediana e corpo magro, o garoto bate com a cabeça dele contra uma coluna, tirando o último chefe de fase do seu caminho.

Final Round...

A porta do escritório estar trancada seria um problema, mas já há algum tempo ele aprendeu alguns truques úteis para arrombar fechaduras. Em poucos instantes, Andy Valentine se ergue triunfante sobre a pilha de caixas acima de um dos guardas, o homem completamente ignorante da presença de um ladrão no seu turno de vigia. Segurando firme uma mochila com dinheiro suficiente para ajeitar sua vida por um bom tempo, diante da vitória eminente, ele olha para o céu, percebendo lá uma pequena brecha no telhado por onde se pode enxergar a lua.

K.O. Winner is...Andy.

É noite de lua cheia, e em um céu sem nuvens, aquele brilho prateado de repente prende totalmente sua atenção. Andy sempre gostou de olhar para a lua, desde pequeno que em noites solitárias podia passar horas na laje de casa, olhando para o céu, perdido em seus pensamentos. A lua sempre foi uma companheira silenciosa, observando seus problemas, seus medos, impassível e brilhante, reinando na noite. A lua que sempre assistiu seu sofrimento, ao menos nessa noite, poderá assistir uma vitória. Um primeiro passo.

Quem sabe um recomeço, ele pensa.

De repente, um som alto o puxa de volta à realidade: som de tiro. Andy olha em volta, percebe que um dos guardas está lá embaixo apontando a arma para ele. A mochila que ele carregava está caída, perto do homem.

Quando foi que eu deixei ela cair? Quanto tempo eu fiquei aqui parado!?, ele se pergunta, desesperado.

— Mãos pra cima, agora! — Grita o vigia, barba por fazer e corpo atlético, suando em profusão e com mãos trêmulas.

Sequência de tiros de outro guarda, um homem na faixa de quarenta anos, boné e uniforme apertado em um corpo redondo e baixo. Um dos tiros acerta a perna do garoto. Andy rilha os dentes pela dor do impacto, a surpresa o fazendo cambalear para trás e cair da pilha de caixas. O garoto sente a dor aumentando, tanto pelo tiro quanto pela queda sobre o piso de madeira velha. Pode sentir o sangue escapando em profusão, ao longe, os sons de passos e vozes se aproximando.

— Vão terminar de me matar? Ou será que vou em cana dessa vez? — Ele resmunga para si mesmo, em meio a dor.

Seja como for, minha vida acabou, pensa o garoto.

E ele então vê a lua, ainda mais intensamente brilhante que antes. Como se estivesse falando com ele, chamando-o, dizendo: “Desperte”. Tudo fica escuro de repente, os cheiros começam a aumentar de intensidade e um sentimento começa a crescer dentro do garoto. Algo familiar, mas nunca antes tão forte assim: o ódio.

Uma dor terrível toma conta dele, sangue jorrando da perna em que foi baleado e da cabeça que bateu contra o chão. Ele se põe de joelhos, veias pulsando, coração acelerado, olhos vermelhos, dentes rilhados e uma expressão assustadora no rosto. Mesmo o guarda que atirou se vê sem reação quando olha para o garoto, diminui o passo e para a poucos metros dele.

— Querem me machucar? Me matar!? — Ele pergunta, os dois guardas agora juntos e com armas apontadas para o garoto observam assustados, prontos para atirar ao primeiro sinal de risco — Agora eu que vou matar vocês!

As últimas lembranças do Andy envolvem cheiro de medo, suor e sangue. Gritos desconexos, barulho de tiros, seu corpo agindo por instinto e sua mente apagando. Quando acordou tempo depois, estava com os trapos do que tinham sido suas roupas, coberto de sangue e sozinho em uma área isolada da cidade. Deu um jeito de se lavar em uma piscina e roubou roupas limpas de um varal. O garoto passou um dia inteiro vagando antes de voltar para casa. Ainda pobre, só que diferente. Com medo, muito medo daquilo voltar a acontecer! No primeiro dia após o incidente sua mente estava um caos e o garoto não lembrava de quase nada. Durante as noites seguintes, fragmentos de lembranças começaram a ressurgir pouco a pouco e, no sétimo dia, veio tudo de uma vez.

Andy passou horas vomitando, após lembrar do massacre, das mortes que causou enquanto estava naquela forma. Enquanto era um monstro. Agora, após mudar de cidade, conhecer outros como ele, ser treinado por um deles e quase morto por outro, caminha sozinho pela estrada, com uma mochila nas costas e sem destino certo.

— ... um monstro. — ele sussurra para si mesmo. — Eu sou um monstro de verdade. Agora, eu meio que aprendi a dominar esse monstro.

Ele olha para as luzes da cidade, para a lua e para o velho castelo distante.

— Só que... por quanto tempo?

[...]

As 19h00 da noite, a praça central de Bleak Hill está um formigueiro. Essa é uma cena que só se vê uma vez por ano, no aniversário da cidade. Barracas de comes e bebes, feira de artesanato, circo e parque de diversões. Um palco montado ao lado da estátua de um dos fundadores da cidade é revessado pelas autoridades e artistas locais. Andy caminha por entre a multidão com naturalidade, acostumado a cidades grandes e tumultos, diferente da maior parte da população de lá.

Ele observa à tudo desinteressado, escorado em uma barraca de lanches. De repente, sente um cheiro diferente, que com dificuldade reconhece como algo sobrenatural. Cheiro de lobisomem! O garoto se vira rápido na direção do odor, corpo retesado, pronto para dar de cara com a gangue de lobos, o líder Malcon ou quem sabe com o sujeito que deixou em frangalhos naquela noite em que conheceu a matilha. Quando vê, tem um hambúrguer na direção dos olhos, segurando o alimento: Jimmy Duncan.

— Quem não deve não teme, tá assustadinho, é? — Pergunta o mecânico: boné, calça jeans, blusa sem manga e tênis, comendo um hambúrguer e estendendo o outro ao garoto.

Ao lado dele, Mandy Duncan, calça jeans rasgada e casaco, cachorro quente gigante em uma mão e copo grande de refrigerante na outra. Bebendo de canudo e com olhar de peixe. Andy pega o hambúrguer e morde, então fala, ainda de boca cheia:

— ...fi graçaa, afe injefao na testa.

Depois ficam um tempo se olhando e mastigando, até ele dizer:

— Quero algo pra beber, copo grande.

— Mas que mal agradecido. — Jimmy ri, batendo com força nas costas do garoto e depois pedindo o refrigerante grande para o dono da barraca.

Mandy o encara, para de beber do canudo e apenas diz:

— É um passa-fome mesmo.

O trio passa as três horas seguintes aproveitando as atrações da festa, os artistas de rua, jogos e brinquedos do parquinho. Jimmy paga tudo, e o garoto não se mostra reticente em aproveitar. Após se divertirem, se encontram sentados em frente a uma barraca de doces que a Mandy ataca, quando então ele repara uma jovem e bela policial, que parece estar olhando para ele: Emma.

O garoto tenta não chamar atenção, fingindo não ter reparado a ruiva o encarando. Quando olha de novo, percebe com alívio, que ela não está mais lá.

— Você ai, fique onde está e ponha as mãos onde eu possa ver. — voz da policial, bem atrás dele.

Tá de sacanagem! Nem acredito que vou dançar tão cedo. — Pensa ele, sem se virar e olhando para o chão — E logo na frente do povo da mecânica.

Quando se vira, encontra o Jimmy agarrando a policial pela cintura, enquanto trocam um beijo intenso. Vê que a Mandy o observa com curiosidade, como se percebesse seu nervosismo.

— Pelo jeito, alguém está mesmo devendo. — sussurra ela.

— Desculpa ai crianças, mas tem uma tira malvada me levando para uma revista. — Fala o jovem, enquanto a policial algema uma de suas mãos.

— Tchau, Mandy. Devolvo o traste, depois do interrogatório. — Ri a Emma. Depois encarando Andy de forma que o deixa desconfortável. — E você comporte-se, hein garoto. Lembre-se que a polícia está de olho.

— Isso mesmo, sem gracinhas com minha irmã, hein!

O casal adolescente encara o mecânico, e depois se encara com a mesma expressão. Jimmy e Emma se afastam entre brincadeiras, deixando os dois lá sozinhos. Andy sente que a fala da policial queria dizer algo além de uma brincadeira... mas prefere não pensar muito no assunto. Após alguns momentos, a garota chuta o copo vazio de refrigerante, e fala:

— Vem comigo, ô Scooby.

Em meio à multidão de famílias, crianças choronas, cheiro de comida, vômito e urina, Andy anda alerta quanto à possibilidade de farejar alguém da matilha novamente. Ou quem sabe, até mesmo o cheiro de algum dos tais “vampiros”. Quando o garoto dá por si, está na entrada da floresta com Mandy Duncan, a irmã adolescente do mecânico que o ajudou a se controlar no período de lua cheia. Então se dá conta do que pode significar estar indo para o meio do mato com uma garota. Ele logo fica vermelho, e tenta disfarçar pensando em outra coisa.

Ela para, o local está deserto, com exceção dos dois. A lua brilhando no céu, as cigarras cantando e as luzes do parque e da festa já distantes.

— Tira a roupa, quero te ensinar uma coisa. — ela diz, ar de desinteresse.

Ele empalidece e não sabe o que fazer.

— Hein? — pergunta o jovem Andy, sem acreditar no que está acontecendo.

Ela dá um peteleco no nariz dele e responde.

— Você não ficou se mostrando na quadra, achando que é melhor do que eu? — ela pergunta, sorriso maldoso no rosto — Pois eu garanto que nisso eu sou melhor que um cara inexperiente como você.

Em seguida ela tira o tênis e levanta a blusa, já de costas para ele e se afastando. Andy nunca namorou antes, na verdade, nunca foi bom com garotas, nem mesmo beijou uma. A possibilidade de fazer sexo nessa noite não parecia muito plausível para ele, até agora. Coração acelerado, uma certa parte do corpo começando a se levantar, suor escorrendo, cabeça a mil.

— Já é então! — Ele responde, animado e começando a tirar a roupa o mais rápido que pode, "antes que ela mude de ideia".

— Tira a roupa e vem logo, eu já tô pronta! — ela grita, já fora da visão dele.

O Jimmy vai me matar se souber!ele pensa Mas dane-se, até que vale o risco.

Só de calças, Andy Valentine se aproxima de onde espera encontrar uma garota nua e querendo sexo. Mas acaba não achando nada além de roupas espalhadas pelo chão. Confuso e frustrado, ele procura algum sinal da garota, após dez passos, sente uma pancada na perna e cai de bunda no chão. Diante dele uma loba, pelo negro e olhos brilhantes, rodeando o garoto. Ele fica um tempo olhando e então reconhece:

— É você, Hello Kitty?

A loba balança a cabeça afirmativamente, e faz um som que lembra um riso. Depois corre para a direção de uma árvore de onde instantes depois se ouve a voz da jovem mecânica:

— É claro que sou eu, era isso que eu queria te ensinar. — Em seguida, deixa o rosto e o braço esquerdo visíveis, sorriso maldoso — Pensou em outra coisa, foi?

Ele se ergue, irritado.

— Tô caindo fora, detesto esses lances de virar lobo! Seja lobo grande ou pequeno.

E vai embora, deixando uma garota rindo sozinha na floresta.

[...]

Horas depois, na casa do mecânico. Andy Valentine e Mandy Duncan assistem à Jimmy vomitar pela terceira vez na privada. Ao menos dessa vez foi dentro dela.

— Eu te agradeceria por carregar ele até aqui, mas considerando que comeu graças a grana dele, já tá pago. — fala a garota.

— Ele não tá pegando uma tira? Por que ela não trouxe ele na viatura? — Andy pergunta, esticando o braço ainda dolorido pelo peso do amigo.

— A Emma tá de plantão, depois que a tal freira morreu vindo pra festa da cidade, o prefeito quer todos eles nas ruas, pra evitar problemas com os turistas. — Ela diz, enquanto se afasta do vômito que começa a escorrer em sua direção.

— ...dorme ai cara, quero fala contigo... sobre... — pausa para vomitar, fora da privada dessa vez.

— Já é, vô dormir então. — Ele diz, fugindo igualmente do vômito.

— Aproveita e bate um prato, tem resto de comida de ontem na geladeira. — ela fala — Sei que deve tá com fome... “passa-fome”.

Eles se encaram, olhar de desprezo em ambos. Depois ele se vira e vai comer.

No dia seguinte, após a aula dos dois adolescentes.

Andy resolveu deixar para pegar suas coisas apenas depois de voltar da escola, assim pode aproveitar para tomar um banho e comer algo antes de voltar a sua rotina de sem teto. A última semana foi difícil, invadindo casas para arrumar uma ninharia, as vezes dormindo na praça e se alimentando de bobagens, mas ele sempre conseguiu se virar de uma forma ou outra.

Na busca pela mochila e donos da casa, encontra Jimmy Duncan se escorando pelo porão. Com olheiras, bafo de bebida e aspecto cansado, o homem tenta se refazer de uma ressaca. Vendo o jovem descendo as escadas do porão, vai na direção dele.

— Seguinte garoto, tu me carregou nesses teus braços fortes ai. — ele fala, apalpando os braços do jovem — Agora vai ter que casar comigo!

Sorriso zombeteiro na face, dá um abraço forçado no Andy.

— Cai fora, maluco! — Ele responde, empurrando o sujeito. — Cadê minhas coisas? Tô vazando.

— Bem ali, no seu guarda-roupas. — Apontando para um móvel velho e empoeirado, enquanto procura um banco para se sentar.

Andy olha para o móvel, então repara no colchão mofado com travesseiro e lençol, na tv velha, no rádio e no cesto com roupas limpas que devem ter sido do Jimmy. Um pouco envergonhado, finge não ter entendido o que isso significa.

— Que merda é essa, cara? — o garoto pergunta, tenso.

O mecânico massageia a cabeça (que dói, por conta da ressaca), de olhos meio fechados ele diz:

— Tu anda rondando por ai, dormindo pela praça e comendo besteira, não é mesmo? Minha noiva me falou que já te viu por ai, quando soube que a gente te conhece, disse que ou eu resolvo isso ou fico sem sexo pelo resto do ano.

Jimmy dá uma risada depois de dizer isso, parando quando sente a cabeça doer. O garoto olha para a Mandy, que chegou no meio da conversa, percebe que ela não parece surpresa.

— Tu vai morar aqui, vai comer e dormir nessa casa e não vai arranjar problemas. — fala o jovem, agora de pé. — Em troca, vai virar ajudante na oficina.

Para o garoto tudo parece estar acontecendo muito rápido, não sabe como reagir, e resmunga sem jeito:

— ...mas eu não...eu nem sei mexer em carro!

— Eu aprendi, não espero que você seja esperto como eu... mas deve conseguir pelo menos trocar um pneu. — Fala a Mandy, dando um chute de leve na canela dele.

Ele olha para tudo desorientado, pensando nas coisas bizarras que lhe aconteceram desde que chegou à essa cidade. As lembranças dos homens que matou, a transformação na lua cheia quando quase devorou um casal de namorados, o treinamento para controlar sua fúria, o encontro com a matilha da cidade, e eles. O casal de irmãos que não lhe deixam se sentir solitário.

Pensando nisso, Andy se pega começando a sentir algo que não sentia há muitos anos. A sensação de fazer parte de um grupo... de uma família.

— Bem-vindo ao nosso bando, garoto. — E o mecânico estende a mão.

O garoto aperta a mão com firmeza, tentando esconder olhos já marejados.

— Valeu então, cara. — ele diz. — Mas nem pensa que vou limpar teus vômitos.

— Mas essa era a ideia. — Fala Mandy, sentada na escada e com um sorriso mal disfarçado no rosto.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo, hora de vermos todos os jogadores em cena! Adam e Claire, Paul e Jeanne, Andy e Mandy, a matilha... o céu começa a ficar escuro, preparem-se para o temporal.



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