Contos de Garras e Sangue escrita por Rick Batista


Capítulo 13
Buscando Respostas


Notas iniciais do capítulo

Postagem quinzenal, como prometido ^^

Eu sei que prometi que a Claire aparecia nesse capítulo, mas achei melhor explicar algumas coisas primeiro. Mas não menti sobre o Paul, ele está de volta e bem atuante.

E ai, querem saber o que o Golem ficou fazendo nesse meio-tempo?



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No estacionamento do restaurante recém inaugurado, o xerife Carlson está pensativo. De uniforme e estrela dourada, se escora na viatura policial enquanto fuma calmamente um charuto. Com a luz de um poste reluzindo em sua cabeça calva, usa as grossas costeletas e bigode para servir de distração para os dedos da outra mão. A policial Emma está aguardando dentro do carro, enquanto sorri ao ver as chamadas não atendidas do celular (todas do noivo). Uma jovem de vinte e cinco anos, baixa estatura, cabelos ruivos em rabo de cavalo e olhos castanho-claro, com curvas meio escondidas pelo uniforme de trabalho.

O homem entra na viatura ainda desatento, seu peso afundando o banco, e o charuto empesteando o ar. O olhar de censura de sua parceira de trabalho o faz se livrar do fumo, um tanto contrariado.

— Você é chata mesmo, hein, garota! — ele resmunga.

— “Chata” seria a quimioterapia pra tratar o câncer que esse seu charuto pode me dar. — diz ela, enquanto sorri ironicamente.

A policial liga o carro enquanto observa os papéis nas mãos do xerife: formulários, relatórios e dados, e o homem com o mesmo ar pensativo.

— Quem diria que o Conde Drácula estaria envolvido na morte da freira, hein? — Ela diz, pegando a estrada. — Os repórteres vão ficar doidos quando souberem!

— Ninguém vai saber de merda nenhuma! — Grita ele, enquanto desabotoa a parte de cima da camisa estufada. — Por hora, ele é só um dos suspeitos, e temos outros dois.

— A acompanhante do Tepes e o tal sujeito que sentou na mesma mesa da freira, certo?

O xerife está puxando a costeleta, olhar perdido.

— Principalmente o sujeito. Ele saiu junto da madre por aquela porta, logo depois do Adam Tepes ter saído com a mulher de vestido. Ele é o principal suspeito, no mínimo, uma excelente testemunha.

— Se o bendito lugar tivesse uma câmera, facilitaria o trabalho pra identificar. — suspira Emma.

— Ao menos o garçom aceitou fazer um retrato falado. Logo, logo, a gente descobre a cara do indivíduo. — Fala o xerife, enquanto vê o charuto que leva por reflexo a boca ser “tecado” para fora do carro.

— ...mas você é mesmo chata, hein!

— O senhor já disse isso xerife, não seja repetitivo. — fala Emma, sorriso debochado no rosto.

[...]

Paul desperta em um quarto escuro, sentindo não ter dormido nada. Três noites se passaram desde que tirou a vida da madre, três noites terríveis de pesadelos e visões que afastam o sono. Diante do espelho do banheiro, contempla as olheiras recém adquiridas, de repente lembrando-se dos olhos da mulher que matou. Água no rosto e um longo banho para limpar o suor, mas não a culpa.

Enquanto toma um chá com torradas, tenta não dar importância ao fato que deveria ter lecionado hoje. Muito mais atraente é a leitura do grosso livro que o vampiro Adam lhe entregou, com um tema bastante peculiar:

“Ordo Dracul”, a “Ordem do Dragão”. O famoso grupo de cavaleiros cristãos do qual as histórias dizem ter saído Vlad II, chamado Dracul: dragão em romeno. Pai de Vlad III, o Drácula: filho do dragão. Quem diria, pai de Adam Tepes.

Ele se força a comer e beber, mesmo sem vontade.

— Preciso saber como se fala “neto”, em romeno. Adam Tepes: o neto do dragão. — Ele ri, folheando o livro e falando sozinho. — Não soa lá muito imponente.

O professor se lembra de como Adam ficou surpreso ao saber que a freira tinha nas costas a tatuagem de um dragão enroscado em uma cruz prateada.

— Esse é o símbolo da Ordem. — Adam disse — Não posso crer que continuem na ativa após trezentos anos!

— É, continuam. — diz o professor para si mesmo — E eu acabo de matar um deles.

A única utilidade da falta de sono foi o tempo para ler. Nesse momento, está terminando o grosso livro, compilações de cartas e fragmentos de textos que fazem menção as ações da Ordem, desde os tempos anteriores a Vlad II, até suas incursões para exterminar seu filho, já como o lendário e temido Drácula.

— É um pecado esconder isso do mundo. — diz ele para si mesmo, enquanto bebe o chá — Mas já que divulgar seria suicídio, e se matar é um pecado maior, dos males o menor.

Ainda sonolento ele segue para o porão da casa, porta sempre trancada e com chave bem escondida; uma prevenção necessária. Lá embaixo, checa os e-mails do seu contato na polícia de Manchester. Primeiro parabenizando o trabalho bem feito do Golem com a serial Killer (ele sente um enjoo ao ler isso), depois com as informações que ele pediu sobre o nome Jeanne Hilton.

As manchetes de jornal falam de uma policial de trinta anos, muito semelhante a mulher que conheceu, desaparecida em Manchester, em 1994. As investigações sobre o desaparecimento não deram em nada, mas curiosamente foram retomadas em 1996 e posteriormente em 2004, sempre sem sucesso. No fim, o nome do investigador que esteve à frente do caso.

— Parece que o Golem precisa fazer uma visitinha. — diz ele, enquanto põe os pés sobre a mesa do seu escritório particular e tenta cochilar um pouco.

[...]

Cidade de Manchester, 2h00.

Após ouvir alguns sons vindos da janela da sala, Roger Foster, cinquenta e dois anos e policial aposentado, deixa a esposa dormindo sozinha e resolve investigar a origem deles. O homem tem altura mediana, cabelos semi-grisalhos e barba fina em um rosto oval, com nariz achatado e olhos pequenos, cortados por grossas sobrancelhas.

Ainda exibindo boa forma física, o ex-policial caminha de pijama pelo quarto, pistola em mãos, se aproxima da cozinha quando então ouve uma música peculiar vinda da sala. Uma melodia suave, a língua parecendo hebraico. Com seus velhos sentidos de policial, Roger deixa os olhos se acostumarem a escuridão e avança lenta e furtivamente em direção a sala. Enquanto entra no cômodo, de repente se dá conta do que a música significa:

O Golem, ele pensa.

Mal entra na cozinha, o homem é desarmado. Na escuridão ele mal conseguiu discernir um vulto negro, sente então o braço torcido para trás e o cano gelado de sua própria arma contra sua cabeça.

Não grite. — fala o Golem, com sua voz cavernosa e tom intimidador. — Quero respostas, fale e viva, silencie ou minta, e morra.

Roger tenta se manter frio diante daquele que a polícia considera um serial killer. Em meio a sensação de total impotência, teme especialmente pela esposa, que dorme profundamente no quarto. Seu único consolo é saber que o filho adolescente não está em casa, e torce para que tudo se resolva antes que ele chegue.

— ... eu compreendi, farei o que mandar. — diz.

Minutos depois, o homem está revirando pilhas de arquivos empoeirados em seu escritório particular, um pequeno cômodo onde vai quando procura paz ou nostalgia. A única luz vem de um abajur em cima da mesa, o Golem se mantém sempre atrás, longe do seu campo de visão, e o ex-policial sabe que assim deve continuar se quiser viver. Após reunir uma pasta cheia de arquivos, fotos e jornais da época, ele a coloca sobre a mesa enquanto olha para a parede, dizendo:

— Isso é tudo que consegui juntar sobre o caso Jeanne Hilton. — um período de silêncio, tom de frustração — A policial que desapareceu e depois foi vista envolvida com gente perigosa. Esquiva e fatal, e sempre com a mesma face. Poderia ter descoberto muito mais, se homens poderosos não interferissem.

— Está tudo aqui?

— Sim, o trabalho mais desafiador da minha carreira, e o único que não pude terminar.

Longo silêncio, Roger medita sobre o porquê de virem atrás disso após tantos anos. Teme a morte, mas ficará feliz se sua esposa for poupada e alguém um dia puder solucionar o caso que o terá levado a morte. Então percebe a própria arma posta sobre a mesa à sua frente, assim como a pasta sendo puxada pela figura atrás de si.

Não precisa temer, policial, você não morrerá hoje. — a voz do assassino se distancia — Eu descobrirei a verdade, os culpados serão punidos.

As palavras são inesperadas, Roger fica confuso com o que ouve. Então se dá conta de que o invasor não trabalha para aqueles que o tiraram do caso.

Será que os boatos são verdadeiros, o Golem é um justiceiro?, ele se pergunta.

— Ainda pensa nela, Roger? Ainda deseja saber quem ou o que é a ex-policial?

Um certo brilho há muito apagado retorna aos olhos do homem nesse momento. Uma euforia perceptível na voz que responde:

— ... mais do que tudo na vida, eu quero.

Paul sorri por trás da máscara de pedra, seu pressentimento sobre o investigador aposentado se revelando certeiro.

— Então aguarde meu contato. — Paul diz, se afastando do homem ainda de costas. — Se estiver mesmo disposto a arriscar tudo por essa resposta, ela será sua. Mas tudo tem um preço....esteja disposto a pagá-lo.

Após cinco minutos, Roger ainda está parado no lugar em que foi deixado, olhando para a arma e pensando no que aconteceu ali. Depois, volta para o quarto e se deita ao lado da esposa, um sentimento dentro de si fazendo seu coração bater mais forte.

Jeanne Hilton... parece que mesmo após tanto tempo, tem gente interessada em você, pensa ele.

[...]

O professor se arrasta pelo porão.

Ainda vestindo a couraça do Golem, após passar toda madrugada e dia seguinte examinando os documentos que conseguiu com Roger, ele sente que chegou no seu limite físico e mental. A grossa capa negra parece pesada, sua face de pedra largada ao pé da mesa parece encará-lo inquisidoramente:

O que você pretende, Paul?, parece perguntar.

De repente, um calafrio. A sensação de estar sendo observado. Ele saca disfarçadamente a arma, virando-se para a direção da presença. Encostado no canto mais distante do porão, um homem de cerca de 1,85m, pele negra e dreads, vestindo roupas de couro sujas de sangue. O mesmo sangue que escorre pelo buraco no peito, resquício de um tiro de escopeta bem acertado.

— Nem vem apontar essa coisa pra mim. — diz o morto, sorriso intacto — Isso ai não pode te ajudar não, cara.

O professor sua frio, e com as mãos trêmulas, coloca a arma sobre a mesa com dificuldade, evitando olhar para o homem. Quando se dirige ao quadro cheio de fotos e anotações, se vê diante de uma mulher loira, de altura mediana e corpo escultural em roupas de ginástica. Seu pescoço exibe um corte de uma ponta a outra, dele escorrendo sangue em profusão.

— O que houve, Paulzinho? Não tá mais a fim de mim? — Pergunta, se inclinando sensualmente na direção dele, o decote generoso sendo banhado em sangue.

...vão para o inferno, me deixem em paz! — Paul grita, jogando a cadeira em direção a mulher.

Ela gargalha insanamente enquanto é transpassada pelo móvel, então se escora no quadro e diz:

— Nenhum homem ou vampiro me rejeitou antes, gatão. — diz ela, zombando — É esse cortezinho que te incomoda?

Paul avança com dificuldade em direção da escada, tentando fugir do pesadelo. Porém, logo descobre um sujeito sentado no terceiro degrau dela, só de calças, careca e com a face esmagada. O sujeito segura uma garrafa de cerveja que leva ao que restou da boca, derramando o líquido por toda a escada. Paul fica nervoso, e suando sem parar leva as mãos à cabeça, abrindo e fechando os olhos, na esperança de todos sumirem ao abri-los novamente. Enquanto faz isso, começa a sentir mais presenças se juntando ao seu redor, pouco a pouco mais próximos, a agonia sufocante, pouco a pouco o reduzindo a um menino assustado e de joelhos.

O que vocês querem de mim!? — ele grita em desespero.

Um longo silêncio seguido de risadas e palavras desconexas. Após um tempo que pareceu uma eternidade, sons de passos se aproximando dele, e uma voz familiar sussurra em seu ouvido.

— Mate a vampira, mate o Tepes. — diz a madre — Faça todos os demônios queimarem!

Ele abre os olhos, sugando e soltando o ar, se esforçando para recuperar a calma. Aos poucos as mãos param de tremer, a calma retornando. Ele se ergue: novamente um homem, novamente só.

— Não me dê ordens, Pietra. — Ele fala, olhando para o espaço vazio onde antes estava sua última vítima. — Sou eu que decido quem morre ou não. E essa é a hora da Jeanne.

[...]

Estrada de Bleak Hill, caminho para o castelo Tepes.

A viatura policial segue em disparada na direção dos tiros. Emma acelerou assim que escutou o primeiro, e outros se seguiram depois. Sons de uivos se juntaram a sombria sinfonia, levando um nome aos lábios de uma policial tensa:

— ... Jimmy.

O xerife ligou as sirenes e preparou as armas, surpreso com a ação inesperada após a visita ao restaurante. Conforme se aproximam, encontram um carro de passeio de ponta-a-cabeça e em péssimo estado. Alguns minutos depois, os faróis da viatura iluminam uma grata surpresa.

— Parece que não temos mais que procurar o Conde pra entregar a intimação, policial Watson. — ri o xerife.

Emma sorri aliviada, feliz por não encontrarem com nenhum lobisomem assassino no meio do matagal.

— Economia de tempo e gasolina. — responde ela.

Diante da dupla de policiais já fora do carro, um casal de vampiros cobertos de sangue e com roupas em farrapos. E claro, com muito a explicar.


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Notas finais do capítulo

E terminamos com a polícia encontrando o nosso casal de sangue-sugas. No próximo capítulo: Adam, Jeanne e Claire em um hospital, os planos do Paul e as tretas com a polícia.

Abraço e até a próxima.



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