Eu abri os olhos lentamente me acostumando com a claridade, respirei fundo sentindo o cheio da brisa do mar e ouvindo as gaivotas, na minha janela reluzia imagem de uma praia, o mar azul e infinito e as ondas batendo nas rochas mais ao longe, eu poderia olhar aquilo o dia inteiro mas o despertador já havia tocado e eu precisava urgentemente me arrumar, hoje era um dia especial, hoje eu descobriria qual minha profissão, no que eu poderia ajudar a minha zona.

Sessenta e oito anos atrás, em 2016, um meteoro caiu sobre o estado da Flórida nos estados unidos, trazendo com ele um vírus que matou milhões e reduziu a população humana a menos de dois milhões de pessoas, essas agora vivem espalhadas pelo mundo em zonas como eu costumo chamar, cada qual de um continente, essas zonas são cúpulas separadas em regiões não afetadas pelo vírus que tem apenas o necessário para a sobrevivência dos habitantes, a tecnologia já foi muito desenvolvida mas eles ainda não conseguiram descobrir uma cura para o vírus e pessoas continuam morrendo, cada vez mais rápido.

Quando se completa 14 anos você descobre qual será sua profissão, através de estudos psicológicos e analises, então passa até os dezoito estudando especificamente para ela, não há como mudar e assim a humanidade vai sobrevivendo, não podemos viajar e só os campes saem da cúpula uma vez ao mês para fazer testes e verificar se a contaminação do vírus diminuiu, mas o vírus nunca se estabilizou.

Hoje eu e todos os outros quartonistas vamos ao grande tribunal descobrir nossas profissões, então eu vesti meu melhor traje social, era uma ocasião importante e dependo do que será eu poderei nunca mais ver meus pais novamente, eu sai da minha área familiar exatamente as 9 da manhã e caminhei calmamente até o tribunal, o sol hoje estava forte mas eu não precisava me preocupar porque a cúpula refletia os raios, quinze minutos depois e eu me encontrava sentado nas cadeiras, na segunda fileira.

Uma música lenta começou e os juízes subiram ao palco e junto com eles estava ele, Ivan firestorm, seu terno se encaixava perfeitamente em seu corpo, seu queixo quadrado o deixava másculo e a barba por fazer o deixava extremamente sexy, seus cabelos lisos e bagunçados e deixava com um ar propositalmente desleixado e os seus olhos azuis como o céu transbordavam luxúria e desejo, desejo por poder, claro, seus olhos correram pelos assentos e pararam em mim, sua boca se abriu levemente e então um leve sorriso de lado se formou, por um momento eu esqueci como respirar, imaginei meus lábios conectados aos seus e suas mãos grandes e fortes no meu corpo.

Sacudi a cabeça e ajeitei a postura, não, eu não poderia e nem deveria ter pensamentos assim, a muito já me tinha sido advertido que era estritamente proibido relacionamento de qualquer tipo antes dos 28 na cúpula, que era quando você diminuía sua carga de trabalho e começava e traçar futuros para seu grupo familiar, as regras eram claras, com 35 você tinha que fazer a união e ele infelizmente estava quase lá, mas não podia me incluir nos seus planos, e provavelmente nem quisesse já que nosso “relacionamento” nunca passou de olhares cruzados e sorrisos sexys.

Meu nome foi chamado me arrancando dos meus pensamentos impuros e impróprios para minha idade, eu me levantei e caminhei calmamente em sua direção, uma mão sua estendida, apontando a cadeira em seu lado a outra segurando o codificador, eu me sentei e ele parou na minha frente:

– Muito bem, Sebastian Cores, você foi estudando nos últimos quatro anos e diagnosticado apto a ser um Campe – ele parou, meus olhos se arregalaram por um momento – você tem a opções de desistir da carreira e se tornar um servo, mas se optar em ser um servo, não poderá jamais formar um grupo familiar e estará sujeito a teste e análises, qual sua decisão? – ele me olhou

– Eu... eu serei um campe – eu disse mais alto que gostaria, ele sorriu

– Se assim deseja receberá o seu código, coloque o braço no suporte – eu coloquei o braço no suporte ao lado de mim, meu braço logo foi imobilizado, Ivan pousou o decodificador na minha pele, queimou e um segundo depois um código azul reluzia em meu antebraço, ele me soltou e eu me levantei – Sebastian Cores, campe nível um, seu treinamento segue comigo e sua reunião é as duas, pode se retirar

Eu andei meio atordoado, eu iria ser iniciado por Ivan, eu o veria e moraria com ele durante os próximos quatro anos, Campes são escolhidos de 8 em 8 anos, um sempre, eu tive essa honra e agora morarei com Ivan para ser treinado. Eu me sentei e esperei, a reunião acabou e meu dia passou devagar, fiz minha refeição familiar e caminhei para ala norte da Zona onde ficavam os treinistas, Ivan era o maior treinista de campes, vários já passaram por ele e todos foram bem sucedidos, sua casa ficará na colina no último quadrante da ala norte, eu cheguei um pouco cansado e bati a porta.

Ela foi aberta por ele, e novamente naquele dia esqueci de respirar, ele estava apenas de bermuda e uma toalha no ombros, secando o cabelo com uma mão e segurando a porta com outra, gotículas de água escorriam do seu cabelo pelo seus abdômen, me fazendo querer por um momento lamber todas elas, eu fiquei observando seu corpo e escutei um leve sorriso me trazendo de volta a realidade, olhei seus olhos azuis que nesse momento pareciam mais profundos que os oceanos e limpei a garganta:

– Eu... bem, eu ... – ele sorriu, um lindo sorriso branco e perfeito

– Sebastian Core, estou certo? – eu apenas confirmei com a cabeça – vamos entre – ele me deu espaço para passar - sente-se no sofá por favor – eu me sentei – ele estendeu a toalha em uma cadeira e se sentou ao meu lado virando o corpo para mim – Bom, antes de tudo eu preciso lhe fazer uma pergunta

– ok – eu me virei levemente ele ainda tinha um meio sorriso nos lábios

– Eu li sua análise e vi que você já tem alguns pensamentos sobre grupos familiares e conjugues – ele fez uma pausa e eu assenti – então me diga qual seria seu biotipo? – eu engoli seco

– eu... eu... – eu respirei fundo ele me olhou curioso – bom, meu biótipo é masculino – falei e olhei para a lareira apagada

– Bom, você acha que isso pode atrapalhar sua concentração? – eu o olhei novamente

– Não, jamais, eu sei diferenciar e separar bem as coisas, e nunca deixaria que meu biótipo e amostragem me tirasse a atenção – ele me olhou curioso

– Amostragem? Você já se envolveu com algum outro residente? – eu virei o rosto

– Uma vez, mas ele era mais velho e eu nunca mais o vi – contei sabendo que eu não poderia guardar segredos do meu treinista, seu dedos pegaram no meu queixo e me viraram para ele

– Sabe Sebastian, eu já te vi muitas vezes, andando pela cúpula, tão introspectivo e preso ao seu mundinho

– Já?

– Sim – sua mão que estava no meu queixo acariciou meu rosto – você me acha bonito Sebastian? – eu me surpreendi com a pergunta

– eu.... eu... a-acho – eu corei, ele sorriu de lado e se aproximou sua mão foi para minha nuca

– Eu também te acho bonito – sua proximidade me permitia sentir seu hálito de menta, ele desviou o resto a milímetros da minha boca e foi em direção ao meu ouvido, eu fechei os olhos e entre abri os lábios para respirar melhor – seu cheiro é excepcional, seus olhos negros como a noite me encantam e esses cabelos loiros me atraem – eu arfei – mas principalmente seu corpo magro e ombros largos me deixam com um tesão incomparável – ele sussurrou me meu ouvido e mordeu levemente minha orelha na última parte eu gemi automaticamente

– Você... você – eu respirei fundo sentindo seu perfume amadeirado – você não pode fazer isso comigo – ele distribuía leves beijos e mordidas no meu pescoço seu corpo inclinado sobre mim

– Porque não? – ele disse entre os beijos me empurrando de leve para que eu me deitasse no sofá

– Porque... bem – eu arfava ele colou seu corpo no meu eu senti todo meu corpo estremecer ele apoiou seu peso nos braços cada um ao lado do meu rosto e me olhou nos olhos

– Sebastian – ele se aproximou roçando os lábios nos meus – me deixe te tomar hoje e eu nunca mais te incomodarei– eu gemi

– se te me tomar hoje, me tomará sempre – falei rouco sentindo levemente seus lábios nos meus

– Seu desejo é uma ordem – Então ele tomou meus lábios um gosto de menta e tabaco, sua mão segurou minha cintura e o beijo se tornou quente, ele se separou um pouco de mim – esse será um pequeno segredo nosso – eu sorri

– o maior deles – e o beijei desse vez mais forte e decidido