Ao acordar naquela manhã, Sophie percebeu que ainda estava entorpecida com tudo o que havia ocorrido. Ela ainda não sabia com que cara iria olhar para Adam. Como ela pôde deixar-se levar pelo momento? Ela sabia muito bem que fora assim com o Felipe e que iria ocorrer novamente com Adam, se ela não estabelecesse limites urgentemente.

Enquanto pensava em o que falar para o menino, fez suas higienes pessoais, tomou seu café e ficou a espera dele, que em poucos minutos tocou a campainha.

— Bom dia! — falou ele, com um enorme sorriso no rosto

— Bom. — murmurou ela, sem emoção

Saíram lado a lado, mas com uma certa distância que ela resolveu aplicar. Não conseguia olhar para o menino e muito menos falar algo, com isso, foram, durante a metade do caminho, em silêncio. Ele a observava a cada minuto, tentando decifrar o que estava ocorrendo.

— Sô? Você está tão calada hoje. Tem algo errado? — perguntou, sem obter uma resposta — Bom, se for por causa do que aconteceu ontem... — tentou novamente, parando enfrente a ela, impedindo-a de andar

— Não aconteceu nada ontem, Adam. Aliás, aproveitando a "deixa", eu quero deixar bem claro que eu vejo você apenas como um amigo. Entendeu? — perguntou, abaixando a cabeça, com os olhos cheios de lágrimas, fazendo o maior esforço para não deixar transparecer o quão duro era ter que falar aquilo

Após alguns segundos em silêncio, ele apenas murmurou um "tudo bem" e ficou sem silêncio, sem sequer olhar de lado, enquanto entravam na escola. As horas seguintes foram um tédio para Sophie. Ela não conseguia prestar atenção em nada, só conseguia pensar no Adam. Durante os cinco horários, ela não teve nenhuma aula com a Eloise, o que piorou sua situação. Ela precisava desabafar e ouvir alguns conselhos. Quando ouviu o sinal tocar, correu para o refeitório, afim de encontrar a amiga. Seguiu para a mesa em que sempre passavam o intervalo juntas, a espera da menina, que estava na fila do lanche, que minutos depois, sentou-se ao seu lado falando:

— Ao olhar para a sua carinha, vejo que você não está nada bem. E ao olhar para cara do Adam durante a aula de literatura hoje, presumo que ele também não está nada bem. O que há de errado?

— Vamos para algum lugar mais reservado, por favor? — implorou Sophie

— Eu sei de um lugar. Vem! — disse, enquanto levantava-se —Então, desembucha. O que está te torturando? — perguntou, assim que chegaram, embaixo de uma grande árvore, em uma parte do jardim da escola, onde havia pouquíssimas pessoas

Sophie logo falou tudo o que havia ocorrido, até hoje de manhã. Eloise apenas ouvia atentamente, com os olhos vidrados na amiga. Após ela terminar, esperou a menina falar algo.

— Bom Sô, eu não sei se deu para notar mas eu não sou boa com garotos. Nem meu BVL eu perdi.. — disse, abaixando a vista — Mas todos dizem que sou uma boa conselheira, então lá vai: acho que sim, você está certa em ficar amiga dele primeiro, o conhecer melhor, mas não acho que você deve descartar todas as possibilidades do que pode haver entre vocês. — falou séria — E não acho que você está errada em ficar insegura com meninos por causa do seu ex, ou algo assim, mas acho que você está passando do limites ao pensar que todos irão fazer a mesma coisa que ele fez ou que nenhum homem no mundo serve mais para você. Conheço o Adam desde o primário, Sophie, e na minha opinião, ele é um dos caras mais legais desse colégio.

Sophie não sabia o que pensar ou o que fazer após ouvir aquilo. Apenas assentiu e agradeceu a amiga, e assim que o sinal tocou, ambas seguiram para suas salas. Por sorte, ou não, ela teve sua última aula na mesma sala que ele. Avaliou bem e resolveu sentar-se ao seu lado. Não ia ficar sem falar com ele por causa disso tudo.

— Oi Adam.. — disse, ainda insegura

— Oi.. Sophie. — murmurou ele, olhando para ela com olhos tristes

— Bom, eu queria pedir desculpas pelo que eu falei hoje cedo. Acho que eu me exaltei e fiz tempestade em copo d'água...

— Não, tudo bem Sô. Eu entendi. Não precisa se preocupar. — interrompeu-a, com um sorriso fraco no rosto

— Então, está tudo bem novamente.. Entre nós? — perguntou

— Claro! — disse, mas não pareceu convicto o bastante

A aula seguiu, até que o sinal tocou, anunciando o fim do horário. Ambos seguiram lado a lado, mas sem falar palavra alguma, fazendo Sophie refletir que ainda tinha que ter uma conversa séria com o Adam. Ela tinha que esclarecer o porquê do piti. Ainda hoje!

— Bom, tchau Adam. — falou, despedindo-se ao chegar na frente de sua casa

— Tchau Sô. — respondeu, enquanto continuava caminhando

Quando entrou em casa, ela correu para o quarto e ligou o notebook. Ela tinha que falar com a amiga!

— Julieeee! — gritou a menina

— Sophieee! — gritou de volta a amiga do outro lado da tela

— Help-me. — implorou

— O que houve, amiga? — perguntou ao notar a cara de tristeza da menina

Sophie despejou tudo na amiga: o que ocorreu no dia anterior, o que ela havia dito a ele, e até o que Eloise havia dito a ela. Julie acompanhou tudo, fazendo expressões para cada notícia. Até que ela disse:

— Então Sô, eu só tenho uma coisa pra te falar: EU TE MATO, SUA LOUCA! — gritou a amiga — Como você fala isso para o menino? Ele só tentou te dá um beijinho.. — pausou, respirando fundo — Calma, recapitulando: eu concordo simplesmente com tudo que a Eloise falou. Não é porque o puto do Felipe te decepcionou que qualquer outro cara irá fazer o mesmo. — disse a menina

— Mas.. Mas, eu não quero me envolver num relacionamento agora e.. Eu e Adam somos amigos e eu não quero estragar isso! — falou, mais confusa ainda

— Sophie Allen, põe uma coisa nessa sua cabeça dura dos homens das cavernas: um quase beijo não quer dizer um quase namoro, ou um quase fim de uma amizade. Eu acho que você está tentando ver muito o futuro e não está vivendo o presente. Então trate de explicar esse seu piti e dá uma chance pra ele. — disse Julie, agarrando a tela de seu notebook e balançando-a, como se estivesse agarrando os ombros da amiga

— OK, eu entendi. Você está certa. Irei fazer isso hoje mesmo! — falou, confiante

No meio da tarde, Sophie decidiu ir até a casa dele. Ela estava decidida: iria fazer isso hoje. Tocou a campainha e esperou alguém vir atendê-la.