Entrei no meu quarto batendo a porta. Havia brigado com minha mãe, mas isso já tinha virado rotina, o bater da porta foi só para não perder o costume. Me joguei na cama. É sempre a mesma coisa desde que papai se foi. Não, ele não morreu. Ele estuprou uma mulher, matou uma criança e foi preso. Meu irmão mais velho abandonou a família desde então, e sobrou apenas minha mente fraca para consolar minha pobre mãe.

Embora isso também não esteja dando muito certo.

Deitado em minha cama, observo meu quarto. Começo pelo teto, uma imensidão branca. A luz do sol entra pela janela, ela parece a única que está no lugar certo. A luz. Eu quero conhecer essa tal luz. Olho as paredes, e todos os poster's de bandas, filmes, gente famosa... E de repente paro em um, onde há uma banda num palco, e logo acima vários fios. Começo a reparar naquela imagem...

Até que começo a ver.

Um daqueles fios se solta do lugar onde está preso e começa a se contorcer. Eu assisto tudo com atenção. Ele se contorce, se contorce até que... Finalmente está pronto! Uma forca, foi isso que o fio virou, e pensando bem, agora el até se parece mais com uma corda do que com um simples cabo de energia.

Continuo observando tudo ao meu redor, até que meus olhos pousam num fio, tão igual ao da imagem, que tive que me levantar e tentar fazer uma forca...

Comecei me lembrando de tudo o que já passei. Pensando se realmente valeria a pena... Bom, valendo ou não, sei que depois não irei me arrepender. Fui me lembrando de todas as voltas que o fio foi dando, e repetindo no meu fio de verdade, até que concluí o meu trabalho.

Ah, a luz. EU quero ver a luz, quero senti-la para sempre...

Pendurei o meu fio no ventilador do teto, e escrevi um bilhete para minha mãe.

Em seguida, simplesmente subi num pequeno banco, coloquei o fio no meu pescoço e derrubei o banquinho que estava abaixo de mim. Foi assim. Puf! Morri...

No momento seguinte, só senti escuridão tomando minha face, meu corpo inteiro... Onde estava aquela luz? Eu não sabia.

Então consegui abrir os olhos. Acho que tinha adormecido... Comecei a observar o teto de meu quarto, aquela imensidão branca...Mas espera, havia alguma coisa lá, agora.

Era uma corda. Uma corda de verdade, não um fio qualquer. E... Eu. Eu estava pendurado naquela corda. Morto. Pálido. E abaixo de mim um bilhete. Agora eu me lembrava...

Como isso podia acontecer? Não era para mim estar ali, eu deveria estar na luz agora!

Eu entendi tudo... Suicidas não iam para o céu...

Mas então eu devia estar no inferno, e não aqui!

Naquele momento minha amada mãe entrou no quarto. Ela agora teria de lidar com tudo sozinha. Ela gritou e esperneou. Quebrou minhas coisas. E só depois viu o bilhete.

Ah... O bilhete... Sim...

Sem explicações, sem despedidas, sem pedidos de perdão ou dizeres de amor... Apenas uma frase.

Duas palavras. Três números.

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