Fugir

Era tudo em que eu pensava três meses atrás quando sem querer ouvir meu pai no escritório da nossa casa em Dubai conversando com um amigo dele.

O casamento de Beatrice e Eric seria perfeito, tanto por nossa amizade quanto por nossos negócios Andrew.

Gelei.

Como assim casamento de Beatrice e Eric? Eu só tinha 17 anos e meu pai já estava discutindo meu casamento com algum sócio? Minha vontade era entrar por aquela porta e gritar o quanto aquilo era absurdo, que não estávamos na época das cavernas e que eu poderia muito bem escolher com quem casar e que não era um objeto, mas se o fizesse teria que explicar porque estava escutando atrás da porta e isso me meteria em encrenca, das grandes.

Sai dali as pressas pro meu quarto com uma única certeza, eu iria fugir.

Sacudi minha cabeça tentando afastar minhas lembranças e junto com elas as lágrimas. Me olhei no espelho e me forcei a sorri, era hoje o grande dia, quando eu finalmente faria 18 anos e também o dia em que sairia de minha casa e nunca mais voltaria, sem olhar pra trás. Sei que tive uma vida de princesa literalmente falando, meu pai era considerado o rei dos negócios no nosso país e desconfio que fora dele também, se me fosse permitido me envolver neles teria certeza.

Desci as escadas de minha casa e senti todos os olhos virando para mim e vários flashs, não é todo dia que a única filha de Andrew Prior faz 18 anos e fica disponível para os demais solteiros, sabendo que quem a ganhar levaria junto toda a fortuna da família e a presidência da empresa. Eu odiava isso em partes, como única filha eu herdaria tudo dos meus pais quando eles morressem, mas nunca em hipótese alguma poderia tomar frente dos negócios de minha família por ser mulher.

Sorri para meu pai e ergui minha mão delicadamente para que o mesmo a pegasse, já que me esperava ao pé da escada com o sorriso mais orgulhoso do mundo, meu pai me amava, isso era um fato incontestável mas eu sabia o quanto ele se lamentava por não ter tido um filho homem e passou sua vida quase toda após a morte da mamãe em busca de um pretendente perfeito para mim, desde que mamãe morreu sua vida se resumia a me mimar, negócios e a busca incansável por um genro. Abracei-lhe carinhosamente o apertando o máximo que eu podia e sentindo o cheiro que tanto me deu paz em todos os anos de minha vida, sentiria falta disso.

– Hoje especialmente você está linda Beatrice. – falou papai com os olhos marejados – Minha princesa se tornou uma linda mulher, não posso deixar de dizer o quanto sou orgulhoso da mulher forte que se tornou, Natalie diria o mesmo querida.

– Pai! – Apertei meu pai mais forte e me permiti chorar um pouco, ambos compartilhávamos a dor da perda de mamãe a anos. – Eu o amo muito, sinto muito orgulho de ser sua filha, nunca se esqueça disso.

E aquela foi a última vez que abracei meu pai e o disse o quanto amava, a ultima vez em que o senti me apertar e fazer parecer que nada importaria que eu sempre estaria segura, mas aquilo não era verdade, não literalmente, meu pai fazia as coisas achando que eram para o meu bem, segundo nossa cultura sim, era meu bem, mas meu futuro estava comprometido e minha felicidade também.