Epifania // Hiatus escrita por boredkav


Capítulo 3
Realidade vs Ilusão




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A escuridão era tão grande que mal conseguia ver minhas próprias mãos. Após ser sugado por aquela tal porta a correnteza continuou me empurrando, em algum momento perdi a noção de tempo e após alguns segundo a consciência. Acabei nesse completo escuro. Senti um incômodo na barriga e na perna esquerda, devo ter me machucado. O cheiro de sangue era forte. Tentei gritar pelos três, mas não tive nenhum sinal deles, minha voz se perdia no silêncio. Escuridão e silêncio. Uma péssima combinação. Levantei-me e encontrei uma parede e fui sendo guiado por ela, mas no fim percebi que eram quatro paredes. Uma sala fechada.

Após alguns minutos ou talvez fossem horas? Escutei o barulho de uma porta rangendo. Tenho que admitir aquilo era assustador, a situação toda era assustadora. A luz que entrava pela brecha da porta me cegou por alguns segundos e aos poucos fui reconhecendo o formato de uma pessoa. Tentei me levantar, mas a dor no meu estômago era muito forte, tropecei e cai em cima da estranha pessoa. Ela se parecia muito com o Caleb eu tinha quase certeza que era ele, mas seus olhos não eram azuis e sim pretos. Então não poderia ser ele, eu nunca esqueceria a cor daquele azul.

Pude sentir ser carregado, passando por algumas curvas. Direita, direita, esquerda e direita outra vez. Talvez quando cheguei à décima curva tudo que pude sentir era a forte dor no meu estomago e então perdi a consciência outra vez.

Estava correndo, corria como se minha vida dependesse disso. Aquilo me perseguia a um bom tempo e se parasse um segundo eu estaria morto, algo dentro de mim me dizia isso. Chegando a uma rua vazia tropecei em algo, cai direto dando vários mortais até que parei de barriga para cima, o incrível foi que não me machuquei, minha curiosidade foi maior do que minha vontade de correr para viver. Olhei para trás e percebi que tropecei em uma pessoa, uma menina, ela estava inconsciente e um liso e castanho cabelo tampava sua face, seu corpo estava manchado de sangue, toquei seu pescoço e não possuía pulso. O estrondo daquela coisa que me perseguia se tornava mais forte, e quando tirei os cabelos do rosto daquela menina, eu virei à esquerda e vomitei. Vomitei como nunca antes. Era a Emilly, seus olhos castanhos arregalados transmitiam medo, ela provavelmente se foi gritando, as lágrimas em meu rosto não pararam por nenhum segundo. A coisa que me perseguia finalmente me alcançou e minha reação não foi sair correndo com medo como antes, eu corri em direção a aquela coisa. Minhas veias começaram a doer e aquele brilho familiar veio e tona. Mas ele não parou e em um piscar de olhos o brilho me consumiu, consumindo cada molécula do meu corpo. Até que senti meu corpo virar cinzas.

Acordei dando um pulo e gritando, minhas cordas vocais ardiam. Precisava de água. Senti uma mão na minha enquanto ainda gritava, minha voz não era tão fina e parecia um grito de socorro ao invés de medo ou surpresa. Tentei me afastar de quem quer que tivesse me segurando, dei tapas e socos, e quando cansei percebi que o Bernardo ainda segurava meu pulso, me mantendo calmo. Ele apontou para minha barriga e vi um curativo com uma mancha vermelha se tornando maior, estava sem blusa e então percebi a dor. Minha perna também estava enfaixada e não a sentia. Deixei-me cair na cama e fechei meus olhos, acalmando minha respiração.

– Bern, onde estou? O que aconteceu? Cadê os outros? Emilly e Caleb? E o que aconteceu comigo? Quem era aquela pessoa que me trouxe aqui? E aquele sonho, o que era aquilo? – falei tão rápido, jogando uma pergunta em cima da outra, Bernardo olhou-me e deu um pequeno sorriso de lado antes de me responder como se eu já devesse saber a reposta.

– Estamos do lado de fora Vince. Depois que passamos por aquele túnel, eu e a Emilly encontramos algumas pessoas, elas são incríveis Vince, tem diferentes idades e aparências e nos ajudaram. Elas não sabem quem somos, mas ofereceram abrigo se seguirmos suas regras. Vocês dois se separaram de nos e assim que entendemos a situação começamos a procurar vocês. Caleb é bom em rastreamento então nos encontrou em algumas horas, ele achou que você estivesse conosco e nos achamos que você estava com ele. Nós procuramos por você durante quatro dias Vince – Sua voz demonstrava indignação, talvez ele estivesse se sentindo culpado por não me achar – Foi por sorte que te encontramos, não sabemos como você foi para dentro daquela sala, mas ainda bem que olhamos lá, ela se encontra no subterrâneo. E foi o instinto da Emilly que nos levou até você e sobre o seu sonho, eu não sei o que você viu então acho que você deve me contar – Ele me deu um largo sorriso e eu não pude evitar retribuir, mas não queria falar sobre aquilo, se eu contasse a ele sobre Emilly ele ficaria triste e eu não gostaria de ver ele assim.

– Qualquer dia desses eu te conto, mas agora eu quero ver o local que me encontro. Ajuda-me a levantar? – Ele me olhou de cara feia, mas mesmo assim me ajudou. Andamos por algumas ruas e quando nos aproximávamos de uma porta imensa de ferro ele me disse.

– Não precisa conter sua reação, todos ficaram chocados. Então se for demais me avise que eu te trarei de volta para dentro, tudo bem? Prometa-me que se não aguentar você vai me avisar. – Primeiramente não entendi o porquê disso, mas concordei por causa de sua voz séria e sua expressão me dizia que não importa o quanto eu esteja machucado ele me traria a força para dentro.

E foi quando assenti que ele me soltou para abrir aquela imensa porta, um segundo depois ele estava novamente ao meu lado com meu braço direito em seu ombro.

E ele tinha razão, minha boca se abriu e meus olhos se arregalaram ao máximo, o que eu via era devastador. Prédios e casas totalmente destruídas, uma neblina escura tampava a metade de cima das casas dando uma forma estranha a luz do sol, uma luz avermelhada. Estávamos no topo de uma montanha ou pelo menos parecia uma. Esquivei-me do braço do Bernardo, me mantendo em pé sozinho. Um vento forte batia e bagunçava meu curto cabelo preto, mas apesar disso não estava frio. De longe podia ouvir gritos de desespero e um pouco mais baixo ouvia sons de armas sendo disparadas e lâminas se chocando, essa mistura foi o suficiente para trazer lágrimas aos meus olhos. Não foi como no sonho que senti como se tivesse perdido algo que já tinha, agora era como se eu tivesse perdido algo que nunca pude ter. Minha respiração se tornou descompassada e perdi as forças por um segundo, mas antes que meus joelhos tocassem o chão, Bernardo já estava do meu lado me segurando. Perguntou se eu estava bem e a minha única resposta foi um balançar da minha cabeça, aquilo realmente não poderia estar acontecendo.

Ele me arrastou para dentro, dando a desculpa de que meus ferimentos poderiam abrir.

Com o tempo ele me contou que me encontraram com um ferro atravessando a lateral do meu estômago e minha perna esquerda estava quebrada em três locais e tiveram que reconstruir totalmente meu olho esquerdo. Contou-me como tudo funciona nesse lugar, era um refúgio para os sobreviventes e se não trouxéssemos problemas poderíamos ficar por algum tempo. Eles achavam que éramos crianças órfãs por isso nos aceitaram. Eles dizem que as crianças são o futuro por isso devem trata-las bem. E eu não me importava nem um pouco com isso, então fiz a pergunta que estava martelando na minha cabeça tem dias.

– Bern, cadê a Emilly e o Caleb? – Essa pergunta não pareceu o ter surpreendido, pois sempre que falava deles ele respondia com toda a confiança de que estavam bem, mas eu queria saber mais.

– Eles estão bem Vince, não precisa se preocupar – Sua voz demonstrava totalmente o contrário e o sorriso que ele deu de lado foi o motivo de eu dizer as próximas palavras.

– Bernardo, eu estou muito bem agora e se você não me disser onde eles estão eu vou te nocautear e irei procurar por eles sozinho, então, vai me dizer onde e o que eles estão fazendo? – Ele me olhou de boca aberta, mas sabia que eu faria mesmo isso.

Abaixou sua cabeça e sua voz mais parecia um sussurro do que outra coisa, mas ele sabia que eu ouviria – Eles estão do outro lado do abrigo, quando chegamos aqui nos três estávamos bem então eles nos aceitaram facilmente, mas quando chegamos com você no seu estado eles disseram que teríamos que pagar pelo seu tratamento e seu medicamento. Me desculpe Vince, mas não tivemos escolha, tínhamos que te salvar. Você sabe, Emilly se sentiu culpada por te colocar nessa situação e o Caleb por ter se separado de você então eles insistiram em ir e que eu devia ficar e ganhar o máximo de tempo com você.

– Eu entendo a parte de vocês pagarem o tratamento e porque vocês quiseram me salvar e também porque escolheram você para ficar comigo, mas não entendo o porquê de ganhar tempo. Bern, o que eles estão fazendo? – Minha voz foi se elevando e quando cheguei à minha última palavra eu estava gritando ­– Me diga Bernardo!

Ele pareceu ofendido por meu tom de voz e retrucou exatamente igual.

– Esse lugar não é o que você pensa. Você acha que em um mundo no estado em que está você vai encontrar pessoas bondosas que nos ajudaria sem pedir nada em troca? – Ele estava vermelho de raiva e sua voz não estava diferente – Você tem ideia do que passamos nos quatro dias em que te procurávamos? Não! Queríamos te encontrar a qualquer custo, nos três não sabíamos por que, mas algo dentro de nós nos mandava ir atrás de você e não podíamos recusar essa ordem. Nesse momento Caleb e Emilly estão se vendendo para mulheres e homens sujos que só querem se satisfazer. O Caleb, aquele que pode mata-los facilmente está lá nesse momento fazendo tudo que mandam, desde limpar um quarto até matar pessoas desconhecidas para te ajudar e a Emilly, a doce e pequena Emilly está em um quarto com qualquer homem que a pague, você tem noção do que eles estão fazendo por você? E nem mesmo podemos negar essa ordem que vem de dentro de nos, não entendemos porque Vincent, mas não podemos negar, temos que te ajudar – No momento em que o nome da Emilly saiu de sua boca lágrimas escorreram por seu rosto, e no fim ele não estava mais gritando, suas palavras se tornaram baixas e quase dolorosas de serem ditas. Ele se levantou e saiu correndo me deixando naquele pequeno e sujo quarto, meus olhos não deixaram aquela porta por nenhum segundo, um turbilhão de sentimentos ao mesmo tempo percorreu minha mente. Não sentia mais a dor em nenhuma parte do meu corpo e poderia facilmente dizer que não sentia mais nada, havia um grande buraco no meu peito.

Igualmente no meu sonho, senti aquele calor passando fracamente pelo meu corpo, levantei-me e a única certeza que tinha era que mataria cada pessoa daquele lugar, e dolorosamente devagar cada um que tocaram e usaram a Emilly e o Caleb.

Destruiria a todos sem pensar duas vezes apenas pelo simples fato de que tocaram em algo meu.


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