Capítulo Sete

Malibu – 09 a.m.

18 de outubro de 2011

Patrick estava flutuando, isso ele podia sentir, pelo menos foi o que pensou. Então as águas onde ele estava começaram a se agitar, sem saber o que fazer de início ele tentou pegar a prancha, mas percebeu tarde demais que não tinha nenhuma e quando olhou para trás uma onda o engolfou, quando voltou à superfície seus pulmões gritaram por ar e ele começou a nadar, mas era inútil ele estava preso. Olhado para praia ele tentou pedir por ajuda, mas não encontrou ninguém, até que ele percebeu que ela estava lá, B... ele tentou gritar mais uma vez, porém não foi seu apelido carinhoso que saiu de seus lábios. E enquanto tentava voltar, ele sentiu um puxão, mas uma onda surgiu e um grito estrangulando saiu de sua garganta...

"NÃÃÃOOO" Ele gritou e abriu os olhos. A primeira coisa que viu foi a face de sua esposa, ela estava segurando ele para que se mantivesse na cama.

"Shiss... Está tudo bem, Patrick. Estou aqui. Você está bem". Ela sussurrava, mas as máquinas ao redor começaram a apitar e o assustaram ainda mais.

Patrick começou a procurar ao redor, mas não viu nem Bela nem Charlotte.

"Cadê elas? Cadê?" Ele dizia e tentava sair da cama.

Uma equipe médica entrou no quarto e tentou acalmá-lo, mas ele ainda tentava lutar. Até que Angela percebeu que ele só se acalmaria com as respostas, então suavemente ela se aproximou da cama e sussurrou:

"Elas estão bem, Patrick. Mas você precisa se acalmar".

Patrick a olhou desconfiado, mas percebeu que o olhar dela era de sinceridade. E depois disso foi que ele respirou aliviado e recostou-se no travesseiro.

"Cadê elas? Eu quero vê-las". Ele falou rouco.

"Elas virão mais tarde, mas você precisa se acalmar primeiro". Disse Angela e tocou na face dele. "Promete?"

Ele apenas balançou a cabeça e fechou os olhos, enfim os antibióticos estavam fazendo efeito.

Três horas depois...

Quando ele voltou a si, estava mais calmo, porém a primeira coisa que fez foi olhar ao redor e procurar por elas. Ficou aliviado quando as viu sentadas na poltrona. Bela estava falando algo no ouvido de Charlotte e isso fez a pequena rir. Sentindo um sorriso se formar no próprio rosto ele falou:

"Ei".

Ambas viraram as faces e abriram sorrisos enormes e idênticos. Charlotte deu um pulo do colo de Bela e correu para a cama dele.

"Papaiiii". Falou e se jogou nos braços dele. "Você me deu um susto desse tamanho". E para enfatizar abriu os braços numa graça infantil.

Bela sorriu e se aproximou da cama e sentou na beirada. Ela o encarou e percebeu que os olhos azuis estavam com um brilho encantador e parecia felizes.

"E você? Está bem, sente alguma dor?" Ela perguntou preocupada.

"Estou bem. Só uma dorzinha de cabeça". Ele disse e esticou a mão para pegar a dela, ela hesitou apenas um segundo antes de entrelaçar os dedos. "E você? Está tudo bem?"

"Sim. Você me deu um susto e tanto". Ela disse e abaixou os olhos. "Eu quase perdi você, não foi nada legal".

"Desculpe, eu não vi que a onda estava muito grande e ali tinha algumas pedras, então..."

"Eu sei.

"Ei, como você conseguiu me tirar da água? Desculpa B, mas você é uma mulher pequena e não sabia que você tinha tanta força, principalmente depois de tudo que lhe aconteceu".

"Para falar a verdade nem eu sei". Ela disse envergonhada. "Eu só agir por instinto, ver você ali se afogando me deixou em pânico eu só fiz o que achava que era certo".

"Obrigado B, se você não tivesse..."

"Vamos esquecer isso". Ela disse e sorriu. "Já passou e você precisa descansar agora".

Sorrindo Patrick se virou para Charlotte, mas ela estava adormecida ao seu lado. Os cachos loiros caiam sobre o rosto da pequena deixando-a ainda mais angelical.

"O que aconteceu com ela para ela está tão cansada?" Perguntou ele preocupado.

"Ela teve um pesadelo com você". Disse B e sorriu sem graça. "Ela acordou gritando e Sra. Jane não conseguiu acalmá-la, principalmente depois que ela gritou meu nome e correu para o meu quarto".

"Sra. Jane? Você pode chamá-la de Angela".

"Ohh... mas ela não quer. Quando a chamei pelo primeiro nome ela disse que era para tratá-la de senhora". Falou ela chateada. "Ela me odeia".

"Claro que ela não te odeia". Ele disse e sorriu. "Ela só está com ciúmes".

"Eu sei. E não se preocupe, eu vou arrumar outro lugar e sair da sua casa. Vocês já me acolheram tempo o suficiente".

"E você pretende ir para onde? E fazer o quê?" Ele disse preocupado. "Nem identidade você tem, eu tenho certeza que ninguém vai lhe chamar de B ou Bela."

"Eu sei que vai ser difícil, Patrick. Mas eu preciso ir. Angela não suporta me olhar na cara, ela me trata como uma intrusa. Ontem eu quase sentir o olhar dela perfurando minhas costas quando eu entrei no quarto com Charly nos braços". Ela falou e suspirou.

"Charly dormiu com você?" Perguntou ele e ela afirmou. "Isso é novo. Ela sempre quer a mãe dela por perto. Acho que ela não está vendo Angela o suficiente esses dias".

E antes de proferir qualquer coisa o Dr. Ethan entrou no quarto. Ele tinha um sorriso na face e uma prancheta nas mãos.

"Ei, Patty. Que susto, hein?" Ele disse e se aproximou da cama. "Eu já disse a você, quando for pegar onda não vá muito para o fundo, lá tem muitas pedras".

"Você me conhece, Ethan. Vivo perigosamente". Disse Patrick e gargalhou.

"E dessa vez quase que não volta". Falou Ethan sério.

"É, eu sei, agradeça a B". Ele disse e apontou para ela que ruborizou. "Ela que me salvou dessa vez".

"Oh, prazer em conhecê-la, já lhe vi antes, mas não acordada". Ele disse e a cumprimentou com um aperto de mão. "Obrigado por salvar meu amigo. E eu fico feliz que esteja bem".

"Não foi nada". Ela disse envergonhada. "E acho que eu devo agradecer por vocês terem salvado minha vida".

"É o meu trabalho". Disse Ethan e sorriu. "Pois bem, depois desses agradecimentos todos é hora da boa notícia. Você está liberado, Patrick. Seus exames estão bons e está tudo bem. Só quero que você pegue mais leve, Ok? Agora você tem mais uma para se preocupar". Ele disse e piscou o olho para B. "Vou preparar os papeis da alta".

Sorrindo Ethan afagou os cabelos de Charlotte, que ainda estava dormindo, e saiu do quarto deixando-os a sós.

"Ainda bem que vou sair. Detesto hospitais".

"Também não gosto". Ela falou e fez uma careta arrancando uma risada de Patrick. "Me deixe tirá-la daí. Assim você pode se arrumar e a gente pode voltar para casa".

E enquanto Patrick a via tirar a pequena adormecida da cama, ele se pegou imaginando dividindo uma casa com ela, ele sabia que era errado, ele era casado e tais pensamentos nunca passaram por sua cabeça. Nunca pensou que se sentiria atraído por outra mulher, amava sua esposa, mas escutar Bela falar com tanta naturalidade e carinho sobre voltarem para casa foi tão reconfortante e novo que ele sentiu todo o corpo se aquecer. Ele então afastou esses pensamentos e levantou-se da cama, pegou as roupas que Angela tinha deixado lá mais cedo e foi para o banheiro se trocar, ao voltar encontrou Charlotte acordada, mas ainda sonolenta.

"Papai, o senhor já vai sair?" Perguntou ela esfregando os olhos.

"Vou sim, se o tio Ethan deixar".

E mal falou Ethan apareceu com a papelada da alta. Desejou um bom dia para eles e pediu para Patrick se manter longe de problemas, pois nas palavras dele “Você não é mais nenhum garotinho, Patrick”. Eles seguiram para casa com Bela dirigindo, o que o surpreendeu, mas segundo o médico a memória cognitiva dela estava intacta, ou seja, ela podia realizar atividades que praticava muito durante o dia a dia, como dirigir ou tocar algum instrumento.

"B, se você pode dirigir, podemos descobrir seu nome quando chegar". Disse Patrick empolgado.

"Mas como?"

"Você assina em alguma folha, com certeza vai sair alguma coisa". Ele disse sorridente.

Eles chegaram em casa e a primeira coisa que fizeram foi isso, mas foi inútil, era apenas um rabisco, nada legível. Deixando toda essa preocupação de lado eles colocaram Charlotte para dormir e foram para sala assistir a algum filme.

"Que filme quer assistir, B?" Perguntou ele procurando na prateleira.

"Tanto faz, não vou lembrar mesmo". Ela disse e sorriu.

"Ooook". Ele falou e sorriu também. "Que tal esse, “Take me home tonight”, é com Topher Grace e Teresa Palmer. A história é sobre um jovem de 22 anos que se revolta com o capitalismo e vai trabalhar numa locadora para provar aos pais que poderia ser qualquer coisa, um dia a garota mais popular da escola aparece na loja que ele trabalha e para parecer bem descolado ele resolve viver uma aventura durante um fim de semana. O que você acha".

"É uma comédia?"

"Sim, comédia romântica".

"Ok, pode colocar".

Eles sentaram lado a lado no sofá e entre gargalhadas e comentários sarcásticos eles foram assistindo ao filme.

"Eu adoro essa atriz". Disse Patrick. "Teresa Palmer, ela é boa no que faz".

"É a loira? Ou essa morena?"

"A loira". Ele disse e olhou para ela. "Taí, B, que tal de agora em diante eu te chamar de Teresa?"

"Humm.. Teresa". Ela falou testando o nome. "Gostei. Teresa é legal".

"Eu gostei também, é um nome bonito". Disse uma vozinha infantil da porta da sala. "Olá, Patrick".

"Oi, Matthew, Como vai você?"

"Vou bem, o papai disse que você se machucou surfando".

"Foi, mas já estou bem". Ele disse assanhou o cabelo do garotinho de 9 anos.

"Ah, Teresa". Ele testou e sorriu. "Esse é o Matthew, ele aparece aqui de vez enquanto para brincar com Charly, ou jogar vídeo game comigo".

"Prazer". Disse Matthew e estendeu a mão como um verdadeiro cavalheiro.

Teresa ficou muda, ela não sabia o que estava acontecendo só podia sentir que tinha uma forte ligação com esse garoto assim como Charlotte. Saindo do transe ela apertou a mão dele e abriu um sorriso o encarando:

"O prazer é meu, Matthew".

E os olhos delas se prendeu aos deles, dois pares de olhos extremamente verdes se encarando como se naquele momento estivesse acontecendo um reencontro de almas.

Continua...