Olho furtivamente pela janela.
Ninguém pode me ver, mas eu vejo tudo. A casa já está escura, há poeira no assoalho, poeira nos umbrais e nas escadas escuras. Eu sei que estou só, mas continuo vendo tudo e todos.
Ela sentava-se ali, naquele balanço perto das árvores. O balanço velho de madeira. Eu ainda a ouço rir, mas sei que isto não é nada mais do que som do vento nas folhas caídas.
Respiro fundo, com o coração ainda inquieto. Eu lembro. E vejo. Minhas mãos cobrem a boca de estupefação.
A ausência dela se levanta do balanço e caminha até a porta. Duas batidas seguidas por uma cantiga. Uma voz familiar e doce, infantil. Eu fico imóvel. O túmulo permanece lá fora, perto do balanço. Tomo coragem e caminho até a sala.
A maçaneta é fria, a giro com hesitação, e a porta abre com um rangido que não tinha antes. Uma visita amiga.
A brisa fria se choca contra o meu corpo, não há nada lá fora, somente um gramado descuidado e o som dos insetos noturnos. Ainda não é noite. Ainda.
Suspiro pela última vez, forçando-me a trancar a porta e esquecer, mas a ventania me leva para fora, acusando-me furiosamente. Os insetos são convidados à zombaria. A grama, a terra, e até mesmo o silêncio fazem parte da pérfida ação.
O balanço perto das árvores é embalado. De trás para a frente. Frente para trás. Uma dança grotesca. Mas ela não está lá.
Eu a vejo, mas não está lá. Está sorrindo, em algum lugar em cima da lápide sombria perto das árvores e do balanço.
Não faço a mínima ideia de quem esteja debaixo daquele pedaço de mármore. Só sei quem ela é.
Ainda posso me ver, sentada no balanço naquela fatídica manhã. Não haviam insetos, gramado descuidado ou o crepúsculo. A manhã era clara, a casa estava aberta e arejada, as pessoas riam e conversavam lá dentro. Meus pés tocavam a terra a cada impulso. A cada balançar, sentia-me indo mais alto no balanço. Mais alto. E ainda mais alto.
Meus pés não tocaram mais o chão.
O gramado está realmente alto. A noite finalmente chega.