In-Sanidade escrita por Redblue


Capítulo 8
Trinta e quatro horas


Notas iniciais do capítulo

Após mais de um mês sem postar, eu volto. Peço logo de início desculpas pela ausência, mas tive diversas provas na faculdade e ocuparam muito meu tempo, inclusive, consumindo toda minha criatividade rs
Mas cá estou, com um novo capítulo e muitos outros nos próximos dias :D
Aproveitem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/609314/chapter/8

Ouvi o barulho do tiro, mas não senti a dor decorrente da bala da arma abrindo um buraco no meu corpo. Na verdade, não senti a bala entrando no meu peito, ou no meu estômago, ou na minha cabeça. Onde fora o tiro mesmo?

Voltei a minha sanidade e foquei meu olhar na fumaça que saia do cano da .50. Realmente um tiro fora disparado por aquela arma, só que claramente o destino do tiro não era eu. Eu jurava que ela ia me matar, mas não. Ela acertou alguém que estava atrás de mim.

Precisei virar para confirmar se aquilo era realmente verdade. Se fosse, aquela garota acabara de salvar minha vida, mais uma vez. Quando virei já direcionei meu olhar para baixo, lá estava o corpo de mais um homem com um buraco no meio da testa e pedaços de cérebro – ou macarrão ao molho vermelho, como estava parecendo – espalhados em volta da cabeça.

Eu tinha que admitir que estava chocado por dois motivos: ela tinha uma ótima mira e conseguira matar três pessoas em questão de poucos minutos sem demonstrar em nenhum momento qualquer traço de arrependimento ou remorso. Ela cometerá muito mais atrocidades do que eu em horas participando do programa. Aquela pessoa era uma assassina profissional.

– Por que você matou esse cara também? – perguntei.

– Você realmente se importa? – rebateu, com uma voz monótona.

– Não... – respondi imediatamente. Será que eu realmente não me importava mais?

– Então isso encerra essa conversa inútil. – disse enquanto se virava para andar em direção à porta.

– Ei. Admito que não me importo, mas quero saber da mesma forma o motivo de ter matado esse cara. – elevei meu tom de voz para que ela me ouvisse.

Ela parou. Estava de costas para mim, então não conseguia ver seu rosto, não podia dizer se ela estava nervosa, feliz ou preparando-se para matar o quarto homem, dessa vez eu.

– Você realmente quer iniciar uma conversa furada com a garota que acabou de matar três pessoas?- perguntou, sem se virar.

– Por que não?

– Isso não é uma resposta. E preciso dizer que é bem rude da sua parte responder uma pergunta com outra. – ela estava me provocando.

– Sim, eu quero. – respondi. – Por que o terceiro cara precisou morrer?

Ela finalmente virou-se para mim. Agora em seu rosto eu enxergava um sorriso inocente, não mais aquela feição psicopata. Ainda assim, era perturbador, uma garota com aquele sorriso não devia ser capaz de cometer aqueles crimes.

– Interessante. – começou. – Sua dúvida é apenas sobre o último. Deduzo que em sua opinião os outros dois mereciam.

– Um deles ia me roubar – e provavelmente me matar – e o segundo quis barganhar minha vida para sobreviver.

– Então você realmente acha que eles mereceram. – disse em voz baixa.

– Mais ou menos isso.

– Exatamente isso. – retrucou.

– Suas palavras, não minhas. – respondi. Porém notei que ela não estava me ouvindo mais.

– Matei o último por um simples motivo: ele trabalhar para a “t.y.”.

– “T.y.”? – questionei.

– Me desculpe. – sua voz tinha um tom meigo e calmo. – Você os conhece pelo nome “i.n.”.

I.n.? Como ela conhecia a i.n.?!

E aquele era um funcionário da i.n.? O que ele fazia lá então? E desde quando ser um funcionário da i.n. era motivo para morrer?

I.n., t.y.? Eram muitos questionamentos, eu precisava de explicações.

– Pode parar de se esforçar tanto tentando assimilar o que eu acabei de falar, pois logo te explicarei cada uma de suas dúvidas, mas, antes, vamos sair daqui. – antes que eu pudesse dizer qualquer pequena palavra ela já estava andando em direção à saída da loja. Eu apenas a segui.

– Ei! – gritei. – Por que “t.y”?!

– Silêncio, idiota! Não precisa fazer tanto barulho. Já disse que vou te explicar tudo, mas precisamos sair daqui antes que eles cheguem.

– A i.n.? – perguntei.

– Correto! – seu tom permanecia meigo, ainda que estivesse sendo sarcástica. – Vamos no seu carro. Eu chequei e não tem nenhum rastreador nele. – comentou. – Eles devem estar ficando preguiçosos. – essa segunda frase não era direcionada para mim, era apenas um daqueles pensamentos em voz alta.

– Rastreadores? – perguntei novamente. Eu estava me sentido extremamente retardado fazendo tantas perguntas, mas não conseguia contê-las.

– Isso. E você precisa jogar seus celulares fora. Todos foram feitos com rastreadores, então tentar remover não adiantaria em nada, pois eu acabaria os inutilizando.

– Rastreadores no meu celular até? Que porra é essa?

– Você irá compreender tudo logo. Mas, adiantando, a i.n. é uma empresa constituída por um grupo de filhos da puta manipuladores e sádicos.

Aquela informação não me surpreendera tanto. Aquele reality show não podia ser inventado por pessoas normais que só queriam fornecer um pouco de entretenimento para o público. Ainda assim, precisava de mais informações. Precisava acompanhar aquela garota.

Percebi que meu interesse não era só em descobrir informações sobre a i.n., aquela garota tinha um motivo para fazer tudo aquilo e eu precisava descobrir qual era.

– Me responde pelo menos uma outra pergunta. – disse. Quem é você?

– Ah, que falta de educação da minha parte em não me apresentar. – novamente aquela educação sem sentido. – Meu nome é Emily Cooks, ou melhor, Alice Botela. Você decide qual combina mais comigo, o nome que meus pais me deram ou o nome que a t.y. escolheu. Qual você acha melhor, Valt? Ou devo dizer, Mart?

Então ela participara do programa. Era o que tudo indicava.

Será que o programa fizera aquilo com ela? Não importava, esse não era um problema meu e eu não ficaria daquele jeito.

– Siga o GPS, eu já digitei o endereço.

Obedeci. Não ia relutar mais, eu precisava seguir os passos daquela garota para descobrir mais informações sobre tudo que estava acontecendo.

– E, por favor, utilize o motor desse carro de verdade, o pessoal está próximo e eles não são lentos na direção.

Pisei fundo no acelerador, o carro respondeu imediatamente, derrapando um pouco na saída.

Olhei para o banco de trás e percebi que os celulares estavam lá.

– Os celulares...

– Relaxa, tenho um lugar específico para jogá-los. – ela não dissera, mas parecia que tinha um plano para atrasar o pessoal da i.n.

– Precisa de ajuda?

– Só dirige. – respondeu. – Em silêncio, se possível.

Se ela queria desse jeito, eu dirigiria em silêncio. Seria um silêncio torturante, levando em consideração minhas dúvidas, mas sentia que era melhor não insistir em uma conversa naquele momento.

Decidi ignorar a presença dela, meu foco seria direcionado exclusivamente para a estrada, afinal estava a 180km/h, qualquer deslize seria fatal.

Enquanto dirigia, via diversos flashes na estrada. Radares. Ainda bem que não precisava me preocupar com multas. Eu nunca levara nenhuma multa de carro, sempre andava no limite da velocidade e tomava cuidado para dirigir sempre nos parâmetros legais. Admito que nunca pensei em ser diferente disso, a velocidade alta simplesmente não me atraia. Mas agora, agora eu me sentia ótimo dirigindo aquele carro a 200km/h, eu me tornara um apaixonado por velocidade. Eu estava mudando.

– Você até que sabe dirigir. – a voz da garota interrompeu o silêncio. Percebi que estava dirigindo há vinte minutos.

– Até que sei. – sorri.

– Pode parar o carro.

Desacelerei imediatamente e direcionei o carro para o acostamento da estrada. Olhei para o lado e vi que estávamos na parte da estrada que passava sob um rio. Estava escuro, mas as luzes do céu noturno me ajudavam a enxergar a paisagem.

Olhei para trás e vi que Emily-Alice estava posicionando os celulares em locais específicos da estrada.

– O que você está fazendo?

– Nada de interessante. – disse.

– Mesmo?

– Sim. Apenas os dispositivos explosivos dos celulares e do Macbook para explodirem quando alguém tocá-los – alguém = i.n.

– Dispositivos explosivos nos eletrônicos?

– Isso ai. A i.n. faz de tudo pra garantir o controle sobre os candidatos e quando não conseguem. Bum!

– Vamos. – disse, enquanto voltava para o carro.

A segui e entrei no carro. Ia iniciar uma série de questionamento, porém imaginava que ela iria me interromper dizendo para eu dirigir, então fiz isso primeiro, dirigi.

– E se outras pessoas pegarem os celulares?

– Bum! Eles morrem. – ela disse, ainda com aquela voz meiga.

– Então você está utilizando um plano que talvez acabe matando pessoas que não tem nada a ver com tudo isso que está acontecendo? – questionei, tentando manter meu tom calmo.

– Por favor, Mart. Não seja um chato. Isso são riscos e precisaremos correr esses riscos para destruir a i.n. – ela disse. – Além disso, olha a hora, raramente alguém vai passar por aquele trecho e, se passar, não vai parar.

– Tudo bem. – consenti. – Agora você responderá minhas perguntas?

– Sim, irei. – respondeu, sua voz estava mais fria.

Olhei para o relógio no painel do carro no momento exato em que mudava de 3h59 para 4h. Eu estaria dormindo a horas em um dia normal, mas não sentia nem uma gota de sono.

Estava sem meus contadores de horas, teria que marcar minhas horas na cabeça a partir de agora. Eu tinha trinta e três horas e alguns minutos ou talvez menos, dependendo do que acontecesse.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Um novo personagem. Emily ou Alice, qual vocês preferem?
Espero ainda ter leitores depois dessa ausência rsrs



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "In-Sanidade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.