In-Sanidade escrita por Redblue


Capítulo 3
Trinta e oito horas


Notas iniciais do capítulo

Neste capítulo será possível ver uma parte da empresa que controla o reality show. Futuramente alguns detalhes mais reveladores sobre ela serão revelados, mas esse pedacinho já ajuda a saber pelo menos a forma como eles agem.
Adicionalmente, veremos Mart aproveitando mais um pouco suas horas iniciais para praticar alguns atos mundanos com seu dinheiro ilimitado. Será que são mesmo mundanos ou fazem parte de um plano maior? E será que o dinheiro é ilimitado da forma como ele imagina?
Leiam para descobrir. Obrigado pelas visualizações ;D
Um obrigado especial direcionado à Skarlatty Brëhm pelo BELÍSSIMO comentário!



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– Então Senhor B, aceitaremos essa nova transação? – perguntei, enquanto acompanhava as informações dos monitores. – Ele vai comprar um carro de trezentos mil. Está claro que utilizará o cartão de crédito novamente.

– Ele é inteligente – responde. – Em sua cabeça, o dinheiro restante será dele após o fim do programa – não está errado – e por isso decidiu gastar tudo através do cartão.

Observei o Senhor B em silêncio, aguardando a resposta ao meu questionamento.

– Pode bloquear quando ele tentar passar a primeira vez. Já na segunda, libera. Uma vez será o suficiente para os funcionários da agência o tratarem com displicência. – ele disse, enquanto andava pela pequena sala.

– Outro problema, Senhor B – eu disse, enquanto digitava. – Esse novo participante não emplacou. A audiência está baixa e, consequentemente, a plataforma. O que faremos?

– A audiência sempre é baixa no início e nenhum dos associados gosta dos participantes, sobre a plataforma, sabe que só começa a rodar de verdade depois que manipulamos alguns acontecimentos. Então, caso nosso amigo continue agindo como um adolescente sem graça, utilize nossa influência para direcioná-lo ao caminho certo. Te dou meu aval.

Após aquelas palavras, o Chefe dirigiu-se para porta e saiu da sala, me deixando sozinho naquela sala repleta de monitores e computadores. Era hora de fazer o que eu fazia melhor.

–----

Estacionei o carro na rua lateral da concessionária e fui andando até a entrada do local. A loja de carros estava com todas as luzes acesas, mas de início não localizei nenhum funcionário. Talvez aquele fosse o padrão da loja, fechada ou aberta.

– O que você deseja garoto? – perguntou uma voz masculina.

De início não localizei sua origem. Olhei para todos os lados e não vi ninguém. Foi então que percebi a presença de uma pessoa dentro de um dos carros de luxo.

– Um carro – respondi, sem mais delongas.

– Você quer um carro daqui? – a voz respondeu, dando ênfase na palavra “você”.

Parecia que a pessoa estava ignorando as roupas e me tratando como o jovem de classe média que eu era.

– Isso mesmo. Você consegue me vender um carro, ou preciso chamar um vendedor de verdade? – questionei retribuindo seu desdém.

– Hm. Então o garoto sabe se defender – finalmente conseguia ver o homem que conversava comigo de dentro do carro. Ele tinha aproximadamente dois metros de altura e estava vestido com uma calça bege, camisa branca e um sapato com aparência extremamente cara. Para combinar com sua altura seus braços eram musculosos, esticando a camisa. O homem não era bonito, mas possuía a combinação necessária para que eu não quisesse uma briga contra ele. – Que tipo de carro?

– Rápido. Tecnológico. Caro.

– Bem específico. Acredito que entre os vinte e cinco carros dessa loja, TODOS se enquadram nessa descrição – ele não estava tentando ser político. Estava evidente que ele não acreditava que eu ia comprar nada.

– Tudo bem, senhor comediante.

“Eu podia te dar um tiro agora, seu merda!” pensei.

– Estou à procura de um carro fabricado pela Ford, em específico o Mustang, ou pela Porsche, ou pela Audi, nesse caso o modelo TT – pronunciei cada palavra com firmeza.

– Entendo. Nossos carros mais baratos. Me siga – ele disse, enquanto andava para o lado esquerdo da loja.

– Ei. Por que você é um idiota? – perguntei.

– Não estou sendo idiota. Simplesmente não imagino que um garoto que gastou toda sua mesada para comprar um terno, pode utilizar o resto da mesada para comprar um carro de cem mil dólares – cada palavra saia graciosamente de sua boca. Ele dizia aquelas palavras de desdém como se estivesse citando um poeta famoso. – Mas vou admitir que você tem bom gosta com roupa, mas, infelizmente sua mochila entregou a falta de dinheiro.

“A mochila” pensei.

Simplesmente não podia deixa-la no carro. Eu poderia precisar do seu conteúdo a qualquer momento. Talvez nos próximos minutos se ele continuasse sendo um "mala".

– Qual o problema. É nela que eu guardo a arma que usarei daqui alguns segundos para te roubar – disse, enquanto o acompanhava. Ele parou por um segundo. Naquele momento imaginei que ele acreditara nas minhas palavras. Felizmente, sua risada demonstrou o contrário.

– Boa brincadeira, garoto – ele disse, entre sua risada. – Se você realmente estivesse armado eu teria que mandar meu segurança atirar em você – apontou para a escada que levava ao segundo andar. Lá, onde anteriormente não havia ninguém, estava um segurança parado, olhando para nós.

– Wow! Apenas um segurança para essa loja inteira? – questionei.

– Ele é o suficiente – rebateu, claramente encerrando aquele assunto. – Chegamos. Aqui está um lindo Audi TT 2015, um potente Ford Mustang 2013, eu prefiro o design desse modelo do que o atual, e um Porsche 918 Spyder, esse eu só mostrei para você apreciar, pois custa apenas dois milhões de dólares.

Eu poderia escolher o Porsche pelo simples fato de fazer aquele vendedor engolir suas provocações. Porém, o modelo 918 Spyder era muito chamativo. Os outros dois eram carros acima da média, porém não eram raridades nas ruas, cumprindo meu objetivo de não chamar muita atenção, apenas o necessário. Estava decidido, seria o Mustang.

– Eu quero o Mustang – disse.

O vendedor simplesmente riu. Sua risada alta ecoava pelo local. Ele estava zombando de mim.

– Estou falando sério – afirmei com firmeza na voz. Para suportar minha seriedade retirei o cartão sem limites do bolso e estiquei em direção ao rosto do vendedor.

Sua risada desapareceu. Ele analisou por alguns segundos o cartão em total silêncio, desviando seu olhar algumas vezes em minha direção.

– Ter um cartão sem limites não significa que você vai conseguir comprar um carro com esse valor agregado, garoto – o vendedor disse sério.

– Vamos tentar? – retruquei, sorrindo.

Sem mais palavras o vendedor virou-se e foi em direção à escada. Mesmo sem ser convidado o acompanhei. Enquanto andava, passei a mão suavemente pelo bolso da mochila, sentindo as duas .50, não sabia ao certo quando precisaria utilizá-las.

Subimos as escadas e entramos numa sala. O segurança nos acompanhou e ficou parado no lado de fora esperando.

– Então – começou o vendedor. – Me passe o cartão. – disse, enquanto estendia a mão.

Entreguei o cartão sem dizer uma palavra. Aproveitei e peguei minha carteira de motorista, coloquei na mesa e deslizei em sua direção.

O vendedor ignorou o documento e simplesmente inseriu o cartão na máquina. Após digitar o valor, colocou a máquina na mesa e esperou eu digitar a senha.

Botão “confirma”.

Após alguns segundos a mensagem “Não aprovado” apareceu na tela.

“O que aconteceu?!” pensei.

– Garoto. Você desperdiçou meu tempo – o vendedor disse, enquanto retirava o cartão da máquina e jogava com desdém em minha direção.

“Porra! O que está acontecendo? Esse cartão não tem limites e a senha está correta!”

– Ei! – gritei, não era minha atenção, mas não pude controlar elevar minha voz. – Tente mais uma vez – disse, tentando disfarçar meu nervosismo e parecer o mais descontraído possível.

Aparentemente minha tentativa fora bem sucedida. O vendedor inseriu novamente o cartão na máquina, fez os procedimentos padrões e estendeu a máquina para que eu pegasse e digitasse a senha.

Peguei a máquina e digitei novamente a senha. 6278.

“Tem que dar certo”

A máquina estava demorando mais dessa vez para fornecer uma resposta. Um sorriso no rosto do vendedor aumentava a cada segundo de demora. Olhei para trás e percebi que o segurança estava no lado de dentro da sala, segurando uma pistola.

Foi então que a mensagem apareceu “Aprovado”.

Alívio inundou meu corpo e um sorriso vencedor apareceu em minha face, contrastando diretamente com a expressão de surpresa do vendedor.

– Quais documentos eu tenho que preencher? – perguntei.

O vendedor não conseguiu formular uma resposta. Sua reação foi abrir uma gaveta da mesa e puxar alguns contratos.

– Josh, pegue um uísque, do melhor, para o Sr. Mart.

“Hipócrita”

– Que seja o Blue Label, por favor.

O segurança olhou para o vendedor com um olhar de interrogação. Sua resposta foi apenas uma balançada de cabeça em sinal positivo.

Os próximos minutos foram ocupados por vistos e assinaturas em várias folhas de contratos. Entre um e outro eu bebia um pouco de uísque. Já estava na minha terceira dose, era melhor maneirar.

Consegui pegar as chaves do carro e sair da loja exatamente a meia-noite. Aquela hora Carlos (esse era o nome do vendedor) já era um dos meus melhores amigos, ou pelo menos agia como tal.

Dinheiro realmente comprava tudo, inclusive o afeto – falso – das pessoas.

– Até a próxima, Sr. Khelagar – disse Carlos, enquanto chacoalhava sua mão no ar.

Não retribui, apenas acelerei o Mustang e aproveitei o som do motor. Era a trilha sonora perfeita para aquele dia.

Meu celular no banco do passageiro mostrava que eu tinha trinta e sete horas e quarenta minutos.


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