In-Sanidade escrita por Redblue


Capítulo 10
Trinta e três horas


Notas iniciais do capítulo

É, capítulo rápido - mesmo percebendo que quem lia a história não lê mais :/
Mas faz parte, irei continuar escrevendo pra quem tá por ai. Espero que gostem do capítulo de hoje que tem mais ação e é um capítulo bem mais longo que os anteriores.



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– Então, pode perguntar – Emily disse.

As perguntam que brigavam entre elas em meu cérebro eram infinitas. Acho que mesmo se tivesse mais horas com aquela garota, ainda não conseguiria esclarecer todas. Eu sabia que precisava ser objetivo e perspicaz na escolha das perguntas, sentia que a companhia de Emily não iria durar muito tempo.

– Por que você está me ajudando? – perguntei.

– Simples, eu odeio os caras que criaram esse jogo insano, e te ajudar acaba os atingindo – respondeu, sem desviar seu olhar da estrada.

– Você referiu-se a eles como “t.y.” antes – comentei.

– Boa memória – ela disse. – E pra explicar isso, preciso te explicar sobre a empresa que promove esse reality show.

Meus olhos estavam focados na estrada, eu não podia desviá-los, o carro estava em alta velocidade e eu não queria causar um acidente por falta de atenção. Mas mesmo sem olhar para o lado, eu sabia que agora Emily estava olhando para mim.

– “I.n.” não é uma sigla, Mart. “I.n.” é uma sílaba de uma palavra inglesa, “insanity”, que significa insanidade em português.

– Eu sei – interrompi.

– Rude – ela comentou. – Continuando. O real nome da empresa é Insanity, eles apenas criam menores empresas em diversas regiões do mundo doando sílabas desse nome para denomina-las. Ou seja, em seu país a Insanity é simplesmente “in”. Onde eu morava, era “ty”. E cheguei a conhecer alguns participantes que conheciam a Insanity por “sa” e “ni”.

– E como você sabe disso tudo?

– Primeiro, quando você tem todas as peças acaba virando a dedução óbvia, se você é um pouco inteligente. Segundo, eu fui uma participante bem proativa no reality show, o que me ajudou a ter acesso a todas essas informações diretamente da fonte.

– E... – comecei.

– Preciso ressaltar uma coisa Mart – me interrompeu. – O reality tem uma surpresa quando acabam as quarenta horas. Você pode conseguir mais horas de impunidade.

– Como assim? – perguntei, surpreso. Mais horas? Isso não fazia sentido.

– Tudo depende do seu desempenho, insanamente falando, e da audiência do programa – mais do desempenho.

– “Insanamente falando”

– Esse é um termo utilizado por eles. Vamos dizer que quanto mais suas ações fugirem do senso comum do mundo, mais horas você irá ganhar de bônus. Resumindo, seja o mais insano possível, mate, estupre, mate novamente, roube, faça tudo que a legislação não permite e que esteja contrária ao senso comum.

“Entenda uma coisa, Mart. É isso que a Insanity quer, é esse o objetivo deles – é por isso que o nome deles é esse. Eles querem que os participantes se entreguem a insanidade, que para eles é algo extremamente comum.”

– E se eu não quiser isso? Se eu simplesmente fizer as coisas mais ordinárias e comuns? – perguntei.

– Eles irão intervir. Eles manipulam TUDO. Ou você realmente acha que aquelas circunstâncias te obrigando a tomar decisões moralmente incorretas foram coisas do destino? Além do que, eles só recrutam as pessoas mais suscetíveis à insanidade.

– Mas eu sou um garoto comum, totalmente sem graça.

– Eu tenho certeza que você não acha isso. Na verdade, eu acho que você tenta passar essa ideia parar as pessoas para não chamar atenção. E, infelizmente, a Insanity não cai nesse tipo de jogo.

Não tinha como mentir para aquela garota, ela era inteligente.

– Tanto faz – disse para finalizar aquele assunto. – Sobre o bônus de horas...

– Esqueça o bônus – seu tom de voz mudando, agora ela parecia um pouco tensa. – Isso é mais uma mentira deles, porém não posso realmente provar o que acho.

– Me convença com palavras então.

– Mart, eu sinceramente não acredito que existam essas horas de impunidade. Pense. É impossível que uma empresa, por mais poderosa que seja, consiga fazer com que o mundo esqueça crimes como homicídio, tortura, latrocínio, entre outros crimes hediondos. O que eu acho é que eles, com influência e contatos, ajudam a encobrir os crimes que os participantes cometem, e algumas vezes eu acho que nós nem cometemos crimes, a Insanity que monta as situações e cenários pra parecer que cometemos. É complexo, mas faz sentido.

Algumas partes faziam sentido, porém as outras eram simplesmente irreais. Mas não ia falar nada, apenas a ouviria e faria comentários neutros sobre esse assunto. Porém antes que eu pudesse me manifestar ela voltou a falar.

– E isso faz sentido Mart, eu já vi acontecendo. Você não matou duas pessoas na concessionária, você só matou o vendedor. O segurança estava utilizando um colete à prova de balas, eu vi quando o pessoal da Insanity chegou para limpar toda a bagunça e lá estava o segurança todo feliz e vivo.

– O que?! – aquilo era impossível, eu matei os dois. Vi as poças de sangue se formando sob os corpos sem vida. E calma. Ela estava lá também? Desde quando aquela garota estava me seguindo?

– É sério, mas... – o bolso de Emily começou a vibrar, desviando sua atenção e impedindo de terminar a frase. – Ah, eles caíram na minha armadilha, porém um dos funcionários sobreviveu e, a má notícia, ele é a máquina de exterminar da Insanity, é o cara responsável por todos os trabalhos mais sujos da empresa.

– E... – eu sabia qual seria a próxima frase de Emily.

– Ele está vindo atrás de nós e, Mart, ele vai nos alcançar. Melhor se preparar.

– Ei, eu posso dirigir mais rápido – eu disse, esperançoso de mudar o rumo daquela situação.

– Não, você não pode – ela disse com desanimo na voz. – Ele é um ex-corredor de Fórmula 1, na velocidade ele é mil vezes melhor que você.

– Muito obrigado pelo apoio.

– Mart, não seja a menininha da relação – mesmo naquela situação ela estava calma e fazendo brincadeiras. Eu me via começando a invejar aquela garota.

– Então o que eu faço? Paro o carro? – perguntei.

– Não. Dirija e encontro um ponto em que você terá o elemento surpresa contra ele.

– Então, iremos lutar?

– Não iremos. Você irá – sua voz continuava doce, era irritante.

– Mas eu nem sei lutar. Emily, isso é uma brincadeira, não é? Você é claramente mais preparada do que eu para essa situação.

Ela estava jogando comigo e eu sabia muito bem daquilo, mas não conseguia entender o motivo e muito menos descobrir qual era o objetivo por trás daquilo tudo.

– Sim, nisso você está certo. Mas, você vai lutar mesmo assim. Esse é o seu teste, pra vermos se realmente vale a pena te salvar.

– Vermos? Plural? Alias, quem era no telefone? E, calma ai, esse telefone é o da Insanity! Filha da... Como você ainda tem o telefone da Insanity se eles têm rastreadores?! – eu sabia que não podia confiar naquela garota e mesmo assim confiei. Eu estava irado. Queria jogá-la para fora do carro e deixa-la lá parar ser vítima de quem quer que fosse aquele funcionário.

– Então, Mart. Tenho que te contar um segredo... Não é tão impossível assim retirar os rastreadores – ela disse, seu tom mostrava que ela estava se divertindo com aquela situação. – Na verdade, é bem fácil, tanto que eu fiz. Mas eu precisava dos explosivos, então tive que te enganar pra evitar discussões.

– E agora você quer que eu confie em você e faça o que você acabou de sugerir? Encontrar um lugar “seguro”?! Ah, vai se foder! – eu estava gritando e nem percebia.

– Que estresse. Foi só uma mentirinha – ela disse, sem alterar o tom de voz calmo. – Agora, pare o carro no próximo quilômetro, ele está próximo.

– Não antes de você me dizer quem está te ajudando nessa “operação” – tentei me acalmar.

– É, isso você não pode saber ainda, mas posso dizer que tenho uma equipe nessa missão contra a Insanity.

– Não gostei da sua resposta – eu disse. – Acho que vou continuar dirigindo até ele nos alcançar.

– Idiota, faz o que eu to mandando! – agora seu tom de voz estava alterado. Eu estava no controle da situação.

– Ou você vai fazer o que? Tomar o volante nessa velocidade? Só se você quiser morrer – diminui um pouco a velocidade, mas mantive acima dos 150km/h.

– Sério, Mart. É melhor me ouvir, enfrentar aquele cara num carro é a pior opção. Seja um pouco inteligente – ela estava nervosa.

– Acho que vou arriscar. Você não tem noção de como sou bom em destruir carros no videogame.

– Tanto... – a batida no carro fez com que ela parasse de falar. Olhei pelo retrovisor e vi um carro preto colado na traseira do carro. Será que era o exterminador da Insanity?

– É ele?

– Yep. Se fodeu – a calma voltará, mas eu sentia que não era a mesma calma de antes, mas sim um disfarce. Ela tinha medo daquele funcionário.

– Você conhece ele, não é?

– Quem você acha que eles mandaram atrás de mim? – perguntou.

– E você sobreviveu mesmo assim. Então ele não deve ser tão bom – caçoei.

– Ele é. Eu apenas sou melhor – ela tentou disfarçar a mentira, mas desta vez eu percebi, mas não ia comentar nada. Era bom ela achar que eu ainda era o garoto ingênuo e inexperiente.

– Vamos ver se eu também sou melhor - pisei no freio do carro.

O carro atrás não esperava por aquele tipo de reação e não foi capaz de frear a tempo, colidindo com o meu Mustang. A batida foi forte, empurrando eu e Emily com força para frente, se não estivéssemos com o cinto teríamos parado fora do carro.

O impacto fez com que eu ficasse um pouco zonzo e por isso demorou alguns segundos para eu perceber que eu ainda estava em movimento.

O funcionário da Insanity continuou acelerando o carro, mesmo depois da batida.

Olhei pelo retrovisor e não consegui ver nada, a traseira do Mustang estava destruída, bloqueando toda a visão.

Meu plano não tinha funcionado.

– Ingênuo – Emily disse ao meu lado, enquanto arrumava seus cabelos. – O carro dele é reforçado. Você perdeu, Mart.

– Ainda não – peguei as duas armas e fui para o banco de trás. – Pega o volante.

Os dois carros eram um agora, a única coisa que ela precisava fazer era impedir que o nosso carro fosse jogado para fora da estrada. A velocidade seria fornecida pelo carro do funcionário da Insanity, mas mesmo assim, não seria muita coisa.

– O que você vai fazer?

– Lidar com a situação. Só mantenha o carro na estrada e continue pisando no freio pra manter a velocidade baixa.

– Mart, deixa que eu lido com isso.

Filha da puta! Eu não ia dar o prazer de responder. Apenas fui para o banco de trás do carro e abri o teto solar. Me preparei com as duas armas e comecei a sair do carro pelo buraco no teto. Estava apenas com a cabeça para fora e não conseguia ver a frente do carro preto, a traseira do carro estava sobre o capô.

Coloquei um dos braços na parte superior do Mustang e impulsionei para sair totalmente do carro.

BUM!

Senti o tiro atravessando meu ombro direito como se fosse um pedaço de papel. Nunca sentira dor semelhante aquela. Minhas pernas falharam e com o impulso da bala fui jogada para trás. Por sorte cai no capô do Mustang.

A dor continuava e eu mal conseguia mover meu braço direito. Percebi agora que não segurava mais uma das armas, provavelmente a soltara durante a queda.

Rolei meu corpo e fiquei de bruços no metal do carro. Utilizei toda minha força restante no braço esquerdo e me ergui, quando olhei para o vidro do carro, percebi que a Emily não estava mais lá. Foi então que ouvi o segundo tiro e senti a velocidade dos carros diminuir, até que pararam.

– Pronto, fiz o que você deveria ter feito – uma voz sussurrou ao meu lado. Seguido da voz vi um vulto passando ao meu lado. Era ela, com a minha mochila nas costas. – Vamos, idiota!

– Você matou ele?! – perguntei.

– Não era ele. Eles foram espertos. Mandaram uma distração antes – ela disse, preocupada. – Vamos pegar o carro dele e sair daqui.

E eu mais uma vez apenas a obedeci. A dor me impedia de tomar qualquer outra decisão.

– E você dirige – ela ordenou.

– Mas, meu braço – minha testa estava cheia de gotas.

– O carro é automático, você só precisa de um braço. Não discuta Mart, eu acabei de salvar sua vida.


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