Memórias de Alice Moore escrita por Suh


Capítulo 27
FIM


Notas iniciais do capítulo

É. Chegou! Eu nem acredito!



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Sonhos.

 

       Sabe, depois que morri, pensei mais em muitas coisas, sei que você percebeu.

      Sonhos não são só o que os cientistas dizem que são. Na verdade, quase nada é só o que os estudiosos pensam.

      Você não faz ideia de quanta coisa neste mundo é desconhecido para os humanos. Mas este tipo de coisa não posso lhe revelar agora. Só posso dizer que sonhos são algo mais.

      Os sonhos me ligam a você e a meus queridos humanos. São uma ponte entre o mundo “normal” e o desconhecido.

 

      Mas não vou perder tempo falando sobre isso.

 

 

                  Quando eu voltei, olhei ao redor. Foi a primeira coisa que fiz. E logo percebi que estava no meu enterro. Percebi porque vi muitos rostos conhecidos chorando e sofrendo e isso me fez triste.

      Eu podia sentir a tristeza deles, podia quase sentir o gosto amargo das suas lágrimas, aquilo me fazia enjoar, mesmo estando morta.

      Me aproximei de onde mais pessoas se aglomeravam. Lá estavam meus pais, minhas irmãs, Eliza.

      Também vi o meu Alex, outras pessoas bem conhecidas, principalmente da família. E uma pequena criança no colo de Sophia.

                  Se eu ainda estivesse viva, as lágrimas escorreriam novamente. Porque mesmo sem coração, o senti pulsar. Aquela criança, tão pequena olhou para mim, e eu juro, sorriu.

      Corri para perto dela, rescém-nascida, mas perfeita.

 

- Minha Melli. É a minha Melli.

 

      Foi o único momento que senti felicidade naquele meio. A minha filha estava viva! A razão da minha existência!

      Todos pareciam desconsoláveis. Eliza chorava muito e agarrava o colar que eu dei para ela no nosso aniversário de amigo. Ela sussurrava o tempo todo:

 

- Você disse que ficaríamos juntas para sempre. Por que mentiu para mim Alice, por que?

 

      Eu tentei dizer para ela que estava lá. Que estava bem. Mas por mais que me esforçasse... ela não podia me ouvir. Me desesperei tanto que por um instante, me arrependi de ter voltado.

      Decidi me afastar de onde os meus queridos sofriam por um momento. Eu já havia sofrido demais em vida. Não queria continuar sofrendo na morte.

                  Me afastando um pouco, vi outra menina de preto um pouco longe dos demais, mas igualmente triste. Era a Jinsce, não podia me esquecer daquela linda e pequena japinha. Mas havia mais alguém ali. Eu nunca a tinha visto, mas reconheci imediatamente.

      Eu senti que nos conhecíamos há muito tempo. E involuntariamente, sorri. Ela sorriu de volta.

 

- Midori.

 

- Alice.

 

      Chegamos mais perto. Pude ver a tal linha de relacionamento que Azrael havia falado. Eu não sei como explicar, é uma grande áurea que envolve a nós e as pessoas que amamos. Cada um com uma cor.

 

- Midori, obrigada por ter me ajudado todo este tempo.

 

- Sei pelo que você estava passando.

 

- Azrael me disse que talvez nossos destinos estejam ligados de alguma forma.

 

- Ela também me disse isso uma vez. Mas não acredito em destino.

 

- Será que é pelo nosso sofrimento?

 

- Talvez o sofrimento dos nossos filhos. Annie logo irá se juntar a mim, temo pela Jinsce, ela ama muito a irmã.

 

- Jinsce está sofrendo com a minha morte também.

 

- Sim, ela sentia que estávamos todas juntas nessa. – Ela sorriu, tristemente.         

 

- Não quero que Melli sofra.

 

- Também não queria ter visto Jinsce sofrer tanto... mas...

 

- Mas...?

 

- Ela conheceu um rapaz há uns dois meses... está até voltando a sorrir.

 

- Isso é bom.      

 

                  Conversamos por muito tempo. Sobre muitas coisas. Também ficamos caladas por tanto tempo, cada uma sentindo por seus humanos.

      Só então percebi outros fantasmas por ali. Eles estavam em toda parte. Não eram muitos, mas comecei a ver em casas, na rua... Todos com seus problemas não resolvidos.

 

                  Mi estava no meu enterro também naquele dia. Eu estava tão desnorteada que mal lembrei do diário, ela chorava muito.

      Alguns dias depois, Sophia foi a primeira com coragem para entrar no meu quarto. Lembrou-se da promessa que me fez e, com lágrimas nos olhos, pegou o caderno preto no chão do quarto.

      Não demorou muito, Mi voltou ao Manicômio. Acredito que esteja lá até hoje.

      Eu a visitei um dia... ela estava tão... tão... louca. Fiquei com pena da minha amiga. Ela gritava e olhava para pontos fixos. Não agüentou voltar para aquele lugar. Pobre Mi.

 

                  Hoje.

 

      Bom, hoje eu tenho estado com todos. Principalmente com minha filha. No seu aniversário de 1 ano, consegui finalmente entrar em seus sonhos, só para tocá-la. É difícil conseguir. Muitos se fecharam e é mais difícil quando não querem. Meus pais tem cuidado com todo amor de Melli, pois ela é uma parte de mim. Eles a amam quase tanto quanto eu. Sophia e Natalia tem ajudado, minha mãe saiu do emprego para ficar mais tempo com Melli.

      Você estava tão disponível, não sei porque foi tão fácil entrar nos teus sonhos. Perdoe por ter tomado seu tempo.

 

      Alex? Eu ainda o amo. Esse amor nunca vai sumir. Mas eu só quero que ele seja plenamente feliz.

 

      Me pergunto quando vou me juntar a todos os que amo. Como será que Azrael vai aparecer para a minha filha?

                  Por enquanto, desejo que todos tenham uma vida longa e maravilhosa. E quando o dia chegar, poderei dizer a eles que cumpri minha promessa e sempre estive ao lado de cada um.

 

 

      Obrigada por me ouvir, foi tão útil. Com sinceridade, te digo... nunca se arrependa de nada e seja muito feliz.

 Provavelmente, nos cruzaremos outra vez, ou em vida, ou em morte.

 

Adeus.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 *

 

 

 

 

 

- Bom dia, Suh.

 

- Bom dia.

 

- Dormiu bem?

 

- É... eu tive um sonho estranho, uma fantasma...

 

- Nossa! Você só tem pesadelos!

 

- Não, escute! O nome dela era Alice Moore... ela me contou sua história...

 

- Era assustadora?

 

- De certa forma... assustadoramente triste. Acho que daria uma boa fic.

 

- Ótimo, então escreva! Depois eu leio.

 

 

 

 

 

                        “O nome dela era Alice Moore.

            Ela via as coisas de um modo diferente.

                        E está morta.

            Ela gostava de ser sincera, pois se preocupava com seus relacionamentos.

            A razão?

                        (Note como sempre percebemos os erros quando já é tarde demais.)

 

                        O seu amor sem limites.”

 

 

 

              Dedicado à Alice Moore.

                        1977 - 1995

 


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Notas finais do capítulo

Eu não gostei tanto deste capítulo... mas estava tão ansiosa! OMG, o que fazer? Leiam As Notas Finais da Autora!
beijos ;*