Memórias de Alice Moore escrita por Suh


Capítulo 2
Erros




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            Ás vezes me perguntava porque esse tipo de coisa só acontecia comigo. Percebi que todos se perguntam isso. Humanos, eu e você também, temos muito em comum. Pense bem, todos nós já sentimos medo, todos nós já cometemos erros... Sim, é isso! Talvez eu tenha cometido um grande erro e talvez seja por isso que estou assim agora. Sim, e é esse o meu maior erro: o meu amor sem limites.      

             Meu nome é Alice Moore. De acordo com minha certidão de nascimento, completaria meus 20 anos hoje. De acordo com o destino, terei 18 anos para sempre. Admito, nunca fui uma pessoa muito forte, apesar de sempre terem me dito o contrario. Se fosse, hoje estaria muito bem, obrigada. Mas procurei o meu “descanso” da forma errada. Minhas lembranças estão mais vívidas do que nunca, percebi que elas retornam frescas quando você morre. Uma boa dica para você: se quiser ter uma morte tranquila, não faça nada de que possa se arrepender depois.      

O meu segundo maior erro chamei de “descanso”, você o chamaria de suicídio.           

 Ninguém conhece minha historia, até agora. Comecei a mergulhar nas lembranças e pensamentos. Não tenho mais um coração, mas sinto como se ele estivesse a ponto de explodir com tantos sentimentos. Por isso, hoje eu preciso compartilhar o que vivi. Procurei por pessoas que pudessem me ver ou que pudessem me ouvir. As pessoas mortas já se lamentam demais e não escutam os outros. Aqueles rituais só evocam espíritos ruins que enganam as pessoas. Queria alguém para me escutar, somente isso.      

E então eu encontrei você, disposto a ouvir o que tenho a dizer, desculpe se esta pequenina fantasma te chatear, mas é bom compartilhar pensamentos, sabia? Isso alivia... pena que eu descobri tarde demais.     

 

 Na época em que eu só tirava dez em matemática e que sofrimento era uma palavra que eu só conhecia na teoria, conheci este garoto. A casa em frente a minha tinha uma placa de “Vende-se” há um bom tempo, eu sempre lia aquela placa, mesmo sem querer, por isso me lembro bem das palavras vermelhas pintadas no fundo branco. Por isso também, logo percebi quando ela foi tirada dali. No mesmo dia em que o caminhão de mudanças fez o seu trabalho, eu e minha família fomos dar as boas vindas aos novos vizinhos.     

 Primeiro vi seus pais e uma garota, o nome dela era Elizabeth Ford e tinha a mesma idade que eu. Depois das apresentações, nos sentamos na varanda e ele apareceu.

 

- Boa noite! – Todos responderam, menos eu. Estava completamente perdida nos olhos dele, castanhos. O cabelo bem arrumado, preto, com gel e espetado. A pele muito branca, e até óculos usava, mas que não escondia sua beleza. Ele era lindo, a sua maneira.

 

Os pais deles e os meus ficaram conversando, e eu, minhas irmãs, Elizabeth e ele decidimos brincar por ali. Fomos ao jardim e seu cachorro, Pingo (um poodle), nos acompanhava.

 

Eu tinha duas irmãs mais novas, Natalia e Sophia. Meu cabelo era curto, óculos maiores do que minha cara e aparelho nos dentes. Sempre fui baixinha, e na época, mais magra que o normal. E então, educado como só ele, veio falar comigo.

 

- Oi! Qual o seu nome?

 

 -...a-alice – eu era tímida ao extremo.

 

 - Meu nome é Ford, Alex Ford! – ele riu alto e eu dei risinhos tímidos.

 

 – Quantos anos você tem?

 

-11...

 

 -Eu tenho 14!

 

       As meninas nos chamaram para brincar depois disso, mas eu já sabia o suficiente sobre ele. E estava feliz, como nunca antes por causa de um garoto. Era o meu primeiro amor.


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